"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DONA DILMA: "FALAR EM RACIONAMENTO É RIDÍCULO".

Do marqueteiro de Clinton: ‘É a economia, estúpido’. A presidente apavorada com ela mesma. Exaltou sua carreira no setor de energia, propalou e propagou que era ‘gerentona’, nem uma coisa nem outra. Pelo menos um 2013 tumultuado e incerto, no Brasil e na Venezuela. O malabarismo da Corte Suprema da Venezuela, nada a ver com a História do Brasil.



Dois grandes, importantes e preocupantes problemas, dominam Brasil e Venezuela, sem prazo determinado para serem solucionados. No Brasil, racionamento de energia. Na Venezuela, racionamento de democracia. Aqui, o milagre providencial seria chover. Lá, o desaparecimento imprevisível de Chávez, que era quem fazia chover.



Logicamente o repórter adoraria que chovesse copiosamente aqui, e lá, Chávez reaparecesse também milagrosamente, tornando desnecessárias as interpretações tendenciosas feitas nos dois países.
O repórter só pode analisar sem prever, e no máximo tornar inverídicas e absurdas, interpretações nada razoáveis. Comecemos pela “gerentona” viva, deixando para o fim (e que fim) a presença ou ausência de Chávez e o futuro da Venezuela.

A energia de Dona Dilma

Pode até não haver racionamento. Mas o susto é total e inabalável, as duvidas surgem de todos os lados. E as medidas ou afirmações do governo provocam mais preocupação, falta autenticidade. Dona Dilma, como eu já disse, vai agindo aos trancos e barrancos, tomando decisões apressadas e incompetentes, sem ligar para efeitos colaterais.

Dona Dilma errou praticamente tudo nos 2 primeiros anos. No primeiro, teve que demitir 7 ou 8 ministros (quase todos por corrupção e irregularidades) mas não puniu ninguém. O Ministro mais ligado a ela foi acusado de ganhar fortunas com “consultorias”, não fez nada. Perdão, dissolveu a Comissão de Ética do Planalto, que “ousara” investigá-lo. Para ela começou o terceiro ano, sem que existisse o segundo, a não ser no sentido negativo.

A redução do preço da energia

Quase no final de 2012, Dona Dilma, pessoalmente, anunciou espetacularmente: “Vamos reduzir o preço do consumo da energia para empresas e residencias, em 20 por cento”. Foi logo contestada, afirmaram que se houvesse redução, “não passaria de 12 por cento”.

Esquecendo que tudo é economia, (podia ter lembrado da badalada afirmação do marqueteiro do presidente Clinton) deveria ter percebido que uma afirmação como essa, causaria prejuízos incalculáveis para empresas do setor. Foi o que aconteceu.

Muitas empresas, incluindo a Eletrobrás, estatal, com ações negociadas em Bolsa, tiveram quedas diárias e irrecuperáveis. E passados mais de 2 meses, não se recuperaram. Ninguém quer ou pode viver com racionamento. Mas se não chover, Dona Dilma pode reduzir o preço da energia até em 50 por cento, a escuridão custa mais barato.

Quem pagará o custo das termas?

O susto não é só do racionamento, é indescritível quando o Ministro Lobão aparece na televisão. Só diz bobagem, e agora a todo momento. Garante: “Vai chover e o problema estará resolvido. Mas se não chover, temos estoques de energia das termas, mais caro, mas que dura até o fim do ano”. Dona Dilma sabe que está tudo errado, mas não sabe o que fazer. Fica refugiada na afirmação simplória, “não haverá racionamento”. E o pais potencia que se dane.

É evidente que o mundo inteiro está acompanhando a traumática tragédia brasileira, e aumentando nosso desprestigio. A credibilidade externa de Dona Dilma, que já estava no maximo, caiu duplamente. Economicamente (o racionamento) e politicamente, o apoio ao desaparecimento de Chávez. Se ele aparecer inesperadamente, afirmando, “vim assumir”, Dona Dilma tem todo o direito a dizer, “eu não disse, eu não disse?”.

A Venezuela não tem vice, no Brasil, vice sempre assumiu

No Brasil, vices assumiram até num numero quase igual aos presidentes. Comparar a sucessão de Chávez com a de Tancredo Neves, divagação e distorção inimaginável e incalculável. Para início de conversa, a Venezuela não elege vice nenhum. Ele é nomeado pelo próprio Chávez, sem prazo e sem duração.

O senhor Maduro foi nomeado em outubro, até 10 de janeiro, ontem. Admitamos com quase 100 por cento de certeza, que Chávez normalmente quisesse renomear Maduro a partir de ontem. Mas não podia adivinhar. Alem do mais, todo regime autoritário, convive com divisões. Assim, ficava tranquilo, se não indicasse Maduro, quem assumiria seria Cabello, presidente da Assembleia Nacional, igualmente chavista.

No caso Tancredo, ele foi para o hospital na madrugada da posse, assumiu o vice, eleito com ele, não importa que tipo de eleição, i-n-t-e-r-i-n-a-m-e-n-t-e. Diariamente, pela televisão, o secretario de Tancredo informava o estado de saúde do presidente. Quando ele morreu, o Brasil e o mundo souberam na hora.

A situação é tão diferente, que a Corte Suprema da Venezuela teve que superar em malabarismo o próprio Cirque de Soleil para mistificar a opinião publica. Até concordo numa semelhança ocorrida aqui, mas em 1969, em plena ditadura, no auge, logo depois do execrável AI-5 defendido apenas pelo Major Passarinho. (Coronel quando passou para a reserva).

Costa e Silva e Pedro Aleixo

Poderoso, empossado desafiando todos os generais, Costa e Silva teve um AVC, 2 anos e meio depois de assumir. Em plena ditadura, foi logo considerado “incapacitado”, e afastado sumariamente o vice Pedro Aleixo. Com isso abriram a vaga para colocarem os “Três Patetas”, enquanto “descobriam” quem poderia ser o general da vez. Foi Médici, na primeira vez em que colocavam urnas, em unidades do Exercito, Marinha e Aeronáutica.

A Suprema Corte da Venezuela recusou até uma Junta Médica (OFICIAL) para apurar o estado de saúde de Chávez, devem ter confidenciados uns aos outros, “é melhor desconhecermos”.
Como falaram que Chávez tirou a Venezuela do “regime cruel de corrupção do coronel Jimenez”, faltou dizer que esse Jimenez dominou no tempo da ditadura. Quando quase toda a America do Sul e Central eram ditatoriais. Na fase anterior à Operação Condor.

As elites riquíssimas da Venezuela

Lendo e ouvindo os chavistas, fica a impressão de que o povo e a classe média, vivem maravilhosamente. Ilusão completa. Como em todos os lugares, os ricos ficam cada vez mais ricos, e como só pensam e querem dinheiro, não hostilizam Chávez.

PS – Esses ricos são servos, submissos e subservientes, se o regime mudar, mudam imediatamente.

PS2 – A vida é miserável na Venezuela. Inflação de mais de 20 por cento. Desabastecimento completo. Alugueis caríssimos. Favelas em todos os lugares. Já no aeroporto (redondo), você é cercado de miséria.

PS3 – O que adianta ser o segundo maior produtor de petróleo do mundo, (abaixo apenas da Arábia Saudita) se o povo vive mergulhado numa pobreza irremediável? Com Chávez “ressuscitado” pela Suprema Corte, vai melhorar?

11 de janeiro de 2013
Helio Fernandes

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