"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

COALIZAÇÃO OU COLISÃO, E OUTRAS OBSERVAÇÕES PERTINENTES

Dona Dilma, acuada e intimidada, não sabe se o relacionamento com Lula é de coalizão ou de colisão. Lula, de passaporte médico já autenticado, nunca esteve tão feliz. O PSDB tem vários nomes e nenhum candidato. Eduardo Campos, de protagonista a mero personagem divulgador de confidências.


Nos últimos 60 dias, mudança completa no roteiro da sucessão de Dona Dilma, os personagens se hostilizam e se contradizem abertamente. Há dois meses, Dilma dizia e insistia em jornais e televisões. “2013 não é ano de eleição e sim de administração”. Não passou muito tempo, a própria presidente, sem o menor constrangimento, se desdiz e se desmente.



No Nordeste, vestida de vaqueira, (que horror, fica mais deselegante do que o habitual) retumba sem a menor restrição: “Serei candidata à reeleição, já decidi”. Além da mudança radical de posição, esqueceu que precisa do aval e do referendo de Lula e do PT.

Ela não pertence ao PT, sua carreira foi feita no PDT, e mais elementar, no PT estadual. Só veio para o plano nacional e virou predileta do Lula, quando este percebeu que não conseguiria modificar os mandatos do Executivo, Legislativo e Judiciário. Seria o terceiro mandato.

Ministros do STF passariam à compulsória com 75 anos, governadores seriam prorrogados. Era muito, mesmo para Lula, teve que entregar o cargo a ela, depois de elegê-la.

Lula considerava Dilma inofensiva. Tinha certeza absoluta de que voltaria em 2014, altivo e altaneiro. Só que os planos e o planejamento de longo prazo têm obstáculos e inconvenientes. O de Lula foi o mais cruel, impiedoso e invencível: o câncer do esôfago, da laringe, da garganta.

LULA QUASE SOME ELEITORALMENTE, SE RECUPERA, VOLTA ÀS MANCHETES

Para um homem que ascendeu politicamente e eleitoralmente pela palavra, mesmo intuitivo, perder a voz, não podendo mais discursar, significa o fim. Lula foi salvo pela obsessão da ambição, ficou bom. Como informamos há tempos, recebeu passe livre dos médicos do Sírio Libanês, “pode fazer o que quiser”.

Logo fez a declaração voltado diretamente para o Planalto: “Vou disputar qualquer coisa em 2014”. Analisei aqui que poderia ser o governo de São Paulo, se ganhasse (ou se ganhar, o projeto não está fechado), dominaria inteiramente o estado, governador e prefeito.

A propósito, por falar em prefeito: a invasão da privacidade do prefeito Haddad não foi por acaso, imprevisto ou coincidência, “eu estava perto”. Foi tudo planejado, levou fotógrafos, sentou no centro da mesa, quase sem olhar para o prefeito, se dirigindo (e ordenando) diretamente para os secretários.
Lógico, não tinha nada a ver com a prefeitura, o cargo está ocupado, nada com seus objetivos, era um recado (ou intimidação) para mais alto, mais longe e mais distante. Ou seja: o Poder para ele, o controle de tudo.

A INTIMAÇÃO OU INTIMIDAÇÃO FOI ENTENDIDA E ACEITA

Dona Dilma, que já vem percebendo as coisas e não é de hoje, não queria a luta de frente, viu que não havia outra forma, reagiu duas vezes. A primeira, com roupa de vaqueira, garantindo que seria reeleita em 2014. E logo a seguir da forma política, usando o dócil e servil governador de Pernambuco: “Só para você, como prova de confiança. Haja o que houver serei candidata à reeleição em 2014”.

Viajaram, cada um para o seu lado. Eduardo Campos pensou (?) que fazia uma grande jogada, cumpria o objetivos de Dona Dilma. Chamou jornalistas, informou: “A presidente Dilma me confidenciou que disputará a reeleição em 2014”.

