"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

TODO CUIDADO É POUCO. MISTURA DE POLÍTICA E RELIGIÃO AGRAVA O RADICALISMO NO EGITO

 

É grave a situação e não existe perspectiva de estabilidade institucional. Misturar política e religião nunca dá certo, mas é a norma em todos os países árabes, entre os quais o Líbano é o mais ocidentalizado, digamos assim. No Egito, onde a ocidentalização também avançava, a recente eleição direta do presidente da República acabou marcada pelo ranço religioso, e a radicalização aumenta.



Tudo converge para a famosa Praça Tahrir, no Cairo, onde raiou em 2011 a Primavera Árabe que redundou na derrubada do mumificado eterno presidente Hosni Mubarak, um coronel aviador que há décadas ocupava o poder, com apoio e financiamento dos Estados Unidos.

Na última sexta-feira, partidários e opositores do novo presidente do Egito, Mohamed Mursi, se enfrentaram e se envolveram em diversos incidentes na Praça Tahir, onde manifestantes dos dois lados atiraram pedras e coquetéis molotov uns nos outros, vejam a que ponto chegou a radicalização religiosa. Cerca de cem pessoas ficaram feridas nos confrontos na emblemática praça da capital egípcia, segundo o ministério da Saúde.

Tudo começou quando, atendendo ao chamado da Irmandade Muçulmana, confraria da que é membro o presidente, centenas de pessoas protestaram contra a absolvição, na quarta-feira, de personalidades do regime de Hosni Mubarak acusadas de ter ordenado uma carga com cavalos e camelos na praça para desalojar os manifestantes no começo de 2011.

Outro protesto foi convocado por militantes laicos para reivindicar a formação de uma nova comissão constituinte mais representativa, em um momento em que a Alta Corte Administrativa deve se pronunciar sobre a legalidade da atual comissão, dominada pelos islamitas.

Os choques começaram quando partidários da Irmandade Muçulmana destruíram o palanque de um grupo que gritava palavras de ordem contra Mursi, segundo um jornalista da Agência France Press. Segundo testemunhas, manifestantes incendiaram um ônibus que levara os partidários da Irmandade à praça.

O Egito enfrenta grave crise econômica desde o início da Primavera Árabe. Agora, o risco maior é essa mistura de política e religião conduzir a uma situação explosiva, que faça as forças armadas egípcias intervirem e voltarem a usurpar o poder. Se a disputa for no voto, os islâmicos conservadores ganham de barbada.

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