"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 10 de junho de 2013

ESTUDO DO IPEA DIZ QUE CRIAR NOVOS TRFs É OPÇÃO CARA E INEFICIENTE

Instituto divulgou estudo nesta segunda sobre impacto de novos tribunais.
PEC que criou TRFs foi promulgada na semana passada pelo Congresso.
 
 
Mapa da distribuição dos tribunais regionais federais (TRFs) (Foto: Editoria de Arte / G1)
A criação de quatro novos tribunais regionais federais (TRFs), promulgada na última quinta-feira (6) pelo Congresso Nacional, não resolve a morosidade da Justiça Federal, além de ser uma alternativa de custo elevado. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
 
Atualmente há no país cinco TRFs – Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Com o novo esquema, serão instalados tribunais também em Minas Gerais, Amazonas, Paraná e Bahia, aumentando para nove o número total.
Em reunião em abril com representantes de associações de magistrados, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a criação dos tribunais e disse que a criação custaria R$ 8 bilhões aos cofres públicos.
Favorável à criação dos tribunais, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) estimou que as novas Cortes custarão cerca de R$ 700 milhões por ano, com uma média de R$ 175 milhões por tribunal.
O petista André Vargas (PR), responsável pela promulgação, afirma que R$ 7,2 bilhões custa toda a Justiça Federal, portanto, "o máximo que poderíamos ter é um incremento de 10%, 12%, R$ 700 milhões por ano".
Já o Ipea conclui que o custo seria de R$ 922 milhões por ano, valores atualizados monetariamente para janeiro de 2013. O instituto analisou a emenda a fim de definir o impacto, em termos de litigiosidade e eficiência, da reorganização da Justiça Federal de segunda instância.
O estudo se baseou em dados de 2011 do Conselho de Justiça Federal e do Conselho Nacional de Justiça, órgãos de controle externo, como se a PEC tivesse sido aprovada e estivesse em pleno vigor naquele ano. “O que a EC 73 faz é reproduzir ou multiplicar a ineficiência através da criação de novos órgãos”, diz o instituto.
A Ajufe informou que deve se manifestar em nota na tarde desta segunda.
Segundo o Ipea, com relação aos casos pendentes, ocorreria inicialmente uma distribuição, com a redução de cerca de 60% da carga de trabalho dos TRFs 1 e 4, mas apenas de 5% nos da 3ª e 5ª região. O novo TRF-7 começaria a funcionar com uma carga de 700 mil processos, contra apenas 27,5 mil do TRF-9.
ENTENDA A PEC QUE CRIA 4 NOVOS TRFs
Os cinco Tribunais Regionais Federais hoje instalados dão conta de processos com origem em todos os estados, conforme uma divisão geográfica. A PEC foi criada com o argumento de que esse cenário – da Constituição Federal de 1988 – está ultrapassado e é insuficiente para atender às demandas da sociedade. Com a criação de quatro novos TRFs, a proposta quer reduzir o custo de deslocamento até as sedes dos tribunais, ampliar o acesso à justiça e acelerar o andamento dos processos. Leia mais
Para o Ipea, enquanto o TRF-1 passaria parte de sua carga de trabalho para outros três tribunais, que ficariam com carga reduzida, o TRF-4, o mais eficiente atualmente, teria ainda menos processos, o que implicaria  “ociosidade absoluta”.
Pelo critério do instituto, o TRF-9 teria que ter 7 desembargadores, e os TRFs 6, 7 e 8, respectivamente, 14, 20 e 14 magistrados, para que os membros dessem conta de 100% da demanda. A partir desse número e das decisões que cada desembargador tomaria, o instituto calculou o custo total de cada tribunal.
Ainda conforme o instituto, os argumentos de que os novos TRFs melhoram o acesso à justiça por estarem mais próximos da população são “insustentáveis”, já que hoje é possível peticionar à distância e os tribunais regionais existentes já adotaram a videoconferência.
O Ipea afirma que alternativas mais baratas seriam, ou realocar a carga de trabalho dos atuais tribunais menos eficientes para os mais eficientes ou, com a criação de novos tribunais, fossem apenas realocados os atuais desembargadores. Os dois cenários “reduzem discrepâncias” sem “sacrificar a economicidade ou o acesso à justiça”, diz. Sem a criação de vagas de magistrados, no entanto, a PEC resultaria em gastos adicionais anuais de R$ 542 milhões (valor de 2011), diz o instituto, por isso, a primeira opção seria a "mais racional".
“A conclusão é que ainda existe ampla margem de ganho da Justiça Federal”, diz ainda o instituto, que comparou a produtividade dos juízes. Enquanto no TRF-1 um juiz resolvia 2.165 casos em 2011, no TRF-3 esse número sobe para 6.729.
“Fica evidente que a EC73 não lograria atingir seus objetivos nem de elevar a eficiência jurisdicional nem de proporcionar a expansão do acesso à Justiça Federal”, conclui o estudo.
10 de junho de 2013
Rosanne D'Agostino - G1
 

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