"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 6 de março de 2012

COMO O JOGO FICOU SUJO

'The Spirit of the Game', de Mihir Bose analisa processo de corrupção do espírito esportivo
Ao evoluir de “uma atividade recreativa comandada por voluntários”, e tornar-se uma “entidade corporativa”, o esporte perdeu a maior parte de sua graça. Essa é a opinião defendida por Mihir Bose, um jornalista esportivo britânico de origem indiana, em seu mais recente livro. The Spirit of the Game: How Sport Made the Modern World (“O Espírito do Jogo: Como o Esporte Formou o Mundo Moderno”) passeia por áreas nas quais os seu conhecimento não é amplo nem profundo. Isso inclui o boxe e os esportes tradicionais norte-americanos: beisebol, basquete, hóquei no gelo e futebol americano. Ele se interessa por Formula 1, tênis e sinuca, mas é verdadeiramente apaixonado por rúgbi, futebol, críquete e atletismo. Thomas Hughes, autor de Tom Brown’s Schooldays, e adorador dos três primeiros esportes; e o barão Pierre de Coubertin, fundador das Olimpíadas modernas, e fã de atletismo, acreditavam que os esportes tinham um propósito moral, transformando seus praticantes em pessoas melhores e mais atléticas.

É claro que sempre existiram lapsos nesse ideal, mas na visão de Bose, o problema realmente se intensificou após os Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Os competidores tinham orgulho de serem amadores. Fanny Blankrs-Koen, a estrela holandesa da competição, era uma dona de casa de 30 anos e mãe de dois filhos. Dorothy Tyler, uma britânica que praticava salto em altura, foi fotografada durante um treinamento, saltando por cima do varal em que estavam penduradas as fraldas de sua filha. Cada atleta britânico masculino parecia agradecido ao receber um par de cuecas gratuitas.

No começo, a Guerra Fria era o principal motive por trás da mudança. Para a União Soviética, a China e seus satélites, o esporte se tornou uma extensão da propaganda comunista. Atletas russos bem sucedidos eram recompensados com casas de veraneio, carros de luxo e empregos-fantasma. Os jovens aspirantes a campeões da Alemanha Ocidental podiam ser agraciados com um urso de pelúcia desde que não se distraíssem. A China ordenou que suas estrelas do tênis de mesa perdessem partidas contra jogadores norte-coreanos, japoneses e até mesmo norte-americanos, quando isso servia a seus fins diplomáticos.


Desde a queda do comunismo, o dinheiro substituiu a política como principal fonte da corrupção no esporte. Bose não ataca os altos pagamentos dos jogadores. Ele se dedica mais às consequências corruptas das apostas não-reguladas. Jogadores paquistaneses de críquete são subornados por apostadores e bookmakers. Seu país natal, a Índia, se tornou “o centro moderno dos jogos comprados”, e segue cercada de rumores e acusações que incluem lavagem de dinheiro e atividades comerciais de empresas de fachada. A corrupção também está entranhada nas equipes e nos pilotos da Formula 1.

Essa corrupção chega até mesmo aos responsáveis pela administração dos esportes. A Fifa que regulas as Copas do Mundo de futebol, é famosa por sua política de “toma-lá-dá-cá”. O comitê olímpico também já foi famoso por seu comportamento “sujo”. Depois que a informação de que cidades conseguiam sediar os jogos por meio do suborno, o comitê se reformou, mas apenas até certo ponto. Burocratas olímpico ainda se comportam como figuras de grande influência.

Toda essa mudança, no entanto, não foi necessariamente para pior. Bose também encontra motivos para celebrar. A televisão agora permite que fãs ao redor do mundo acompanhem seus esportes favoritos. E o esporte também consegue transformar inimigos em amigos. Na África do Sul, os africâneres derramaram lágrimas de felicidade ao ver Nelson Mandela vestindo o uniforme da seleção nacional. A reaproximação dos Estados Unidos e da China começou com uma partida de tênis de mesa. Na Índia, o críquete transcende classes sociais, religiões, regionalismos e idiomas, e, às vezes, consegue até que indianos e paquistaneses deixem suas diferenças de lado.

o6 de março de 2012
Fontes:The Economist - Play up and pay the game

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