"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

OPOSIÇÃO: BUSCA-SE UM DISCURSO, DESESPERADAMENTE.

Perdido em uma briga interna entre o ex-governador de São Paulo, José Serra, e o senador Aécio Neves (MG), pré-candidatos à Presidência em 2014, o PSDB está deteriorando a relação com seus aliados e não apresenta propostas que o torne uma alternativa ao governo petista.

A avaliação é do ex-deputado federal Raul Jungmann (PPS), que foi ministro da Reforma Agrária do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), embora seu partido fizesse oposição aos tucanos na época.
Ele acredita que a oposição não mostra como solucionará os problemas da população.
Ao contrário, fica presa na "facilidade de denunciar" o governo, que perdeu seis ministros acusados de corrupção no primeiro ano da presidente Dilma Rousseff (PT).

Em entrevista ao Valor no sábado, quando o PPS aprovou lançando candidato próprio para presidente em 2014, Jungmann garante que a tática é infrutífera, como prova o mensalão.


Valor Econômico: O senhor diz que o PPS está perdido no "hiper antipetismo". Como isso tem afetado a oposição?

Raul Jungmann: O bloco comandado pelo PT e pelo [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] nos tornou dependentes - no sentido de contraponto - do discurso deles. Não temos ido além, não temos apresentado propostas à população. Depois de três disputas presidenciais, a polarização PT/PSDB entrou em um processo de fadiga para as forças que não encabeçam a oposição. Para nós, ela não tem levado a uma saída e começa a não ser mais sustentável.


Valor: Para o PPS ou para a oposição?

Jungmann: Se o Tribunal Superior Eleitoral entender que o PSD tem direito ao fundo partidário e tempo de televisão, haverá um movimento de para criar novos partidos e isso sangrará ainda mais os partidos da oposição que não representam o novo. Vamos sair do troca a troca no varejo para o troca a troca no atacado, o que ameaça o campo da oposição.


Valor: A queda de seis ministros não afetou a aprovação da presidente. A oposição falhou em explorar esses escândalos?

Jungmann: Ficou facílimo denunciar o governo do PT. Diria até que é impossível não denunciar. Mas ficou evidente, e o mensalão foi o exemplo máximo, que isso não basta. O denuncismo sensibiliza uma faixa da opinião pública, mas temos que entender que outra parte não quer saber disso. Com a evidente piora da economia, haverá um desembarque de aliados e segmentos sociais do governo e, se ficarmos presos a essa polaridade, a essas denúncias, perderemos a oportunidade de construir um novo rumo para o país.


Valor: O PPS apoiou o candidato do PSDB à Presidência em 2006 e 2010. O partido perdeu com essa aliança?

Jungmann: Deveríamos ter resistido e insistido no caminho próprio. Tivemos candidato em 1989 [Roberto Freire, quando o partido ainda era PCB], 1998 e 2002 [Ciro Gomes, hoje no PSB]. Tínhamos três deputados federais em 1988 e chegamos a 22 [em 2003]. Em todas estas disputas, crescemos em prestígio, mesmo sem sucesso eleitoral. O que nos reserva o PSDB hoje é uma espécie de quarto de despejo, um quartinho dos fundos.


Valor: Como assim?

Jungmann: Eles dizem: "olha, vocês ficam ai que nós tocamos efetivamente o lado de cá" [a oposição]. O PSDB tem tratado com desdém e desprezo o PPS. E quem está dizendo isso é o "bico longo" [em referência ao bico dos tucanos], que trabalhou por oito anos no governo FHC. O PSDB montou um comitê nacional com o DEM, para dividir os municípios e capitais em todo o país, e não chamou o PPS. Fomos excluídos.


Valor: Por isso a candidatura própria?

Jungmann: Sem deixar o campo da oposição e sem romper com o PSDB, queremos estar, de maneira diferente, em 2014. Hoje, não vejo no PSDB a unidade, a renovação, uma proposta para o país que nos dê esperança de retomar esse processo. O PSDB tem deteriorado a relação com os aliados continuamente, não só conosco, e isso é fruto do que ocorre dentro do partido, em que há uma disputa mortal entre os líderes dos dois maiores Estados do país [Serra e Aécio].


Valor: Em 2009, o partido quase aprovou a fusão com o PSDB. O que mudou? Foi a derrota do Serra?

Jungmann: A derrota do Serra conta, é claro. Mas também foi a decepção e frustração pela irresolução dos dilemas do PSDB. É um partido que não resolve sua divisão interna, que não se refaz, que não teve coragem de defender as próprias bandeiras. Há um cansaço com essa indefinição. Não significa deixar a aliança, mas o que começa a acontecer? O DEM está à procura do seu caminho [lançou o senador Demóstenes Torres, de Goiás, como candidato a presidente], o PPS também. E cada um vai tocar a sua vida.


Valor: O PPS não tem nomes fortes para 2014. Mesmo assim, o senhor acredita em vitória?

Jungmann: Digo que é muito difícil, mas precisamos preparar terreno para 2018. Dizem que somos muito pequenos, mas a [ex-senadora] Marina [Silva] teve 20 milhões de votos com o PV, que é menor do que nós. Não há uma ligação direta entre tamanho do partido e resultado.

Valor: Aliados da Marina se filiaram ao PPS. O nome desejado para 2014 é o dela?

Jungmann:
Prefiro não tocar no assunto, primeiro para não passar por cima da Marina. Entretanto, defendo que o PPS faça um congresso em 2013 para colocar o desenvolvimento sustentável no topo das suas preocupações. Isso é um movimento que a envolve, mas não faço nenhum cálculo.

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