"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

AMPLIAR O CRÉDITO NÃO DEPENDE SÓ DA REDE BANCÁRIA

 

O Globo publicou, segunda-feira 21, reportagem de Martha Beck e Gabriela Valente revelando que o governo tem agora como meta a ampliação da oferta de crédito pela rede bancária como forma de fomentar a retomada do desenvolvimento econômico. Para tanto, acentua a matéria, o ministro Guido Mantega tem feito contatos com banqueiros.
O exemplo deve começar pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, maiores agências financeiras oficiais. A oferta de crédito destina-se tanto às pessoas físicas quanto às empresas. Mas e os juros?



Permanecem muito altos. Os dados do Banco Central apontam, para as pessoas físicas, uma taxa média de 5,4% ao mês para uma inflação que, no ano passado, pelo IBGE, alcançou pouco menos de 6% ao ano. Os juros assim sensibilizam de forma negativa os tomadores de empréstimos. Como pagá-los, se, enquanto isso, os salários estão sendo reajustados na base de 5,6% para os últimos doze meses? O efeito do crédito transforma-se dessa maneira em arriscada espiral.

De qualquer forma, acrescenta a reportagem usando gráfico do próprio Banco Central, o volume de crédito no país atingiu 52,6% do PIB, portanto volume em torno de 2 trilhões de reais. E rotativo, claro. Mas já representa parcela de alto peso em relação ao Produto Interno Bruto. Em janeiro, a participação relativa foi de 48%. Em novembro, último dado disponível, chegou a 52,6.

DINHEIRO NÃO FALTA

Crédito, portanto, não tem faltado. Os bancos, como se vê, dispõem de recursos. Grande parte em títulos públicos lastreando a dívida interna. Para isso, recebem juros (anuais) de 7,25%. As sobras existem. Assim não fosse, a elasticidade de crédito não teria se expandido.

Normalmente, já que o crescimento da oferta (e colocação) do crédito foi regido pelo índice inflacionário. Mas, entretanto, não se verificou retração.

Para a etapa pretendida de expansão, ela depende de dois fatores: dos salários e dos juros. Os salários, exceto o mínimo, não têm crescido. Empatam com a inflação oficial. O piso, aí sim, superou o índice inflacionário. Mas provavelmente é pequena a participação dos grupos de menor renda no sistema expressivo de crédito.

Pode ser em número de pequenas operações, porém não em matéria de volume. Não há outra hipótese, sobretudo porque existe o obstáculo natural do cadastro. As pessoas não podem comprometer todo seu rendimento em dívidas. Os estabelecimentos não aceitam evidentemente, e isso limita o acesso.
Portanto, a expansão da oferta de dinheiro depende da confluência de vários fatores, interligados uns aos outros. Não pode haver outro caminho, senão basicamente o da capacidade de pagamento. Sem esta capacidade, mais cedo ou mais tarde os problemas surgirão.

E o consumo terminará se auto reprimindo, como é lógico e natural. O crédito é fundamental para o desenvolvimento econômico e social, mas existe a figura de retorno e de sua rapidez.
Se houve demora no resgate dos empréstimos, os bancos podem não perder, mas o ritmo do progresso objetivado pelo governo não produzirá efeitos rápidos como ele deseja. E o país espera porque o consumo, no fim, é a base de tudo. Até porque somente tem sentido produzir se houver mercado para adquirir. Nenhuma empresa produz para estocar.

23 de janeiro de 2013
Pedro do Coutto

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