"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

E NA REPÚBLICA DO NÃO "RALA MAS ENROLA"...

      Governo procura explicações para o "Pibinho" do 3º tri







Passado o susto com o "Pibinho" de 0,6% no terceiro trimestre, os técnicos do governo continuam à cata de explicações para um erro tão brutal de previsão. Banco Central e mercado estimavam o dobro de crescimento no período.


A dúvida mais inquietante é em relação ao ocorrido com a educação e saúde, áreas que costumam apresentar crescimento de 1,5%, 2% ou 3% no trimestre em comparação com o trimestre anterior e dessa vez compareceram com mero 0,1%.


Trata-se, aqui, da contabilização do aumento dos gastos públicos nesses setores nas três esferas de governo - União, Estados e municípios - e seria normal esperar um bom desempenho da educação e da saúde principalmente em ano de eleições municipais.

Algumas explicações começaram a surgir e a mais intrigante - que foi levantada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, segundo interlocutores do Palácio do Planalto - refere-se ao impacto das desonerações do IPI que o Ministério da Fazenda ofereceu à indústria automobilística e aos produtos da linha branca e à desoneração também da Cide sobre combustíveis.


O IPI, juntamente com o Imposto de Renda, compõe a base dos Fundos de Participação dos Estados e municípios, assim como 29% da receita da Cide.


Segundo cálculos da Confederação Nacional dos Municípios, só aí subtraiu-se cerca de R$ 2 bilhões das receitas dos prefeitos que, sem verbas, reduziram os gastos, afetando essas áreas que sempre contribuem positivamente com o Produto Interno Bruto (PIB).

Outro caso curioso foi o do sistema financeiro, cuja contribuição ao PIB foi negativa em 1,02%. Em artigo publicado no Valor, o economista Francisco Lopes questionou a metodologia do IBGE para apurar esse dado. Os técnicos do governo, porém, consideraram esse comportamento normal, já que os bancos tiveram que reduzir suas margens, os "spreads", ao longo do ano. A queda dos juros e dos spreads fizeram o PIB encolher.

As desonerações e seus possíveis impactos no crescimento, se confirmados, reforçam a ideia de que em economia há sempre um "trade off", mesmo que ele não seja percebido ou avaliado previamente. Ao tentar animar o consumo de automóveis para reativar o crescimento da indústria, o Ministério da Fazenda acabou por colher um resultado contrário ao que desejava.


E os prefeitos estão com imensas dificuldades para fechar as contas, dentro das restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal, nesse fim de mandato.



Valor Economico
19 de dezembro de 2012

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