"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 2 de abril de 2012

DESPARTIDARIZAR AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS


De toda a pletora dos remédios que os americanos inventaram para reduzir a corrupção a níveis que fizeram deles a sociedade mais rica que a humanidade já produziu enumerados na matéria que precedeu esta, a despartidarização das eleições municipais é aquela em que os brasileiros deveriam focar os seus esforços.

E isto pelo simples fato de que ela sozinha seria a que produziria os maiores danos no "Sistema" montado pelos nossos políticos para que nada mude neste país.

Tornar as eleições municipais independentes dos partidos políticos é tirar das mãos dessa máfia o instrumento de controle absoluto que ela tem hoje sobre a porteira onde se filtra quem pode ou não entrar no mundo da política brasileira.

A continuação do sistema criminoso que enfrentamos hoje depende essencialmente desse filtro e está montado para controlá-lo absolutamente.


O loteamento dos canais de rádio e televisão brasileiros entre as velhas oligarquias regionais que desde sempre estiveram no poder neste país foi o instrumento através do qual a dupla Jose Sarney, então Presidente por acaso do Brasil, e Antônio Carlos Magalhães, que ele escolheu como seu Ministro das Comunicações, mataram antes que nascesse a "Nova Republica" que deveria ter inaugurado uma nova era na política brasileira depois do fim do regime militar.

Desde então são os mesmos "coronéis eletrônicos" e sua descendência que controlam dos bastidores a política nacional.

Com esse instrumento nas mãos eles foram conquistando praças e pondo a força da publicidade governamental para matar a imprensa independente local até ficarem falando sozinhos em seus terreiros particulares.


Desde então esse Sistema elege ou deselege quem eles querem nas regiões dominadas por suas rádios e televisões ou é "alugado" contra pedaços das praças que eles ajudarem a conquistar, até mesmo para os candidatos "bons de voto" em eleições majoritárias que entram na carreira política com a ilusão de que seu carisma pessoal poderá levá-los ao poder contornando os currais eleitorais regionais.

Ninguém pode, como já comprovamos à exaustão.

Mais além, esse sistema de servidão foi "socializado" pelo expediente do "horário eleitoral gratuito" que estendeu um pedaço desse poder a cada partido que conseguir comprar seu trânsito para dentro do Sistema.

Abrir as eleições municipais a todo e qualquer candidato que quiser se oferecer aos eleitores sem ter de pedir licença aos "coronéis eletrônicos" e/ou aos alugadores de tempo na TV nas campanhas eleitorais varre de uma só vez para a lata de lixo da história essas duas pragas.


Não se poderá eliminá-las "por dentro". A única maneira de acabar com elas é pela "supressão do seu habitat", que é, em ultima instância, o controle e o aluguel das instâncias políticas municipais e regionais contra o direito de saque da parcela do todo que ajudarem a conquistar.

"Também essa mudança só poderá ser feita com a aprovação dos próprios prejudicados por ela, o que torna esse projeto inviável", dirão os mais pessimistas.

Não é verdade.

Essa mudança pode ser conseguida pelos instrumentos de legislação de iniciativa popular, mesmo fracos como eles ainda são no Brasil. E além disso, já está na hora do Brasil aprender que nada em política é impossível desde que haja uma firme decisão do povo de querer que a mudança aconteça.

Mais difícil seria resolver o problema da concentração da arrecadação de impostos nas mãos da União e dos Estados que deixaria os governantes municipais dependentes deles, de qualquer maneira.

Mas com seis mil e tantos representantes eleitos fora da ordem partidária, independentes dos chefões, seria muito difícil que estes, com suas hostes reduzidas às instâncias federal e estaduais, tivessem força para resistir-lhes.

A despartidarização das eleições municipais traria sangue novo para a política brasileira e deixaria os grandes predadores de hoje condenados a morrer à míngua.

Pense nisso.


02 de abril de 2012
fernaslm

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