"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 28 de julho de 2012

ÉTICA REDESCOBERTA

Aguardado com expectativa pelo Partido dos Trabalhadores e mais ainda pelos seus adversários, o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não deve influenciar as eleições deste ano. Pelo menos essa é a análise de cientistas políticos ouvidos pelo Correio.
É que, nas disputas municipais, o que mais interessa ao eleitor são propostas mais convincentes para melhorar a vida do cidadão. Mesmo assim, os analistas são unânimes em afirmar que, independentemente do desfecho, o mensalão - para desgosto dos envolvidos - já entrou para a história da política brasileira, do Partido dos Trabalhadores e do imaginário da população.

Para Malcom Camargos, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), o maior efeito do mensalão foi “tornar o PT um partido igual aos outros”.

“Até então, a legenda carregava a bandeira da ética e o discurso de que era diferente dos outros no modo de fazer política. Com o mensalão, a imagem mudou. Isso é negativo, pois, para a população, do ponto de vista simbólico, fica a impressão de que todas às legendas são iguais nas práticas.

O que no fim acaba sendo uma verdade”, comenta Camargos. Do ponto de vista eleitoral, para ele, o efeito é pequeno.

“Como todos são iguais, ninguém pode levantar a bandeira da ética. O eleitor vai escolher aquele que ele acha que pode ajudar a melhorar a sua vida.”

Para o analista político e consultor de comunicação Gaudêncio Torquato, o mensalão representa um modo de fazer política no Brasil.

“E um evento que, de certa forma, denota a política do país de cooptação de parlamentares para votar a favor do governo, tendo por trás a distribuição de favores de toda a natureza. Essa compra de apoio é uma das mazelas da nossa cultura que, no caso do mensalão, ganhou uma expressão mais escandalosa porque envolveu figuras de alto coturno do governo federal, como ministros e parlamentares poderosos. Também ganhou destaque por ter no centro dela o Partido dos Trabalhadores, legenda que sempre defendeu na sociedade o conceito de ética na política”, analisa o consultor político Gaudêncio Torquato.

Torquato não arrisca um prognóstico sobre o resultado do julgamento pelo STF, mas, independentemente do que acontecer, alguém vai sair insatisfeito. “Condenando ou absolvido, o mensalão ficará gravado na história política como um dos maiores julgamentos do Supremo, seja pelo número volumoso de páginas do processo, um dos maiores da história da Corte, seja pelo escândalo provocado pelo caso”, garante.

Política vulnerável

Para o sociólogo Marcos Coimbra, o caso é um episódio “traumático” com características que a população avalia como sendo permanentes da nossa cultura política. “Como arrecadação ilegal de recursos e toma lá dá cá entre Legislativo e Executivo."

Segundo ele, o mensalão é um fato marcante, pois expôs a vulnerabilidade do sistema político brasileiro. “Mas não foi o começo nem o fim dessas práticas”, sentencia. O negativo, para ele, é a ideia de que sempre existe um ilícito sendo praticado na política. “E com uma certa razão.”

Apesar desse descrédito, de acordo com Coimbra, o mensalão não tem poder de influenciar no resultado das eleições, como esperam partidos que polarizam com o PT.

"Fatores externos à política da cidade influenciam quase nada nessas eleições. Isso faz parte do amadurecimento do eleitorado que diferencia os diversos assuntos. Ninguém votará em quem acredita ser mau prefeito só porque o partido desse candidato nunca participou de um ato ilícito. Até porque, se for usar esse critério, todos serão excluídos.”

Correio Braziliense (DF) - 26/07/2012
Alessandra Mello

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