"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 6 de março de 2012

SOBRE A COPA DO MUNDO E CHUTE NA BUNDA


Um dirigente da FIFA, cujo nome não tenho paciência de busca no Google, disse que o governo brasileiro precisa de um chute na bunda. Ele está errado. Na verdade, o governo precisa de pelo menos uns cem chutes na bunda, para ver se começa a trabalhar.

Quem lembra? E o povão comemorando na praia, decretando feriado...

Não, nossa soberania não foi ferida. A crítica não é ao Brasil ou ao povo brasileiro, mas sim a um governo que ASSINA UM CONTRATO e não o cumpre, tenta mudar cláusulas etc. Por que diabos foi lá assinar? Para colher ônus e benesses políticas, já que o povão cai no conto do vigário – supondo que uma Copa do Mundo não traga custos.

Esses mesmos que aplaudiram como “conquista” a assinatura de um contrato sabidamente “caracu” são os que agora ficam irritados porque alguém da FIFA simplesmente COBRA O CUMPRIMENTO DO QUE FOI ASSINADO.
A grande maioria, aliás, nunca leu o contrato – aplaude na assinatura e xinga na cobrança de cumprimento sem mesmo saber do que se trata.

Sim, fazer Copa do Mundo é uma coisa não somente boa; arrisco dizer que seja 99% ruim. Isso porque o evento é PRIVADO e, como tal, tem dono: a FIFA. Não é ela que impõe coisa alguma, mas sim países que vão AJOELHADOS ATÉ A SEDE DA ENTIDADE DE FUTEBOL, implorando para sediar a Copa. A dona do evento então escolhe, mediante assinatura de um contrato que dá novo valor semântico a termos como “leonino” e “draconiano”.

Depois de SUPLICAR para ser sede da Copa, obrigando-se a tudo que a FIFA exige, não pode um governo reclamar de ser cobrado. Se há algum problema de soberania, FOI O GOVERNO QUE A ELA RENUNCIOU AO HUMILHAR-SE À FIFA PARA REALIZAR UMA COPA DO MUNDO.

O que se vê agora, no total de reclamações sobre o “chute na bunda”, é militante dando migué ou gente inocente que apenas não vê as coisas como elas são.
Não quiseram a Copa? Por que agora reclamam do cumprimento de um contrato que vocês mesmos aplaudiram na assinatura? Aceitem a própria burrice, ao menos.

E ao governo cabe aceitar a recomendação e escolher alguém para dar uma bicuda em seu traseiro. Mas reitero: é errado. São necessários pelo menos uns cem para que comecem a fazer alguma coisa. Ou então simplesmente desistem da Copa.

Usar um falso (e ridículo) nacionalismo para fingir irritação quanto à cobrança de um contrato pelo qual se implorou, convenhamos, é ridículo. E comprova a necessidade do pontapé nos fundilhos. Se não para começarem a trabalhar, ao menos para virarem adultos politicamente.

06 de março de 2012
implicante

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