O comentarista Flavico destacou um trecho do artigo de Mario Vargas Llosa sobre a morte lenta do chavismo: “É triste ver o nível intelectual desse governo, cujo chefe de Estado assobia, ruge ou insulta porque não sabe falar.” E perguntou: a que país Vargas Llosa se refere mesmo? Boa pergunta. A Venezuela parece cada vez mais aqui.
Por sempre ver as coisas como as coisas são, o grande romancista peruano precisou de dois ou três discursos de Nicolás Maduro para constatar que o herdeiro de Hugo Chávez não sabe falar. Caso se expressasse em português do Brasil, o ganhador do Nobel de Literatura não precisaria de mais que dois minutos ou três parágrafos de um improviso em dilmês para espantar-se com a oratória indigente de Dilma Rousseff.
Nem todos os escritores e jornalistas brasileiros sem avarias no cérebro são militantes do PT. Por que também eles fingem ignorar a assombrosa miséria retórica do neurônio solitário? Por que fazem de conta que entendem o que está dizendo a superexercutiva que não diz coisa com coisa? O que há com os assim chamados intelectuais que contemplam com mansidão bovina, quando não interrompem com aplausos, a discurseira que reitera a celebração da ignorância?
O que há é o de sempre. Há o medo de melindrar a “esquerda” e entrar na alça de mira das milícias do PT. Há o temor de cair em desgraça com Lula, o pai dos pobres, ou irritar Dilma Rousseff, a mãe dos miseráveis. E há, sobretudo, o pavor de ficar fora da turma contemplada com bênçãos, favores e, sobretudo, verbas federais.
Em troca da inclusão de um livro na lista dos recomendados pelo MEC, garantia de muitos milhões em direitos autorais, o mais indignado dos rebeldes de antigamente entrega a mãe e oferece a avó como brinde. Outros fecham negócio a preços de ocasião. Por exemplo, uma vaga na delegação formada por mais de 70 escritores que, em outubro, vai representar o Brasil na Feira de Frankfurt.
A multidão ficará pelo menos quatro dias por lá, comendo, bebendo, dormindo e vendendo seu peixe com tudo pago pelo governo que os pagadores de impostos sustentam. Um passeio na Alemanha ─ e de graça ─ vale mais que a cumplicidade silenciosa. A maioria dos viajantes saberá retribuir a demonstração de apreço pelos literatos da terra com gentilezas adicionais.
Entre elas se inclui a esperta forma de miopia que faz enxergar um monumento à inteligência num cérebro baldio, incapaz de produzir uma única ideia que preste, uma só frase com começo, meio e fim ─ ou qualquer coisa que possa abalar a certeza de que nunca houve na presidência da República outra figura tão irremediavelmente despreparada para governar um país.
06 de maio de 2013
Augusto Nunes
Por sempre ver as coisas como as coisas são, o grande romancista peruano precisou de dois ou três discursos de Nicolás Maduro para constatar que o herdeiro de Hugo Chávez não sabe falar. Caso se expressasse em português do Brasil, o ganhador do Nobel de Literatura não precisaria de mais que dois minutos ou três parágrafos de um improviso em dilmês para espantar-se com a oratória indigente de Dilma Rousseff.
Nem todos os escritores e jornalistas brasileiros sem avarias no cérebro são militantes do PT. Por que também eles fingem ignorar a assombrosa miséria retórica do neurônio solitário? Por que fazem de conta que entendem o que está dizendo a superexercutiva que não diz coisa com coisa? O que há com os assim chamados intelectuais que contemplam com mansidão bovina, quando não interrompem com aplausos, a discurseira que reitera a celebração da ignorância?
O que há é o de sempre. Há o medo de melindrar a “esquerda” e entrar na alça de mira das milícias do PT. Há o temor de cair em desgraça com Lula, o pai dos pobres, ou irritar Dilma Rousseff, a mãe dos miseráveis. E há, sobretudo, o pavor de ficar fora da turma contemplada com bênçãos, favores e, sobretudo, verbas federais.
Em troca da inclusão de um livro na lista dos recomendados pelo MEC, garantia de muitos milhões em direitos autorais, o mais indignado dos rebeldes de antigamente entrega a mãe e oferece a avó como brinde. Outros fecham negócio a preços de ocasião. Por exemplo, uma vaga na delegação formada por mais de 70 escritores que, em outubro, vai representar o Brasil na Feira de Frankfurt.
A multidão ficará pelo menos quatro dias por lá, comendo, bebendo, dormindo e vendendo seu peixe com tudo pago pelo governo que os pagadores de impostos sustentam. Um passeio na Alemanha ─ e de graça ─ vale mais que a cumplicidade silenciosa. A maioria dos viajantes saberá retribuir a demonstração de apreço pelos literatos da terra com gentilezas adicionais.
Entre elas se inclui a esperta forma de miopia que faz enxergar um monumento à inteligência num cérebro baldio, incapaz de produzir uma única ideia que preste, uma só frase com começo, meio e fim ─ ou qualquer coisa que possa abalar a certeza de que nunca houve na presidência da República outra figura tão irremediavelmente despreparada para governar um país.
06 de maio de 2013
Augusto Nunes