"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 5 de julho de 2013

COMO DIRIA O MINEIRO... "IGUALZIM... IGUALZIM NÓIS AQUI..."

Cartas de Seattle: Sem medo de enfrentar a multidão



Uma das coisas que me espantam na vida no exterior é a sensação de relativa tranquilidade em eventos de grande porte. Multidão não significa necessariamente empurra-empurra, gente inconveniente e chateação.

Evidência número 1: Rock In Rio Lisboa. Banda de rock bem popular. Assisti ao show a 50 metros de distância do palco como se tivesse uma redoma invisível que impedisse a aproximação de outras pessoas.

Nada de dançar com os braços levemente afastados e o punho fechado para evitar o pisão no pé de quem se desloca esbarrando em todo mundo ou de quem dança como se não houvesse mais ninguém na plateia. Viva meu metro quadrado particular.

Evidência número 2: Concerto num parque em Londres. Entrada única controlada, bolsas e mochilas revistadas. Na hora da saída, o funil inevitável de uma multidão querendo sair ao mesmo tempo por um portão estreito.

Nada de gente querendo passar na sua frente. Todo mundo andando devagar, esperando sua vez de sair, em silêncio. Sem empurrar. Sem nem tocar na pessoa do lado.

Desfile em Seattle. Foto: @CC Daniel Stockman

Evidência número 3: Evento de abertura do verão em Seattle. Desfile de 2 horas e meia pelas ruas de um bairro da cidade. Público na calçada. Nenhuma cordinha ou grade para separar o espaço reservado ao desfile. Todo mundo comportado. Nada de espertalhão aparecendo de última hora e sentando na frente de quem guardou lugar desde cedo. Chegou depois, fica atrás.

Quando a empolgação fazia o público se aproximar um pouco do desfile, bastava um organizador pedir com voz tranquila: “Todo mundo na calçada, por favor” que as pessoas obedeciam.

Se o acúmulo de gente impedia a circulação entre a multidão na beira da calçada e a vitrine das lojas, era só alguém falar alto “Continue andando” que o fluxo voltava a fluir.

Eu sempre me perguntei se o fato de o consumo de bebida alcoólica ser proibido nas ruas é relevante para este comportamento mais, digamos, civilizado. Só que isso não explicaria o caso de Lisboa, onde não havia restrições de bebida.

Será que é simplesmente uma questão de respeito? Se reconheço que o outro tem o mesmo direito que eu, não vou gritar, não vou empurrar, não vou passar na frente, não vou incomodar e não vou tirar vantagem.

Comentários, por favor.

05 de julho de 2013
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido.

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