"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 11 de julho de 2013

CONGRESSO DEFINE SISTEMA DE VOTAÇÃO DE VETOS QUE REDUZ FORÇA DE DILMA

 
 
O Congresso definiu nesta quarta-feira (10) um novo sistema de votação dos vetos presidenciais que concentra mais poderes nas mãos do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e reduz a força da presidente Dilma Rousseff.

Líderes da Câmara e do Senado definiram que os 1.700 vetos que aguardam apreciação há mais de dez anos serão "engavetados", o que abre caminho para o Congresso pinçar vetos para análise futura --em possíveis retaliações ao governo.
 
Em contrapartida ao "engavetamento", os deputados e senadores vão aprovar amanhã projeto com novas regras para a análise de vetos.
Todos os que chegaram no Legislativo desde o dia 1 de julho deste ano ficarão submetidos ao novo trâmite.
 
No modelo em vigor, como os vetos não são analisados pelo Congresso, o Palácio do Planalto acaba tendo a palavra final sobre decisões do Legislativo -- já que os vetos da presidente Dilma Rousseff não são derrubados pelos deputados e senadores.
O novo modelo enfraquece o poder da presidente, que passará a ter suas decisões submetidas ao crivo do Congresso.
 
Pelas novas regras, o Legislativo vai cumprir o prazo previsto pela Constituição de 30 dias para a votação dos vetos a partir da sua publicação. Se isso não ocorrer, eles passam a trancar a pauta de votações do Congresso --embora, na prática, os deputados e senadores admitam que a regra do trancamento vai valer apenas para os vetos considerados mais "importantes" pelos congressistas.
 
"O acordo estabelece dois patamares de vetos, os que trancam e os que não trancam a pauta do Congresso. A partir de agora, os vetos passam a ser prioritários", disse Renan.
 
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), comemorou a decisão. "Eu acho que a medida foi conquista do Parlamento. Esse Parlamento não poderia mais esse submeter que a última palavra legislativa fosse do Executivo. Eu acho que a última palavra legislativa, por questão de dignidade desse Parlamento, tem que ser a apreciação do veto", afirmou.
 
Também ficou definido que o Congresso vai ter sessões todos os meses, sempre nas segundas terças-feiras do mês, específicas para a votação de vetos. Nos últimos dez anos, os vetos presidenciais se acumularam na pauta do Legislativo sem a análise dos congressistas.
 
A oposição colocou como condição para o novo trâmite que, se o Congresso não se reunir mensalmente para analisar os vetos, os partidos não vão indicar membros para as comissões que analisam medidas provisórias --principal instrumento usado pelo Executivo para o envio de matérias ao Congresso.
 
"Todos os meses teremos reuniões para apreciar os vetos. Se não houver, nenhum líder vai indicar os membros das comissões que analisam as medidas provisórias. Assim você trava as MPs", disse o senador José Agripino Maia (DEM-RN).
 
O acordo foi fechado por líderes de todos os partidos, do governo e da oposição. "Isso resgata a função do Congresso de ser a Casa que conclui o processo legislativo", disse o senador Jorge Viana (PT-AC).
 
VETOS BOMBA
 
O governo temia a retomada da chamada "pauta bomba" de votação entre os mais de 1500 vetos parados há dez anos na gaveta do Congresso que podem ter impacto negativo nas contas públicas, como o fim do fator previdenciário e a revisão de um crédito tributário que, se cair, custará R$ 280 bilhões.
 
Com os vetos na gaveta, o Executivo não terá problemas imediatos com a sua possível votação dos considerados mais polêmicos. Em contrapartida, o Congresso poderá no futuro ressuscitar a votação de temas que são considerado dor de cabeça para o governo.
 
Renan vem defendendo que o Congresso não aprove vetos que comprometam o "equilíbrio fiscal" do governo. Ontem, em reunião com Renan e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Dilma fez um apelo para que o Congresso não vote vetos que tragam prejuízos ao governo.

11 de julho de 2013
GABRIELA GUERREIRO e  MÁRCIO FALCÃO - UOL

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