"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 2 de abril de 2012

O PARTIDO COMUNISTA, AS FARC E A LUTA ARMADA

Artigos - Terrorismo

As FARC jamais ocultaram suas intenções. Para estes comunistas, a luta armada continua vigente e não está em questão; a tomada do poder pelas armas e a insurreição, melros dourados de Lenin, estão presentes e jamais conseguirão tira-lhes o fuzil.


Desmascarada aquela fanfarronada de que o terrorismo é contrário ao marxismo ou ao marxismo-leninismo, a luta armada ganha para os comunistas uma das formas de luta que Lenin brandia. Sim, a luta armada é “uma” das formas de luta com que os comunistas combatem a democracia, a liberdade. Não obstante, é oportuno perguntarmos: As FARC promovem ou praticam a luta armada? Sim, e ainda a promovem com orgulho. Outra vez, deixemos que sejam os cabeças das FARC e ínclitos membros do Partido Comunista Colombiano que nos iluminem em tão densas trevas.

Gilberto Vieira, o histórico Secretário Geral do Partido Comunista (PCC), confirma no ano de 1973 o seguinte: “O fato real é que o Partido Comunista participa da luta armada, tem uma organização, as FARC, e acredita que este movimento tem perspectivas de crescimento e desenvolvimento”. (Valverde, Humberto. Colombia tres vías a la revolución, 1973, p. 53). O mesmo Vieira reconhece a participação do partido na luta armada e, ao mesmo tempo, reconhece o parto das FARC desde as entranhas do PCC. Por que a grande maioria dos “analistas” não puderam ver a indissolúvel união Partido Comunista-FARC quando o mesmíssimo Vieira o confirma?

Prossigamos. Na entrevista que William Parra faz a Luciano Marín, cognome ‘Iván Márquez’, o integrante do Secretariado das FARC declara: “A luta armada na Colômbia é vigente e tem lugar porque os problemas políticos, econômicos e sociais que a motivaram não desapareceram”. E mais adiante sublinha: “A luta armada não está em questão. As causas que a motivaram não se modificaram [...] Quero lembrar que nos fuzis guerrilheiros das FARC residem os povos de Nossa América [...] Enquanto as FARC existirem, ninguém poderá tirar-lhes o fuzil do Che”. E se alguma dúvida se alberga, Iván Márquez insiste em que deve-se continuar “o caminho traçado pelo inolvidável Comandante-em-Chefe Manuel Marulanda Vélez, quer dizer, o da política total, que é a luta estratégica pela tomada do poder pela via das armas e da insurreição com o qual se chegaria a um governo revolucionário, ou pela via das alianças políticas para a instauração de um governo verdadeiramente democrático, em consonância com a Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia”. Esta entrevista foi oferecida em 2008, depois da morte de Pedro Antonio Marín, cognome ‘Manuel Marulanda Vélez’. Por outro lado, William Parra jamais controverte as declarações de ‘Iván Márquez’. Curiosa maneira de fazer jornalismo crítico.

Estas declarações do cabeça mostram com clareza que as FARC jamais ocultaram suas intenções. Para estes comunistas, a luta armada continua vigente e não está em questão; a tomada do poder pelas armas e a insurreição, melros dourados de Lenin, estão presentes e jamais conseguirão tira-lhes o fuzil. É possível, senhoras e senhores da esquerda, se chegar a um acordo de paz quando, segundo estes revolucionários integrais, a luta armada continua vigente e, além disso, jamais abandonarão o fuzil? Não há pior cego que o que não quer ver, reza o refrão popular. E isto não é nada novo. Luis Alberto Morantes Jaimes, cognome ‘Jacobo Arenas’, repete em seu livro Cese al fuego: as FARC têm “como fim político a tomada do poder” (p. 135).

Deixar-se levar pelas brumas de que o terrorismo e o seqüestro - que são maneiras de combinar todas as formas de luta - desviaram as “nobres” intenções das FARC é, a meu ver, uma ilusão vã e perigosa. A que se deve tal fato? O marxismo tem exercido uma fascinação potente em muitas pessoas e intelectuais. A esperança de construir nesta terra um mundo igualitário onde todos os males seriam superados, supõe uma idéia de altruísmo por melhorar pela vida toda as condições materiais do ser humano. Esse atrativo não vem de uma análise econômica nem social e sim, provém de duas premissas: primeiro, um ideal de justiça e igualdade, inclusive de liberdade; segundo, a presunção de que estes ideais foram obstruídos desde sempre pelas “classes exploradoras”, que impediram a devida e “justa” distribuição dos bens para todos. Esta é, basicamente, a idéia que circula entre as pessoas comuns e intelectuais.

O marxismo pretende trazer o céu à terra mediante a supressão daqueles obstáculos - “os exploradores”, “a classe dominante”, “os imperialistas” - que impediriam essa pretensão, porém, ao despersonalizar a culpa e a responsabilidade, cria uma falsa libertação no homem, torna-o “inocente”, enquanto que a culpabilidade recai totalmente nos denominados como “exploradores”, “burgueses”, “imperialistas”, “fascistas”, “a direita”. Contra esses declarados “inimigos do povo”, tudo fica justificado, pelo bem do “proletariado”, do “povo trabalhador”, da “classe explorada”, dos “menos favorecidos”, dos “despossuídos”, pois isso é o “justo” para todos. Desta maneira funciona o marxismo e, portanto, a esquerda. Indubitavelmente, o marxismo é um pensamento messiânico que crê resolver de uma tacada todos os males da sociedade: só basta varrer, liquidar, suprimir, esmagar os obstáculos, para tornar possível o céu na terra.

