"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 2 de julho de 2012

JOGOS, AMEBAS E DOIS POLÍTICOS SEMELHANTES


Veja esta imagem. Reveja-a. Ela não tem nada de anormal. Se você está impressionado ou decepcionado, na verdade é você quem não está muito atento às semelhanças que, mais do que o “homem novo de idéias novas”, ligam Paulo Maluf ao ex-presidente Lula.

Maluf e Lula são protótipos de políticos personalistas. Embora tenham construído suas trajetórias por vias distintas nos tempos da Ditadura, tanto tempo depois ainda agem como déspotas incontestes. Lula manda e faz o PT se dobrar a seus gostos da mesma forma como Maluf faz com a secção paulista de seu partido, hoje chamado PP. A diferença fundamental entre ambos é o sucesso alcançado: O de um veio antes de uma série de derrotas, o de outro veio após uma série de derrotas.

Maluf foi Governador e Prefeito de São Paulo e, naqueles tempos, tinha altíssimas taxas de aprovação, mesmo gerando tantas controvérsias e acusações de corrupção repercutidas pela imprensa mais independente e competente do país, a Paulista. Elegeu seu sucessor.

Sua aprovação vinha sobretudo pelas obras vistosas mas essas têm efeito limitado: após um tempo deixam de ser novas e belas, viram parte do cotidiano e em pouco tempo já não se é possível lembrar como era a vida antes delas. Pior, no caso das obras viárias, o tempo faz com que elas sejam saturadas pelo crescimento populacional.

Lula foi Presidente da República e, ainda hoje, tem altíssimas taxas de aprovação, mesmo gerando tantas controvérsias e acusações de corrupção repercutidas pela imprensa e mais independente e competente do país. Elegeu sua sucessora. Sua aprovação vinha sobretudo pela melhoria econômica mas isso também tem efeito limitado. Quantos valorizam FHC pelo avanço incontestável que foi a adoção do Real?

Para se proteger do legado controverso, Maluf, já com pouco poder político, passou a buscar cargos no Legislativo pela imunidade parlamentar. Lula não precisa disto pois é, ainda hoje, o político mais influente do país. Ainda assim, treme só de pensar nos efeitos da provável condenação de muitos réus do Mensalão terão na “memória afetiva” de seu Governo e, por isto, fez manobras desastradas junto a Ministros do STF.

A junção de Maluf e Lula para fazer crescer o bolo de Haddad é uma coisa naturalíssima também pelo uso de seus partidos como objetos de livre manuseio. Lula atropelou seu partido e sua principal líder paulistana ( Marta Suplicy ) para impôr seu gosto? Pois Maluf atropelou seu partido e o principal líder que dali emergia, Celso Russomano, a quem anos atrás prometeu apoio em futuras eleições majoritárias.
A poderosa máquina petista faz cara feia a Maluf da mesma forma como o minúsculo eleitorado remanescente de Maluf não tolera o PT. Maluf e Lula ignoraram a opinião de suas bases. Talvez aqui haja uma diferença: É de esperar que maisdos poucos malufistas que ainda existem se neguem a votar no PT do que os muitos petistas se negarem a dar as mãos a Maluf.

Lula foi sempre idolatrado pela esquerda mas cansou de negar-se esquerdista. De fato, embora Lula tenha abraçado muitas das teses de esquerda, não se pode dizer que ele seja seguidor de qualquer autor, filósofo ou economista socialista. Maluf sempre foi identificado como ídolo da direita mas jamais demonstrou-se “direitista” e não se pode dize que siga algum autor, filósofo ou economista liberal ou conservador.
Não foi entusiasta das privatizações, aumentava absurdamente os gastos públicos em seus governos, nunca agiu para diminuir o tamanho do estado, não tem resultados a apresentar quanto à desburocratização ou na melhora do ambiente para investir. Maluf é chamado de direitista muito mais pelo seu passado com o Governo autoritário do que por qualquer visão ou ação política.

Lula e Maluf são dois animais políticos puros sem muitos ideais ou embasamento teórico. Se importam mais com a oportunidade política do que com a coerência de suas ações. Olhando novamente àquela foto, a pergunta que se pode fazer a ambos é: Para quê?

Lula, como ex-presidente e político influente, não precisava se “rebaixar” ao líder de um partido cada vez mais irrelevante, procurado pela Interpol e mal visto por todos os formadores de opinião. Ainda mais, Lula está visivelmente abatido e longe do melhor estado de sua saúde. Maluf não precisava obrigar o candidato e seu adestrador a irem a sua casa beijar-lhe a mão, especialmente pela peculiaridade da situação atual de Lula. Mas Maluf e Lula são auto-suficientes, apenas fazem o que querem porque querem.

Ah, e quanto ao Haddad? Oras, pelas ações daqueles dois enfrentará grande dificuldade no maior eleitorado petista, hoje concentrado nas periferias e na população de menor escolaridade. Ele não poderá contar com a ajuda de Marta, alijada por Lula, e dividirá potencial eleitorado com Russomano, traído por Maluf. Mas quem se importa com Haddad nesta foto? Ali ele é apenas o meio hipertônico sorrindo a tudo por osmose diante do Malulismo.

02 de julho de 2012

* Angelo “Da C.I.A.” é um cara em perfeita sintonia com as energias positivas da mãe natureza lutando por um mundo melhor e sustentável. É blogueiro desde 2006.


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