"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DILMA FICA DESOLADA QUANDO O GOVERNO PERDE UM CORRUPTO


O guerrilheiro aposentado José Dirceu não sabe distinguir o pente de uma Mauser de um pente Flamengo, e acha que o cão do Colt 45 é uma raça de cachorro. Mas faz quase 50 anos que atira na verdade sem jamais errar o alvo.
Vê pecadores em quem não tem culpa no cartório, absolve liminarmente bandidos de nascença, solta rajadas de mentiras com a perícia de um fuzileiro naval americano. Foi o que fez Dirceu neste fim de semana, na entrevista ao jornal espanhol El País.

Empunhando a metralhadora imaginária em defesa dos seis ministros desempregados por envolvimento em patifarias diversas, o trapalhão vocacional acabou disparando uma verdade de grosso calibre: “Dilma se viu obrigada, contra sua vontade, a prescindir de seus ministros”, constatou.
Todo 171 sabe reconhecer um colega de ofício. Uma faxineira de araque não engana um guerrilheiro de festim. E ambos sabem que uma dilma tem tanto apreço por códigos éticos quanto um dirceu.

O discurso de posse da presidente somou 3.612 palavras. As mais citadas foram “brasileiras” e “brasileiros” (17 vezes). “Corrupção” ficou numa só menção.
O falatório durou 40 minutos. Dilma precisou de 11 segundos e 21 palavras para liquidar a questão da roubalheira desavergonhada: “Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente”.
Passados 11 meses, teve seis chances para mostrar ao país que fora sincera. Desperdiçou-as todas.


O vídeo de 2min39 editado pela repórter Fernanda Nascimento, do site de VEJA, é um documento tão penoso quando revelador.
Curto e contundente, começa e termina com o trecho do discurso de posse em que o combate à corrupção apareceu pela primeira e última vez num palavrório presidencial. A fantasia recitada em 11 segundos é destroçada por cenas que registram as despedidas de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Pedro Novais e Orlando Silva. A sexta chance atirada ao lixo continua homiziada no Ministério do Trabalho.

Como admite Dirceu e o vídeo comprova, Dilma não demitiu ninguém. Depois de fazer o que pôde e o que não podia para livrá-los do castigo merecidíssimo, aceitou desolada o pedido de demissão que os pecadores redigiram depois de perdida a esperança de salvação.

Se pudesse, manteria por perto todos os parceiros que afrontaram o Brasil decente com o espetáculo da bandalheira impune.
No Palácio do Planalto, corrupção deixou de ser crime. É garantia do que os donos do poder chamam de “governabilidade”. É esse o novo nome da velha bandidagem sem perigo de cadeia.
Augusto Nunes

NOTA AO PÉ DO TEXTO

PARA ASSISTIR O VÍDEO, PROCURAR NO GOOGLE SOB O TÍTULO "DILMA FICA DESOLADA QUANDO O GOVERNO PERDE UM MINISTRO"

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