"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 13 de junho de 2012

LULA FALOU CERTO A GILMAR MENDES: DIRCEU ESTÁ DESESPERADO

A reportagem de Cássio Bruno, O Globo de domingo, focalizando o discurso de José Dirceu no congresso da juventude socialista encerrado na véspera, auditório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, comprova que Lula falou certo ao ministro Gilmar Mendes quando disse que o seu ex-chefe da Casa Civil estava desesperado.

Dirceu conclamou os estudantes a irem para as ruas apoiá-lo no juigamento que enfrentará em agosto no Supremo Tribunal Federal, processo do mensalão. Como sempre, atacou a imprensa e acrescentou, dirigindo-se aos jovens: não permitam julgamentos fora dos autos do processo. Suas afirmações, como se constata, assinalam que ele não se encontra dentro da lógica.

Conclamar estudantes a irem às ruas para pressionar o Supremo é algo impossível de conceber e aceitar como atitude política normal. O julgamento em pauta – acrescentou ainda – é o julgamento de nossa geração.

Que dizer desta colocação? Completamente fora da realidade. Ele está esquecendo que, por causa dos acontecimentos que culminaram em 2005, foi demitido do ministério por decreto do ex-presidente Lula. Então Lula, em sua ótica, é culpado também? E a cassação de seu mandato parlamentar? O que está publicado no Globo é quase inacreditável. Mobilização popular contra a Corte Suprema e o procurador geral Roberto Gurgel?

Que significa tudo isso? Deseja transformar um julgamento entre quatro paredes – para citar peça famosa de Sartre – num tribunal público? Que pensará de tudo isso seu próprio advogado? Ele e sua equipe não devem ter aconselhado José Dirceu a tentar deslocar o desfecho para a praça pública. Sobretudo porque tal deslocamento só piora a situação do cliente.

Pois ninguém acredita que o escândalo detonado pelo ex-deputado Roberto Jefferson na entrevista à repórter Renata Lo Prete, publicada pela Folha de São Paulo há sete anos, não tenha existido. No domingo, por exemplo, o assunto foi tema de pesquisa realizada por Haroldo de Andrade Junior, que dirige mesa de debates na Rádio Tupi.

O mensalão existiu ou não existiu? – foi a pergunta – Resposta: cem por cento, resultado inédito em levantamentos de opinião, disseram que sim. A foto que acompanha a matéria de Cásiio Bruno foi feita pelo próprio repórter.

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VOTO FECHADO OU ABERTO

Vamos passar a outro assunto. Os jornais revelaram que o presidente do Senado, José Sarney, pretende colocar em votação quarta-feira o projeto de emenda constitucional do senador Paulo Paim que altera os artigos 52 e 55 da Carta de 88, para que a cassação de mandatos parlamentares, por falta de decoro, seja feita através de voto aberto e não mais, portanto, através de voto secreto. Trata-se da PEC número 50, de 2006, adormecida há seis anos no Congresso Nacional.

Afirma o artigo 55: Perderá o mandato o deputado ou senador cujo procedimento for considerado incompatível com o decoro parlamentar. Parágrafo primeiro: Abuso das prerrogativas asseguradas aos membros do Congresso nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

O texto é claro, para citar Arnaldo Cesar Coelho. Claro também o propósito de Sarney: antecipar a cassação de Demóstenes Torres e agir para melhorar a imagem do Parlamento junto à sociedade. Na minha opinião, Demóstenes perderá o mandato seja qual for o processo de votação. Não tem a menor lógica que o desfecho não seja este.

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