"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A VIDA É SEMPRE MAIS ESTRANHA E FASCINANTE DO QUE A FICÇÃO

Candidatura do Lula
A entrevista do ex-presidente Lula à revista New Yorker foi concedida antes de descoberto o câncer que ele tem na garganta. É fácil concluir que seu estado de espírito era um, depois ficou outro. Mesmo assim, quando indagado se disputaria outra vez a presidência da República, ele ficou em cima do muro, claro que com óbvia tendência de pular para o lado da candidatura: “não tenho coragem de dizer que vou concorrer, como não tenho coragem de dizer que não vou concorrer.”

Até o diagnóstico incômodo o Lula colocava nas mãos de Dilma Rousseff a decisão, quer dizer, deixava a presidente de saia justa, sabendo que quando chegasse a hora ela devolveria o raciocínio: “Se você quiser voltar em 2014 eu não disputarei a reeleição”. Seria a resposta natural e leal da criatura que chegou ao palácio do Planalto exclusivamente por ato de vontade do criador.

Agora, tudo depende do tratamento a que o primeiro-companheiro se vê submetido, bem como de sua recuperação. Talvez não repita mais o conceito exposto aos jornalistas americanos, de considerar-se um ser eminentemente político. Pode estar concluindo que antes de político, é um ser humano. Toda doença faz o doente repensar sua vida, mesmo depois de recuperado.

O Lula já não será tão candidato quanto era. A disposição de voltar ao poder talvez não o sensibilize como antes. Seus valores serão outros.

Como a vida é sempre mais estranha e fascinante do que a ficção, vale ressaltar que a presidente Dilma passou pela mesma situação do antecessor. O câncer também a acometeu, não constituindo obstáculo para sua eleição. Supõe-se que tenha, da mesma forma, meditado sobre a própria existência. Mais quatro anos seria sacrifício necessário à sua biografia?

Em suma, acima e além de ambições, de arroubos e de estoicismo, abre-se uma pausa na prospecção do futuro.
Carlos Chagas

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