"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

TOLSTOI EM CRISE ESPIRITUAL

 

O russo Leon Tolstoi, autor dos livros “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”, que continuam a vender milhões de cópias, aos 50 anos de idade passou por uma crise espiritual profunda. Definiu seus romances de tolices e surpreendeu o mundo ao doar seu patrimônio aos filhos e se dedicar para o resto da vida aos estudos filosóficos e religiosos.


Tolstoi foi excomungado…

Escreveu em 1894 o livro “O Reino de Deus Está em Vós”, que foi vetado pelo Czar e rendeu-lhe a excomunhão da Igreja Ortodoxa; em compensação, uma cópia chegou ao jovem hindu Gandhi, convencendo-o a adotar a não-violência como regra férrea de vida.

O livro, inspirado no evangélico Sermão da Montanha, possui trechos que obrigam a meditar profundamente: “A libertação acontece sem lutas, não pela destruição das formas atuais de vida, mas pela modificação do conceito de vida”. Continua: “O cristão (verdadeiro) não disputa com outro, não ataca o próximo, não usa de violência para com ninguém. Suporta a violência com resignação e, assim, se liberta e liberta o mundo de qualquer poder”.

Sua crítica coloca os poderosos na frente de um espelho para incomodá-los com vara curta. “Para conquistar o poder e conservá-lo, é preciso amar o poder. E a ambição não se harmoniza com a bondade, mas, ao contrário, com o orgulho, a astúcia e a crueldade. Sem a exaltação de si mesmo e a humilhação alheia, sem a hipocrisia e a esperteza, poder algum pode nascer ou conservar-se… Dominar significa violentar”.

Acrescenta: “As vantagens do poder e tudo que ele traz, as vantagens da riqueza e do luxo são os objetivos da atividade humana enquanto não atingidos; mas apenas os alcance, o homem apercebe-se de sua vaidade. Essas vantagens perdem assim, pouco a pouco, a sedução, como as nuvens, que não têm forma e esplendor, exceto se vistas de longe”.

Tolstoi segue afirmando uma verdade monumental que fugiu à maioria dos filósofos: “Os homens que conquistam o poder e a riqueza, por vezes, eles próprios, mas, com mais frequência seus herdeiros, deixam de ser muito ávidos de poder e não mais adotam métodos tão cruéis… havendo reconhecido a vaidade dos frutos da violência, retornam (com o tempo) ao lugar dos oprimidos, substituídos por novos opressores, sempre menos rudes do que os precedentes”.

O velho Tolstoi filósofo conclui: “O poder escolhe e atrai os piores elementos da sociedade, transforma-os, melhora-os, suaviza-os e devolve-os à sociedade”.
E aí, o que fazer? “Caminha!”, respondeu o sábio (um dia chegarás).

(Transcrito do jornal O Tempo)

13 de dezembro de 2012
Vittorio Medioli

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