"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 6 de março de 2012

MILITARES USAM FRASE DA "PASSIONÁRIA" PARA CONTESTAR GOVERNO

Em manifesto tornado público através do site do Clube Militar – reportagem de Evandro Éboli, O Globo de 3 de março – oficiais do Exército, entre eles 44 generais, usaram frase de Dolores Ibarruri, a Passionária, deputada comunista, proferida na guerra civil espanhola. “Não passarão”, afirmou Ibarruri, conclamando o povo a resistir.

A guerra civil durou de 36 a 39 e conduziu Franco a uma longa etapa de poder absoluto que só terminou com a morte do ditador em 1975. Houve o bombardeio nazista à cidade de Guernica, que inspirou Picasso, antifranquista, a pintar uma das obras mais famosas do mundo. Agora, 2012, os militares visitam o passado e nele se inspiram para redigir e divulgar documento que está na Internet com o título Alerta à Nação: Eles não passarão.

Opõem-se à criação da Comissão da Verdade (escrevi sobre isso) e contestaram diretamente o governo, não só pela medida, mas também porque não reconhecem qualquer autoridade e legitimidade no ministro Celso Amorim para, cumprindo ordens da Presidente Dilma, determinar punições militares aos signatários. Uma nítida atitude de rebeldia. São todos oficiais da reserva, porém sujeitos ao regulamento militar.

Também no sábado 3, a repórter Tânia Monteiro focalizou o episódio no O Estado de S. Paulo, com foto de André Dusek. A crise foi deflagrada. Esta aí exposta. O Planalto tem que procurar uma saída política para não sofrer rebate no princípio da autoridade. Os oficiais fazem reparos à anistia concedida a Lamarca. Isso é uma coisa. A Comissão da Verdade, outra.

Ninguém pode ser contra a busca da verdade. Não se refere somente aos casos de tortura, mas também, por exemplo, ao tenebroso atentado do Riocentro. O Exército acobertou de forma absurda, da mesma forma que o general Valdir Muniz, secretário do governo Chagas Freitas, na área estadual, omitiu-se no caso da explosão das oficinas que culminou com o incêndio da Tribuna da Imprensa.

A Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso, e sancionada pelo presidente João Figueiredo, em agosto de 79, elimina a perspectiva de condenações, mas não se destina a impedir que fatos verdadeiros venham a público. Por isso, penso, também não tem cabimento a afirmativa do presidente da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, Paulo Abrão. De que o processo da verdade não deve se estender hoje aos guerrilheiros de ontem. Pois se eles recebem pensões do Tesouro nacional, e as consideram legítimas, caso contrário não poderiam aceitá-las, por seu turno nada devem temer.

A verdade não pode ser privilégio apenas de uma corrente. O que está em jogo, entretanto, são os porões da repressão. O sadismo, o reflexo financeiro contido em financiamentos particulares a uma operação como a Oban. A prisão de religiosos, caso do Frei Libânio de Cristo (Frei Beto), um intelectual que se envolveu em ações contestatórias à ditadura de então.

A verdade, acima de tudo, é ainda mais ampla do que a sórdida tortura, sempre covarde, imunda e doentia. Ela se projeta no direito de familiares dos mortos sem sepultura poderem enfim sepultá-los. Se foram queimados, como traficantes fazem nos morros do Rio, ou se lançados de aviões no oceano, como aconteceu na Argentina, o surgimento da verdade servirá de túmulo, não apenas aos mortos, mas a toda uma fase negra da história do Brasil.

O homem de março
Sebastião Nery

Na tarde de 22 de agosto de 1961, às dezessete horas, o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Abreu Sodré, o presidente de Centro Acadêmico 22 de agosto da PUC paulista, Mário Garnero, políticos e jornalistas receberam no aeroporto de Congonhas o governador Carlos Lacerda, da Guanabara.

O Centro Acadêmico da PUC estava realizando uma “Semana da Unidade Nacional”, e convidou treze governadores, outros políticos, empresários e jornalistas para falarem, ao longo da semana, no auditório da TV Excelsior, que transmitia as palestras e debates ao vivo.

