"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 10 de junho de 2013

ENQUANTO ISSO... NA REPÚBLICA DA MUAMBA 2

               Desconfiança de investidor ameaça Brasil
 
Os decepcionantes indicadores do governo Dilma Rousseff descortinam a fragilidade da economia brasileira e podem levar ao rebaixamento do país pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P). Publicamente, a equipe econômica corre contra o tempo para convencer os investidores de que a mudança na perspectiva da nota do Brasil, de estável para negativa, é assunto menor. 


Mas, nos bastidores, o clima é de apreensão. 
Não sem motivo.

O frágil ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, apontado como um dos fatores para o possível rebaixamento, não tende a se reverter tão cedo. Na média dos dois primeiros anos da administração Dilma, o avanço foi de minguado 1,8%, o pior resultado desde Fernando Collor de Melo. 


É possível, na conta dos especialistas, que esse número não se altere muito quando o fim de 2014 chegar. A inflação também não dá sinais de trégua, sempre próxima ao teto da meta do Banco Central durante o atual governo. E o aumento dos preços já está cobrando a fatura política: é o principal motivo para a queda da popularidade de Dilma, que despencou oito pontos, de 65% para 57%, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tentou minimizar os dados. Para ele, o recuo da aprovação de Dilma Rousseff se deve a uma oscilação normal, causada por fatores como a inflação dos alimentos, o "incidente" com o Bolsa Família e a seca no Nordeste. 


"Todos já superados", disse, em Lisboa, onde tem agenda nesta segunda-feira com a presidente.

Além de não endossar o otimismo de Mercadante — defensor da política de que um pouco mais de inflação para sustentar o crescimento do PIB não faz mal —, o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Carlos Eduardo de Freitas, alerta que a inflação ainda se manterá resistente, sobretudo porque não há perspectiva de o governo reduzir a gastança.
 

Para ele, antes de pregar que tudo vai bem, os auxiliares de Dilma deveriam convencê-la a corrigir os desarranjos da política fiscal. "As despesas continuam elevadas. E tem havido muitas desonerações de forma arbitrária, que reduzem a arrecadação do governo. 


Elas criam uma redução da economia fiscal para pagar juros, que é o superavit primário. Isso gera pressão de demanda", alerta.
Desarranjos

As medidas expansionistas do governo Dilma pretendiam incentivar o consumo. O Planalto reduziu impostos sobre carros, móveis, eletrodomésticos e materiais de construção. Também estimulou o endividamento das famílias por meio dos bancos públicos e levou a taxa básica de juros (Selic) para o menor nível da história, de 7,25% ao ano. 


Tudo isso, no entender do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, provocou desequilíbrios e jogou a inflação para cima.

"O Brasil não tem como crescer sustentado apenas pelo consumo sem gerar inflação. Há consenso de que o modelo de crescimento via salários altos, mais crédito e maior endividamento se esgotou. O que impede nosso crescimento é a falta de oferta, de investimentos do setor produtivo", avalia. 


O problema se torna maior porque a política equivocada do governo minou a confiança do empresariado. Nos últimos meses, o Ministério da Fazenda até tentou corrigir parte dos erros, ao estimular o setor produtivo. Mas não teve sucesso.

Na opinião dos economistas, a desoneração da folha de pagamento e as linhas de financiamento mais baratas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não foram suficientes para estimular o "espírito animal" dos donos do dinheiro. 


A indústria continuou patinando e, agora, as empresas se sentem ameaçadas pela inflação, que minou o consumo, e pelo aumento da taxa básica de juros (Selic), que veio tarde e terá de ser maior do que o desejado. 


Para os analistas, um alento no sentido de recuperar a credibilidade da política econômica seria desmontar a "contabilidade criativa" do Tesouro Nacional, expediente usado nos últimos anos para maquiar o ajuste fiscal.

No início do governo Dilma, o índice que mede a confiança dos empresários estava em 61,7 pontos. Agora, está em 57,9 pontos. 


"O industriais não vão pagar para ver. Eles precisam ter a segurança de que a economia entrará nos eixos e não conviver com os dados atuais, que só decepcionam", destaca Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. 


A mesma avaliação é feita pelo professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana, que vê outro agravante: 
as constantes falhas de comunicação entre integrantes da equipe econômica. 


"Eles falam demais e anunciam medidas contraditórias. 
Nesse contexto, os empresários ficam inseguros para investir. Cada dia há uma notícia nova. Confiança é previsibilidade", ressalta.
Rombo externo
Não bastassem os desarranjos domésticos, o Brasil enfrenta um quadro internacional hostil, que pode dificultar — e muito — o financiamento do rombo das contas externas. O buraco estimado neste ano pelo Banco Central é de US$ 67 bilhões, que não será coberto integralmente pelo investidor de longo prazo. 


Assim, com o país mais dependente do capital especulativo, o dólar disparou para até R$ 2,15, e se tornou mais uma ameaça à inflação.

"A valorização do dólar e o crescimento abaixo do previsto neste ano foram um aviso importante para o governo. Parece que Brasília se deu conta e está mudando de postura. Tomara que não seja tarde demais", pondera Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Um recuo do Palácio do Planalto foi o fim do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações de estrangeiros em renda fixa. A medida, porém, ainda está longe de dar resultados e só elevou as críticas à postura intervencionista da presidente Dilma. 

"Assim que (o governo) percebeu que os investimentos estrangeiros estavam caindo e que ficaria refém do capital de curto prazo, zerou o IOF. Mas até hoje não entendem por que o Ministério da Fazenda criou essa taxa. Ela só provocou distorções no mercado", diz Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank.
No entender dos especialistas, os problemas do Brasil estão longe de uma solução. "O momento econômico é de bastante incerteza", resume José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. 

Portanto, ressalta, é mais do que necessário que pelo menos o governo faça a parte dele e deixe de minar algo tão valioso para o país: 
a credibilidade construída, com tanto esforço, nos últimos 20 anos.

Correio Braziliense 
10 de junho de 2013

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