"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 1 de abril de 2013

A INCRÍVEL POLÍTICA ECONÔMICA E A FALTA DE OPOSIÇÃO

 



Muito distante da efervescência, cada vez mais diluída, da política nacional, posso dizer que Dilma faz sucesso. Popularidade como nunca ninguém registrou. E o faz num momento em que deveria, pelas circunstâncias, estar em sérias dificuldades.

Confusa e até meio descontrolada em suas decisões mais recentes, a presidente continua “inoxidável” ao desgaste, arriscando-se onde não deveria e ficando inerte onde precisaria de uma ação decidida.

Tomou uma medida arriscada em relação às contas de energia elétrica, não por elas exigirem justamente uma diminuição, mas pelo fato de que não se barateia por decreto um serviço que é escasso, endemicamente problemático e luta à beira do apagão.

Ademais, o setor precisa de altos investimentos para garantir energia para o crescimento econômico. Nos cursos de economia, se aprende que o preço é proporcional à demanda e que a escassez o faz aumentar. Nessa aventura de preços em queda, Dilma entrou, por decisão pessoal e soberana, na contramão da história.

INVESTIMENTO

Precisava? Mais interessante seria convocar as operadoras do setor, quase totalmente de controle público, para exigir-lhes um poderoso esforço de investimento. Apenas assim, pela abundância da geração, e, consequentemente, da oferta, a energia chegaria a se viabilizar e chegar barata, por muito tempo, ao consumidor.

Tirando coelhos da cartola, como Dilma fez, a Eletrobrás foi condenada a um prejuízo de uma dezena de bilhões de reais neste ano, e o setor como um todo (formado por estatais) poderá se fragilizar a ponto de mergulhar o país, por longo período, no caos energético.
Quem é demandado para tapar buracos é o tesouro nacional, mantido com a contribuição do cidadão para absorver o prejuízo.
Isso quer dizer que, se de um lado, o consumidor se vê premiado de imediato na conta mensal, de outro, em breve, pagará em dose incrementada, via tributos, as perdas do setor (público). Nisso os investimentos pararam, os investidores tradicionais perderam a referência e a segurança.

A escassez de chuvas aponta para um 2013 problemático, todas as usinas termoelétricas já operam a plena carga, e não se constata, também, nenhum esforço para convocar o povo a economizar energia.

Barata, será consumida com maior facilidade. O horizonte de 2014 ainda parece sombrio, pois nunca os reservatórios das hidroelétricas, como agora, estiveram tão baixos às vésperas da seca, e mesmo uma só estação de chuvas intensas não permitirá reequilibrar as reservas.

As operadoras ainda precisam comprar por mais de R$ 400 os megawatts “vendidos” por R$ 130 ou menos. Até quando resistirão? E como fica 2014, ano de Copa e de eleições?

RUBICÃO ENERGÉTICO

Pois é, Dilma atravessou o Rubicão eletroenergético deixando para trás corpos apodrecendo e outros esqueletos. O setor de etanol, ex-orgulho internacional num mundo poluído de CO2, está quebrado. Nos últimos dez anos, fecharam ou estão fechando cem usinas, a produção está em queda há três anos, e passamos a importar dos EUA etanol de milho (!). De império, temido e respeitado, dos biocombustíveis passamos a ser um exemplo patético de desleixos com o meio ambiente, com a geração de empregos num setor estratégico e fundamental, indispensável. Ainda invejado pelo mundo inteiro.

Seria como as Arábias se esquecerem de que a vocação nacional é petrolífera. A brasileira é sucroenergética, é de energias limpas. Não há outro país no planeta que possa tirar mais vantagens das energias limpas do que o Brasil! O lulo-dilmismo não enxergou, em 10 anos, o problema com a lupa que merecia, levando-o à falência. Basta dizer que deixou a Petrobras mandando no setor, como se um açougueiro estivesse tratando de cardápio vegetariano.

Também a Petrobras sinaliza o esgotamento de suas forças para resistir aos desmandos políticos partidários, depois de dez temporadas de intensa intromissão política. Como nunca se viu neste país, a Petrobras foi tomada por forças partidárias, em antagonismo às boas condutas e com genuíno interesse econômico e nacional.

Importam-se derivados de petróleo em ritmo frenético, pois não existe capacidade de refino e a extração é insuficiente, em cerca de 250 mil barris por dia, para cobrir a necessidade de consumo interno. Pior, revende-se a gasolina importada abaixo do custo de importação. O governo tirou a Cide – contribuição econômica que deveria manter os sistemas viários – dos combustíveis para sustentar a Petrobras.
Incentiva-se trafegar, com combustível barato, em rodovias que não possuem mais recursos para serem mantidas.


O governo focou e foca a produção do pré-sal como salvação nacional, mas petróleo, até agora, não saiu. Reservas superestimadas e badaladas como minas do rei Salomão geraram apenas brigas antecipadas pelo controle de royalties, incertas e não sabidas. Puseram em dificuldades o meteórico Eike Batista, o empresário mais lulista do país. Os Estados estão se matando por algo que ainda não existe e não se sabe quando será extraído. Permanece ainda a dúvida sobre o custo de extração, que pode ser economicamente inviável.

Onde as garras do Estado estão ausentes, ou quase, é na produção agrícola. Nisso é que o país se salva, com um superávit de U$ 100 bilhões. Esse setor é relativamente imune a jogadas políticas, mas enfrenta filas nos portos e falta de hidrovias, de ferrovias e de tudo o que o governo deveria promover. Aí sim tem gargalos, insegurança e aumento de custos.

Acrescentem-se os desmandos cambiais usados para compensar falhas, descasos e atitudes perdulárias, como excessos tributários, burocracia medieval, descontrole de despesas e imprevidência orçamentária. Desindustrialização, concentração urbana, saúde a zero, mobilidade viária caótica, falta de portos e aeroportos, e muito mais o que permita enxergar o futuro com tranquilidade.

REELEIÇÃO

Dilma não parece ter um plano consistente para enfrentar esses problemas, atua e intervém nitidamente de olho na sua reeleição, incentiva o consumo de energia, de combustíveis, de bens em geral, repassando ao tesouro nacional a tarefa de escorar atitudes não sustentáveis, aliás, desagregadoras.

Quanto mais mexe, mais o cobertor fica curto para encobrir as falhas do sistema. Os problemas guardados no armário apodrecem, e, para evitar o mau cheiro, perfuma-se o clima com medidas que poderão evaporar deixando a economia mais fragilizada ainda.

Seu silêncio sobre pontos cruciais transmite insegurança ao mercado. Precisa-se de regulamentação e confiabilidade, mas enxerga-se a precarização de tudo o que brilhava, até pouco tempo, como se fosse um milagre.

Nessa conjuntura, é espantoso como a oposição não preenche seu papel, não se insurge, não aparece como contraponto crítico e democrático. O Congresso Nacional reduziu-se a criadouro de peixes que aparecem à luz do sol, freneticamente, quando alguém joga migalhas. De resto, nem parece que existe.

01 de abril de 2013
Vittorio Medioli

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