"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 5 de julho de 2013

"A ESPERTEZA COMEU A DONA"

 

O plebiscito e a constituinte estão mortos.
Menos para o PT e para Dilma Rousseff. 
 
O plebiscito e a constituinte estão mortos. Menos para o PT e para Dilma Rousseff. A presidente e seu partido tentam exibir boa vontade com a voz das ruas e culpar o Congresso pelo insucesso. Mas ninguém mais – nem no governo, nem na base aliada – parece muito disposto a seguir as ordens da chefe. Acontece que, mais que nunca, ficou claro que a ações de Dilma Rousseff sempre se orientaram pela esperteza. De tanta, acabou engolindo a dona.
 
O plebiscito e a constituinte estão mortos. Menos para o PT e para Dilma Rousseff. A presidente da República e seu partido insistem nas propostas por excesso de esperteza: querem exibir boa vontade com a voz das ruas e culpar o Congresso pelo insucesso. Só que, quando é muita, a esperteza come o dono – neste caso, a dona.
 
A presidente está gastando tempo precioso numa pantomima. Todos, inclusive ela, já sabem que não há como fazer plebiscito a tempo de vigorar já na eleição de 2014, mas Dilma persevera na proposta. É sua maneira de tentar desviar o foco das insatisfações da cidadania e transferir a pressão para o Congresso.
 
A impossibilidade de realizar a consulta popular no exíguo prazo até 5 de outubro foi discutida ontem de manhã pelo vice-presidente da República, ministros e líderes da base aliada. O consenso foi tamanho que tanto Michel Temer quanto José Eduardo Cardozo manifestaram à imprensa a dificuldade de cumprir o cronograma. Depois, tiveram que recuar.
 
Seguindo sua estratégia esperta, Dilma dobrou a aposta à tarde. Durante cerimônia na Bahia, ela insistiu em defender a manifestação imediata dos brasileiros em relação à reforma política. No mesmo momento, o PT divulgava nota batendo na mesma tecla: quer não apenas plebiscito, mas também constituinte – meramente para defender teses que só interessam ao partido, como o financiamento público de campanhas e o voto em lista fechada.
 
Tanto a presidente quanto os petistas estão carecas de saber que, por uma questão matemática, o plebiscito não sai a tempo de vigorar nas eleições gerais do ano que vem. Mas querem posar de defensores da manifestação popular, jogando para o Congresso a pecha de fechar-se ao clamor das ruas. Julgam-se muito espertos.
 
Mas a verdade é que o Congresso não se nega a fazer as mudanças necessárias no sistema político. Numa resposta rápida aos protestos, prepara-se para dar fim ao voto secreto e demonstra disposição para implementar outras alterações, como a adoção do voto distrital.
 
O Congresso tampouco se nega a submeter o assunto a consulta popular. A população pode muito bem se manifestar se quer ou não manter o que os parlamentares aprovaram por meio de um referendo.
 
Ontem, na Bahia, a presidente afirmou que não é "daquelas que acreditam que o povo é incapaz de entender [o plebiscito] porque as perguntas são complicadas”. Vale-se, novamente de esperteza. A questão não é se as perguntas são ou não complicadas, mas que as respostas, complexas e multifacetadas, não cabem no binário "sim” ou "não” que caracteriza as decisões plebiscitárias.
 
Não dá para fazer um plebiscito – cujo custo é estimado em R$ 2 bilhões – agora, de afogadilho, pretensamente para "responder” as ruas, mas sem condições de valer nas eleições de 2014, frustrando as expectativas populares.
 
É ainda menos lícito concentrar todas as energias do país, incluindo-se governo, instituições e Parlamento, em algo que, definitivamente, não é essencial na pauta dos brasileiros. Enquanto Dilma queima pestanas com plebiscito sobre voto em lista fechada e outras excentricidades, a inflação escala e chega a 6,7% nos últimos 12 meses, implodindo o teto da meta, como informou o IBGE há pouco.
 
Não adianta a presidente insistir na sua tese ladina de desviar atenções enquanto o bate-cabeças que impera em seu governo mostra-se cada vez mais sonoro e os problemas reais da população se avolumam. Ninguém mais se entende e ninguém mais parece muito disposto a seguir as ordens da chefe. Acontece que, agora, mais que nunca, ficou claro que a ações de Dilma Rousseff sempre se orientaram pela esperteza. De tanta, acabou engolindo a dona.
05 de julho de 2013
Instituto Teotônio Vilela

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