"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

POLÊMICAS SOBRE AS DISSIDÊNCIAS CUBANAS

Dilma Rousseff e Raúl Castro foram guerrilheiros no período da bipolaridade. O atual presidente de Cuba é de uma geração anterior, pioneira e heróica para a época, inspirando a presidente do Brasil e seus correligionários. A revolução cubana marcou a mudança de um período, estraçalhou com os Acordos de Yalta e a política de detenção e fronteiras ideológicas estabelecidas pelas duas superpotências, EUA e URSS.

Hoje Cuba permanece com o regime de partido único e estrutura de Estado com dominação burocrática, economia planificada (ou tentando ser) e política de direitos sociais e distributivos. A ilha é uma fonte permanente de polêmicas e não vou refugar destas.

A ex-militante da luta armada que não cantou ninguém quando presa nas masmorras de Sérgio Fleury viu-se diante de um problema. Numa ação midiática muito bem executada, a conhecida blogueira Yoani Sánchez chama a atenção do Itamaraty tentando pôr a chancelaria cubana e brasileira em saia justa. Não funcionou, pois Dilma esquiva-se do ponto da polêmica, relativizando o fato de que os direitos humanos são afrontados em todos os países (a começar pela imundície do sistema carcerário brasileiro), assim como o atentado contra a soberania, tais são as aberrações jurídicas da prisão e base estadunidense em Guantánamo e a presença inglesa nas Malvinas.

O problema desta relativização é mais uma vez evadir da polêmica real. Cuba é um regime fechado e se aproxima a cada dia da fórmula chinesa, onde há liberdade de mercado e ditadura política. Na ilha de Camilo Cienfuegos, há dissidentes e estes não são necessariamente mafiosos gusanos residindo na Florida (e apoiando a extrema-direita republicana).

Digo mais, a parte majoritária da oposição cubana não é pró-EUA, não é liberal e uma parcela considerável está dentro do Partido Comunista de Cuba, na chamada linha crítica e no setor católico. Outra parte considerável (e esta sim perseguida) prega a democracia participativa e pode ser vista através da publicação Red Protagónica Observatorio Crítico.

Uma preocupação constante deste último setor é desmarcar-se das viúvas de Fulgencio Batista e desassociar a liberdade política com a selvageria de “livre” mercado.

Não há novidade neste texto e sim a denúncia de ocultação. Infelizmente as informações aqui presentes, embora tenham circulação no pensamento latino-americano, simplesmente desaparecem da cobertura internacional da mídia brasileira. A quem interessa associar a oposição cubana somente aos gusanos de Miami?

Bruno Lima Rocha é cientista político
01 de fevereiro de 2012

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