"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 8 de dezembro de 2012

IRÃ: NADA COMO ACORDAR COM UM DRONE NO BOLSO


Talvez não seja Predator mortífero equipado com um míssil Hellfire dos que incineram casamentos de pashtuns, mas nesse nosso Bravo Valente Novo Mundo dos Veículos Aéreos Não Pilotados – conhecido também como a "Guerra dos Drones de Obama" – , qualquer ScanEagle muito mais lento, fabricado por subsidiária da Boeing, já nasce com direitos adquiridos de roubar a cena.

Lá está hoje, a estrela do show, numa TV iraniana, depois de capturado sobre o Golfo Persa. Os cabeças-de-bagre especialistas em geopolítica, já fartos da mesma conversa fiada regurgitada incansavelmente por generais norte-americanos pelos canais Fox e CNN, certamente se deleitarão com a faixa ultrarretrô "Esmagaremos os EUA sob nossos pés", para nem falar da peculiar produção de valores pelo Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos (IRGC).

O subalmirante Ali Fadavi, comandante da Marinha do IRGC, disse que o ScanEagle foi "caçado" e "obrigado" a "pousar eletronicamente", depois que invadiu espaço aéreo do Irã. Bem… Talvez tenha sido um pouco mais complicado. A melhor explicação ainda é a do sempre delicioso blog Moon of Alabama: os Guardas Revolucionários, provavelmente, desabilitaram eletronicamente a conexão de satélite do drone e, em seguida, assumiram a linha de controle por rádio da linha de visão.

Além de garantir piadas sem fim, do tipo "os gatos persas derrubam o besouro [orig. drone] dos EUA" – serviço completo, com fotos de gatos gordos brincando com o modelo made-in-Iran do RQ-170s (o drone que o Irã capturou ano passado) – a coisa é quase tão boa quanto a mais recente reportagem de Bob Woodward, que flagrou um dos homens de Rupert Murdoch que operam o canal Fox News tentando vender (literalmente) ao general Petraeus a ideia de tornar-se candidato à presidência , como representante pessoal de Murdoch, nas eleições para a Casa Branca. General bagre-ensaboado-à-moda-canal-Fox, sabe-se lá?

O general canal Fox-Petraeus, por falar dele – mesmo antes de a coisa ter virado ‘corporal’ com a fã & gostosinha Paula Broadwell – jamais se deixaria apanhar em situação tão degradante. Seus drones da CIA no Af-Pak sempre foram e continuam a ser máquinas de matar confiáveis, não essas porcarias de hoje, que só recolhem informação de inteligência falhada, que não prestam para nada.

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TRÉGUA CÔMICA


Esse novo capítulo do seriado Guerra dos Drones, oferece, pelo menos, uma trégua cômica, à Monty Python, na desgraça cotidiana, ininterrupta – com a Turquia obtendo a aprovação da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para instalar mísseis Patriot interceptores para "defender-se" contra algum doido sírio que se atreva a atravessar a fronteira.

Os burocratas da OTAN em Bruxelas já começaram a espalhar aos quatro ventos a negativa oficial, na linha do "Oh, não, não! Não queremos uma zona aérea de exclusão sobre a Síria! É que a gente aqui adooooora mísseis gordos, grandes e maus."

Os EUA – sempre, sempre, como sempre – negam tudo que tenha a ver com o drone ScanEagle que não voltou para casa. Um porta-voz do Comando Central da Marinha dos EUA, no Bahrain, esse país-símbolo, exemplar, de democracia, disse que "a Marinha dos EUA mantém pleno controle sobre todos os veículos aéreos não tripulados em operação na região do Oriente Médio."

Vai-se ver, é problema de terminologia: o Irã fica no Sudoeste Asiático – assim sendo, drones que andem ‘pivoteando’ em área de ‘pivoteamento’ não entram na conta. Mas, calma; a coisa ainda melhora! O porta-voz disse também que "não temos registro de qualquer ScanEagle extraviado recentemente". Quer dizer: só se a Marinha perdeu, além de um drone… também todos os registros.

O que se vê, são esforços frenéticos da Marinha para pôr a culpa… nos drones dos outros! Vai-se ver, esse ScanEagle teria decolado de outro paraíso da democracia mantido pelo Conselho de Cooperação do Golfo, os Emirados Árabes Unidos. Austrália, Canadá, Países Baixos e até a Colômbia têm drones. A Grã-Bretanha e a França também fabricam drones, e a Rússia, logo, logo, também chega lá. Ou, quem sabe, um espião "Ai-raniano" do Mal roubou o tal drone em Dubai, quando andou por lá em expedição de compras.

Podem esperar: vai começar um boom de vendas de drones ScanEagle em miniatura, de plástico, para trazer um refresco ao deprimido e mortalmente super sancionado mercado iraniano – exatamente como aconteceu ano passado, com o RQ-170. Os gatos persas que vivem de Qom ao Mar Cáspio, depois de derrubá-los todos, com certeza farão um baile.

(Artigo enviado pelo jornalista Sergio Caldieri) 08 de dezembro de 2012
Pepe Escobar
(Asia Times Online)

 

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