No início deste mês, eu saudava os dez anos da morte da grande prostituta das letras tupiniquins, Jorge Amado. Nazista, stalinista, adepto do capitalismo, sempre venal, o baiano sempre correu atrás do dinheiro. Quando convinha ser nazista, foi nazista. Vendo que o nazismo não tinha futuro, aderiu ao comunismo. Desmoronado o comunismo, se entregou às boas graças do capitalismo. Leio na Folha de São Paulo que Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – sua ode ao mais estúpido dos gaúchos, publicada em 1945 – acaba de ser reeditada pela Companhia das Letras.
Ainda há pouco eu falava das biografias mentirosas, que pretendem transformar criminosos em heróis. É o caso da cineasta gaúcha Flávia de Castro, que fez um filme – Diário de uma busca – transformando seu pai idiota em mártir. Comentei também o documentário Marighella, de Isa Grinspum Ferraz, com estréia prevista para outubro, que faz de um terrorista um santo. Este gênero literário é antigo e, no Brasil, Amado terá sido um de seus precursores.
Em 1935, Stalin enviou ao Brasil Olga Benario, uma apparatchik alemã, oficial do Exército Vermelho, junto com Arthur Ernest Ewert e mais uma vintena de agentes comunistas, com a missão de transformar o país em uma republiqueta socialista ao estilo de Moscou. Os anos 30 foram de grande excitação bolchevique, Stalin investia não só no Brasil mas também na China e na Espanha. Como marionete desta equipe vinha o gaúcho Luís Carlos Prestes, o grande herói das esquerdas tupiniquins - o ídolo de Tarso Genro - disfarçado como marido de Olga.
A título de curiosidade: o herói foi deflorado pela judia alemã aos 37 anos de idade. Alguém concebe o Cavaleiro da Esperança só conhecendo mulher já nel mezzo del camin di nostra vita? Curioso que tais anomalias a ninguém causem espécie.
Já que falo de falsas biografias, é bom lembrar a ode à Olga Benario, ópera de autoria de Jorge Antunes, apresentada em outubro de 2006, no Theatro Municipal de São Paulo. Santa Olga acabou morrendo em um campo de concentração. Sua extradição do Brasil e morte na Alemanha lhe conferiram uma aura de santidade e martírio. Quando na verdade nunca passou de uma bandoleira internacional, enviada por Stalin como segurança pessoal de Prestes. A moça mereceu inclusive uma hagiologia de Fernando Morais, escritor que vende sua pluma a quem paga melhor. Começou sua fortuna louvando a ditadura de Castro em A Ilha e continuou com Olga. Louvar o comunismo sempre rendeu bem no Brasil. Aliás, em todo Ocidente.
Getúlio Vargas, ao enviar Olga para a Alemanha, ficou como o vilão da história, embora Luís Carlos Prestes o tenha apoiado mais tarde, em sua candidatura à Presidência da República. Condena-se em Getúlio o gesto de tê-la entregue a Hitler, após um pedido de extradição da Alemanha nazista. O que se esquece é que Olga obedecia às ordens de outro grande assassino de judeus, Stalin.
Fora a estupidez da Intentona Comunista, Luis Carlos Prestes carrega nas costas o assassinato da irmã de um militante comunista, Elza Fernandes. Que, em verdade, chamava-se Elvira Cupelo Colônio e convivia com os comunistas que visitavam seu irmão, Luiz Cupelo Colônio. Aos 16 anos, tornou-se amante de Antonio Maciel Bonfim, secretário-geral do PCB, mais conhecido como Miranda. Presos os conspiradores de 35, Elvira – também conhecida como a “garota” – tornou-se suspeita de colaborar com a polícia e foi condenada à morte por um “tribunal revolucionário”, do qual participava Prestes. Ante a hesitação de alguns dos “juízes”, o Cavaleiro da Esperança é taxativo:
Fui dolorosamente surpreendido pela falta de resolução e vacilação de vocês. Assim não se pode dirigir o Partido do Proletariado, da classe revolucionária." ... "Por que modificar a decisão a respeito da "garota"? Que tem a ver uma coisa com a outra? Há ou não há traição por parte dela? É ou não é ela perigosíssima ao Partido...?" ... "Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com ela. Em minha carta de 16, sou categórico e nada mais tenho a acrescentar..." ... "Uma tal linguagem não é digna dos chefes do nosso Partido, porque é a linguagem dos medrosos, incapazes de uma decisão, temerosos ante a responsabilidade. Ou bem que vocês concordam com as medidas extremas e neste caso já as deviam ter resolutamente posto em prática, ou então discordam mas não defendem como devem tal opinião.
Elza foi estrangulada e teve seu corpo quebrado, com os pés juntos à cabeça, para que pudesse ser enfiado num saco e enterrado nos fundos da casa onde foi assassinada. Consta que um dos executores chegou a vomitar.
Amado, contra todas as evidências, nega a responsabilidade de Prestes na execução. Escritor a soldo de Moscou, era pago para mentir. É espantoso que, quase oitenta anos depois da Intentona, duas décadas após a queda do Muro, uma editora reedite este embuste colossal do herói de Tarso Genro.
Janer Cristaldo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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