Dilma respondeu a Lula, enfraqueceu o governador de Pernambuco, que passou de personagem a fofoqueiro, e ainda mais, perdendo a confiança dos possíveis interlocutores. E Dona Dilma ficou aparentemente parecida com um estrategista, pelo menos fez o que ninguém esperava.

O ex-presidente não se considera atingido ou alijado, ficou um pouco surpreendido, logo deu uma gargalhada de satisfação, comentou com Okamotto: “A Dilma está sendo aconselhada e assessorada por quem? Eu ainda nem havia decidido o que disputaria em 2014, ela aplainou meu caminho”.

O PSDB TEM VÁRIOS CANDIDATOS, NENHUM GANHA DE DILMA OU LULA

Depois de 2002, quando Lula assumiu, o PSDB não encontrou mais o caminho de casa. Perdeu a presidência três vezes, duas com Serra, uma com Alckmin. E agora os dois nomes voltam ao noticiário, lógico, em companhia de Aécio Neves, sempre cogitado como o “candidato jovem”. Pelo jeito, chegará aos 80 anos, não mais como cogitado, e sim o candidato indigitado, que palavra.

Serra perdeu duas vezes, na segunda teve mais de 40 milhões de votos, foi para o segundo turno.
O desastre para sua candidatura e biografia foi a pressa de não completar mandatos. Se não tivesse perdido tão feio para prefeito, estaria ameaçando seriamente o ex-governador de Minas.

Alckmin já perdeu uma vez para presidente, afirma: “Tenho o direito de tentar outra vez, como Serra”. Mas tem um pacto de permanência com São Paulo, está no Poder lá desde 1994. Só saiu em 2006 para ver o Planalto mais distante. Foi vice de Covas doente em 1994. Em 1998, perderam para Lutfatta Maluf no primeiro turno, ganharam no segundo.

Covas nem governou, Alckmin exerceu, Covas morreu, Alckmin emplacou a terceira eleição seguida, na época me fartei de dizer que era ilegal e inconstitucional. Perdeu no plano nacional, voltou em 2010, SP não aguenta mais, quase certo que espere 2018. Lula e Dilma terão cumprido seus destinos. Aparecerão outros. Como Serra, Alckmin não será presidente.

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PS – Avulsos, ninguém. Tenho a maior simpatia por Dona Marina, mas ela não tem legenda, não tem votos, não tem caminhos presidenciais.

PS2 – Ao contrário do que todos diziam, 2014 está, agora, bom para a Dilma “gerentona”, se livra do 2013, administrativo.

PS3 – Alckmin tentará outro mandato em SP. Mas está em pânico com a possibilidade de ter Lula como adversário. Sabe que não ganha dele. Prefere Lula presidenciável, se ganhar termina o mandato com 72 anos. Para Alckmin, Lula não é um adversário, e sim um espantalho assustador.

PS4 – Como o futebol é a pátria de chuteiras (Nelson Rodrigues), não podemos desprezar a convocação da seleção. Ainda mais porque Maluf está em alta. Seu “vice-governador” na ditadura, José Maria Marin, anunciou os jogadores para a Copa de 2014. Feita por Scolari, que por suas vezes publicamente manifestou seu admiração pelo ditador-perseguidor-torturador Pinochet.

PS5 – O treinador que rebaixou o Palmeiras e foi promovido a treinador da seleção, manteve quase todas as indicações de Mano Menezes. Fez 4 “invenções”, chamou Ronaldinho Gáucho. (Não o melhor do mundo de 2002, e sim o de hoje, 11 anos depois).

PS6 – Reconvocou Julio Cesar, que era da Inter de Milan. “Saído” dela, está na Segunda Divisão da Inglaterra. Justificativa do goleiro: “Eu queria aprender inglês”. Não era melhor continuar na Primeira Divisão da Itália e contratar um professor de inglês?

23 de janeiro de 2013
Helio Fernandes

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