"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de abril de 2013

CERTA VEZ

 

Mas eis que depois, refletindo, descobri quando exatamente me tornei um reaça: foi no momento em que compreendi que Alexander Soljenitsin não é igual a Marcola; que Wladmir Herzog não é igual a Fernandinho Beira-Mar; e que Nelson Mandela não é igual a Elias Maluco.
Em outras palavras, diferentemente da safra atual de progressistas brasileiros (com raras e louváveis exceções), este reaça aqui sabe bem a diferença entre um preso político e um mero delinquente. Meu mundo ideal, dizem os humanistas da esquerda, é o do consumismo e da exploração.
Eu digo que é o dos antibióticos, da água encanada, da escrita e da literatura. O deles é o da construção do “novo homem” e do “outro mundo possível”, sem dar importância a coisas pequeno-burguesas como a liberdade de imprensa, a democracia representativa ou mesmo o sabonete neutro e o desodorante…
 
Uma outra característica que me torna indiscutivelmente um reaça é o fato de ter apenas uma moral. Sim, nós, os reaças, somos aborrecidamente previsíveis: temos sempre um único norte moral, que não enverga de acordo com os ventos de ocasião.
“Eles”, os progressistas, são diferentes: têm várias morais! Por isso conseguem, sem nenhum assombro, passar de ferrenhos críticos de Sarney, Collor e Maluf, a aliados fraternos destes.
 
Para mim, que sou um tanto mais ortodoxo, não é possível conviver com bandidos de estimação. Deixo todos eles para a esquerda, que já tem know how quando o assunto é defender a escória do mundo.
 
Descobri que já era um reaça incurável quando percebi que, à luz dos meus valores, Yoani Sanchez é apenas uma moça querendo o direito de divergir de mais longeva ditadura do planeta, lutando contra a opressão imposta pelos irmãos Castro.
E ao meu crime soma-se a agravante de achar que não haveria nada demais, caso ela fosse mesmo financiada pelo governo americano (risos), afinal eu também defendo o livre-comércio.

Eis aí a diferença essencial entre nós – que eles chamam de “burguesia”, “reacionário”, “porcos direitistas”, etc. – e eles, os progressistas: abraçamos a democracia e a liberdade como valores básicos, perenes e inegociáveis.
Não consideramos as instituições democráticas meras invenções da classe dominante. Sabemos, ao contrário, que são criações da sociedade civilizada, aquela que tem por obrigação conter os bárbaros revolucionários.

Ser reaça não significa hastear bandeiras americanas na frente das casas, ou criticar sempre o Brasil. Essas são só algumas das lendas que contam a nosso respeito. Ser reaça é apenas compreender que as garantias e liberdades do indivíduo estão acima de qualquer distopia coletivista pregada por uma manada acéfala.
É, enfim, entender que “não haveria totalitarismo, não fossem as massas e suas rebeliões”, como aprendi com Ortega y Gasset, que nove entre dez esquerdistas brasileiros acreditam ser uma dupla sertaneja.
 
São valores morais, vocês hão de convir, absolutamente normais e – por que não? – lógicos. Por que deveria me sentir mal em os defender abertamente?! Só porque o consenso politicamente correto passa a me chamar de reaça? Que nada! Defender as liberdades individuais, sobre as quais se erigiu a civilização ocidental, é libertador! Não gosta de ser chamado de reaça?! Deixe disso! “O que é um nome? Aquilo que chamamos de rosa, caso tivesse outro nome, guardaria o mesmo perfume.”, diria Shakespeare.
 
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Há milhares de pessoas espalhadas por todo o mundo, cientes de que os gulags são uma mancha na história humana; pessoas conscientes de que Fidel Castro e Che Guevara não passam de sociopatas; homens e mulheres como eu e você, leitor amigo, certos de que não se deve tolerar o apedrejamento e a mutilação de mulheres no Irã, em nome da “autodeterminação dos povos”. Enfim, há indivíduos em toda parte exercendo seu sagrado direito de defender os valores da liberdade e da democracia. Os haters dirão que somos reaças por agir assim. Eu digo que somos livres!
 
23 de abril de 2013
reacionaria.org

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