"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LINCOLN, O FILME DE STEVEN SPIELBERG

 

Assisti ao filme Lincoln, no dia seguinte à eleição do novo presidente do Senado. O centro do filme está nas articulações no Congresso norte-americano durante os dias que antecederam a votação da emenda constitucional que aboliu a escravidão nos EUA.

O que se percebe são os debates dentro do Congresso e a movimentação intensa do presidente e de seus assessores para obterem os votos necessários em uma decisão muito difícil, que aprovou a abolição por 119 a 56, na Câmara dos Deputados, e por 38 a 6, no Senado.

Até o último momento, Lincoln não tinha os votos necessários. Foi preciso uma articulação cuidadosa, um a um de um grupo de contrários ou indecisos, até obter-se a maioria, durante a própria votação. Em um suspense que em nada se parece com as votações de hoje no Congresso brasileiro, onde um rolo compressor, sem ideologia, mas por acordos anteriores, aprova qualquer proposta vinda do Poder Executivo.


O filme mostra a determinação e a habilidade de Lincoln. Mostra que na democracia para conseguir votos necessários no Congresso é preciso transigir, negociar, até mesmo oferecer vantagens para obter mudanças de lado entre deputados e senadores. Mas uma negociação onde o Congresso demonstre sua independência e força, mesmo com um presidente muito popular e que liderava uma guerra civil de quatro anos.

O filme mostra duas grandes diferenças entre o que acontece nas relações entre Executivo e Legislativo no Brasil, cujo exemplo é a eleição do presidente do Senado. Primeiro, lá as negociações não visavam criar base permanente, fazer alianças espúrias que servissem para implantar um presidencialismo monárquico. Segundo, lá as negociações foram por uma causa, a abolição da escravatura.

O que enfraquece hoje o Congresso brasileiro é a perda de causas no exercício da arte da política. E em consequência, sem elas, a política vira um jogo menor de artimanhas por interesses pessoais, alguns querendo o poder pelo poder, outros querendo o poder para enriquecer com dinheiro público.

Seria interessante passar o filme Lincoln para que os senadores assistissem e, depois, dedicassem uma sessão plenária para debater como é bonito quando Política casa com História.

04 de fevereiro de 2013
Cristovam Buarque, senador pelo PDT do Distrito Federal e ex-reitor da Universidade de Brasília, resenhará aqui, toda segunda-feira, um livro publicado no exterior ou um filme.

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