"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 1 de abril de 2013

REI ESPANHOL COLECIONOU MAIS DE MIL AMANTES

Biógrafo de Lady Di pinta Juan Carlos como ‘velho libertino’ em livro sobre mulheres da Coroa espanhola
 
Desafio. Andrew Morton diz que não falava espanhol nem conhecia personagens antes de começar pesquisa Foto: Divulgação
Desafio. Andrew Morton diz que não falava espanhol nem conhecia personagens antes de começar pesquisa Divulgação


MADRI — O jornalista britânico Andrew Morton estremeceu a monarquia britânica em 1992 ao publicar a biografia de Lady Di, na qual contava, entre outras revelações, que a princesa de Gales tentou se suicidar cinco vezes. Milionário graças aos mais de 7 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, e longe da redação do “Daily Mail”, tabloide para o qual trabalhava, Morton continuou escrevendo sobre a vida íntima de celebridades, como Tom Cruise e Madonna. Agora, a bola da vez é a família real espanhola. Com “Ladies of Spain. Sofía, Elena, Cristina e Letizia: entre o dever e o amor”, Morton põe seu grão de areia no inferno astral dos Borbón.

Com o genro indiciado por desvio de dinheiro público, Juan Carlos I teve sua popularidade afetada também por um polêmico safári em Botsuana que ainda rende dissabores: sua amiga Corinna zu Sayn-Wittgenstein, que o acompanhava na caça de elefantes, vem sendo capa da imprensa espanhola, e não escapa da língua ferina de Morton. Em seu livro, o escritor conta que ao vir à tona a viagem do rei com Corinna - que teria, inclusive, morado no Palácio Real de El Pardo - o monarca “ficou em evidência como um velho libertino”.

“Um homem muito libidinoso” é outra expressão usada pelo jornalista britânico para reproduzir a impressão que a princesa Diana teria levado do rei depois de ter se hospedado no Palácio de Marivent, em Mallorca, em 1986 e em 1988. A história tem como base uma percepção da princesa de que o rei teria tentado seduzi-la. Lady Di descreveu o rei como “incrivelmente encantador, porém atencioso demais e muito grudento”.

Embora Morton afirme que soube do fato, em 1991, diretamente da boca da princesa, ele admite que outros autores já tinham contado esta história. Morton diz que entrevistou, para “Ladies of Spain”, cerca de 30 ou 40 pessoas, entre familiares da princesa Letizia, empregados da Casa Real e jornalistas espanhóis, mas nem por isso deixa de fazer uma compilação de fofocas espalhadas por diferentes publicações. Um dos rumores que ecoa é o de que o rei teria tido 1.500 amantes, mesmo sem esclarecer como chegou a esse cálculo.

- A fronteira entre rumores e fatos é muito frágil. Se eu não tivesse colocado os rumores no livro, teriam me cobrado. Os rumores nos permitem analisar a percepção que existe na Espanha sobre o rei. Parece ser merecida a fama que Juan Carlos I tem de don Juan - defende-se.

Morton diz em seu livro que por conta destas aventuras amorosas, o rei e a rainha estão separados desde 1976, mantendo uma vida de aparências. Sofía, teria pego o monarca em flagrante com a atriz Sara Montiel e, desde então, os dois moram em andares diferentes dentro do palácio.

- A vida de qualquer rei sempre está rodeada de rumores. O xis da questão não é saber quem são suas amantes e sim que a relação da rainha e do rei foi cortada há anos. A princesa Diana me contou que na época em que se hospedou no palácio de Marivent, Juan Carlos I e Sofía já tinham vidas separadas - diz.

Espalhar rumores não é algo que preocupe este escritor britânico, que afirma, orgulhoso, nunca ter sido processado judicialmente por nenhum dos 20 livros que publicou, embora admita que tenha ganhado inimigos. “Ladies of Spain”, pelo menos por enquanto, segue o mesmo caminho: ainda não provocou reações públicas da Casa Real:

- Este livro foi um desafio intelectual e profissional. Eu não conhecia o país, a família e o idioma. Meu livro é uma perspectiva objetiva e nova da Coroa espanhola.

Boa parte das críticas sobre o livro, no entanto, discordam taxativamente desta “objetividade”. Mas mesmo com ressalvas sobre a qualidade de seu trabalho, parece haver unanimidade de que é uma pedra a mais no acidentado caminho da monarquia espanhola nestes últimos dois anos. Morton, no entanto, assegura que quando começou a escrever “Ladies of Spain”, o inferno astral da coroa espanhola ainda não tinha começado.

A idéia original era centrar o livro na princesa Letizia, segundo conta Morton. Mas em 2010, o projeto se concretizou abrangendo toda a família, em torno das quatro mulheres. Sobre Letizia, o jornalista britânico traça o perfil de uma mulher extremamente ambiciosa, mandona, controladora, que tenta transmitir uma imagem de perfeição, mas que acaba sendo cansativa.

Quando começou a preparar o livro, a princesa de Astúrias era “o personagem mau da história”. Mas, depois do escândalo de corrupção envolvendo o genro do rei, Letizia ganhou um novo papel.

- A neta de um taxista pode se transformar na salvadora dos Borbón. Escândalos sexuais vêm e vão com o tempo, porque não deixam de pertencer à vida pessoal. Mas escândalos financeiros são uma facada no coração da monarquia.

01 de abril de 2013
Priscila Guilayn - O Globo

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