"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

JUSTIÇA QUE TARDA, FALHA

 


Na última sexta-feira, 19 de outubro de 2012, um torcedor inglês invadiu o campo e deu um soco no goleiro do time adversário. Foi flagrado pelas câmeras de segurança, identificado, preso em flagrante e julgado.

Na segunda-feira, 22 de outubro de 2012, foi condenado a quatro meses de prisão, em regime fechado. Como pena adicional, o tribunal o proibiu de entrar em estádios por cinco anos.

Corta para o Brasil. O processo do Mensalão levou sete anos para ser julgado. Realizaram-se até agora, data máxima vênia, 40 sessões do Supremo Tribunal Federal, com direito a arrazoados cuja leitura chegou a levar mais de um dia. Houve réus condenados; mas ainda não se sabe a quais penas.
Sem dúvida são casos diferentes: o Mensalão envolvia 38 réus, discussões doutrinárias, debate de questões jurídicas. Não se poderia esperar que o Mensalão fosse julgado em poucos dias.

Mas também não foi bom esperar que o julgamento levasse tantos anos. Vejamos o próprio efeito da sentença: na Inglaterra, torcedores violentos sabem que serão punidos exemplar e rapidamente. No Brasil, há quem tenha a audácia de ameaçar recorrer a cortes internacionais, como se essas cortes tivessem jurisdição sobre crimes de roubalheira em nosso território.

Conta-se que, nos velhos tempos, um condenado à morte conseguiu adiar a execução por cinco anos, prometendo, em troca do perdão, ensinar o cavalo do rei a falar. Disse aos amigos, que o consideraram maluco: em cinco anos, morre o rei, morre o cavalo ou morro eu.
Justiça lenta é assim.

Jus esperneandi

O direito de espernear é sagrado. Mas, como todo direito, tem limites. Acusar o Supremo Tribunal Federal de sentenciar com objetivos políticos sem dúvida extrapola esses limites. Dos dez ministros do Supremo, só um, Gilmar Mendes, não foi nomeado por presidentes que integram a base de apoio ao Governo petista: foi escolhido por Fernando Henrique.
O ministro Celso de Mello foi escolhido por José Sarney; o ministro Marco Aurélio, por Fernando Collor – ambos, Sarney e Collor, esteios da bancada governista no Senado. Os outros sete foram nomeados pelo presidente Lula e pela presidente Dilma.
Cadê o tal golpe?

Quase parando

Lembra do problema no Aeroporto de Viracopos, quando quebrou o trem de pouso de um avião e pousos e decolagens ficaram suspensos por quase dois dias? Bom, o incidente ocorreu em 13 de outubro. Pois hoje, 24, onze dias depois, o ministro Wagner Bittencourt, da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, promete uma reunião para discutir o tema.

Sua Excelência talvez não saiba, mas um avião como o que teve problemas em Viracopos, nesse período que ele demorou para convocar a reunião, poderia ir ao Japão cinco vezes, ida e volta, contando o reabastecimento, escalas, embarque e desembarque, etc.

A presença do inexistente

O secretário da Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, com respaldo do governador tucano Geraldo Alckmin, sustenta que o PCC não existe mais como força organizada. Seria interessante que levassem essa informação ao ministro Celso de Mello, que comparou a atuação da quadrilha do Mensalão aos crimes do PCC – a organização que o Governo estadual considera inexistente.

Não é mas é

Aliás, negar a existência do crime organizado é antigo vício tucano. Quando o juiz Haroldo Pinto da Luz Sobrinho revelou a existência de uma organização criminosa nos presídios paulistas, os Serpentes Negras, o Governo tucano da época procurou ridicularizá-lo. Os Serpentes Negras foram o embrião do PCC.

A volta dos velhos tempos

Na campanha presidencial de 1960, quando as comunicações eram difíceis e caras, o candidato vitorioso, Jânio Quadros, não apenas repetia o mesmo discurso em cada local: repetia também as promessas. Se somarmos as indústrias automobilísticas que prometeu instalar, faltaria Brasil para tanto carro.

As comunicações são hoje fáceis e baratas, não dá mais para repetir discurso – e Lula faz o contrário: em São Paulo proclama que bom é o novo, mas em Diadema, pertinho, pertinho, diz que o eleitor não deve votar em aventureiros, não deve trocar o certo pelo duvidoso Deve escolher políticos tarimbados – não por acaso, como o seu candidato.
Não faz mal: há algumas semanas, Lula elogiava o prefeito paulistano Gilberto Kassab e o levava à convenção do PT, hoje o critica, e depois as eleições provavelmente o levará (ou a alguém por ele indicado) ao Governo da companheira Dilma. Se hoje Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney estão com o PT desde criancinhas, por que discutir novo e velho?

A força da caneta

Do jornalista Lauro Jardim (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/): “Não foi tão forte a reação da senadora Kátia Abreu (TO) aos vetos ao Código Florestal. É que em breve Dilma dará um ministério ao PSD.”

Kátia, articulada e enérgica, é a líder da bancada ruralista, que até agora combatia vetos ao Código Florestal. Continuará lutando, mas por dentro do Governo, acirrando as contradições internas, entende? Mas com carro oficial.

24 de outubro de 2012
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.

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