"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ZECA PAGODINHO: O ATO EXEMPLAR DE GRANDEZA HUMANA

Na catástrofe resultante do temporal que se abateu sobre Xerém, distrito do município de Duque de Caxias, na Região Metropolitana do Rio, não importa agora buscar os culpados, se fruto da ocupação desordenada das encostas e das margens dos rios, do lixo jogado em qualquer canto, da falta de planejamento habitacional, da carência de limpeza urbana ou se a culpa foi da negligência de alguns políticos que não cumpriram a contento o seu dever constitucional de reduzir os riscos das tragédias, muito prováveis nessa época do ano.
Na lamentável e evitável catástrofe de Xerém, a rara atitude de uma celebridade, o cantor Zeca Pagodinho, chamou a atenção, ao liderar uma campanha de recolhimento de donativos, inclusive nas redes sociais e ainda abrigando e alimentando desabrigados em seu sítio naquela localidade.
Zeca emocionou a todos – confesso que cheguei às lágrimas – ao ser entrevistado declarando que "o mais importante é salvar as pessoas, o resto agente arruma".

De fato, no momento da angústia e da adversidade na vida é que atitudes como a de Zeca pesam muito mais.
Zeca foi às ruas, junto com a filha - que grande exemplo de um pai – tentando fazer o que fosse possível para ajudar seres humanos que perderam tudo, menos a vida.
Como celebridade, sem ter mandato político ou cargo público pertinente, poderia ter permanecido, indiferente e insensível, no conforto do interior de seu sítio, que graças a Deus não foi muito afetado pela tragédia.

SOLIDARIEDADE

Não, o famoso cantor e compositor foi às ruas para ver, in loco, em caminhos intransitáveis, as consequências de um tragédia sempre anunciada. Não conseguiu sequer, tomado de grande emoção, já com a voz embargada, terminar a entrevista a um repórter de televisão. Disse ao final da entrevista:
"É triste", e com a filha na garupa do quadriciclo seguiu a sua peregrinação procurando oferecer, de alguma forma, ajuda ao próximo. Que gesto exemplar!

Permita-me Grande Zeca, você que também veio de origem humilde, como grande parte de nós brasileiros, cumprimentá-lo pelo raro gesto de grandeza e compaixão humana. Que o seu gesto humanístico e filantrópico mostre a muitos o exemplo maior de que na dor e na tristeza é que se conhece de fato os humanos de primeira grandeza. Acabas de deixar demonstrado, mais do que o raro talento, na carreira dos inesquecíveis e inesgotáveis sucessos musicais, a sua riqueza interior. Seu ato de grandeza humana fica agora registrado. para sempre, como exemplo de compaixão e solidariedade, de um ídolo cujo sucesso não subiu à cabeça.

Você fez a diferença, Zeca, num momento de adversidade, de dor e de tristeza. A sociedade agora se curva ao raro gesto e lhe aplaude no palco maior, o da grandiosidade humana.

04 de janeiro de 2013
Milton Corrêa da Costa

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