"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 28 de julho de 2012

A CIGARRA EUFÓRICA PODE ESTAR ENTRANDO NA FASE DA RESSACA

Crescem, e preocupam, os sinais negativos na economia brasileira
 
Ao contrário do que se viu quando a turbulência financeira assombrou o mundo há três anos, o Brasil não vive mais uma onda forte de crescimento.

O consumo travado por causa do endividamento das famílias já não consegue dar fôlego para a economia. A indústria, por sua vez, ainda se ressente da fraca demanda e da falta de competitividade.
Ainda assim, o país ainda mantem um mercado de trabalho com desemprego baixo e redução da informalidade. O que, contudo, não é forte o suficiente para criar condições para a recuperação da atividade, que vem sendo adiada a cada trimestre que passa.

De todo modo, apesar de números pessimistas, o país deve encerrar 2012 com crescimento baixo.
Há razões para que analistas comecem deteriorar as expectativas. Setores alvos de benefícios do governo como o automotivo começam a demitir. As previsões para a indústria entraram no campo negativo e uma retração de 0,04% é esperada para este ano.
O setor industrial fala em semestre perdido, por causa da queda de produção e emprego, baixa utilização dos pátios das fábricas e aumento de estoques.
Já o comércio teve a primeira queda das vendas desde 2009, de 0,8%, em maio. A confiança da indústria voltou para patamares da crise há três anos.
A arrecadação de impostos caiu 6,5% pela primeira vez no ano, porque as empresas lucram menos. E também remeteram 47% menos lucros e dividendos para o exterior no primeiro semestre. Mesmo com o dólar alto como queria a indústria nacional houve uma retração das exportações de 45% nos seis primeiros meses do ano.A criação de empregos com carteira caiu quase 33% nesse período.
A Previdência Social fechou junho com déficit de R$ 2,7 bilhões:
38% maior que em igual período de 2011.
Menos dinheiro entra no país:
o fluxo cambial foi negativo em US$ 1,9 bilhão em julho, por causa do desempenho negativo de exportações e das saídas de investidores.
Grandes bancos como Santander, Itaú e Bradesco perdem lucratividade e culpam o alto índice de inadimplência que começa a recuar, mas está ainda em nível recorde.

Bradesco prevê queda de 1,5% na indústria

Para o professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzo, um dos principais interlocutores do Palácio do Planalto no campo econômico, as famílias estão no maior nível de endividamento, de 43,3%, e no fim de um ciclo de consumo de bens duráveis.

As limitações são maiores, o nível de renda é menor disse Belluzzo. Não sou eu, mas a torcida do Flamengo, gregos e troianos acham que o governo tem de ir pelo caminho do investimento em infraestrutura para sair dessa crise.

Segundo José Márcio Camargo, da consultoria Opus, o sinal de fraqueza é o da indústria que não tem força para reagir nem aos menores juros da história. Hoje, a Selic é de 8% ao ano.

Ele argumentou que, além de não gerar empregos, os salários no setor subiram 10% no último ano. Isso comprimiu a competitividade da indústria já achatada pelo período de câmbio desfavorável e perda de espaço para importados:

Ficou ainda mais caro produzir no Brasil, mas ao mesmo tempo continua a circular dinheiro, a renda ainda está alta e isso faz com que o crescimento dependa do comércio e dos serviços daqui para frente.
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, espera uma queda de 1,5% para a indústria neste ano e não vê uma retomada muito forte no ano que vem, porque há uma sobreoferta de produtos no mundo devido à crise.

Segundo ele, para o PIB brasileiro crescer 4%, uma produção industrial avançando 1,5% já seria suficiente em 2013.


O Globo
28 de julho de 2012

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