Publicado em 01/04/2012
Isaías Pascoal
 
Mais uma vez os brasileiros se veem às voltas com escândalos de corrupção no país. O Fantástico destrinchou a forma como ela ocorre na denúncia que fez sobre o superfaturamento, cobrança e pagamento de propina que entidades privadas executam na prestação de serviços a repartições públicas.

A presidente Dilma vem sendo alvo da chantagem dos partidos políticos que compõem a base aliada do governo.

Por não terem os cargos desejados, por não terem liberados os recursos de suas emendas parlamentares, para “benefício” de suas bases eleitorais, os parlamentares se revoltam.
O PP, no senado, declarou-se oposição ao governo. Os outros chiam e se engalfinham numa luta por espaços maiores.

A política no Brasil cansa. É sempre o mais do mesmo. As novas gerações se desencantam, ainda mais porque o Estado brasileiro é gastador, sugador, cobrador voraz de impostos.

Nos últimos dias li alguns trechos nas páginas do jornal Folha de São Paulo que tocam nessa temática. Há um quê de desalento:

"O Brasil avançou no social, mas perdeu em valores republicanos. Houve uma degeneração dos costumes políticos no governo Lula", diz o historiador José Murilo de Carvalho, 26/03/2012, dizendo do conflito entre Dilma e os parlamentares.

“Multiplicam-se as histórias de jovens promissores e idealistas que se desvirtuaram tanto a ponto de se tornarem irreconhecíveis até no próprio espelho.

Demóstenes (parlamentar do DEM que sempre posou de ético, agora acusado de ações suspeitas) coloca Taques, Randolfe (dois senadores que se alinharam com ele na luta pela ética) e um punhado de estreantes diante de três opções: resistir bravamente, desistir da política ou aderir ao jogo -como a maioria.” Eliane Cantanhede, 25/03/2012.

"O PT é um partido que propaga a política ideal quando é oposição e pratica, mais do que ninguém, a política real quando é governo", diz Rubens Figueiredo, cientista político pela USP. "Isso vale para divisão de verbas, alianças políticas, tudo." Folha de São Paulo, 25/03/2012,

falando isso no contexto da descoberta que as prefeituras e estados governados pelo PT receberam muito mais verbas que os de oposição ao governo.

O que isso tem de diferente do que vem a seguir:

... os cidadãos se dividiam politicamente não por causa de lealdades partidárias, e muito menos por considerações ideológicas, mas por causa de laços pessoais, tornando as siglas dos partidos seriamente enganosas tanto em nível nacional quanto local. (...) “partido” significava apenas uma afiliação de deputados, e não um compromisso duradouro com um programa ou uma política.”

O que predominava era a lealdade à pessoa, não ao partido ou ao programa... O programa não mobilizava o homem comum...”

“Os políticos do século XIX preocupavam-se predominantemente com o clientelismo, fosse concedendo favores ou buscando-os (muito frequentemente, as duas coisas ao mesmo tempo)”.

Esses são trechos do livro de Richard Graham, que tem como título “Clientelismo e Política no Brasil do século XIX.”

Ou seja, ainda praticamos política com costumes, hábitos, próprios do século XIX, que precisam ser mudados, mas que não mudarão por ação dos políticos.

Só a sociedade pode fazer isso, dizendo um NÃO a toda forma arcaica, corrupta, clientelista de fazer política.
No momento em que vivemos, com uma rede mundial de comunicação instantânea, a sociedade pode muito. Nosso NÃO a essa forma de fazer política, ou então, nosso NÃO à política, o que seria lamentável.