"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

COMO O DESMATAMENTO ACELEROU O APOCALIPSE DOS MAIAS BEM ANTES DE 2012


Toda a expectativa em torno de um possível fim do mundo previsto pelo calendário dos antigos maias não deixa de ter alguma razão. De apocalipse, os maias devem entender. Afinal, eles provocaram a própria queda. A exploração insustentável dos recursos naturais não é um privilégio de nossa civilização atual. Embora nós tenhamos elevado essa prática pouco recomendada a um âmbito global, com consequências para todo o planeta, outras sociedades do passado já destruíram suas bases naturais e aceleraram a própria ruína. O caso clássico é o da Ilha da Páscoa. Agora, um pesquisador da Nasa, agência espacial americana, traçou uma nova trajetória de suicídio ecológico: o da civilização Maia.

O pesquisador Ben Cook, da Nasa, usou imagens de satélites e modelos climáticos em computador, para simular o clima na América Central em vários períodos do passado. Ele concluiu que os Maias desmataram tanto a região que intensificaram as secas, com trágicos resultados. A civilização Maia, uma das mais desenvolvidas e mais populosas da América pré-Colombiana, prosperou por centenas de anos. Mas entrou em colapso rapidamente no meio do século 9., antes da chegada de Cristóvão Colombo com os espanhóis. Algumas pesquisas indicam que a crise tenha relação com ondas de seca intensa, que quebraram a agricultura dos maias.

Para analisar o que aconteceu, Cook fez algumas simulações. A primeira, no mapa em verde abaixo mostra, como foi o desmatamento no auge dos maias, em torno do ano 950.


A imagem indica como sobrou pouca vegetação original (em verde escuro) na região. O desmatamento intenso alterou o clima da região. A vegetação tem um papel fundamental no ciclo de chuvas. Ela aumenta o tempo de permanência da umidade na superfície, ajuda a preservar os solos e contribui para a evaporação que gera as chuvas. O estudo de Cook mostra que o clima estava mais quente e seco na estação chuvosa (de junho a agosto) do que seria de se esperar se a vegetação nativa estivesse bem preservada. Embora o desmatamento não tenha causado a seca, ele a agravou.

O mapa abaixo mostra onde a precipitação estava abaixo do normal para a região naquele período. Os trechos em azul claro mostram onde estava chovendo até 5% mais do que a média do lugar. Em compensação, as áreas em marrom mostram onde chovia abaixo da média. O marrom mais escuro indica onde chovia 20% a menos do que o esperado.


O mapa abaixo mostra as anomalias na temperatura. O vermelho mais escuro mostra onde a temperatura média estava até 0,5 grau acima do normal.


Os efeitos negativos do desmatamento em larga escala para o clima de uma região são bem conhecidos. É o que se teme na Amazônia, onde o desmatamento continua elevado, embora as taxas venham caindo. Alguns países hoje ricos sabem por que preservaram ou recuperaram suas florestas. Com tantos casos históricos de desastres ambientais, a esperança é que nossa sociedade aprenda uma lição ou outra.

01/02/2012
Alexandre Mansur

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