"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 9 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

O ACM DO MARANHÃO

Em maio de 1978, o general Golbery, chefe da Casa Civil do presidente Geisel, ligou para o governador Nunes Freire, do Maranhão:
- Governador, precisamos conversar.
- Ministro, às suas ordens. Mas, se é para tentarem conquistar o apoio ao senador José Sarney para governador, não desejo conversar com ninguém.



Golbery desligou e queixou-se ao ministro da Justiça, Armando Falcão. Falcão, amigo de Nunes Freire, ligou para ele:
- Você foi indelicado com o ministro Golbery. Sem saber o que ele queria, foi se adiantando e dizendo que não falava sobre a candidatura do senador Sarney a governador. E se não era sobre isso que ele queria falar?
- Ora, Falcão, eu sei que era sobre isso. Como sei que você só ligou para falar do Sarney. E sobre o Sarney nem Deus me fala, Falcão. Nem Deeeeeus!!!
Falcão desligou. Mas lhe ficou no ouvido o eco distante do grito:
- Nem Deeeeuss!

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SARNEY

Em outubro de 77, poucos dias antes de morrer, o velho senador Vitorino Freire, já bem doente, pediu ao general Orlando Geisel para dizer ao presidente Ernesto Geisel que ia morrer certo de que no ano seguinte Sarney não seria nomeado governador do Maranhão. Apesar do apelo dramático de Vitorino, em maio de 78 Sarney, vice-líder da Arena no Senado, estava escolhido governador. Foi a São Luis, gravou uma mensagem ao Estado na TV de Magno Bacelar, voltou para Brasília e ficou esperando a comunicação do Palácio do Planalto.
De Recife, o general Potiguara, do IV Exército, ligou para o Planalto:
- Esse, não!

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JOÃO CASTELO

No dia D, desde cedo, os amigos começaram a chegar ao apartamento da SQS 309: Alexandre Costa, Edson Lobão, João Castelo, Luis Rocha, José Reinaldo Tavares, Airton Rocha. Às 10 horas, o general Moraes Rego, chefe do Gabinete Militar, disse ao jornalista Oliveira Bastos, amigo de Sarney:

- O governador é o Edson Lobão (colunista do “Correio Braziliense”).
Meio-dia em ponto, tocam a campainha. Era um coronel,que ficou de pé:
- Senador, trago uma mensagem do general João Batista Figueiredo (chefe do SNI, já escolhido sucessor de Geisel na Presidência da República). Infelizmente, o senhor não vai ser o governador. Indique dois nomes.

Sarney pegou um papel e escreveu: João Castelo (deputado federal) e Alexandre Costa (senador).
O coronel saiu, Sarney sentou-se na rede, fez-se um silêncio na sala e começaram todos a chorar baixinho, inclusive Sarney. Uma hora da tarde, o Planalto anunciou João Castelo. Alexandre Costa “brigou” com Sarney por ter sido incluído em segundo lugar.

Quase 25 anos depois, Sarney nem apresentou candidato a prefeito de São Luís. Apoiou o candidato do PT, que chegou em quarto lugar (ou penúltimo). É o fim do ACM do Maranhão.

09 de outubro de 2012
Sebastião Nery

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