"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"A POLÍTICA SEGUNDO TIM MAIA"


Sempre que perguntada, a maioria da população brasileira tem se manifestado contra a liberação do aborto, da maconha e do casamento gay, e a favor da pena de morte e da maioridade penal aos 16 anos. Sem dúvida são posições conservadoras, ou "de direita", como diz o Zé Dirceu, e, no entanto, são esses que elegem os governos e as maiorias parlamentares ditas "de esquerda" hoje no Brasil.
Como harmonizar o conservadorismo na vida real com o progressismo na política ?

Talvez Tim Maia tivesse razão quando dizia que, "no Brasil, não só as putas gozam, os cafetões são ciumentos e os traficantes são viciados, os pobres são de direita".
Uma ingratidão com a esquerda que lhes dá o melhor de si e luta pelo seu bem estar.

Mas tanto a maioria dos velhos pobres como dos novos, da antiga classe média careta e da nova mais careta ainda, e, claro, as elites, acreditam em Deus, na família e nos valores tradicionais, e rejeitam ideias progressistas. Discutir, apenas discutir as suas crenças, é considerado suicídio eleitoral.

Quando Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a Homestead Law, a lei da reforma agrária nos Estados Unidos, assegurando a cada cidadão o direito de requerer uma propriedade de até 4 mil metros quadrados de terra do Estado, pagando 1 dólar e 25 centavos, criou milhões de pequenos proprietários rurais - que deram origem às grandes maiorias conservadoras de hoje, que ganharam sua bolsa-terra e não querem mudar mais nada. Uma ação politicamente progressista gerou milhões de novos reacionários.


Um século e meio depois, no Brasil, a nossa "nova classe média", que tem casa, carro, crédito, viaja de avião, e é eleitoralmente decisiva, parece ser ainda mais conservadora do que a "velha".
A ascensão social exige segurança e instituições sólidas, quer conservar o que conquistou e reage a mudanças que ameacem suas conquistas. Como Tim Maia, querem sossego.

Então por que não param de falar em esquerda e direita como se fosse de futebol e tentam entender o que está acontecendo ?

Como disse o ex-comunista Ferreira Gullar, "no meu tempo ser de esquerda dava cadeia, hoje dá emprego".
 
11 de janeiro de 2013
Nelson Motta, O Estado de S. Paulo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Reinterpretando a pergunta do texto, eu diria: "Como harmonizar o conservadorismo na vida real com a mentira do progressismo na política?"
Essa é exatamente a questão que costumo interrogar os meus botões, quando leio políticos
arrogarem-se legítimos representantes do povo, e por consequência, representantes da sua vontade, mas que caminham na contramão desse eleitor, ferindo seu "conservadorismo" nas questões enunciadas: aborto, casamento homossexual, liberação das drogas... Etc... Etc... Etc...
O que me faz pensar que esse tal 'conservadorismo' serve apenas como alavanca para preservar os 'direitos' de classe, no balcão das negociações políticas.
E pior, esses eleitores, apesar dos danos causados "na ética tradicional", continuam acreditando, ou fingindo acreditar, para preservar a ilusão de que estão ganhando alguma coisa com um consumismo doidivano, jogam na lata de lixo da história suas crenças e valores. E não apenas os eleitores bolsistas, os analfabetos funcionais e outros, apostam na perenidade de um suposto "conforto", mas de 'cambulhada' caminham na mesma direção vários segmentos sociais chamados "nova classe média". Por razões óbvias, mas diferentes, as elites empresariais e financeiras, até onde continuarem usufruindo das benesses, também continuarão apoiando a classe dirigente.
Alimentam a raposa e a convidam para tomar conta do galinheiro.
Siglas partidárias e pseudo ideologias de esquerda, direita, centro e outras idiotices do gênero, classificações meramente fantasiosas e desnutridas, caçam os mesmos objetivos, que nada têm a ver com o progresso do país, o que se pode verificar pela ausência de políticas públicas sérias direcionadas ao verdadeiro desenvolvimento da  nação.
m.americo

Nenhum comentário:

Postar um comentário