"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de julho de 2013

O NÓ QUE PRECISAMOS DESATAR


          

Fenômeno mais profundo e importante do que a rebelião dos jovens, apesar da participação de vândalos e animais nas manifestações, está sendo  a pacífica revolução dos velhos. Quando Getúlio Vargas criou os institutos de previdência social, a vida média do brasileiro mal chegava aos cinqüenta  anos.

Assim, tornou-se fácil, mesmo para uma economia então insipiente como a nossa,  que o Estado arcasse com aposentadorias capazes de satisfazer  quantos paravam de trabalhar em idade ainda útil. Porque não durariam muito tempo, fora as exceções de sempre. A Medicina, porém, adiantou-se a cada ano, trazendo maravilhas para a Humanidade.

Encurtando a conversa, hoje o cidadão trabalha naturalmente aos setenta e oitenta anos, mesmo podendo  aposentar-se aos sessenta e cinco ou até antes, em se tratando de categorias especiais e privilegiadas.
O resultado é que mesmo com o desenvolvimento e o crescimento econômico, os velhinhos continuam trabalhando em atividades formais ou informais.
Maravilha, mas com uma consequência trágica para os jovens: os empregos que deveriam abrir-se para eles encontram-se ocupados pelos idosos impertinentes que se recusam a tomar o rumo do  além.

Cada vez  fica mais difícil aos mais moços abrir espaço para o primeiro emprego, empenhando-se todos numa “livre” competição que conduz ao egoísmo e a nem muito éticos expedientes responsáveis pela exclusão do mercado do trabalho daqueles que não se destacam, por razões explicáveis pela natureza.

Claro que entre nós esse fenômeno torna-se muito menos agudo do que, por exemplo, na França, onde o primeiro emprego aparece aos 29 anos de idade  do já ex-jovem. Na Alemanha e na Espanha é pior.

Devemos preparar-nos para o que vem por aí, apesar de na última década do século passado haver diminuído o numero de nascimentos em  nossas famílias. Passou o tempo em que os casais tinham oito, nove ou mais filhos. Só que a solução do controle  da natalidade, ou planejamento familiar, não é solução, mas maldade para com as gerações futuras.

Fazer o quê, se matar os velhinhos e antecipar-lhes a eternidade também não pode ser cogitado? Alguns fascistas sustentam que as guerras seriam a saída, como foram no  passado. O sacrifício de vinte,  trinta ou cinqüenta  milhões de vitimas equilibrou as oportunidades no planeta, às custas do que de mais sagrado possuíam os indivíduos, a própria vida. Sem falar no número indescritível de cientistas, compositores, músicos, poetas, advogados, professores e tantos mais que pereceram nos campos e batalha sem ter tido oportunidade de desenvolver suas qualidades.

Indaga-se onde se encontra o nó que precisaremos desatar em algumas décadas, e que já sufoca a Europa, o Japão e logo também a China. A concorrência cruel nas sociedades do planeta inteiro só faz aumentar a angustia, tanto quanto diminuir a ética. O modelo econômico que  determina a abominável lei do mais forte  nos transforma em trogloditas em plena era da tecnologia avançada.

23 de julho de 2013
Carlos Chagas

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