Quando Lacerda chegou ao auditório, foi recebido por uma pequena multidão. A muito custo o governador da Guanabara conseguiu alcançar o auditório, enquanto lacerdistas e esquerdistas se engalfinhavam.

###

SERRA

Os esquerdistas soltaram urubus na porta do auditório. Quando as cortinas foram abertas, começou a vaia, que só parou durante a execução do Hino Nacional. A confusão se generalizou.

Ricardo Zaratini, um estudante grandalhão, invadiu o palco, disposto a avançar sobre Lacerda. A palestra de Lacerda virou discurso e durou duas horas. O programa teve grande audiência e, no dia seguinte, o episódio estava na primeira página dos jornais.

Os esquerdistas eram liderados pelo então presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo e, em 1963, da UNE, José Serra,

###

FERNANDO HENRIQUE

No fim de 2002 e do seu segundo mandato na presidência Republica, Fernando Henrique Cardoso conversava no palácio da Alvorada, em Brasília, com José Serra, candidato do PSDB, do PFL e da maioria do PMDB à sua sucessão, e numerosos lideres tucanos, sobre a escolha do seu candidato a vice, quando Serra falou em Itamar Franco.

Fernando Henrique perguntou:

- Serra, e se você morrer?

Isso os jornais contaram. Mas esconderam o resto da pergunta :

- Serra, o Itamar é confiável? Ele assume e vai perseguir até o fim a todos nós, que ficamos vivos.

Mal Serra saiu, Fernando Henrique, que sabia que ele já tinha convidado Jarbas Vasconcelos, que não aceitou porque não ia deixar o governo de Pernambuco, e Itamar Frasnco, mandou Pimenta da Veiga vetar imediatamente Itamar em nome do PSDB de Minas, e Gedel Vieira Lima vetar em nome do PMDB oficial.

Com o veto de Fernando Henrique no PSDB e no PMDB, Itamar, que vinha credulamente conversando com Aécio Neves e havia anunciado que só falaria na noite de sexta-fera, 5, antecipou a decisão para a manhã de sexta e ficou no governo para disputar a reeleição e discutir o apoio a Lula.

###

GASPARIAN

O Conselho Editorial da “Editora Paz e Terra” era assim: Antonio Candido, Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso. O dono e editor, Fernando Gasparian. Foi assim que a “Paz e Terra” nasceu.

Cansados de brigarem com Ulysses Guimarães e Orestes Quércia, porque queriam controlar o PMDB de São Paulo para lançarem Mário Covas à Presidência da República nas eleições de 89, os então senadores Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, e os deputados José Serra e Fernando Gasparian, todos do PMDB de São Paulo, reuniram-se uma noite em São Paulo, durante a Constituinte, para fundar um novo partido.

Serra fez longa exposição defendendo o fim do Estado forte, o neoliberalismo e as privatizações. Gasparian não gostou:

- Nesse partido eu não entro. Vai ser uma UDN entreguista.

Os três participaram do comando da fundação do PSDB. Gasparian continuou no PMDB.

###

MARÇO

José Serra é assim. Desde a UEE (União Estadual dos Estudantes de São Paulo) e depois a UNE (União Nacional dos Estudantes), quando presidiu as duas, sempre foi assim. Não manda recado. Debate e defende suas opiniões e posições abertamente,

O mês de março é dele. Nasceu em 19 de março (dia de São José) de 1942. Em 13 de março de 1964, como presidente da UNE, foi o mais jovem orador do histórico comício em defesa das “Reformas de Base”, diante da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, comandado por João Goulart, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Francisco Julião, os lideres sindicais Clodsmith Riani, Dante Pelacani, Mario Lima , outros. Todos mortos. Vivo, só Serra.

Agora, neste março, decide afinal disputar a prefeitura de São Paulo, forçando a antecipação e abertura de um processo político nacional que vai desaguar nas eleições de 2014, quaisquer que sejam os resultados de 2012.

Pedro do Coutto
06 de março de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário