"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 22 de março de 2012

INVESTIMENTO A PEDIDO


Artigos - Governo do PT


Nivaldo Cordeiro comenta a falta de realismo e de habilidade política de Dilma Rousseff e sua trupe, que, dadas a rompantes autoritários e provocativos, põem em risco a já arranhada governabilidade do país.

Faz sentido o governante pedir aos empresários que acelerem seus investimentos? Não, mas é isso que a nossa neófita presidente Dilma Rousseff pretende fazer na reunião com 27 dos maiores empresários brasileiros, que será realizada hoje (22). Investimento é a decisão mais pessoal e refletida que empresários podem fazer, pois eles definem o futuro das empresas. Nem acelerar e nem desacelerar: investimentos só são feitos na hora certa, atendendo ao sofisticado processo de planejamento empresarial, a partir de minuciosa análise da conjuntura e das tendências econômicas e políticas.

No limite é o mercado que define onde, quando e quando investir. E o quanto.

O ambiente empresarial brasileiro está muito conturbado. Nas últimas décadas, especialmente depois que Lula e o PT assumiram a Presidência da República, o modelo econômico brasileiro pode ser definido como socialista, com forte viés corporativista. O sistema está projetado para as grandes corporações e tem esmagado de forma inclemente as pequenas e médias empresas. O caráter socialista é dado pela face dupla da supertributação e do distributivismo de renda, que tem como nefasta consequência reduzir a taxa de poupança, fragilizando a economia. Por outro lado, a valorização do câmbio praticamente inviabilizou exportar fora do foco dos minérios e matérias primas, mercados onde as vantagens competitivas brasileiras são óbvias. O câmbio valorizado abriu as comportas das importações.

Pedir para empresários engajados na indústria de transformação, a principal prejudicada com o processo, que acelere os investimentos é piada de mau gosto. Fato é que todas as incertezas cercam os empresários e não há força humana capaz de fazer acelerar os investimentos nessa circunstância.

Provavelmente na cabeça da presidente Dilma Rousseff está presente a famosa sentença de Michal Kalecki, de que empresários não investem como classe, pois os investimentos são determinantes no processo de concorrência e são portanto segredos empresariais. Talvez ela queira reverter a escrita, já que o corporativismo empresarial tomou corpo nas últimas décadas, de maneira a tornar as empresas clientes do Estado para tudo, em quase departamentos estatais.

Eu não creio que isso, todavia, mude o caráter praticamente secreto da tomada de decisão de investir. Mesmo com o corporativismo reinante o ato de investimento é ainda uma decisão solitária, que define os destinos empresariais. Ninguém fará nada a pedido, nenhum investimento. Dilma Rousseff não tem o poder de mando neste quesito. Ela declarou: "as empresas precisam aprender a fazer melhor e mais barato, para que o Brasil tenha competitividade", como se algo tivesse a ensinar aos empresários de sucesso. É uma declaração risível, pois o governo chefiado por ela, a cada dia, encarece mais e mais o processo produtivo e eleva o risco jurídico das atividades empresariais, no limite de inviabilizar setores inteiros. A presidente não tem como receber do empresariado resposta afirmativa para seu apelo.

Vídeo: As derrotas de Dilma

As duras derrotas legislativas sofridas ontem por Dilma Rousseff mostram que a governabilidade está a perigo. A base aliada virou base rebelada.

O viés autoritário e irrealista da presidente mostrou que ela conduz as questões políticas da pior forma. Assim seu governo acabará mal.



Nivaldo Cordeiro
22 Março 2012

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