"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 25 de fevereiro de 2012

DIREITA, VOLVER!

Artigos - Conservadorismo

Quando li o artigo de João Melão Neto (Uma nova direita, por que não?), publicado na edição de ontem do jornal O Estado de São Paulo, detestei-o de imediato. O primeiro parágrafo é uma mentira, ao dizer que "E os militares, no período, jamais respeitaram os direitos humanos e as garantias individuais de ninguém". Quem viveu aqueles tempos sabe que a repressão militar foi dirigida unicamente contra os revolucionários armados, que matavam inocentes e praticavam inúmeros crimes contra a ordem pública. E apenas por curto período, suficiente para extirpar o câncer. João Mellão cometeu uma injustiça e escreveu uma inverdade.

Olavo de Carvalho, em artigo a ser proximamente publicado ("Porque a direita sumiu"), comentou o texto do Mellão e nos deu uma aula de interpretação histórica. A direita no Brasil sumiu porque os militares entregaram a formação da juventude e os meios de comunicação aos esquerdistas, que no espaço de uma geração acabaram por dominar o cenário pedagógico e cultural, assumindo o monopólio da produção de conteúdo. Foi fatal. Tivemos o esplendor da revolução gramsciana no Brasil, cujo fruto foi as eleições dominadas pela esquerda desde a abertura política. O duelo político tem se dado entre representantes das esquerdas, uma evidente anomalia política.

Mas Mellão colocou corretamente o pergunta e lhe deu resposta adequada: "Afinal, o que é a direita? Ela se divide em duas vertentes: a conservadora e a liberal. E embora ambas pensem de forma semelhante, não é sempre que estão de acordo. Sobre os liberais trataremos em outro artigo. Façamos uma breve descrição do pensamento conservador". Nem sempre o convívio entre conservadores e liberais é pacífico, porque estes são o ramo à direita do movimento revolucionário. Os conservadores defendem o núcleo permanente da moral cristã, coisa que os liberais programaticamente combatem. Há um elemento de amoralidade no liberalismo.

Essa permanência é o ponto chave dos conservadores. Quem quiser se informar deve ler o livro do Russel Kirk "A Era de T.S. Eliot" (Editora É Realizações, 2011, que acabei de ler), onde a tese está bem exposta e defendida. A defesa que os conservadores fazem é de ordem moral, que tem um núcleo permanente fundado na tradição e nas Escrituras. Como está escrito no Evangelho de João (capítulo 15), em que a palavra permanência é repetida onze vezes. Nesse texto magnífico é que Jesus eleva os discípulos à condição de "amigos" de si mesmo, isto é, do Deus Vivo. A permanência referida é dos Mandamentos, não das fluidas formas sociais assumidas ao longo da história.

Por conta dessa confusão entre os Mandamentos e formas políticas passageiras é que escribas mal intencionados querem fazer crer que os conservadores são puramente reacionários em matéria política. Um exemplo é o texto publicado no site Ad Hominem (Nova direita, nascida velha). O autor comete o duplo equívoco de identificar a direita apenas com o conservadorismo, esquecendo dos liberais direitistas, e de associar os conservadores com o apego a formas sociais injustas já superados. São inimigos do cristianismo e não perdem tempo para difamar a religião de Cristo.

O fato é que a anomalia da inexistência de uma direita organizada deverá ser superada brevemente. Estamos vendo na Europa e nos EUA como a direita tem força política, capaz de se impor aos esquerdistas. O Tea Party é um exemplo dessa força política.

Nas últimas eleições presidenciais testemunhamos o primeiro movimento da força conservadora, que pôs o candidato José Serra no segundo turno. Por inabilidade do candidato e dos seus marqueteiros, que não souberam pegar a onda conservadora, José Serra perdeu. Agora em 2012 teremos o segundo round dessa luta dos conservadores para emergir no cenário eleitoral. A cidade de São Paulo será o palco maior dessa disputa. O voto conservador poderá dar vitória a José Serra, que agora se declarou candidato. Espero que dessa vez saiba trabalhar o eleitorado conservador.

Nivaldo Cordeiro
25 Fevereiro 2012

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