"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

NO MELHOR COMEÇO


 
Com o título acima, o jornalista Jânio de Freitas aborda em sua coluna de 1º de agosto, publicada no jornal Folha de São Paulo, as restrições orçamentárias impostas pelo Executivo federal a vários órgãos governamentais, dentre os quais teve destaque, pelo montante, a do Ministério da Defesa.
 
Inicialmente o articulista aponta que a decisão inicial do Comando da Marinha, posteriormente desmentida, de suprimir o expediente da grande maioria das organizações militares subordinadas, sob o aspecto meramente econômico, era muito boa, justificando com percentuais não muito claros, ao mesmo tempo em que envolve o Exército Brasileiro e o meio expediente que vige em grande parte das unidades desta Força.
 
Esquece-se por certo o jornalista que a profissão militar é sideral, ou seja, seus membros encontram-se 24 horas à disposição da sua Força. Cumprem suas escalas de serviço, atendem aos exercícios de adestramento, participam das atividades previstas pela Constituição Federal e pelos demais dispositivos legais, conforme determinado, sem hora ou descanso. E sem receber qualquer tipo de ajuda remuneratória, nos seus parcos salários, reconhecidamente os mais baixos da administração federal.
 
Na ânsia de atribuir um aparente laissez-faire aos militares remonta-se ao tempo do então Ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, quando o Exército deixou de ter a "regalia" do meio expediente às quartas-feiras. Bom, se voltasse mais ainda no tempo, poderia lembrar que as organizações militares cumpriam expediente aos sábados pela manhã.
 
A seguir o artigo levanta uma suspeita, faz uma denúncia sobre os contratos assinados pelo governo brasileiro, através do Ministério da Defesa e do Comando da Marinha com uma empresa francesa para a construção da Base de Itaguaí, onde se desenvolve o projeto dos submarinos brasileiros, incluindo o nuclear. Parece-me que se o jornalista tem efetivamente dados que comprovem o benefício concedido a uma determinada empresa brasileira que os apresente formalmente ao Ministério Público para que o mesmo abra o processo necessário para conduzir a investigação. Caso contrário, estará apenas tentando sujar a reputação de pessoas e empresas com meras suspeitas.
 
A seguir, busca denegrir a imagem das Forças Armadas, acusando-as de desatualização conceitual, por ainda estarem doutrinariamente ligadas aos tempos da 2ª Guerra Mundial. Bom, só para falar do Exército Brasileiro, mas que por certo ocorreu com as demais Forças Armadas, desde 1970 a doutrina vem sendo constantemente atualizada, mediante o estudo continuado, característica da profissão militar. O Sr. Jânio de Freitas por certo nunca esteve em contato com organizações que estudam e pesquisam a doutrina, casos históricos recentes e atuais, atualizando permanentemente os currículos das escolas em todos os níveis, de oficiais e praças.
 
Da mesma forma o articulista deve desconhecer o esforço hercúleo desenvolvido pelos institutos de pesquisa das três forças, tentando desenvolver tecnologia autóctone, com os parcos e descontinuados recursos financeiros disponíveis e tendo como massa crítica cientistas, muitos deles formados nas ilhas de excelência do IME e do ITA. Por certo que não só estes, mas também os operacionais acompanham o avanço que as modernas tecnologias impõe ao modo de conduzir um futuro combate que todos, em especial os militares, esperam não acontecer. Mas precisam, pelo menos, de um mínimo de poder dissuasório para desestimular eventuais ameaças.
 
Para finalizar o artigo não poderia deixar de dar as duas últimas contribuições com características rançosas: o anti-americanismo e o inconformismo com a reação democrática de 1964. Quanto ao primeiro critica a atuação dos EUA na defesa dos seus interesses ao redor do mundo. Quanto ao segundo afirma que as organizações militares "deixaram de ser clubes de conspiração antidemocrática." Justo no ambiente onde sempre se forjou o caráter de jovens brasileiros, incutindo-lhes civismo e patriotismo, o Sr. Jânio de Freitas acha que se conspirava diuturnamente contra a democracia. O autor deve ser um ótimo ficcionista.

02 de agosto de 2013
Marco Antonio Esteves Balbi é Coronel na Reserva do EB.

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