E assim, com esta lógica, a ideologia das FARC posa de altruísta. Sob a bandeira dos “sem terra”, do “povo explorado”, dos pobres que foram repreendidos sem misericórdia pelos ricos, razão pela qual “os pobres são mais pobres e os ricos mais ricos”, as FARC e os diversos grupos terroristas marxistas (EPL, ELN, M-19) têm sido aplaudidos por suas “heróicas” ações. Ao estar, segundo estes bandos, ao lado dos pobres, de imediato ganham a simpatia das pessoas comuns, dos intelectuais e a atenção dos meios de comunicação. Aqui começa a falácia que conduz ao equívoco de que a utilização do terrorismo e do seqüestro os desviou de seus ideais marxistas ou que os traiu, pois alguém do povo se perguntará: como é possível que um grupo que luta pelos pobres e pela reforma agrária seqüestre, faça extorsões e utilize o terror? Então responde: eles fazem isso porque já não têm ideologia. Esta conclusão incorreta circula com autoridade, entre outros, nos meios acadêmicos. As FARC seqüestram, assassinam, torturam e utilizam o terrorismo, não porque abandonaram o marxismo-leninismo: elas seqüestram, assassinam, torturam e utilizam o terrorismo porque são marxistas-leninistas.

Para deixar claro de uma vez por todas que a ideologia tem um papel vital e que os fins totalitários das FARC persistem, vamos, pois, à alocução do cabeça máximo das FARC [1], Guillermo León Sáenz Vargas, cognome ‘Alfonso Cano’, intitulada “Ao governo de Santos, à UNASUL e à Colômbia”, publicada na página web “Revista Nacional do Secretariado das FARC-EP”. Lá, ele nos diz: “Temos convicções, equivocadas ou justas, acertadas ou desacertadas, porém temos convicções, profundas convicções ideológicas, estamos aqui na lida de todos os dias arriscando a vida [...] exercendo nossa atividade política e militar”.

O mesmíssimo ‘Alfonso Cano’ revela que os terroristas das FARC têm profundas convicções ideológicas e que, como ensina Lenin, exercem atividade política e militar. Tanto uma como a outra são de caráter “permanente”. A atividade política, a chamada a falar na assembléia da UNASUL; a atividade militar, o massacre de 14 policiais em Doncello, Caquetá.

Por outro lado, no final desta alocução ‘Alfonso Cano’ sintetiza todas as ações das FARC e o que nos espera aos colombianos se não consentirmos com suas “propostas”:

Primeiro: as FARC impõem o limite e o conteúdo dos diálogos: “O que estamos em disposição de analisar é até que ponto necessitamos combater na Colômbia com armas na mão para que haja democracia e para poder abrir passagem a uma nova Colômbia”.

Segundo: mostram de novo, para os desinformados “analistas”, sua ideologia e seus fins: “Queríamos buscar as possibilidades da luta por uma sociedade igualitária, pelo socialismo que é o que nós levamos impregnado em nossa consciência e em nossa concepção, pelas vias políticas, pelas vias de massas”.

Terceiro: ameaçam o povo colombiano se não nos ajoelharmos ante suas imposições: “Porém, se não nos deixam, não há remédio: a luta armada revolucionária continuará na Colômbia até que consiga os objetivos a que se propôs. É a mensagem, rapazes, é uma mensagem ao povo colombiano de decisão de que aqui nas FARC ninguém está amedrontado, estamos é absolutamente cheios de dignidade e de moral, moral de combate. Ponto, rapazes”.

Por que a maioria dos “analistas” deixam de lado estas declarações? Por que? Ainda não tenho resposta. A síntese de ‘Alfonso Cano’ nos revela toda a estratégia das FARC: os diálogos como meio para se oxigenar e assim fazer a luta armada, a guerra jurídica e a propaganda negra no exterior sobre as instituições do Estado colombiano. Tudo isso sob a égide da ideologia liberticida por excelência: o marxismo-leninismo.

Cada uma das tentativas de diálogo com as FARC fracassaram por este choque de trens: as FARC procuram impor sua distorcida “visão sobre o conflito armado” com todos os seus objetivos estratégicos, e os diversos governos convencidos de que as FARC vão fazer a paz e se integrar à sociedade e ao Estado de Direito. Pois não é assim. Estamos falando de totalitarismo versus democracia. Estamos falando de uma ideologia demonstradamente criminosa que nega o respeito ao indivíduo e à propriedade privada. Tanto os meios como os fins das FARC, levados estritamente à prática, encaminham-se para demolir a democracia, para abolir a liberdade.

Bem, agora é pertinente concluir que os chamados das FARC para conversar, falar, dialogar, não devem ser levados em conta. Seus chamados são outra maneira de combinar todas as formas de luta para ganhar um terreno que nos últimos oito anos eles perderam e que os colombianos ganhamos com muitíssimo esforço pela política de Segurança Democrática propugnada pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez. É certo, as FARC são uma guerrilha perigosa, porém são muitíssimo mais perigosos os políticos que afirmam que deve-se dialogar com esse grupo marxista-leninista e terrorista (perdão pelo pleonasmo).

Nota da tradutora:

Esse artigo foi escrito em maio de 2011, época em que o cabeça máximo das FARC ainda era ‘Alfonso Cano’, abatido pelas Forças Militares da Colômbia em 4 de novembro de 2011, na “Operação Odisséia”. Entretanto, não perde sua vigência, pois a falácia de que com os seqüestros e sobretudo com o narcotráfico as FARC “abandonaram” seu caráter político de ideologia comunista, marxista-leninista, continua sendo divulgado aos quatro ventos, numa tentativa maliciosa de atenuar seus crimes e mascarar os reais objetivos dos partidos comunistas através de todas as formas de luta. E as FARC são o braço armado do Partido Comunista Colombiano, desde sua criação.

Carlos Alberto Romero Sánche
02 Abril 2012
Tradução: Graça Salgueiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário