"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA JORGE SERRÃO

Embalado na vitória do “poste” Haddad em São Paulo, Lula investirá em Luiz Marinho como seu herdeiro


Luiz Marinho. Este é o próximo “poste” no qual Luiz Inácio Lula da Silva irá investir pesado nos próximos anos. Mas a aposta de Lula no ex-sindicalista e atual prefeito de São Bernardo do Campo (reeleito facilmente no primeiro turno) não visa apenas à próxima eleição ao governo do Estado de São Paulo. Marinho será pessoalmente preparado por Lula para ser Presidente da República.

Esta é a maior “novidade” do resultado pós-segundo turno eleitoral. Lula já fala claramente a amigos próximos que deseja fazer de Marinho seu sucessor político – inclusive preparando-o para uma futura candidatura presidencial. Não ainda em 2014, exceto por motivo de emergência política. Caso Dilma Rousseff, por algum motivo, abandone o barco petista ou o governo dela seja atropelado e desgastado por alguma crise econômica, o que é pouco provável no atual cenário.

A aposta de Lula no “poste” Marinho tem a ver com “renovação” - expressão que virou moda na boca de quem venceu ou no lamento dos derrotados na eleição municipal. O proclamado investimento de Lula já vai colocá-lo em rota de colisão com José Dirceu de Oliveira e Silva. Aliás, Lula se aproveita do desgaste do capitão do time petista com a condenação no Mensalão, para já lançar prematuramente o nome de Luiz Marinho para a sucessão do governador Geraldo Alckmin – que só acontece daqui a dois anos.

Na verdade, Lula quer neutralizar Dirceu e aqueles que o seguem. O candidato de Dirceu ao Palácio dos Bandeirantes é Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco. Numa só tacada, além de travar Dirceu, impondo Luiz Marinho como “novidade” imediata, Lula já neutraliza nomes desgastados como Aloísio Mercadante e Marta Suplicy – que também queriam disputar a sucessão estadual paulista. A vitória ontem do autoproclamado “poste” Fernando Haddad à estratégica e rica prefeitura de São Paulo só facilita a tática do técnico Lula.

Claro que Lula venceu com Haddad. Mas a vitória dele não representa a maioria do eleitorado de São Paulo. Leitura fria e objetiva dos números do segundo turno deixam isto bem claro.

Haddad recebeu 3.387.720 votos, 55,57% do total de votos válidos.José Serra: 2.708.768. Mas a soma de votos brancos, nulos e abstenções chegou a absurdos 31,59%. Ou seja, quase um terço do universo de 8.619.170 eleitores rejeitou o prefeito eleito e seu ultradesgastado concorrente José Serra. Aliás, se houve derrotados com a vitória do candidato dos mensaleiros foram o próprio povo de São Paulo e o vaidoso candidato tucano.

A diferença de votos de Haddad para Serra (678.952) foi menor que o total de brancos (299.224) e nulos (500.578), que somaram 799.802 votos. Para complicar, o maior índice de abstenção desde a eleição de 1988. Exatos 1.722.880 cidadãos não apareceram para a dedada cívica na urna eletrônica. Tradução simples: grande parte do eleitorado não legitimou a escolha do "poste" de Lula.

Até porque quem vai comandar São Paulo não é o PT. Fernando Haddad será obrigado a fazer um governo de alianças (leia-se negociatas). Até porque outro grande vencedor de ontem foi o prefeito Gilberto kassab. O cacique do PSD e seus alioados fiéis formam a maioria na “nova” Cãmara de Vereadores paulistana. Além disso, indo para a base governista federal e fundindo seu partido com o PP de Paulo Maluf, Kassab fica ainda mais forte e com poder real de interferência na gestão paulistana.

Haddad venceu, Serra perdeu, Lula se deu bem, Maluf e kassab devem ficar melhores ainda e os cidadãos de São Paulo vão logo perceber que “o novo”, na verdade, representa um “de novo” – uma continuidade daqulo que não estava mesmo muito certo...

Comemoração impagável do Maluf

Ironia maior de ontem foi ver e ouvir o ex-inimigo e agora aliado íntimo dos petralhas, Paulo Salim Maluf, pulando e dançando no palco armado para a festa da vitória de Fernando Haddad.

Tal como um militante petista histórico, de carteirinha, com sua voz de taquara rachada, Maluf entoava a inimaginável musiquinha:

Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”...Desse jeito, não demora muito, os novos amigos petralhas até acabam chamando de “companheiro” o deputado federal pelo PP que é processado e condenado por crimes financeiros, lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública.

Cenas patéticas

Lamentável foi ver os seguidores de José Genoíno agredindo a imprensa, enquanto o condenado no mensalão era hostilizado pelos eleitores, na hora de votar.

Desmoralizante foi ver o ministro Ricardo Lewandowski, relator do processo do Mensalão, ser hostilizado e até sacaneado por um mesário, na hora de votar.

Preocupante é a abstenção média nacional de 19% do eleitorado no segundo turno – o que confirma a sempre perigosa alienação do cidadão-contribuinte em relação ao processo político, comportamento omisso ou de protesto que abre caminho para autoritarismos...


Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

29 de outubro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

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