"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O NOME É GUERRA CIVIL



A onda de assassínios nas ruas paulistas ou catarinenses pode se manter, aumentar, diminuir ou cessar.
Isso não muda seu caráter: o que quer que aconteça não terá dependido da autoridade do Estado, mas da vontade, ou do poder de fogo, dos criminosos.
É deles, portanto, e não do Estado, que depende a nossa vida.

Lembra-se do juiz Odilon de Oliveira, do Mato Grosso do Sul, que por sua ação contra os narcotraficantes e o crime organizado, feita rigorosamente dentro da lei, está condenado à morte pelos bandidos? Desde 2004 vive sob proteção policial, 24h por dia.

Não pode ter vida normal: sua rotina é trabalhar, estudar, analisar informações sobre o crime organizado. Bom: o juiz Odilon de Oliveira, já em 2006, comprovou que os ataques de bandidos em São Paulo, pouco antes das eleições para o Governo, eram ordenados pelo PCC.
Hoje garante, com base no que apurou, que o PCC se aliou às Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, e ao EPP, Exército do Povo Paraguaio, grupos que começaram pela luta armada contra o Governo e derivaram para o tráfico de drogas.

Parece claro que o objetivo do PCC é criar áreas onde o Estado não entre – no dialeto das Farc, “áreas liberadas”.
Algumas já se esboçam – favelas onde a Polícia, para entrar, tem de romper linhas de defesa.
A frase do governador paulista Geraldo Alckmin, de que São Paulo é diferente do Rio porque em São Paulo a Polícia entra em todos os lugares, não passa disso: uma frase.

O Governo Federal trata as Farc com alta gentileza. E ignora a força do EPP.
 
Tucano bica

A cena horrorosa aconteceu em Curitiba, Paraná. Uma jovem, que participava de um ato pela paz, foi agredida por policiais militares, ao fotografar violências cometidas pela tropa de elite da PM. Os agressores tentaram tomar a câmera da moça e a agrediram pelas costas.
Covardia múltipla: bateram num civil pacífico, bateram numa mulher, bateram numa pessoa muito menor que qualquer um deles. O governador tucano Beto Richa até agora não se manifestou. E está tudo gravado: veja em http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2012/11/20/video-em-curitiba-policiais-agridem-estudante/, no bom Blog do Josias de Souza.

Ele conhece

O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, está dando aulas de eficiência. Seu secretário da Saúde, José de Fillipi, do PT, já está condenado em segunda instância (é, portanto, ficha-suja) a devolver R$ 2,1 milhões aos cofres públicos, por ter, como prefeito de Diadema, contratado sem licitação o escritório do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT.

Recorreu ao Supremo.

Haddad escolheu Cleuza Repulho para a Secretaria da Educação. Cleuza já foi consultora da Unesco e secretária da Educação de Santo André e São Bernardo, sempre em administrações do PT.
Foi denunciada pelo Ministério Público à Justiça como uma das responsáveis por um desvio de R$ 48,8 milhões, em Santo André; e está na lista de inadimplentes da Prefeitura de Santo André, por não ter devolvido, conforme determinou o Tribunal de Contas do Estado, R$ 125 mil que gastou em viagens.

Em São Bernardo, o Ministério Público abriu inquérito para apurar favorecimento na assinatura de um convênio de R$ 3,2 milhões.

Haddad não é eficiente? Poupa trabalho e é transparente, escolhendo secretários que não dão margem a desconfianças. Já assumem na mira da Justiça.

Coisa estranha

A CPI do Cachoeira se encerra melancolicamente, sem investigar um tema dos mais interessantes: a possível participação da Delta, a empreiteira de Fernando Cavendish (aquela que, no ano passado, antes de despertar suspeitas, era a que mais recebia do Governo Federal; neste ano, depois de despertar suspeitas, é a segunda), nos negócios de Cachoeira.


Entende-se: o objetivo declarado da CPI era pegar um tucano, o governador de Goiás, Marconi Perillo. No caminho, esbarrou em Cavendish – que estava na Europa, na festa da Turma do Guardanapo, naquela festança em que as esposas mostravam a sola de seus caríssimos sapatos para provar que eram Louboutin e os homens dançavam com guardanapos na cabeça, sabe-se lá por que, num luxuoso salão reservado só para eles.

O problema é que outro integrante da Turma do Guardanapo é o governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB, unha e carne com o Governo Federal.

Que dilema! A solução foi matar a CPI, mesmo que não pegue Perillo, e contentar-se com Cachoeira.

Denúncia séria

Fora da CPI, a coisa anda: o Ministério Público Federal de Goiás pede 80 anos de prisão para o bicheiro Carlinhos Cachoeira, por 17 crimes (entre eles corrupção e formação de quadrilha armada). Agora, a defesa fará suas alegações finais. Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro, apanhado pela Polícia Federal.

Aqui se faz, lá se paga

A British Petroleum, BP, concordou em pagar US$ 4,5 bilhões de multa pelo vazamento de óleo no Golfo do México, em abril de 2010). E declarou-se culpada das acusações de negligência que levaram onze trabalhadores à morte. Aceitando a culpa, a BP evita o julgamento e apenas aguarda a sentença.
Uma curiosidade: das multas milionárias por vazamentos, no Brasil, quantas foram pagas?

21 de novembro de 2012
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação

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