"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 1 de abril de 2013

SOBRE REVOLUÇÕES E REVIRAVOLTAS

 

rev1

A Revolução Francesa foi um espasmo de ódio de uma violência diretamente proporcional à quantidade de ouro enfeitando as paredes dos palácios. Um movimento de desconstrução que olhava para o passado e que, com Napoleão, estravazou para o resto da Europa.

O próprio Napoleão, porém, repetia a formula que se propunha a sepultar, resultando de tudo, no fim, uma mera substituição de dinastias, dos Bourbon para os Bonaparte. Ele não revogou o sistema nem dinamitou seus fundamentos, apenas substituiu seus agentes.

Os ideais Iluministas que inspiraram alguns dos seus próceres foram afogados no sangue do Terror e da guerra.

rev2

Até hoje a França e o resto da Europa latina têm horror ao mérito que é a antítese revolucionária do privilégio.

Continuam pertencendo a um “rei” – eleito e com hora marcada para descer do trono, é verdade – e à sua corte intocável e portadora de direitos especiais (a casta dos funcionários do Estado e os demais pilares do regime) sem cujo beneplácito nada pode ser feito.

Para não terem de reconhecer o merecimento alheio entregam de bom grado a sua liberdade para abrigarem-se na mediocridade de uma “igualdade” outorgada, essa incubadora de vícios cuja contrapartida é entregar a quem a distribui o poder de outorgar também o sucesso ou impor o fracasso.
Um sucesso que é, quase sempre, fruto da corrupção mas que, exatamente por sê-lo, isenta o perdedor de culpa.

rev3

Da Pax Romana aos dias de hoje é este o vício de que aquele Europa nunca se livrou.
Velhos hábitos custam a morrer. E é a esse veio que nós pertencemos.
A revolução iluminista precisou emigrar para se realizar plenamente.

A Revolução Americana, anterior à francesa e, em grande medida inspirada na França, é revolução e é revolução criadora. Foi feita voltada para o futuro.

Identificou, um a um, os fundamentos últimos da velha ordem e tratou de destruí-los e de criar um novo contrato social apoiado em outros fundamentos.

rev6

A fonte de legitimação do poder, a hereditariedade, o sistema de primogenia, a desigualdade perante a lei, o poder de outorgar poder, o poder de interpretar arbitrariamente a lei, tudo isso foi varrido de cena.

O direito consuetudinário (common law) e o juri no lugar do direito outorgado, a eleição direta de funcionários públicos em lugar das nomeações, o império da lei imposta a todos sem exceções, nenhuma riqueza e nenhum poder que não sejam fruto do mérito.

Os filhos da revolução, abertos ao novo, estão sempre prontos a se recriar. Os filhos da maior de todas as reviravoltas, com medo da liberdade, seguem “mudando” sempre para que tudo continue igual.

rev4

01 de abril de 2013
vespeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário