O Ministério Público Federal (MPF) assinou nesta terça-feira denúncia contra o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo crime de sequestro qualificado contra cinco militantes capturados na década de 1970, durante a repressão à guerrilha do Araguaia, e até hoje desaparecidos.
Segundo o MPF, Maria Célia Corrêa, a Rosinha; Hélio Luiz Navarro Magalhães, o Edinho; Daniel Ribeiro Callado, o Doca; Antônio de Pádua Costa , o Piauí; e Telma Regina Cordeira Corrêa, a Lia, foram sequestrados por tropas comandadas pelo então major Curió, conhecido na época como Dr. Luchini, entre janeiro e setembro de 1974. Após terem sido levados às bases militares coordenadas por Curió e submetidos a "grave sofrimento físico e moral", diz o MPF, os cinco nunca mais foram encontrados. Se condenado, Curió pode pegar de dois a 40 anos de prisão.
Os sequestros ocorreram durante a última ação de repressão à guerrilha, deflagrada em outubro de 1973, a operação Marajoara. "As violentas condutas de sequestrar, agredir e executar opositores do regime governamental militar, apesar de praticadas sob o pretexto de consubstanciarem medidas para restabelecer a paz nacional, consistiram em atos nitidamente criminosos, atentatórios aos direitos humanos e à ordem jurídica", alega o MPF na peça acusatória.
A denúncia chega à Justiça depois de investigação da Procuradoria da República em Marabá, em 2009. Desde então, procuradores vinham reunindo documentos e organizando relatos sobre a guerrilha coletados desde 2001. O MPF no Pará selecionou os primeiros casos de sequestro durante a guerrilha a serem denunciados, por se tratarem de crimes permanentes (quando é irrelevante a mera suspeita de que as vítimas estejam mortas).
O MPF cita que os relatórios e registros históricos existentes sobre as supostas mortes das vítimas "não interferem na tipificação do delito (de sequestro), pois, além de imprecisos e inespecíficos, não trazem elementos indicativos dessas mortes - e de suas circunstâncias".
"Aliás, os restos mortais dessas vítimas sequer foram localizados. Prova material há efetivamente do sequestro e dos maus tratos. Nada mais", diz a denúncia.
Os procuradores da República ressaltam que, como os crimes são permanentes, não se pode cogitar prescrição ou anistia, sendo possível a responsabilização criminal por crime de sequestro.
Corte Interamericana
Os cinco crimes de sequestro foram levados à Justiça pouco mais de um ano depois que a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o caso Araguaia determinou que "o Estado deve conduzir eficazmente, perante a jurisdição ordinária, a investigação dos fatos do presente caso a fim de esclarecê-lo, determinar as correspondentes responsabilidades penais e aplicar efetivamente as sanções".
A Corte ainda determinou que a responsabilidade penal dos autores deve ser cumprida em um prazo razoável e que, por se tratar de violações graves aos direitos humanos, o Estado não poderá aplicar a Lei de Anistia em benefício dos autores e tampouco disposições análoga, como prescrição, irretroatividade da lei penal, coisa julgada ou qualquer excludente de responsabilidade.
Os sequestros
Durante a repressão à guerrilha no Araguaia, as Forças Armadas estabeleceram bases em Marabá, Xambioá, Araguaína, Araguatins e São Domingos do Araguaia. A militante do PCdoB Maria Célia Correa, conhecida como Rosinha, foi vista por várias testemunhas na base da Bacaba, depois de ter sido capturada em janeiro de 1974. Ela estava sob a guarda das Forças Armadas e segue desaparecida desde então. Uma das testemunhas declarou que a viu amarrada em uma cadeira de choque.
Além dos choques elétricos, camponeses e moradores da região relataram ao MPF os maus-tratos que ocorriam nas bases militares sob o comando do major Curió e muitas vezes "por ele infligidas pessoalmente aos militantes e colonos ilegalmente detidos". Edinho também foi visto com vida na base da Bacaba, após ser ferido a bala em confronto na mata, preso por homens de Curió e levado de helicóptero. Assim como no caso de Rosinha, testemunhas dizem ter visto Edinho ser colocado vivo no helicóptero e chegar em uma maca à base militar.
A prisão de Doca foi registrada por ex-militares e colonos que teriam visto Curió "esmurrar e chutar" o guerrilheiro. O tenente José Jimenez, na época conhecido como Chico Dólar, relatou ter prendido Piauí em 24 de janeiro de 1974. "Jimenez afirma que Piauí foi duramente torturado na base de Bacaba, sendo então posteriormente levado com vida à base denominada Casa Azul, em Marabá", relata a ação do MPF. Jimenez confirmou todas as informações em seu depoimento à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Além do testemunho dele, o MPF contabilizou nove testemunhas que viram Piauí vivo depois de preso, e uma fotografia dele detido foi encontrada durante as missões de busca feitas no Araguaia.
Em depoimento ao MPF, dois ex-militares que participaram da operação Marajoara afirmaram que Lia chegou presa na base militar no dia 7 de setembro de 1974.
O processo contra o major Curió tramitará na Justiça Federal de Marabá e ainda não possui numeração.
13 de março de 2012
Postado por Pedro Bougleux
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
terça-feira, 13 de março de 2012
MULTA PARA O CALOTE DO SENADO
Receita deve cobrar R$ 10,8 milhões pela falta de recolhimento do IR sobre o 14º e o 15º salários dos parlamentares. Por motivos idênticos, oito assembleias estaduais tiveram de pagar R$ 135,8 milhões ao Fisco
Um precedente com cifras milionárias divulgado pela Receita Federal acende um sinal de alerta no Senado.
O Leão já mordeu R$ 135,8 milhões de deputados de oito assembleias legislativas e conselheiros de tribunais de contas de vários estados que, assim como os senadores, receberam 14º e 15º salários sem pagar Imposto de Renda.
Institucionalmente, as casas legislativas e os tribunais de contas que não descontaram o IR na fonte foram multados em R$ 67,9 milhões. Além de pagar os atrasados com juros, cada político foi taxado em 75% do valor da contribuição devida.
O cálculo da quantia aplica o percentual de desconto referente ao IR nos rendimentos extras recebidos há até cinco anos. No Senado, se a Receita Federal constatar irregularidades ao término da investigação instalada após denúncia do Correio, os políticos, considerando o período retroativo de alcance da cobrança devida, devolveriam juntos aproximadamente R$ 10,8 milhões.
Por ano, em razão da regalia paga com dinheiro do contribuinte, cada senador deixa de pagar R$ 12,94 mil ao Fisco. No fim do mandato, o parlamentar embolsa R$ 103,58 mil.
Os senadores inadimplentes há cinco anos podem ter de pagar ao Fisco, com a multa embutida de 75%, R$ 133,5 mil. A Receita Federal comunicou que, em outras cinco assembleias legislativas, as contas ainda estão em aberto. O Fisco salientou que, para recuperar o dinheiro, foram instauradas 145 ações fiscais. A Receita Federal ressaltou ainda que não poderia revelar quais assembleias e tribunais de conta foram multados por causa das normas em relação ao sigilo fiscal.
O coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal, Iágaro Jung Martins, informou que, desde 1995, o Fisco atua para inibir a não tributação de Imposto de Renda nos dois rendimentos adicionais. De acordo com ele, as assembleias fazem uma interpretação equivocada ao alegarem que a natureza dos rendimentos extras é indenizatória.
"A gente analisa a situação, vamos lá, autuamos e tributamos os salários recebidos. As assembleias também são multadas justamente por não terem retido esses impostos na fonte. A verdade é que essas situações são cíclicas. Desde 1995, estamos verificando os problemas." No entendimento do subsecretário de Tributação e Contencioso da Receita Federal, Sandro Serpa, as duas remunerações extras devem ser tributadas. "Esses rendimentos recebidos a título de salários extras não se enquadram no conceito de verba indenizatória do exercício parlamentar."
Justiça
A Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) foi a primeira do país a questionar a benesse na Justiça. A entidade entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade para tentar derrubar o pagamento.
Atualmente, o processo está na Corte Especial do Tribunal de Justiça de Pernambuco. O presidente da OAB-PE, Henrique Mariano, justificou que o chamado auxílio-paletó tem caráter remuneratório. "A nossa argumentação, que serve para as demais assembleias do país, é técnica. Esses auxílios têm valor idêntico ao salário e possuem datas pré-fixadas. Dizer que isso não é salário, é uma afronta. Qualquer pessoa com inteligência mediana percebe isso."
Mariano informou que já existe, em Pernambuco, no Tribunal Regional da 5ª Região (TRF), jurisprudência favorável a esse entendimento. "Outra questão é que a própria Receita Federal está alegando que esses rendimentos são tributáveis, justamente, por terem um caráter remuneratório." Ele acredita que, se o Senado derrubar a regalia, o Brasil inteiro sai ganhando. "Vamos ter um efeito cascata bastante positivo no país."
Na quinta-feira (8/3), a Receita Federal notificou o Senado e deu um prazo de 20 dias para a Casa apresentar toda a documentação solicitada referente ao assunto. Na sexta-feira, a assessoria de imprensa da Casa ainda não havia se pronunciado sobre a notificação oficial. No início da semana passada, por meio de nota oficial, o Senado defendeu juridicamente o pagamento das duas parcelas adicionais chamadas de "ajuda de custo".
O documento alegava que a natureza jurídica do benefício é indenizatória e, por isso, não caberia tributação. Na quinta-feira (8/3), matéria publicada no próprio portal do Senado Federal se referia às parcelas extras como 14ª e 15º salários. Ontem (10/3), a reportagem não estava mais no ar. Na Câmara dos Deputados, os rendimentos adicionais sofrem descontos normais de 27,5%.
13 de março de 2012
por João Valadares
Fonte: Correio Braziliense - 11 Mar 2012
Um precedente com cifras milionárias divulgado pela Receita Federal acende um sinal de alerta no Senado.
O Leão já mordeu R$ 135,8 milhões de deputados de oito assembleias legislativas e conselheiros de tribunais de contas de vários estados que, assim como os senadores, receberam 14º e 15º salários sem pagar Imposto de Renda.
Institucionalmente, as casas legislativas e os tribunais de contas que não descontaram o IR na fonte foram multados em R$ 67,9 milhões. Além de pagar os atrasados com juros, cada político foi taxado em 75% do valor da contribuição devida.
O cálculo da quantia aplica o percentual de desconto referente ao IR nos rendimentos extras recebidos há até cinco anos. No Senado, se a Receita Federal constatar irregularidades ao término da investigação instalada após denúncia do Correio, os políticos, considerando o período retroativo de alcance da cobrança devida, devolveriam juntos aproximadamente R$ 10,8 milhões.
Por ano, em razão da regalia paga com dinheiro do contribuinte, cada senador deixa de pagar R$ 12,94 mil ao Fisco. No fim do mandato, o parlamentar embolsa R$ 103,58 mil.
Os senadores inadimplentes há cinco anos podem ter de pagar ao Fisco, com a multa embutida de 75%, R$ 133,5 mil. A Receita Federal comunicou que, em outras cinco assembleias legislativas, as contas ainda estão em aberto. O Fisco salientou que, para recuperar o dinheiro, foram instauradas 145 ações fiscais. A Receita Federal ressaltou ainda que não poderia revelar quais assembleias e tribunais de conta foram multados por causa das normas em relação ao sigilo fiscal.
O coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal, Iágaro Jung Martins, informou que, desde 1995, o Fisco atua para inibir a não tributação de Imposto de Renda nos dois rendimentos adicionais. De acordo com ele, as assembleias fazem uma interpretação equivocada ao alegarem que a natureza dos rendimentos extras é indenizatória.
"A gente analisa a situação, vamos lá, autuamos e tributamos os salários recebidos. As assembleias também são multadas justamente por não terem retido esses impostos na fonte. A verdade é que essas situações são cíclicas. Desde 1995, estamos verificando os problemas." No entendimento do subsecretário de Tributação e Contencioso da Receita Federal, Sandro Serpa, as duas remunerações extras devem ser tributadas. "Esses rendimentos recebidos a título de salários extras não se enquadram no conceito de verba indenizatória do exercício parlamentar."
Justiça
A Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) foi a primeira do país a questionar a benesse na Justiça. A entidade entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade para tentar derrubar o pagamento.
Atualmente, o processo está na Corte Especial do Tribunal de Justiça de Pernambuco. O presidente da OAB-PE, Henrique Mariano, justificou que o chamado auxílio-paletó tem caráter remuneratório. "A nossa argumentação, que serve para as demais assembleias do país, é técnica. Esses auxílios têm valor idêntico ao salário e possuem datas pré-fixadas. Dizer que isso não é salário, é uma afronta. Qualquer pessoa com inteligência mediana percebe isso."
Mariano informou que já existe, em Pernambuco, no Tribunal Regional da 5ª Região (TRF), jurisprudência favorável a esse entendimento. "Outra questão é que a própria Receita Federal está alegando que esses rendimentos são tributáveis, justamente, por terem um caráter remuneratório." Ele acredita que, se o Senado derrubar a regalia, o Brasil inteiro sai ganhando. "Vamos ter um efeito cascata bastante positivo no país."
Na quinta-feira (8/3), a Receita Federal notificou o Senado e deu um prazo de 20 dias para a Casa apresentar toda a documentação solicitada referente ao assunto. Na sexta-feira, a assessoria de imprensa da Casa ainda não havia se pronunciado sobre a notificação oficial. No início da semana passada, por meio de nota oficial, o Senado defendeu juridicamente o pagamento das duas parcelas adicionais chamadas de "ajuda de custo".
O documento alegava que a natureza jurídica do benefício é indenizatória e, por isso, não caberia tributação. Na quinta-feira (8/3), matéria publicada no próprio portal do Senado Federal se referia às parcelas extras como 14ª e 15º salários. Ontem (10/3), a reportagem não estava mais no ar. Na Câmara dos Deputados, os rendimentos adicionais sofrem descontos normais de 27,5%.
13 de março de 2012
por João Valadares
Fonte: Correio Braziliense - 11 Mar 2012
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Risco do fascismo voltar à Europa é 'muito grande', afirma psicanalista italiano
Governantes, intencionalmente ou não, podem fazer sociedades inteiras se tornarem paranóicas. Essa é a principal mensagem que o renomado psicanalista italiano Luigi Zoja trouxe em sua palestra "Aspectos Coletivos da Paranóia", realizada neste sábado, no Centro de Estudos e Pesquisas do Envelhecimentono, no Rio. O intelectual tira esta conclusão de seu mais recente livro, "Manhã de Setembro: o Pesadelo Global do Terrorismo", no qual faz reflexões sobre o Estados Unidos pós-11/09.
Zoja vivia em Nova York quando dois aviões foram atirados por terroristas da Al Qaeda nas torres do World Trade Center, matando quase 3 mil pessoas: 1/16
"O mais preocupante, naquela situação, era a política do medo. De se eleger um inimigo e tentar exterminá-lo a todo custo. Nós, como psicanalistas, deveríamos dedicar mais atenção não ao fenômeno clínico da paranóia, mas sim na maneira como ela pode aprisionar as massas", reflete.
Segundo o especialista, uma das constatações que o espantaram após os atentados terroristas foi a presença massiva de termos com óbvio caráter paranóico nos meios de comunicação de massa norte-americanos:
"O que me deixou com medo é o quanto eles usavam a palavra conspiração na política e na mída dos Estados Unidos. Os islâmicos viraram a grande ameaça, e o Iraque foi escolhido como bode espiatório. A paranóia tem isso, de apontar um inimigo e puní-lo, mesmo que haja apenas a suspeita. E o Iraque foi punido, mesmo que a acusação de manter um arsenal de armas de distruição em massa fosse mentira", afirma.
Após o evento, promovido pelo Instituto Junguiano do Rio de Janeiro, o psicanalista concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil:
JB: Entre os seus exemplos de influência da paranóia, está a crescente onda de nacionalismos e racismos na Europa. O senhor acha que há risco do facismo voltar a ser relevante?
Zoja: O perigo é muito grande. Na França, um terço dos operários, que historicamente votam em representantes socialistas, afirma que vai votar na candidata facista Marine Le Pen. E isso também é notado em outros países da Europa, com um despertar do racismo e dos movimentos anti-imigração. Como disse Régis Debray, A economia é global, mas os homens são tribais. Vivemos a era do localismo, algo ainda mais restrito que o nacionalismo.
JB: O senhor critica os meios de comunicação de massa por ajudarem a criar um clima de paranóia em diversos países. É possível mudar ou essa é uma característica inata deste tipo de comunicação?
Zoja: Os meios de comunicação de massa têm um tanto de paranóia. É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o povo da Inglaterra consumia os produtos de Rupert Murdoch em escala impressionante. Depois que os escândalos a respeito dele ganharam repercussão mundial, os ingleses ficaram paralizados, mas não querem saber mais sobre isso. Neste caso, nem foi uma paranóia política, mas sim de expor a vida do outro, espionar. Mas esses barões da mídia, desde o Século XIX, perceberam que é muito mais lucrativo oferecer esse tipo de informação supersimplificada, comercialmente falando.
JB: O senhor cita especificamente Hitler, Stalin e George W. Bush como exemplos de líderes paranóicos que acabaram contaminando uma grande parcela da população de seus países. É possível observar esse tipo de conduta mesmo em governantes que não sofrem deste tipo de transtorno?
Zoja: É difícil distinguir o quanto é interesse. Mas posso afirmar que o líder pode não ser paranóico, mas toda sociedade tem um potencial desse tipo. E muitas vezes as pessoas, por interesse, trabalham para despertar esse tipo de característica.
JB: A crescente tensão entre Israel e Irã talvez seja hoje a principal ameaça à paz mundial. A postura de Benjamin Netanyahu, que incentiva seguidamente às potências ocidentais a apoiarem um ataque preventivo, também pode ser encarada sob a sua ótica?
Zoja: A ideia de ataque preventivo, por si só, é paranóica. Mas este caso é diferente do Iraque, porque de fato os iranianos possuem um programa nuclear, então fica difícil saber o quanto é paranóia e o quanto é informação verdadeira. Um ataque talvez até seja a melhor opção, se de fato vier a evitar uma guerra nuclear entre as duas nações. Mas, de qualquer forma, o governo israelense utiliza-se disso para contaminar toda sua sociedade. Mesmo que o perigo iraniano seja real, a postura israelense vai de encontro à conspiração.
JB: No Rio de Janeiro, nós temos muitos problemas com a criminalidade urbana e é muito comum ver, nos noticiários, expressões como "guerra" e "poder paralelo". O senhor acredita que os governantes que comandaram o Rio de Janeiro ao longo das últimas décadas transformaram o tráfico em um inimigo?
Zoja: Eu não gosto disso, o uso da palavra guerra neste tipo de contexto já comprova, em si mesmo, um ato de paranóia evidente. Quando falamos em guerra, estamos transformando o outro no mal absoluto, com o qual não há espaço para diálogo.
Jornal do Brasil
Igor Mello
11 de março de 2012
Postado por René Amaral
Governantes, intencionalmente ou não, podem fazer sociedades inteiras se tornarem paranóicas. Essa é a principal mensagem que o renomado psicanalista italiano Luigi Zoja trouxe em sua palestra "Aspectos Coletivos da Paranóia", realizada neste sábado, no Centro de Estudos e Pesquisas do Envelhecimentono, no Rio. O intelectual tira esta conclusão de seu mais recente livro, "Manhã de Setembro: o Pesadelo Global do Terrorismo", no qual faz reflexões sobre o Estados Unidos pós-11/09.
Zoja vivia em Nova York quando dois aviões foram atirados por terroristas da Al Qaeda nas torres do World Trade Center, matando quase 3 mil pessoas: 1/16
"O mais preocupante, naquela situação, era a política do medo. De se eleger um inimigo e tentar exterminá-lo a todo custo. Nós, como psicanalistas, deveríamos dedicar mais atenção não ao fenômeno clínico da paranóia, mas sim na maneira como ela pode aprisionar as massas", reflete.
Segundo o especialista, uma das constatações que o espantaram após os atentados terroristas foi a presença massiva de termos com óbvio caráter paranóico nos meios de comunicação de massa norte-americanos:
"O que me deixou com medo é o quanto eles usavam a palavra conspiração na política e na mída dos Estados Unidos. Os islâmicos viraram a grande ameaça, e o Iraque foi escolhido como bode espiatório. A paranóia tem isso, de apontar um inimigo e puní-lo, mesmo que haja apenas a suspeita. E o Iraque foi punido, mesmo que a acusação de manter um arsenal de armas de distruição em massa fosse mentira", afirma.
Após o evento, promovido pelo Instituto Junguiano do Rio de Janeiro, o psicanalista concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil:
JB: Entre os seus exemplos de influência da paranóia, está a crescente onda de nacionalismos e racismos na Europa. O senhor acha que há risco do facismo voltar a ser relevante?
Zoja: O perigo é muito grande. Na França, um terço dos operários, que historicamente votam em representantes socialistas, afirma que vai votar na candidata facista Marine Le Pen. E isso também é notado em outros países da Europa, com um despertar do racismo e dos movimentos anti-imigração. Como disse Régis Debray, A economia é global, mas os homens são tribais. Vivemos a era do localismo, algo ainda mais restrito que o nacionalismo.
JB: O senhor critica os meios de comunicação de massa por ajudarem a criar um clima de paranóia em diversos países. É possível mudar ou essa é uma característica inata deste tipo de comunicação?
Zoja: Os meios de comunicação de massa têm um tanto de paranóia. É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o povo da Inglaterra consumia os produtos de Rupert Murdoch em escala impressionante. Depois que os escândalos a respeito dele ganharam repercussão mundial, os ingleses ficaram paralizados, mas não querem saber mais sobre isso. Neste caso, nem foi uma paranóia política, mas sim de expor a vida do outro, espionar. Mas esses barões da mídia, desde o Século XIX, perceberam que é muito mais lucrativo oferecer esse tipo de informação supersimplificada, comercialmente falando.
JB: O senhor cita especificamente Hitler, Stalin e George W. Bush como exemplos de líderes paranóicos que acabaram contaminando uma grande parcela da população de seus países. É possível observar esse tipo de conduta mesmo em governantes que não sofrem deste tipo de transtorno?
Zoja: É difícil distinguir o quanto é interesse. Mas posso afirmar que o líder pode não ser paranóico, mas toda sociedade tem um potencial desse tipo. E muitas vezes as pessoas, por interesse, trabalham para despertar esse tipo de característica.
JB: A crescente tensão entre Israel e Irã talvez seja hoje a principal ameaça à paz mundial. A postura de Benjamin Netanyahu, que incentiva seguidamente às potências ocidentais a apoiarem um ataque preventivo, também pode ser encarada sob a sua ótica?
Zoja: A ideia de ataque preventivo, por si só, é paranóica. Mas este caso é diferente do Iraque, porque de fato os iranianos possuem um programa nuclear, então fica difícil saber o quanto é paranóia e o quanto é informação verdadeira. Um ataque talvez até seja a melhor opção, se de fato vier a evitar uma guerra nuclear entre as duas nações. Mas, de qualquer forma, o governo israelense utiliza-se disso para contaminar toda sua sociedade. Mesmo que o perigo iraniano seja real, a postura israelense vai de encontro à conspiração.
JB: No Rio de Janeiro, nós temos muitos problemas com a criminalidade urbana e é muito comum ver, nos noticiários, expressões como "guerra" e "poder paralelo". O senhor acredita que os governantes que comandaram o Rio de Janeiro ao longo das últimas décadas transformaram o tráfico em um inimigo?
Zoja: Eu não gosto disso, o uso da palavra guerra neste tipo de contexto já comprova, em si mesmo, um ato de paranóia evidente. Quando falamos em guerra, estamos transformando o outro no mal absoluto, com o qual não há espaço para diálogo.
Jornal do Brasil
Igor Mello
11 de março de 2012
Postado por René Amaral
A REVOLUÇÃO DOS BICHOS - PARTE 6
Durante o ano inteiro os bichos trabalharam feito escravos. Mas trabalhavam felizes; não mediam esforços ou sacrifícios, cientes de que tudo quanto fizessem reverteria em benefício deles próprios e dos de sua espécie, que estavam por vir, e não em proveito de um bando de preguiçosos e aproveitadores seres humanos.
Por toda a primavera e o verão, enfrentaram uma semana de sessenta horas de trabalho e, em agosto, Napoleão fez saber que haveria trabalho também nos domingos à tarde. Esse trabalho era estritamente voluntário, porém, o bicho que não aceitasse teria sua ração diminuída pela metade.
Mesmo assim, ficou alguma coisa por fazer. A colheita foi pouco menor do que a do ano anterior, e duas lavouras que deveriam receber mandioca no início do verão não foram plantadas por não ter sido possível ará-las a tempo. Era fácil prever que o inverno seria bastante duro.
A construção do moinho de vento apresentou dificuldades imprevistas. Havia na granja uma boa pedreira, e grande quantidade de areia e cimento fora encontrada num depósito, portanto o material para a construção existia e estava à mão.
O problema que os animais não conseguiram resolver, de inicio, foi o de quebrar as pedras no tamanho desejado. Não parecia haver outra maneira senão com picaretas e alavancas, coisas que nenhum animal podia usar, porque não lhes era possível ficar de pé sobre duas patas.
Somente após semanas de trabalho em vão, foi que ocorreu a alguém a idéia certa - aproveitar a gravidade. Pelo leito da pedreira jaziam seixos enormes, demasiado grandes para serem usados como estavam. Os bichos amarravam cordas em torno das pedras e, todos juntos, cavalos, vacas, ovelhas, todo animal que fosse capaz de segurar os cabos - até os porcos entravam no grupo, em certos momentos críticos -, arrastavam-nas com desesperadora lentidão até o ponto mais elevado da pedreira, de cuja borda eram derrubadas para despedaçarem-se embaixo.
O transporte das pedras, uma vez quebradas, era relativamente simples. Os cavalos carregavam-nas em carroças, as ovelhas arrastavam blocos individuais, até mesmo Maricota e Benjamim atrelaram-se a uma velha charrete e fizeram sua parte. No fim do verão já haviam acumulado um bom estoque de pedras, e começou a construção sob a direção dos porcos.
Entretanto, o processo era demorado e laborioso. Freqüentemente levavam um dia inteiro para arrastar uma pedra das maiores até o topo da pedreira, e às vezes, atirada pela borda, não quebrava.
Nada se teria feito sem Sansão, cuja força parecia igual à de todos os outros bichos juntos. Quando a pedra começava a deslizar e os animais gritavam de desespero, ao se verem arrastados colina abaixo era sempre Sansão que retesava os cabos e continha a pedra. Vê-lo na faina da subida, palmo a palmo, com a respiração acelerada, os costados molhados de suor e as pontas dos cascos cravadas no solo, era coisa que enchia a todos de admiração.
Quitéria às vezes recomendava-lhe que tivesse cuidado e não se esforçasse demais, mas Sansão não lhe dava ouvidos. Seus dois lemas "Trabalharei mais ainda" e "Napoleão tem sempre razão" pareciam-lhe resolver todos os problemas.
Pediu a um dos galos que o acordasse três quartos de hora mais cedo, pela manhã, ao invés de meia hora. E nos momentos de folga, coisa que nos últimos tempos não sucedia muito amiúde, ia sozinho à pedreira, juntava um monte de pedra britada e puxava-o até o local do moinho de vento, sem ajuda de ninguém.
Os bichos não passaram muito mal aquele inverno, malgrado a dureza do trabalho. Se não dispunham de mais alimentos do que no tempo de Jones, também não tinham menos. A vantagem de só terem a si próprios para alimentar, sem os cinco esbanjadores seres humanos, era tão grande que compensava bem algumas faltas. E, sob muitos aspectos, seus métodos eram mais eficientes e econômicos. Certas tarefas, como, por exemplo, a limpeza de ervas daninhas, podiam ser realizadas com uma perfeição impossível aos seres humanos. E, como nenhum animal roubava, não houve necessidade de separar as pastagens das terras aráveis, o que evitou o grande trabalho da construção de cercas e porteiras. Não obstante, à medida que o verão passava começou a se fazer sentir alguma escassez, imprevista. Houve falta de óleo de parafina, de pregos, de corda, de biscoitos para os cachorros e de ferraduras para os cavalos, coisas – que não podiam ser fabricadas na granja. Mais tarde, faltaram também sementes e adubo artificial, além de vários tipos de ferramentas e, finalmente, a maquinaria para o moinho de vento. Como obter isso tudo, ninguém conseguia imaginar.
Um domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens, Napoleão anunciou sua decisão de encetar uma nova política. A partir daquele dia, a Granja dos Bichos passaria a comerciar com as da vizinhança; naturalmente, sem qualquer objetivo de lucro, mas com o fito único de obter algumas mercadorias urgentemente necessárias. As exigências do moinho de vento deviam sobrepujar tudo mais, disse. Em conseqüência, ele estava tratando da venda de uma grande meda de feno e de parte da safra de trigo daquele ano; mais tarde, caso fosse necessário mais dinheiro, este teria de ser obtido com a venda de ovos, para os quais sempre havia mercado em Willingdon. As galinhas, disse Napoleão, deveriam agradecer a oportunidade de oferecer esse sacrifício, como contribuição especial em prol da conservação do moinho de vento.
Os animais sentiram outra vez uma vaga inquietude. Nunca realizar quaisquer contatos com seres humanos, nunca fazer comércio, jamais utilizar dinheiro - essas coisas não estavam entre as primeiras resoluções passadas naquela formidável Reunião inicial, logo após a expulsão de Jones?
Todos se lembravam da aprovação dessas resoluções - ou pelo menos julgavam lembrar-se. Os quatro jovens porcos castrados que haviam protestado quando Napoleão acabara com as Reuniões, levantaram timidamente a voz, mas foram logo silenciados por um rosnar terrível dos cachorros. Nesse instante, como de hábito, as ovelhas estalaram "Quatro pernas bom, duas pernas ruim (claque)!" e a momentânea impertinência foi abafada.
Finalmente, Napoleão levantou a pata ordenando silêncio e declarou que já havia tomado todas as providências. Não haveria necessidade de qualquer animal entrar em contato com seres humanos, coisa que seria da maior inconveniência. Ele pretendia tomar sobre seus ombros toda essa carga.
Um certo Sr. Whymper, que era procurador em Willingdon, concordara em atuar como intermediário entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, e viria à granja todas as segundas-feiras pela manhã, a fim de receber instruções. Napoleão finalizou o discurso com sua exclamação habitual de "Viva a Granja dos Bichos!", e, após cantarem Bichos da Inglaterra, os animais foram dispensados.
Depois, Garganta percorreu a granja para tranqüilizá-los. Assegurou-lhes que tal resolução, contra o engajamento no comércio e o uso de dinheiro, jamais fora aprovada, aliás nem sequer apresentada. Era pura imaginação e provavelmente tinha origem em mentiras inventadas por Bola-de-Neve. Alguns bichos ainda permaneciam em dúvida, porém Garganta perguntou-lhes astuciosamente: "Vocês estão certos de que não sonharam com isso? Existe algum registro dessa resolução? Está escrita em algum lugar?" E uma vez que, realmente, não existia escrito nada parecido com isso, os animais se convenceram de seu engano. (Se impõe pela insegurança e pela duvida)
Todas as segundas-feiras o Sr. Whymper visitava a granja, conforme o combinado. Era um homenzinho finório, de suíças crescidas, procurador de pouca clientela porém suficientemente vivo para perceber, antes de qualquer outro, que a Granja dos Bichos precisaria de um representante e que as comissões seriam polpudas. Os bichos olhavam suas idas e vindas com um certo receio e evitavam-no tanto quanto possível. Apesar disso, ver Napoleão, de quatro, dando ordens a Whymper, que permanecia em pé sobre duas patas, era uma coisa que, lhes acariciava o orgulho e parcialmente os reconciliava com a nova situação.
As relações com o gênero humano andavam bem diferentes. Os humanos não odiavam menos a Granja dos Bichos, agora que ela prosperava; na realidade, odiavam-na mais do que nunca. Todo ser humano tinha como questão de fé que a granja iria à bancarrota mais cedo ou mais tarde e, sobretudo, que o moinho de vento seria um fracasso. Reuniam-se nas estalagens e provavam uns aos outros, por meio de gráficos e diagramas, que o moinho estava fadado a desabar e, caso se mantivesse erguido, jamais funcionaria.
Não obstante, mesmo contra a vontade, haviam criado um certo respeito pela eficiência com que os bichos conduziam os seus assuntos. Sintoma disso foi o fato de começarem a chamar o sítio de Granja dos Bichos, abandonando a pretensão de continuarem a chamá-la Granja do Solar. Haviam também acabado com o cartaz de Jones, que perdera toda esperança de reaver sua granja e fora viver noutro lugar. Até agora, exceto por intermédio de Whymper, nenhum contato houvera entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, mas já circulavam insistentes boatos de que Napoleão estava por chegar a um decisivo acordo de negócios, ora com Pilkington, de Foxwood, ora com Frederick, de Pinchfield - mas nunca, interessante, com ambos, simultaneamente.
Foi mais ou menos por essa época que os porcos, de repente, mudaram-se para a casa-grande, onde fixaram residência. Novamente os bichos julgaram lembrar-se de que havia uma resolução contra isso, aprovada nos primeiros dias, e novamente Garganta conseguiu convencê-los do contrário. Era absolutamente necessário que os porcos, disse ele, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo onde trabalhar. Além disso, viver numa casa era mais adequado à dignidade do Líder (nos últimos tempos dera para referir-se a Napoleão pelo título de "Líder") do que viver numa simples pocilga.
Mesmo assim, alguns animais se aborreceram ao ouvir dizer que os porcos não só faziam as refeições na cozinha e utilizavam a sala como local de recreação, mas ainda dormiam nas camas. Sansão resolveu o assunto com seu "Napoleão tem sempre razão", porém Quitéria, que tinha a impressão de lembrar-se de uma lei específica contra camas, foi até o fundo do celeiro e tentou decifrar os Sete Mandamentos que lá estavam escritos. Sentindo-se incapaz de ler mais do que algumas letras separadamente, foi chamar Maricota.
- Maricota - pediu ela - leia para mim por favor, o Quarto Mandamento. Não diz qualquer coisa a respeito de nunca dormir em camas?
Com alguma dificuldade, Maricota soletrou o mandamento:
- Diz que "Nenhum animal dormirá em cama com lençóis".
Interessante, Quitéria não se recordava dessa menção a lençóis, no Quarto Mandamento. Mas, se estava escrito na parede, devia haver. E Garganta que por acaso passava nesse momento, acompanhado de dois cachorros, colocou todo o assunto na perspectiva adequada.
- Com que então vocês, camaradas, ouviram dizer que nós, os porcos, agora dormimos nas camas da casa? E por que não? Vocês não supunham, por certo, que houvesse uma lei contra camas, não é? A cama é meramente o lugar onde se dorme. Vendo bem, um monte de palha no estábulo é uma cama. A lei era contra os lençóis, que são uma invenção humana. Nós retiramos os lençóis das camas da casa e dormimos entre cobertores. Confortáveis, lá isso são! Porém não mais do que necessitamos, posso afirmar-lhes, camaradas, com todo o trabalho intelectual que atualmente recai sobre nós. Vocês não seriam capazes de negar-nos o repouso, camaradas, seriam? Vocês não desejariam ver-nos tão cansados que não pudéssemos cumprir nossa missão, não? Será que alguém quer Jones de volta?
Os animais tranqüilizaram-no a esse respeito e não se falou mais no fato de os porcos dormirem nas camas da casa. E quando se anunciou, alguns dias depois, que os porcos passariam a levantar-se, de manhã, uma hora mais tarde do que os outros bichos, ninguém se queixou disso também.
Ao chegar o outono, os animais andavam cansados, mas felizes. Haviam tido um ano difícil, e após a venda de uma parte da safra de feno e de trigo, os estoques para o inverno não eram lá muito abundantes, mas o moinho de vento compensava tudo. Já estava quase pela metade. Após a colheita houve um período de tempo bom e os bichos trabalharam mais do que nunca, satisfeitos com a tarefa de andarem para lá e para cá puxando blocos de pedras, desde que com isso conseguissem fazer a parede subir mais alguns centímetros. Sansão chegava a trabalhar de noite, uma hora ou duas, por sua conta, à luz da lua.
Nas horas de folga os animais passeavam em volta do moinho inacabado; admirando a solidez e a verticalidade de suas paredes, maravilhados com o fato de terem sido capazes de construir algo tão imponente. Somente o velho Benjamim se recusava a entusiasmar-se com o moinho de vento, embora, como sempre, não fizesse outro comentário além do enigma de que os burros vivem muito tempo.
Novembro chegou, com fortes ventos de sudoeste. Foi preciso interromper a construção, pois o tempo estava úmido demais para a mistura de cimento. Finalmente, houve uma noite em que a tormenta foi tão forte que os galpões da granja tremeram na base e várias telhas do celeiro foram arrancadas. As galinhas acordaram cacarejando aterrorizadas, pois haviam sonhado, todas ao mesmo tempo, com o barulho de um tiro a distância.
Pela manhã, ao saírem os animais de suas baias, deram com o mastro caído no chão e viram o olmeiro do pomar desgalhado como se fosse um rabanete. Mal haviam notado isso quando soltaram um grito lancinante de desespero. Visão terrível se apresentava aos seus olhos: o moinho de vento estava em ruínas.
Correram todos para o local. Napoleão, que raras vezes abandonava seu passo normal à frente de todos, correu também. Sim, ali estava o moinho, o fruto de todas as suas lutas, rebaixado ao nível dos alicerces; e as pedras, que tão laboriosamente haviam levantado, espalhadas pelas redondezas. Impossível falar, de início; ali ficaram olhando tristemente à desordem das pedras caídas. Napoleão andava 1entamente de um lado para outro, em silêncio, ocasionalmente farejando o chão, aqui e ali. Seu rabicho se esticava e se sacudia energicamente, para lá e para cá, num sinal de febril atividade mental. De repente estacou, como se tivesse chegado a uma conclusão.
- Camaradas - disse lentamente -, quem é o responsável por isto? Sabem quem foi o inimigo que, na calada da noite, destruiu nosso moinho de vento? BOLA-DE-NEVE! - rugiu violentamente com voz de trovão. - Bola-de-Neve foi o autor disto! Com rematada maldade, pensando em destruir nossos planos e vingar-se de sua ignominiosa expulsão, esse traidor penetrou até aqui, sob o manto da escuridão, e destruiu nosso labor de quase um ano. Camaradas, neste local e neste momento, pronuncio a sentença de morte para Bola-de-Neve.
Uma "Herói Animal, Segunda Classe" e meio balde de maçãs ao animal que lhe fizer justiça. Um balde inteiro a quem o capturar vivo!
Os animais ficaram chocadíssimos ao saberem que mesmo Bola-de-Neve fosse capaz de uma coisa daquela. Subiu ao céu um brado de indignação e cada um pôs-se a pensar num modo de apanhar Bola-de-Neve, se algum dia ousasse voltar. Quase ao mesmo tempo, descobriram-se as pegadas de um porco a pequena distância da colina.
Embora marcassem apenas alguns metros, pareciam dirigir-se a um buraco da sebe. Napoleão cheirou-as profundamente e declarou serem de Bola-de-Neve. Na sua opinião, Bola-de-Neve provavelmente viera da Granja de Foxwood.
- Não percamos tempo, camaradas! – bradou Napoleão, depois de examinar detidamente as pegadas.
- Temos muito trabalho pela frente. Hoje mesmo, de manhã, recomeçamos a construção do moinho de vento e trabalharemos por todo o inverno, com sol ou com chuva. Mostraremos a esse traidor miserável que ele não pode desfazer nosso trabalho assim tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver modificações em nossos planos: serão cumpridas à risca. Para a frente, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a Granja dos Bichos!
13 de março de 2012
(capítulo anterior: arquivo 10 de março de 2012)
Por toda a primavera e o verão, enfrentaram uma semana de sessenta horas de trabalho e, em agosto, Napoleão fez saber que haveria trabalho também nos domingos à tarde. Esse trabalho era estritamente voluntário, porém, o bicho que não aceitasse teria sua ração diminuída pela metade.
Mesmo assim, ficou alguma coisa por fazer. A colheita foi pouco menor do que a do ano anterior, e duas lavouras que deveriam receber mandioca no início do verão não foram plantadas por não ter sido possível ará-las a tempo. Era fácil prever que o inverno seria bastante duro.
A construção do moinho de vento apresentou dificuldades imprevistas. Havia na granja uma boa pedreira, e grande quantidade de areia e cimento fora encontrada num depósito, portanto o material para a construção existia e estava à mão.
O problema que os animais não conseguiram resolver, de inicio, foi o de quebrar as pedras no tamanho desejado. Não parecia haver outra maneira senão com picaretas e alavancas, coisas que nenhum animal podia usar, porque não lhes era possível ficar de pé sobre duas patas.
Somente após semanas de trabalho em vão, foi que ocorreu a alguém a idéia certa - aproveitar a gravidade. Pelo leito da pedreira jaziam seixos enormes, demasiado grandes para serem usados como estavam. Os bichos amarravam cordas em torno das pedras e, todos juntos, cavalos, vacas, ovelhas, todo animal que fosse capaz de segurar os cabos - até os porcos entravam no grupo, em certos momentos críticos -, arrastavam-nas com desesperadora lentidão até o ponto mais elevado da pedreira, de cuja borda eram derrubadas para despedaçarem-se embaixo.
O transporte das pedras, uma vez quebradas, era relativamente simples. Os cavalos carregavam-nas em carroças, as ovelhas arrastavam blocos individuais, até mesmo Maricota e Benjamim atrelaram-se a uma velha charrete e fizeram sua parte. No fim do verão já haviam acumulado um bom estoque de pedras, e começou a construção sob a direção dos porcos.
Entretanto, o processo era demorado e laborioso. Freqüentemente levavam um dia inteiro para arrastar uma pedra das maiores até o topo da pedreira, e às vezes, atirada pela borda, não quebrava.
Nada se teria feito sem Sansão, cuja força parecia igual à de todos os outros bichos juntos. Quando a pedra começava a deslizar e os animais gritavam de desespero, ao se verem arrastados colina abaixo era sempre Sansão que retesava os cabos e continha a pedra. Vê-lo na faina da subida, palmo a palmo, com a respiração acelerada, os costados molhados de suor e as pontas dos cascos cravadas no solo, era coisa que enchia a todos de admiração.
Quitéria às vezes recomendava-lhe que tivesse cuidado e não se esforçasse demais, mas Sansão não lhe dava ouvidos. Seus dois lemas "Trabalharei mais ainda" e "Napoleão tem sempre razão" pareciam-lhe resolver todos os problemas.
Pediu a um dos galos que o acordasse três quartos de hora mais cedo, pela manhã, ao invés de meia hora. E nos momentos de folga, coisa que nos últimos tempos não sucedia muito amiúde, ia sozinho à pedreira, juntava um monte de pedra britada e puxava-o até o local do moinho de vento, sem ajuda de ninguém.
Os bichos não passaram muito mal aquele inverno, malgrado a dureza do trabalho. Se não dispunham de mais alimentos do que no tempo de Jones, também não tinham menos. A vantagem de só terem a si próprios para alimentar, sem os cinco esbanjadores seres humanos, era tão grande que compensava bem algumas faltas. E, sob muitos aspectos, seus métodos eram mais eficientes e econômicos. Certas tarefas, como, por exemplo, a limpeza de ervas daninhas, podiam ser realizadas com uma perfeição impossível aos seres humanos. E, como nenhum animal roubava, não houve necessidade de separar as pastagens das terras aráveis, o que evitou o grande trabalho da construção de cercas e porteiras. Não obstante, à medida que o verão passava começou a se fazer sentir alguma escassez, imprevista. Houve falta de óleo de parafina, de pregos, de corda, de biscoitos para os cachorros e de ferraduras para os cavalos, coisas – que não podiam ser fabricadas na granja. Mais tarde, faltaram também sementes e adubo artificial, além de vários tipos de ferramentas e, finalmente, a maquinaria para o moinho de vento. Como obter isso tudo, ninguém conseguia imaginar.
Um domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens, Napoleão anunciou sua decisão de encetar uma nova política. A partir daquele dia, a Granja dos Bichos passaria a comerciar com as da vizinhança; naturalmente, sem qualquer objetivo de lucro, mas com o fito único de obter algumas mercadorias urgentemente necessárias. As exigências do moinho de vento deviam sobrepujar tudo mais, disse. Em conseqüência, ele estava tratando da venda de uma grande meda de feno e de parte da safra de trigo daquele ano; mais tarde, caso fosse necessário mais dinheiro, este teria de ser obtido com a venda de ovos, para os quais sempre havia mercado em Willingdon. As galinhas, disse Napoleão, deveriam agradecer a oportunidade de oferecer esse sacrifício, como contribuição especial em prol da conservação do moinho de vento.
Os animais sentiram outra vez uma vaga inquietude. Nunca realizar quaisquer contatos com seres humanos, nunca fazer comércio, jamais utilizar dinheiro - essas coisas não estavam entre as primeiras resoluções passadas naquela formidável Reunião inicial, logo após a expulsão de Jones?
Todos se lembravam da aprovação dessas resoluções - ou pelo menos julgavam lembrar-se. Os quatro jovens porcos castrados que haviam protestado quando Napoleão acabara com as Reuniões, levantaram timidamente a voz, mas foram logo silenciados por um rosnar terrível dos cachorros. Nesse instante, como de hábito, as ovelhas estalaram "Quatro pernas bom, duas pernas ruim (claque)!" e a momentânea impertinência foi abafada.
Finalmente, Napoleão levantou a pata ordenando silêncio e declarou que já havia tomado todas as providências. Não haveria necessidade de qualquer animal entrar em contato com seres humanos, coisa que seria da maior inconveniência. Ele pretendia tomar sobre seus ombros toda essa carga.
Um certo Sr. Whymper, que era procurador em Willingdon, concordara em atuar como intermediário entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, e viria à granja todas as segundas-feiras pela manhã, a fim de receber instruções. Napoleão finalizou o discurso com sua exclamação habitual de "Viva a Granja dos Bichos!", e, após cantarem Bichos da Inglaterra, os animais foram dispensados.
Depois, Garganta percorreu a granja para tranqüilizá-los. Assegurou-lhes que tal resolução, contra o engajamento no comércio e o uso de dinheiro, jamais fora aprovada, aliás nem sequer apresentada. Era pura imaginação e provavelmente tinha origem em mentiras inventadas por Bola-de-Neve. Alguns bichos ainda permaneciam em dúvida, porém Garganta perguntou-lhes astuciosamente: "Vocês estão certos de que não sonharam com isso? Existe algum registro dessa resolução? Está escrita em algum lugar?" E uma vez que, realmente, não existia escrito nada parecido com isso, os animais se convenceram de seu engano. (Se impõe pela insegurança e pela duvida)
Todas as segundas-feiras o Sr. Whymper visitava a granja, conforme o combinado. Era um homenzinho finório, de suíças crescidas, procurador de pouca clientela porém suficientemente vivo para perceber, antes de qualquer outro, que a Granja dos Bichos precisaria de um representante e que as comissões seriam polpudas. Os bichos olhavam suas idas e vindas com um certo receio e evitavam-no tanto quanto possível. Apesar disso, ver Napoleão, de quatro, dando ordens a Whymper, que permanecia em pé sobre duas patas, era uma coisa que, lhes acariciava o orgulho e parcialmente os reconciliava com a nova situação.
As relações com o gênero humano andavam bem diferentes. Os humanos não odiavam menos a Granja dos Bichos, agora que ela prosperava; na realidade, odiavam-na mais do que nunca. Todo ser humano tinha como questão de fé que a granja iria à bancarrota mais cedo ou mais tarde e, sobretudo, que o moinho de vento seria um fracasso. Reuniam-se nas estalagens e provavam uns aos outros, por meio de gráficos e diagramas, que o moinho estava fadado a desabar e, caso se mantivesse erguido, jamais funcionaria.
Não obstante, mesmo contra a vontade, haviam criado um certo respeito pela eficiência com que os bichos conduziam os seus assuntos. Sintoma disso foi o fato de começarem a chamar o sítio de Granja dos Bichos, abandonando a pretensão de continuarem a chamá-la Granja do Solar. Haviam também acabado com o cartaz de Jones, que perdera toda esperança de reaver sua granja e fora viver noutro lugar. Até agora, exceto por intermédio de Whymper, nenhum contato houvera entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, mas já circulavam insistentes boatos de que Napoleão estava por chegar a um decisivo acordo de negócios, ora com Pilkington, de Foxwood, ora com Frederick, de Pinchfield - mas nunca, interessante, com ambos, simultaneamente.
Foi mais ou menos por essa época que os porcos, de repente, mudaram-se para a casa-grande, onde fixaram residência. Novamente os bichos julgaram lembrar-se de que havia uma resolução contra isso, aprovada nos primeiros dias, e novamente Garganta conseguiu convencê-los do contrário. Era absolutamente necessário que os porcos, disse ele, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo onde trabalhar. Além disso, viver numa casa era mais adequado à dignidade do Líder (nos últimos tempos dera para referir-se a Napoleão pelo título de "Líder") do que viver numa simples pocilga.
Mesmo assim, alguns animais se aborreceram ao ouvir dizer que os porcos não só faziam as refeições na cozinha e utilizavam a sala como local de recreação, mas ainda dormiam nas camas. Sansão resolveu o assunto com seu "Napoleão tem sempre razão", porém Quitéria, que tinha a impressão de lembrar-se de uma lei específica contra camas, foi até o fundo do celeiro e tentou decifrar os Sete Mandamentos que lá estavam escritos. Sentindo-se incapaz de ler mais do que algumas letras separadamente, foi chamar Maricota.
- Maricota - pediu ela - leia para mim por favor, o Quarto Mandamento. Não diz qualquer coisa a respeito de nunca dormir em camas?
Com alguma dificuldade, Maricota soletrou o mandamento:
- Diz que "Nenhum animal dormirá em cama com lençóis".
Interessante, Quitéria não se recordava dessa menção a lençóis, no Quarto Mandamento. Mas, se estava escrito na parede, devia haver. E Garganta que por acaso passava nesse momento, acompanhado de dois cachorros, colocou todo o assunto na perspectiva adequada.
- Com que então vocês, camaradas, ouviram dizer que nós, os porcos, agora dormimos nas camas da casa? E por que não? Vocês não supunham, por certo, que houvesse uma lei contra camas, não é? A cama é meramente o lugar onde se dorme. Vendo bem, um monte de palha no estábulo é uma cama. A lei era contra os lençóis, que são uma invenção humana. Nós retiramos os lençóis das camas da casa e dormimos entre cobertores. Confortáveis, lá isso são! Porém não mais do que necessitamos, posso afirmar-lhes, camaradas, com todo o trabalho intelectual que atualmente recai sobre nós. Vocês não seriam capazes de negar-nos o repouso, camaradas, seriam? Vocês não desejariam ver-nos tão cansados que não pudéssemos cumprir nossa missão, não? Será que alguém quer Jones de volta?
Os animais tranqüilizaram-no a esse respeito e não se falou mais no fato de os porcos dormirem nas camas da casa. E quando se anunciou, alguns dias depois, que os porcos passariam a levantar-se, de manhã, uma hora mais tarde do que os outros bichos, ninguém se queixou disso também.
Ao chegar o outono, os animais andavam cansados, mas felizes. Haviam tido um ano difícil, e após a venda de uma parte da safra de feno e de trigo, os estoques para o inverno não eram lá muito abundantes, mas o moinho de vento compensava tudo. Já estava quase pela metade. Após a colheita houve um período de tempo bom e os bichos trabalharam mais do que nunca, satisfeitos com a tarefa de andarem para lá e para cá puxando blocos de pedras, desde que com isso conseguissem fazer a parede subir mais alguns centímetros. Sansão chegava a trabalhar de noite, uma hora ou duas, por sua conta, à luz da lua.
Nas horas de folga os animais passeavam em volta do moinho inacabado; admirando a solidez e a verticalidade de suas paredes, maravilhados com o fato de terem sido capazes de construir algo tão imponente. Somente o velho Benjamim se recusava a entusiasmar-se com o moinho de vento, embora, como sempre, não fizesse outro comentário além do enigma de que os burros vivem muito tempo.
Novembro chegou, com fortes ventos de sudoeste. Foi preciso interromper a construção, pois o tempo estava úmido demais para a mistura de cimento. Finalmente, houve uma noite em que a tormenta foi tão forte que os galpões da granja tremeram na base e várias telhas do celeiro foram arrancadas. As galinhas acordaram cacarejando aterrorizadas, pois haviam sonhado, todas ao mesmo tempo, com o barulho de um tiro a distância.
Pela manhã, ao saírem os animais de suas baias, deram com o mastro caído no chão e viram o olmeiro do pomar desgalhado como se fosse um rabanete. Mal haviam notado isso quando soltaram um grito lancinante de desespero. Visão terrível se apresentava aos seus olhos: o moinho de vento estava em ruínas.
Correram todos para o local. Napoleão, que raras vezes abandonava seu passo normal à frente de todos, correu também. Sim, ali estava o moinho, o fruto de todas as suas lutas, rebaixado ao nível dos alicerces; e as pedras, que tão laboriosamente haviam levantado, espalhadas pelas redondezas. Impossível falar, de início; ali ficaram olhando tristemente à desordem das pedras caídas. Napoleão andava 1entamente de um lado para outro, em silêncio, ocasionalmente farejando o chão, aqui e ali. Seu rabicho se esticava e se sacudia energicamente, para lá e para cá, num sinal de febril atividade mental. De repente estacou, como se tivesse chegado a uma conclusão.
- Camaradas - disse lentamente -, quem é o responsável por isto? Sabem quem foi o inimigo que, na calada da noite, destruiu nosso moinho de vento? BOLA-DE-NEVE! - rugiu violentamente com voz de trovão. - Bola-de-Neve foi o autor disto! Com rematada maldade, pensando em destruir nossos planos e vingar-se de sua ignominiosa expulsão, esse traidor penetrou até aqui, sob o manto da escuridão, e destruiu nosso labor de quase um ano. Camaradas, neste local e neste momento, pronuncio a sentença de morte para Bola-de-Neve.
Uma "Herói Animal, Segunda Classe" e meio balde de maçãs ao animal que lhe fizer justiça. Um balde inteiro a quem o capturar vivo!
Os animais ficaram chocadíssimos ao saberem que mesmo Bola-de-Neve fosse capaz de uma coisa daquela. Subiu ao céu um brado de indignação e cada um pôs-se a pensar num modo de apanhar Bola-de-Neve, se algum dia ousasse voltar. Quase ao mesmo tempo, descobriram-se as pegadas de um porco a pequena distância da colina.
Embora marcassem apenas alguns metros, pareciam dirigir-se a um buraco da sebe. Napoleão cheirou-as profundamente e declarou serem de Bola-de-Neve. Na sua opinião, Bola-de-Neve provavelmente viera da Granja de Foxwood.
- Não percamos tempo, camaradas! – bradou Napoleão, depois de examinar detidamente as pegadas.
- Temos muito trabalho pela frente. Hoje mesmo, de manhã, recomeçamos a construção do moinho de vento e trabalharemos por todo o inverno, com sol ou com chuva. Mostraremos a esse traidor miserável que ele não pode desfazer nosso trabalho assim tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver modificações em nossos planos: serão cumpridas à risca. Para a frente, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a Granja dos Bichos!
13 de março de 2012
(capítulo anterior: arquivo 10 de março de 2012)
TEMPOS APOCALÍPTICOS
Minha filha Magda me advertiu de que estamos a viver tempos do Apocalipse sem nos darmos conta; semana passada, certifiquei-me do acerto da sua observação, ao ler a notícia de que o douto Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado, atendendo postulação de ONG representante de opção sexual minoritária, em decisão administrativa, unânime, resolvera determinar a retirada de crucifixos porventura existentes em prédios do Poder Judiciário estadual, decisão essa que seria homologada pelo Tribunal. Seria este “o caminho que responde aos princípios constitucionais republicanos de Estado laico” e da separação entre Igreja e Estado.
Tenho para mim tratar-se de um equívoco, pois desde a adoção da República o Estado é laico e a separação entre Igreja e Estado não é novidade da Constituição de 1988, data de 7 de janeiro de 1890, Decreto 119-A, da lavra do ministro Rui Barbosa, que, de longa data, se batia pela liberdade dos cultos. Desde então, sem solução de continuidade, todas as Constituições, inclusive as bastardas, têm reiterado o princípio hoje centenário, o que não impediu que o histórico defensor da liberdade dos cultos e da separação entre Igreja e Estado sustentasse que “a nossa lei constitucional não é antirreligiosa, nem irreligiosa”.
É hora de voltar ao assunto. Disse há pouco que estava a ocorrer um engano. A meu juízo, os crucifixos existentes nas salas de julgamento do Tribunal lá não se encontram em reverência a uma das pessoas da Santíssima Trindade, segundo a teologia cristã, mas a alguém que foi acusado, processado, julgado, condenado e executado, enfim justiçado até sua crucificação, com ofensa às regras legais históricas, e, por fim, ainda vítima de pusilanimidade de Pilatos, que tendo consciência da inocência do perseguido, preferiu lavar as mãos, e com isso passar à História.
Em todas as salas onde existe a figura de Cristo, é sempre como o injustiçado que aparece, e nunca em outra postura, fosse nas bodas de Caná, entre os sacerdotes no templo, ou com seus discípulos na ceia que Leonardo Da Vinci imortalizou. No seu artigo “O justo e a justiça política”, publicado na Sexta-feira Santa de 1899, Rui Barbosa salienta que “por seis julgamentos passou Cristo, três às mãos dos judeus, três às dos romanos, e em nenhum teve um juiz”… e, adiante, “não há tribunais, que bastem, para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da consciência dos magistrados”.
Em todas as fases do processo, ocorreu sempre a preterição das formalidades legais. Em outras palavras, o processo, do início ao fim, infringiu o que em linguagem atual se denomina o devido processo legal. O crucifixo está nos tribunais não porque Jesus fosse uma divindade, mas porque foi vítima da maior das falsidades de justiça pervertida.
Não é tudo. Pilatos ficou na história como o protótipo do juiz covarde. É deste modo que, há mais de cem anos, Rui concluiu seu artigo, “como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde”.
Faz mais de 60 anos que frequento o Tribunal gaúcho, dele recebi a distinção de fazer-me uma vez seu advogado perante o STF, e em seu seio encontrei juízes notáveis. Um deles chamava-se Isaac Soibelman Melzer. Não era cristão e, ao que sei, o crucifixo não o impediu de ser o modelar juiz que foi e que me apraz lembrar em homenagem à sua memória. Outrossim, não sei se a retirada do crucifixo vai melhorar o quilate de algum dos menos bons.
Por derradeiro, confesso que me surpreende a circunstância de ter sido uma ONG de lésbicas que tenha obtido a escarninha medida em causa. A propósito, alguém lembrou se a mesma entidade não iria propor a retirada de “Deus” do preâmbulo da Constituição nem a demolição do Cristo que domina os céus do Rio de Janeiro durante os dias e todas as noites.
13 de março de 2012
Paulo Brossard - Convidado
Fonte: Zero Hora, 12/03/2012
Tenho para mim tratar-se de um equívoco, pois desde a adoção da República o Estado é laico e a separação entre Igreja e Estado não é novidade da Constituição de 1988, data de 7 de janeiro de 1890, Decreto 119-A, da lavra do ministro Rui Barbosa, que, de longa data, se batia pela liberdade dos cultos. Desde então, sem solução de continuidade, todas as Constituições, inclusive as bastardas, têm reiterado o princípio hoje centenário, o que não impediu que o histórico defensor da liberdade dos cultos e da separação entre Igreja e Estado sustentasse que “a nossa lei constitucional não é antirreligiosa, nem irreligiosa”.
É hora de voltar ao assunto. Disse há pouco que estava a ocorrer um engano. A meu juízo, os crucifixos existentes nas salas de julgamento do Tribunal lá não se encontram em reverência a uma das pessoas da Santíssima Trindade, segundo a teologia cristã, mas a alguém que foi acusado, processado, julgado, condenado e executado, enfim justiçado até sua crucificação, com ofensa às regras legais históricas, e, por fim, ainda vítima de pusilanimidade de Pilatos, que tendo consciência da inocência do perseguido, preferiu lavar as mãos, e com isso passar à História.
Em todas as salas onde existe a figura de Cristo, é sempre como o injustiçado que aparece, e nunca em outra postura, fosse nas bodas de Caná, entre os sacerdotes no templo, ou com seus discípulos na ceia que Leonardo Da Vinci imortalizou. No seu artigo “O justo e a justiça política”, publicado na Sexta-feira Santa de 1899, Rui Barbosa salienta que “por seis julgamentos passou Cristo, três às mãos dos judeus, três às dos romanos, e em nenhum teve um juiz”… e, adiante, “não há tribunais, que bastem, para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da consciência dos magistrados”.
Em todas as fases do processo, ocorreu sempre a preterição das formalidades legais. Em outras palavras, o processo, do início ao fim, infringiu o que em linguagem atual se denomina o devido processo legal. O crucifixo está nos tribunais não porque Jesus fosse uma divindade, mas porque foi vítima da maior das falsidades de justiça pervertida.
Não é tudo. Pilatos ficou na história como o protótipo do juiz covarde. É deste modo que, há mais de cem anos, Rui concluiu seu artigo, “como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde”.
Faz mais de 60 anos que frequento o Tribunal gaúcho, dele recebi a distinção de fazer-me uma vez seu advogado perante o STF, e em seu seio encontrei juízes notáveis. Um deles chamava-se Isaac Soibelman Melzer. Não era cristão e, ao que sei, o crucifixo não o impediu de ser o modelar juiz que foi e que me apraz lembrar em homenagem à sua memória. Outrossim, não sei se a retirada do crucifixo vai melhorar o quilate de algum dos menos bons.
Por derradeiro, confesso que me surpreende a circunstância de ter sido uma ONG de lésbicas que tenha obtido a escarninha medida em causa. A propósito, alguém lembrou se a mesma entidade não iria propor a retirada de “Deus” do preâmbulo da Constituição nem a demolição do Cristo que domina os céus do Rio de Janeiro durante os dias e todas as noites.
13 de março de 2012
Paulo Brossard - Convidado
Fonte: Zero Hora, 12/03/2012
SUA MAIOR OBRA: O BLOG "TIJOLAÇO.COM"
A maior obra de Brizola Neto na política é um blog, denominado Tijolaço.com Ali ele exerce as suas maiores virtudes: atacar com virulência a oposição e lamber o chão por onde Dilma Rousseff passa. Não existe maior puxa-saco da Presidente da República.
Chega ser constrangedor. O avatar do pelego Brizola Neto no twitter é ele e Dilma, abraçadinhos. Suas mensagens são dignas de repulsa.
Brizolinha faz parte da turma de Paulo Henrique Amorim e Luiz Nassif. É o esgoto com imunidade parlamentar.
É usado para atacar o que eles chamam de PIG, Partido da Imprensa Golpista. Agora vai virar ministro do Trabalho, com as bênçãos dos dois.
E os aplausos do ninho de ratos que compõe a esgotosfera que virou a tropa de choque do governo. No PMDB, comenta-se que o "matriarcado" pirou.
Brizolinha ministro é a maior prova disso. É a prova de que Dilma quer briga, já que este sujeito não tem as mínimas condições de interlocução com a imprensa, com a oposição e com a sociedade.
Não tem biografia.
Não tem nível. É um Lupi sem barriga, mas com uma boca que mais parece uma fossa.
13 de março de 2012
coroneLeaks
Chega ser constrangedor. O avatar do pelego Brizola Neto no twitter é ele e Dilma, abraçadinhos. Suas mensagens são dignas de repulsa.
Brizolinha faz parte da turma de Paulo Henrique Amorim e Luiz Nassif. É o esgoto com imunidade parlamentar.
É usado para atacar o que eles chamam de PIG, Partido da Imprensa Golpista. Agora vai virar ministro do Trabalho, com as bênçãos dos dois.
E os aplausos do ninho de ratos que compõe a esgotosfera que virou a tropa de choque do governo. No PMDB, comenta-se que o "matriarcado" pirou.
Brizolinha ministro é a maior prova disso. É a prova de que Dilma quer briga, já que este sujeito não tem as mínimas condições de interlocução com a imprensa, com a oposição e com a sociedade.
Não tem biografia.
Não tem nível. É um Lupi sem barriga, mas com uma boca que mais parece uma fossa.
13 de março de 2012
coroneLeaks
CASAS LEGISLATIVAS
A prestação de informações mesmo que mínimas sobre a atividade de seus integrantes é antes a exceção do que a regra das Casas legislativas brasileiras, como se pode verificar na tabela. Parte das Assembléias Legislativas, e a maioria das Câmaras Municipais das capitais, sequer publica as matérias (projetos de leis e outras) que tramitam. São raras as Casas que publicam como seus integrantes votaram as matérias que vão ao Plenário.
Casas Legislativas
Casa Projetos Votações Presenças Verbas Orçamento
Plenário Comissões Indenizatória Viagens Por parlamentar Per capita
Senado Sim Não Sim Sim Sim Não 41.403.181,32 17,43
Câmara Sim Sim Sim Sim Sim Sim 8.253.741,30 22,01
AC Sim Não Não Não Não Não 4.343.601,08 139,67
AL Sim Não Não Não Não Não 5.088.785,19 43,71
AM Sim Não Sim Não Sim Não 8.392.250,00 56,92
AP Sim Sim Sim Não Sim Não 4.008.753,00 140,60
BA Sim Não Sim Não Sim Não 5.666.666,67 25,32
CE Sim Não Sim Sim Não Não 6.715.630,11 36,22
ES Sim Não Sim Sim Sim Sim 4.957.000,00 41,93
GO Não Não Sim Não Sim Não 6.392.487,80 43,10
MA Sim Não Sim Não Não Não 4.786.008,57 30,25
MG Sim Não Sim Sim Sim Não 12.534.903,09 48,92
MS Sim Não Sim Não Não Não 6.416.666,67 62,16
MT Não Não Sim Não Não Não 9.687.467,83 75,59
PA Não Não Não Não Não Não 6.021.752,15 32,11
PB Sim Não Não Não Não Não 5.902.777,78 56,05
PE Sim Não Sim Não Não Não 7.270.367,35 40,19
PI Sim Não Não Não Não Não 6.758.469,37 64,57
PR Sim Não Sim Não Sim Não 7.822.878,52 40,19
RJ Sim Não Sim Não Não Sim 9.268.668,43 40,27
RN Não Não Não Não Não Não 10.185.041,67 76,42
RO Sim Não Sim Não Não Não 7.440.884,08 113,28
RR Não Não Não Não Não Não 5.413.507,92 282,35
RS Sim Sim Sim Sim Sim Sim 7.533.989,58 38,61
SC Sim Não Sim Sim Sim Sim 10.673.858,48 67,59
SE Sim Não Sim Não Não Não 6.844.445,42 78,60
SP Sim Sim Não Não Sim Não 8.534.130,23 19,29
TO Sim Não Não Não Não Não 5.981.092,13 102,47
DF Sim Não Não Não Sim Não 14.527.917,96 133,59
Sim Dados completos
Sim Precário (inconstante/em PDF, DOC ou planilhas/disperso em atas textuais)
Não Não há dados
Câmaras Municipais
Município Projetos Votações Presenças Verbas Orçamento
Plenário Comissões Indenizatória Viagens Por vereador Per capita
Rio Branco Não Não Não Não Não Não 1.137.148,50 46,51
Maceió Não Não Não Não Não Não 2.390.658,33 53,23
Manaus Sim Não Sim Não Não Não 2.396.500,00 49,70
Macapá Não Não Não Não Não Não 876.938,69 34,47
Salvador Sim Não Sim Não Não Sim 2.869.609,76 43,68
Fortaleza Sim Sim Sim Não Não Não 2.797.882,93 46,32
Vitória Não Sim Sim Não Não Não 1.593.333,33 72,31
Goiânia Sim Não Sim Não Não Não 2.166.500,00 57,53
São Luís Não Não Não Não Não Não 3.073.226,29 62,81
Belo Horizonte Sim Não Sim Sim Sim Sim 4.408.972,34 75,77
Campo Grande Sim Não Não Não Não Não 2.162.285,71 57,03
Cuiabá Sim Não Sim Não Sim Não 1.371.842,11 46,85
Belém Não Não Não Não Não Não 1.487.152,66 37,12
João Pessoa Sim Não Sim Não Não Não 1.809.523,81 51,83
Recife Sim Sim Sim Não Sim Não 2.729.729,73 65,31
Teresina Não Não Não Não Não Não 1.730.523,81 44,19
Curitiba Sim Não Sim Não Não Não 2.925.500,00 63,00
Rio de Janeiro Sim Não Não Não Não Não 6.961.541,37 55,86
Natal Sim Não Não Não Não Não 2.209.285,71 57,22
Porto Velho Não Não Não Não Não Não 1.711.121,88 62,83
Boa Vista Sim Não Não Não Não Não 1.355.236,50 65,26
Porto Alegre Sim Sim Sim Não Sim Sim 2.388.928,06 60,86
Florianópolis Sim Não Sim Sim Sim Não 2.656.921,94 99,49
Aracaju Sim Não Sim Não Não Não 1.753.301,79 57,48
São Paulo Sim Sim Sim Sim Sim Não 8.582.793,51 41,72
Palmas Sim Não Não Não Não Não 1.773.327,50 90,43
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Casa Projetos Votações Presenças Verbas Orçamento
Plenário Comissões Indenizatória Viagens Por parlamentar Per capita
Senado Sim Não Sim Sim Sim Não 41.403.181,32 17,43
Câmara Sim Sim Sim Sim Sim Sim 8.253.741,30 22,01
AC Sim Não Não Não Não Não 4.343.601,08 139,67
AL Sim Não Não Não Não Não 5.088.785,19 43,71
AM Sim Não Sim Não Sim Não 8.392.250,00 56,92
AP Sim Sim Sim Não Sim Não 4.008.753,00 140,60
BA Sim Não Sim Não Sim Não 5.666.666,67 25,32
CE Sim Não Sim Sim Não Não 6.715.630,11 36,22
ES Sim Não Sim Sim Sim Sim 4.957.000,00 41,93
GO Não Não Sim Não Sim Não 6.392.487,80 43,10
MA Sim Não Sim Não Não Não 4.786.008,57 30,25
MG Sim Não Sim Sim Sim Não 12.534.903,09 48,92
MS Sim Não Sim Não Não Não 6.416.666,67 62,16
MT Não Não Sim Não Não Não 9.687.467,83 75,59
PA Não Não Não Não Não Não 6.021.752,15 32,11
PB Sim Não Não Não Não Não 5.902.777,78 56,05
PE Sim Não Sim Não Não Não 7.270.367,35 40,19
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RJ Sim Não Sim Não Não Sim 9.268.668,43 40,27
RN Não Não Não Não Não Não 10.185.041,67 76,42
RO Sim Não Sim Não Não Não 7.440.884,08 113,28
RR Não Não Não Não Não Não 5.413.507,92 282,35
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SE Sim Não Sim Não Não Não 6.844.445,42 78,60
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Rio Branco Não Não Não Não Não Não 1.137.148,50 46,51
Maceió Não Não Não Não Não Não 2.390.658,33 53,23
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Rio de Janeiro Sim Não Não Não Não Não 6.961.541,37 55,86
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Porto Velho Não Não Não Não Não Não 1.711.121,88 62,83
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Aracaju Sim Não Sim Não Não Não 1.753.301,79 57,48
São Paulo Sim Sim Sim Sim Sim Não 8.582.793,51 41,72
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O QUE A GRÉCIA SIGNIFICA
Exemplo grego não serve para impor austeridade aos EUA
Então a Grécia deu oficialmente o calote nos credores privados. Foi um calote "ordeiro", negociado ao invés de simplesmente anunciado, o que suponho seja bom. Ainda assim, a história está longe de acabar. Mesmo com esse alívio em sua dívida, a Grécia - como outras nações europeias forçadas a impor austeridade numa economia deprimida - parece condenada a muitos anos mais de sofrimento.
Esta é uma fábula digna de ser contada. Nos últimos dois anos, a história da Grécia tem sido, segundo um recente texto sobre economia política, "interpretada como uma parábola sobre os riscos de irresponsabilidade fiscal". Não passa um dia sem que, nos EUA, algum político ou comentarista entoe, com um ar de grande sabedoria, que é preciso cortar gastos do governo imediatamente, ou vamos acabar como a Grécia, Grécia eu lhes digo.
Apenas para usar um exemplo recente, quando Mitch Daniels, governador de Indiana, apresentou a resposta republicana ao discurso do presidente Obama sobre o Estado da União, insistiu que "estamos a uma pequena distância de Grécia, Espanha e outros países europeus que hoje enfrentam a catástrofe econômica". Ninguém aparentemente lhe disse que a Espanha tinha baixo déficit governamental e superávit orçamentário às vésperas da crise; o país está em apuros devido aos excessos do setor privado, não do setor público.
Mas o que a experiência da Grécia de fato mostra é que se incorrer em déficits em tempos de fartura pode criar problemas - o que é o caso da Grécia, embora não o da Espanha - tentar eliminar déficits quando você já está em apuros é uma receita para depressão.
Hoje em dia, depressões econômicas induzidas por políticas de austeridade são visíveis em toda a periferia europeia. A Grécia é o pior caso, com o desemprego escalando para 20% e os serviços públicos, incluindo o setor de saúde, entrando em colapso. Mas a Irlanda, que fez tudo o que queria o pessoal da austeridade, também está em terrível estado, com o desemprego perto dos 15% e o PIB em queda de dois dígitos. Portugal e Espanha estão em situação crítica também.
Impor austeridade numa crise não inflige apenas grande sofrimento. Há evidência crescente de que é autodestrutivo mesmo em termos puramente fiscais, pois a combinação de receitas em queda devido à economia deprimida e perspectivas de longo prazo piores reduz a confiança do mercado e torna a carga da dívida futura mais difícil de carregar. Deve-se perguntar como países que estão sistematicamente negando um futuro a sua juventude - o desemprego entre jovens na Irlanda, que costumava ser menor do que nos EUA, é agora de quase 30%, chegando perto dos 50% na Grécia - conseguirão crescimento suficiente para pagar o serviço da dívida.
Não é isso o que devia ter acontecido. Há dois anos, quando muitos começaram a pedir um giro do estímulo para a austeridade, prometeram grandes vantagens em troca do sofrimento. "A ideia que medidas de austeridade possam trazer estagnação é incorreta", declarou, em junho de 2010, Jean-Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu. Ele insistiu que, ao invés disso, a disciplina fiscal inspiraria confiança, e isso levaria ao crescimento econômico.
Cada ligeira melhora de um indicador de uma economia em austeridade era aclamada como prova de que essa política funciona. A austeridade irlandesa foi proclamada uma história de sucesso, não uma vez, mas duas - a primeira no verão de 2020 e de novo no último outono; em cada vez a suposta boa notícia rapidamente se evaporou.
Pode-se perguntar que alternativa países como Grécia e Irlanda tinham, e a resposta é que não tinham e não têm boas alternativas a não ser deixar o euro, um passo extremo que, realisticamente, seus líderes não podem dar até que todas as outras opções tenham falhado - um estado de coisas tal que, se me perguntarem, diria que a Grécia dele se aproxima rapidamente.
A Alemanha e o Banco Central Europeu poderiam ter agido para tornar esse passo extremo menos necessário, tanto ao exigir menos austeridade quanto ao fazer mais para impulsionar a economia europeia como um todo. Mas o principal ponto é que os EUA de fato têm uma alternativa: temos nossa própria moeda e podemos tomar empréstimos a prazos longos e a juros historicamente baixos; então, não necessitamos entrar numa espiral descendente de austeridade e contração econômica.
Então, é tempo de parar de invocar a Grécia como um exemplo de cautela diante do perigo dos déficits; de um ponto de vista americano, a Grécia deveria, ao contrário, ser vista como exemplo dos perigos de tentar reduzir o déficit rapidamente demais, enquanto a economia ainda está profundamente deprimida. (E sim, a despeito de algumas boas notícias ultimamente, nossa economia ainda está profundamente deprimida.)
Se você quer saber quem está realmente tentando transformar os EUA em Grécia, não são os que defendem mais estímulos à economia; são os partidários de que imitemos a austeridade ao estilo grego, embora não enfrentemos constrangimentos de crédito ao estilo grego, e assim mergulhemos numa depressão ao estilo grego.
13 de março de 2012
PAUL KRUGMAN
Então a Grécia deu oficialmente o calote nos credores privados. Foi um calote "ordeiro", negociado ao invés de simplesmente anunciado, o que suponho seja bom. Ainda assim, a história está longe de acabar. Mesmo com esse alívio em sua dívida, a Grécia - como outras nações europeias forçadas a impor austeridade numa economia deprimida - parece condenada a muitos anos mais de sofrimento.
Esta é uma fábula digna de ser contada. Nos últimos dois anos, a história da Grécia tem sido, segundo um recente texto sobre economia política, "interpretada como uma parábola sobre os riscos de irresponsabilidade fiscal". Não passa um dia sem que, nos EUA, algum político ou comentarista entoe, com um ar de grande sabedoria, que é preciso cortar gastos do governo imediatamente, ou vamos acabar como a Grécia, Grécia eu lhes digo.
Apenas para usar um exemplo recente, quando Mitch Daniels, governador de Indiana, apresentou a resposta republicana ao discurso do presidente Obama sobre o Estado da União, insistiu que "estamos a uma pequena distância de Grécia, Espanha e outros países europeus que hoje enfrentam a catástrofe econômica". Ninguém aparentemente lhe disse que a Espanha tinha baixo déficit governamental e superávit orçamentário às vésperas da crise; o país está em apuros devido aos excessos do setor privado, não do setor público.
Mas o que a experiência da Grécia de fato mostra é que se incorrer em déficits em tempos de fartura pode criar problemas - o que é o caso da Grécia, embora não o da Espanha - tentar eliminar déficits quando você já está em apuros é uma receita para depressão.
Hoje em dia, depressões econômicas induzidas por políticas de austeridade são visíveis em toda a periferia europeia. A Grécia é o pior caso, com o desemprego escalando para 20% e os serviços públicos, incluindo o setor de saúde, entrando em colapso. Mas a Irlanda, que fez tudo o que queria o pessoal da austeridade, também está em terrível estado, com o desemprego perto dos 15% e o PIB em queda de dois dígitos. Portugal e Espanha estão em situação crítica também.
Impor austeridade numa crise não inflige apenas grande sofrimento. Há evidência crescente de que é autodestrutivo mesmo em termos puramente fiscais, pois a combinação de receitas em queda devido à economia deprimida e perspectivas de longo prazo piores reduz a confiança do mercado e torna a carga da dívida futura mais difícil de carregar. Deve-se perguntar como países que estão sistematicamente negando um futuro a sua juventude - o desemprego entre jovens na Irlanda, que costumava ser menor do que nos EUA, é agora de quase 30%, chegando perto dos 50% na Grécia - conseguirão crescimento suficiente para pagar o serviço da dívida.
Não é isso o que devia ter acontecido. Há dois anos, quando muitos começaram a pedir um giro do estímulo para a austeridade, prometeram grandes vantagens em troca do sofrimento. "A ideia que medidas de austeridade possam trazer estagnação é incorreta", declarou, em junho de 2010, Jean-Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu. Ele insistiu que, ao invés disso, a disciplina fiscal inspiraria confiança, e isso levaria ao crescimento econômico.
Cada ligeira melhora de um indicador de uma economia em austeridade era aclamada como prova de que essa política funciona. A austeridade irlandesa foi proclamada uma história de sucesso, não uma vez, mas duas - a primeira no verão de 2020 e de novo no último outono; em cada vez a suposta boa notícia rapidamente se evaporou.
Pode-se perguntar que alternativa países como Grécia e Irlanda tinham, e a resposta é que não tinham e não têm boas alternativas a não ser deixar o euro, um passo extremo que, realisticamente, seus líderes não podem dar até que todas as outras opções tenham falhado - um estado de coisas tal que, se me perguntarem, diria que a Grécia dele se aproxima rapidamente.
A Alemanha e o Banco Central Europeu poderiam ter agido para tornar esse passo extremo menos necessário, tanto ao exigir menos austeridade quanto ao fazer mais para impulsionar a economia europeia como um todo. Mas o principal ponto é que os EUA de fato têm uma alternativa: temos nossa própria moeda e podemos tomar empréstimos a prazos longos e a juros historicamente baixos; então, não necessitamos entrar numa espiral descendente de austeridade e contração econômica.
Então, é tempo de parar de invocar a Grécia como um exemplo de cautela diante do perigo dos déficits; de um ponto de vista americano, a Grécia deveria, ao contrário, ser vista como exemplo dos perigos de tentar reduzir o déficit rapidamente demais, enquanto a economia ainda está profundamente deprimida. (E sim, a despeito de algumas boas notícias ultimamente, nossa economia ainda está profundamente deprimida.)
Se você quer saber quem está realmente tentando transformar os EUA em Grécia, não são os que defendem mais estímulos à economia; são os partidários de que imitemos a austeridade ao estilo grego, embora não enfrentemos constrangimentos de crédito ao estilo grego, e assim mergulhemos numa depressão ao estilo grego.
13 de março de 2012
PAUL KRUGMAN
ROUSSEAU, A BESTA, VENCE JOHN LOCKE, O CIVILIZADO! E NO GOVERNO DE CAMERON, O CONSERVADOR BANANA
Rousseau, a besta, vence John Locke, o civilizado! E no governo de Cameron, o conservador banana
A garantia dos direitos individuais como um valor político inegociável é herança do Iluminismo inglês, não do francês. Esta noção que temos hoje de que o Estado não pode invadir a nossa vida e de que tem de ter seus apetites contidos deriva de John Locke (1632-1704). É o pai do estado liberal. Em contrate, Rousseau (1712-1778), o suíço —francês na formação, na cultura e no pensamento —, era uma besta ao quadrado do coletivismo. Está na raiz, sob qualquer ângulo que se queira, dos totalitarismos do século 20. Não foi o único a revestir de “luzes” um pensamento autoritário, mas foi a mais perfeita tradução dessa perversão.
Não pensem que é um mero acaso o fato de que seja citado ainda hoje em nossas escolas por causa da famosa síntese: “O homem nasce puro; a sociedade é que o corrompe”. O acento da frase, e de sua obra, não estava na pureza original do homem, mas na sociedade como elemento de corrupção, donde se conclui que todos se manterão bons se a sociedade for boa. Para alcançar este objetivo, vale tudo. Até Voltaire (1694-1778), que não pode ser considerado um inspirador do liberalismo, ao ler o “Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens”, que Rousseau lhe passara, escreveu em carta: “Ao ler o seu texto, a gente se sente tentado a voltar a andar de quatro”.
O Iluminismo inglês, que inventou o indivíduo moderno, é quase ignorado nos livros didáticos. Já o francês é glorificado como fonte de tudo o que se tem de bom hoje em dia.
Na periodização da história, a Revolução Francesa marca o início da “Idade Contemporânea”… Pois é! Os ingleses sempre foram muito ciosos na defesa dos fundamentos do “seu” iluminismo. A França, por motivos que não vou detalhar aqui e que vocês estudaram na escola (se é que o professor não estava ocupado em dar aula de “cidadania”, ensinando que foi Lula quem descobriu o Brasil), nunca foi uma boa referência para os ingleses. Ao menos até a chegada ao poder de David Cameron, esse conservador de meia-pataca.
Quase 250 anos depois daqueles embates, este zé-mané põe o iluminismo inglês de joelhos diante da poça de sangue do iluminismo francês. Rousseau, o bestalhão autoritário, vence Locke, o libertário. Ah, sim, petralhas: não tentem buscar elogios meus a Cameron para evidenciar minhas contradições. É perda de tempo! Há certo tipo de gente que não me engana, ainda que pareça estar do lado em que estou. Adiante.
Por que esta longa introdução? Nadia Eweida, agente de check-in da Britsh Airways, foi suspensa do trabalho em 2006 porque se recusou a tirar um crucifixo que usava durante o expediente. A enfermeira Chaplin Shirley foi demitida pelo mesmo motivo. Ambas recorreram. Perderam nos tribunais ingleses e levaram a questão à Corte Européia de Direitos Humanos — a mesma que decidiu, por 15 a 2, que as escolas italianas têm o direito de exibir crucifixos. E Cameron com isso, o conservador do shortinho limpinho, com seu arzinho asseado de quem jamais fumaria os charutos de Churchill ou tomaria seus uísques? Vai atuar contra as duas!
Elas alegam que estão tendo seus direitos cerceados, uma vez que a lei garante a liberdade religiosa. O argumento para a proibição é de um cinismo escandaloso: a exibição do crucifixo, sustentam a Justiça e o governo britânicos, não é uma obrigação religiosa no cristianismo; logo, se não é, então pode ser proibida. Entenderam o ponto? A Inglaterra de Locke não apenas cede à França de Rousseau e do tarado Robespierre como a supera em estupidez. Os franceses, como sabem, proíbem a exibição de quaisquer símbolos religiosos nas escolas: vale para o véu islâmico ou para o crucifixo. Na Inglaterra, entende-se, então, que é permitido proibir o crucifixo porque a sua exibição no corpo não é uma obrigação religiosa; já o véu islâmico jamais poderia ser proibido — e, na Inglaterra, não é mesmo! — porque, afinal, se trata de uma obrigação…
Tem-se, pois, como desdobramento lógico o seguinte ilogismo: a religião mais liberal na imposição de padrões de comportamento é punida; já a mais restritiva é protegida. Um funcionário islâmico que fosse proibido de manifestar a sua filiação religiosa geraria imediatamente a acusação de “islamofobia”; já a “cristofobia” parece coisa muito normal, necessária e consequência óbvia de um estado laico — ainda que o (a) chefe de estado na Grã-Bretanha seja também chefe da Igreja Anglicana.
A isso chegamos. Assim está sendo tratada a herança cultural cristã, e esse é o entendimento que se tem da liberdade religiosa e do direito de escolha quando o tema é o cristianismo. Alguma surpresa que vagabundos dessa espécie queiram proibir a Divina Comédia? Aquela pilantra que quer banir a obra das escolas italianas é igualmente sensível às culturas e povos que o Islã esmagou na sua expansão? Acho que não! Esses covardes têm medo da fatwa. Por isso silenciam diante da óbvia perseguição aos cristãos promovida hoje em dia em boa parte do planeta. Ao contrário! Em vez de denunciá-la, eles também assumem a condição de perseguidores.
13 de março de 2012
Por Reinaldo Azevedo
A garantia dos direitos individuais como um valor político inegociável é herança do Iluminismo inglês, não do francês. Esta noção que temos hoje de que o Estado não pode invadir a nossa vida e de que tem de ter seus apetites contidos deriva de John Locke (1632-1704). É o pai do estado liberal. Em contrate, Rousseau (1712-1778), o suíço —francês na formação, na cultura e no pensamento —, era uma besta ao quadrado do coletivismo. Está na raiz, sob qualquer ângulo que se queira, dos totalitarismos do século 20. Não foi o único a revestir de “luzes” um pensamento autoritário, mas foi a mais perfeita tradução dessa perversão.
Não pensem que é um mero acaso o fato de que seja citado ainda hoje em nossas escolas por causa da famosa síntese: “O homem nasce puro; a sociedade é que o corrompe”. O acento da frase, e de sua obra, não estava na pureza original do homem, mas na sociedade como elemento de corrupção, donde se conclui que todos se manterão bons se a sociedade for boa. Para alcançar este objetivo, vale tudo. Até Voltaire (1694-1778), que não pode ser considerado um inspirador do liberalismo, ao ler o “Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens”, que Rousseau lhe passara, escreveu em carta: “Ao ler o seu texto, a gente se sente tentado a voltar a andar de quatro”.
O Iluminismo inglês, que inventou o indivíduo moderno, é quase ignorado nos livros didáticos. Já o francês é glorificado como fonte de tudo o que se tem de bom hoje em dia.
Na periodização da história, a Revolução Francesa marca o início da “Idade Contemporânea”… Pois é! Os ingleses sempre foram muito ciosos na defesa dos fundamentos do “seu” iluminismo. A França, por motivos que não vou detalhar aqui e que vocês estudaram na escola (se é que o professor não estava ocupado em dar aula de “cidadania”, ensinando que foi Lula quem descobriu o Brasil), nunca foi uma boa referência para os ingleses. Ao menos até a chegada ao poder de David Cameron, esse conservador de meia-pataca.
Quase 250 anos depois daqueles embates, este zé-mané põe o iluminismo inglês de joelhos diante da poça de sangue do iluminismo francês. Rousseau, o bestalhão autoritário, vence Locke, o libertário. Ah, sim, petralhas: não tentem buscar elogios meus a Cameron para evidenciar minhas contradições. É perda de tempo! Há certo tipo de gente que não me engana, ainda que pareça estar do lado em que estou. Adiante.
Por que esta longa introdução? Nadia Eweida, agente de check-in da Britsh Airways, foi suspensa do trabalho em 2006 porque se recusou a tirar um crucifixo que usava durante o expediente. A enfermeira Chaplin Shirley foi demitida pelo mesmo motivo. Ambas recorreram. Perderam nos tribunais ingleses e levaram a questão à Corte Européia de Direitos Humanos — a mesma que decidiu, por 15 a 2, que as escolas italianas têm o direito de exibir crucifixos. E Cameron com isso, o conservador do shortinho limpinho, com seu arzinho asseado de quem jamais fumaria os charutos de Churchill ou tomaria seus uísques? Vai atuar contra as duas!
Elas alegam que estão tendo seus direitos cerceados, uma vez que a lei garante a liberdade religiosa. O argumento para a proibição é de um cinismo escandaloso: a exibição do crucifixo, sustentam a Justiça e o governo britânicos, não é uma obrigação religiosa no cristianismo; logo, se não é, então pode ser proibida. Entenderam o ponto? A Inglaterra de Locke não apenas cede à França de Rousseau e do tarado Robespierre como a supera em estupidez. Os franceses, como sabem, proíbem a exibição de quaisquer símbolos religiosos nas escolas: vale para o véu islâmico ou para o crucifixo. Na Inglaterra, entende-se, então, que é permitido proibir o crucifixo porque a sua exibição no corpo não é uma obrigação religiosa; já o véu islâmico jamais poderia ser proibido — e, na Inglaterra, não é mesmo! — porque, afinal, se trata de uma obrigação…
Tem-se, pois, como desdobramento lógico o seguinte ilogismo: a religião mais liberal na imposição de padrões de comportamento é punida; já a mais restritiva é protegida. Um funcionário islâmico que fosse proibido de manifestar a sua filiação religiosa geraria imediatamente a acusação de “islamofobia”; já a “cristofobia” parece coisa muito normal, necessária e consequência óbvia de um estado laico — ainda que o (a) chefe de estado na Grã-Bretanha seja também chefe da Igreja Anglicana.
A isso chegamos. Assim está sendo tratada a herança cultural cristã, e esse é o entendimento que se tem da liberdade religiosa e do direito de escolha quando o tema é o cristianismo. Alguma surpresa que vagabundos dessa espécie queiram proibir a Divina Comédia? Aquela pilantra que quer banir a obra das escolas italianas é igualmente sensível às culturas e povos que o Islã esmagou na sua expansão? Acho que não! Esses covardes têm medo da fatwa. Por isso silenciam diante da óbvia perseguição aos cristãos promovida hoje em dia em boa parte do planeta. Ao contrário! Em vez de denunciá-la, eles também assumem a condição de perseguidores.
13 de março de 2012
Por Reinaldo Azevedo
ARLINDO CHINAGLIA É O NOVO LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA
Deputado substituirá Cândido Vacarezza, que foi destituído do cargo nesta terça-feira; no Senado, Romero Jucá também perdeu o posto de líder
Luciana Marques
Arlindo Chinaglia integra grupo que se opõe à ala de Vaccarezza (Diógenes Santos/Agência Câmarra)
A presidente Dilma Rousseff indicou nesta terça-feira o deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) para o cargo de líder do governo na Câmara dos Deputados. Ele substituirá o petista Cândido Vacarezza (PT-SP), que foi destituído da função nesta manhã após reunião com Dilma no Palácio do Planalto.
Chinaglia faz parte de um grupo de deputados do PT que se opõe à ala comandada por Vacarezza. O novo líder do governo é tido como experiente na articulação política, uma vez que já presidiu a Câmara.
Sem mágoas - Ao anunciar sua saída do posto, Vaccarezza afirmou que a troca ocorreu por razões políticas - e não por incompetência. De acordo com o petista, a presidente Dilma Rousseff disse que as substituições serão "um método" do governo. Vaccarezza garante que sai sem mágoas: "Você pode ser trocado por ser incompetente, ou por não ser leal, ou por não ter base, ou pode ser uma troca por razão política. A minha troca foi por razão política", afirmou, em entrevista coletiva.
Ele garante que não se vê como uma vítima da insatisfação dentro da base aliada, especialmente no PMDB. No Senado, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), também perdeu o cargo depois de uma rebelião dos governistas: a recondução de Bernardo Figueiredo para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foi derrubada.
A decisão foi a primeira derrota do governo este ano no Congresso. A rebelião da base deixou a presidente Dilma preocupada com as futuras votações de interesse do governo no Congresso, como o Código Florestal.
Os nomes de Chinaglia e do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) foram confirmados oficialmente pelo porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumann, na tarde desta terça.
13 de março de 2012
Luciana Marques
Arlindo Chinaglia integra grupo que se opõe à ala de Vaccarezza (Diógenes Santos/Agência Câmarra)
A presidente Dilma Rousseff indicou nesta terça-feira o deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) para o cargo de líder do governo na Câmara dos Deputados. Ele substituirá o petista Cândido Vacarezza (PT-SP), que foi destituído da função nesta manhã após reunião com Dilma no Palácio do Planalto.
Chinaglia faz parte de um grupo de deputados do PT que se opõe à ala comandada por Vacarezza. O novo líder do governo é tido como experiente na articulação política, uma vez que já presidiu a Câmara.
Sem mágoas - Ao anunciar sua saída do posto, Vaccarezza afirmou que a troca ocorreu por razões políticas - e não por incompetência. De acordo com o petista, a presidente Dilma Rousseff disse que as substituições serão "um método" do governo. Vaccarezza garante que sai sem mágoas: "Você pode ser trocado por ser incompetente, ou por não ser leal, ou por não ter base, ou pode ser uma troca por razão política. A minha troca foi por razão política", afirmou, em entrevista coletiva.
Ele garante que não se vê como uma vítima da insatisfação dentro da base aliada, especialmente no PMDB. No Senado, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), também perdeu o cargo depois de uma rebelião dos governistas: a recondução de Bernardo Figueiredo para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foi derrubada.
A decisão foi a primeira derrota do governo este ano no Congresso. A rebelião da base deixou a presidente Dilma preocupada com as futuras votações de interesse do governo no Congresso, como o Código Florestal.
Os nomes de Chinaglia e do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) foram confirmados oficialmente pelo porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumann, na tarde desta terça.
13 de março de 2012
'INÚTIL FANFARRONICE"
O Brasil já sediou uma Copa do Mundo (em 1950), a seleção participou de todas as edições do Mundial e, de 1974 a 1998, sentou-se na cadeira de presidente da Fifa o brasileiro João Havelange. Por si só, estas credenciais são evidência de que o país não entrou como neófito no bilionário jogo pelo direito de promover a competição em 2014, o que lhe foi assegurado após uma mobilização que uniu o governo federal, dirigentes esportivos e a sociedade.
Junte-se a isso o fato de que, ao estimular o lançamento da candidatura brasileira, o poder público comprometeu-se com um caderno de encargos. Nele, a entidade sediada em Zurique apresenta explicitamente uma plataforma de exigências para os países interessados em promover o evento. Entre elas, além da reforma e/ou construção de estádios, inversões urbanísticas e mudanças na legislação.
São inaceitáveis, portanto, as demonstrações de bravata do governo brasileiro que têm marcado as relações com a Fifa. Primeiro, porque não contribuem para desfazer os gargalos que, de fato, existem na preparação do país para a Copa. Na verdade, esse tipo de postura parece querer disfarçar a leniência e a falta de empenho do poder público em relação aos compromissos assumidos. Segundo, porque não cabe contrabandear para a organização do evento fanfarronices que, além de dificultar os necessários entendimentos entre as partes envolvidas na preparação da competição, dão margem a um tipo de discussão mais apropriado às arquibancadas, em detrimento da civilidade no trato das dissonâncias. O destempero do secretário-geral da Fifa, Jêróme Valcke, e a consequente reação, também fora do protocolo, de Brasília às palavras do dirigente são inquestionáveis sinais desse descompasso que não atende ao que é relevante: o Brasil realizar uma Copa impecável.
Não se pode esconder que o país está atrasado em boa parte dos preparativos para a Copa. É preocupante a insistência em negar essa realidade. A renitência não ajuda a superar as demandas ainda por serem equacionadas. Há problemas sérios no projeto de mobilidade urbana, com fundamentais obras de intervenções urbanísticas sendo tocadas a passos lentos.
Resistências ditadas por interesses ideológicos impedem que o governo se empenhe na adoção de um projeto de efetiva modernização dos aeroportos, área vital para o sucesso de um evento internacional que atrai turistas/ torcedores de todo o mundo.
Há também suboferta de hotéis em diversas cidades (no Rio, por exemplo, um dos centros de turismo receptivo mais fortes do esquema da Copa), e são tímidas as iniciativas para melhorar a infraestrutura urbana (transportes, principalmente) ─ um dos prometidos legados da competição. Igualmente, inoportunas demonstrações de contestação no Congresso, com risíveis acusações de que a Lei Geral da Copa atentaria contra a “soberania nacional”, contribuíram para o atraso na aprovação desse essencial projeto de mudança na legislação, para adequar legalmente o país ao perfil do evento.
Responder com inúteis bravatas a tais desafios apenas disfarça incompetências e procura esconder o que está na raiz de tudo: a Copa não é uma imposição da Fifa. Ao contrário, o Brasil pentacampeão do mundo correu atrás de uma legítima reivindicação, comprometendo- se a cumprir uma série de encargos de uma competição na qual estão envolvidos investimentos bilionários ─ e, por isso, deve ser tocada levando-se em conta interesses transnacionais, que não podem ficar a reboque de anacrônicas palavras de ordem.
13 de março de 2012
editorial publicado pelo jornal O Globo
Junte-se a isso o fato de que, ao estimular o lançamento da candidatura brasileira, o poder público comprometeu-se com um caderno de encargos. Nele, a entidade sediada em Zurique apresenta explicitamente uma plataforma de exigências para os países interessados em promover o evento. Entre elas, além da reforma e/ou construção de estádios, inversões urbanísticas e mudanças na legislação.
São inaceitáveis, portanto, as demonstrações de bravata do governo brasileiro que têm marcado as relações com a Fifa. Primeiro, porque não contribuem para desfazer os gargalos que, de fato, existem na preparação do país para a Copa. Na verdade, esse tipo de postura parece querer disfarçar a leniência e a falta de empenho do poder público em relação aos compromissos assumidos. Segundo, porque não cabe contrabandear para a organização do evento fanfarronices que, além de dificultar os necessários entendimentos entre as partes envolvidas na preparação da competição, dão margem a um tipo de discussão mais apropriado às arquibancadas, em detrimento da civilidade no trato das dissonâncias. O destempero do secretário-geral da Fifa, Jêróme Valcke, e a consequente reação, também fora do protocolo, de Brasília às palavras do dirigente são inquestionáveis sinais desse descompasso que não atende ao que é relevante: o Brasil realizar uma Copa impecável.
Não se pode esconder que o país está atrasado em boa parte dos preparativos para a Copa. É preocupante a insistência em negar essa realidade. A renitência não ajuda a superar as demandas ainda por serem equacionadas. Há problemas sérios no projeto de mobilidade urbana, com fundamentais obras de intervenções urbanísticas sendo tocadas a passos lentos.
Resistências ditadas por interesses ideológicos impedem que o governo se empenhe na adoção de um projeto de efetiva modernização dos aeroportos, área vital para o sucesso de um evento internacional que atrai turistas/ torcedores de todo o mundo.
Há também suboferta de hotéis em diversas cidades (no Rio, por exemplo, um dos centros de turismo receptivo mais fortes do esquema da Copa), e são tímidas as iniciativas para melhorar a infraestrutura urbana (transportes, principalmente) ─ um dos prometidos legados da competição. Igualmente, inoportunas demonstrações de contestação no Congresso, com risíveis acusações de que a Lei Geral da Copa atentaria contra a “soberania nacional”, contribuíram para o atraso na aprovação desse essencial projeto de mudança na legislação, para adequar legalmente o país ao perfil do evento.
Responder com inúteis bravatas a tais desafios apenas disfarça incompetências e procura esconder o que está na raiz de tudo: a Copa não é uma imposição da Fifa. Ao contrário, o Brasil pentacampeão do mundo correu atrás de uma legítima reivindicação, comprometendo- se a cumprir uma série de encargos de uma competição na qual estão envolvidos investimentos bilionários ─ e, por isso, deve ser tocada levando-se em conta interesses transnacionais, que não podem ficar a reboque de anacrônicas palavras de ordem.
13 de março de 2012
editorial publicado pelo jornal O Globo
GOVERNO? QUE GOVERNO?
O rei está nu. Na verdade, é a rainha que está nua. Ninguém, em sã consciência, pode dizer que o governo Dilma Rousseff vai bem. A divulgação da taxa de crescimento do País no ano passado ─ 2,7% ─ foi uma espécie de pá de cal. O resultado foi péssimo, basta comparar com os países da América Latina. Nem se fala se confrontarmos com a China ou a Índia. Mas a política de comunicação do governo é tão eficaz (além da abulia oposicionista) que a taxa foi recebida com absoluta naturalidade, como se fosse um excelente resultado, algo digno de fazer parte dos manuais de desenvolvimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre esforçado, desta vez passou ao largo de tentar dar alguma explicação. Preferiu ignorar o fracasso, mesmo tendo, durante todo o ano de 2011, dito e redito que o Brasil cresceria 4%.
A presidente esgotou a troca de figurinos. Como uma atriz que tem de representar vários papéis, não tem mais o que vestir de novo. Agora optou pelo monólogo. Fala, fala e nada acontece. Padece do vício petista de que a palavra substitui a ação. Imputa sua incompetência aos outros, desde ministros até as empresas contratadas para as obras do governo. Como uma atriz iniciante após um breve curso no Actors Studio, busca vivenciar o sofrimento de um governo inepto, marcado pelo fisiologismo.
Seu Ministério lembra, em alguns bons momentos, uma trupe de comediantes. O sempre presente Celso Amorim ─ que ignorou as péssimas condições de trabalho dos cientistas na Antártida, numa estação científica sucateada ─ declarou enfaticamente que a perda de anos de trabalho científico deve ser relativizada. De acordo com o atual titular da Defesa, os cientistas mantêm na memória as pesquisas que foram destruídas no incêndio (o que diria o Barão se ouvisse isso?).
Como numa olimpíada do nonsense, Aloizio Mercadante, do Ministério da Educação (MEC), dias atrás reclamou que o Brasil é muito grande. Será que não sabe ─ quem foi seu professor de Geografia? ─ que o nosso país tem alguns milhões de quilômetros quadrados? Como o governo petista tem a mania de criar ministérios, na hora pensei que estava propondo criar um MEC para cada região do País. Será? Ao menos poderia ampliar ainda mais a base no Congresso Nacional.
Mas o triste espetáculo, infelizmente, não parou.
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, resolveu dissertar sobre política externa. Disse como o Brasil deveria agir no Oriente Médio, comentou a ação da ONU, esquecendo-se de que não é a responsável pela pasta das Relações Exteriores.
O repertório ministerial é muito variado. Até parece que cada ministro deseja ardentemente superar seus colegas. A última (daquela mesma semana, é claro) foi a substituição do ministro da Pesca. A existência do ministério já é uma piada. Todos se devem lembrar do momento da transmissão do cargo, em junho do ano passado, quando a então ministra Ideli Salvatti pediu ao seu sucessor na Pesca, Luiz Sérgio, que “cuidasse muito bem” dos seus “peixinhos”, como se fosse uma questão de aquário. Pobre Luiz Sérgio. Mas, como tudo tem seu lado positivo, ele já faz parte da história política do Brasil, o que não é pouco. Conseguiu um feito raro, na verdade, único em mais de 120 anos de República: foi demitido de dois cargos ministeriais, do mesmo governo, e em apenas oito meses. Já Marcelo Crivella, o novo titular, declarou que não entende nada de pesca. Foi sincero. Mas Edison Lobão entende alguma coisa de minas e energia? E Míriam Belchior tem alguma leve ideia do que seja planejamento?
Como numa chanchada da Atlântida, seguem as obras da Copa do Mundo de 2014. Todas estão atrasadas. As referentes à infraestrutura nem sequer foram licitadas. Dá até a impressão de que o evento só vai ser realizado em 2018. A tranquilidade governamental inquieta. É só incompetência? Ou é também uma estratégia para, na última hora, facilitar os sobrepreços, numa espécie de corrupção patriótica? Recordando que em 2014 teremos eleições e as “doações” são sempre bem-vindas…
Não há setor do governo que seja possível dizer, com honestidade, que vai bem. A gestão é marcada pelo improviso, pela falta de planejamento. Inexiste um fio condutor, um projeto econômico. Tudo é feito meio a esmo, como o orçamento nacional, que foi revisto um mês após ter sido posto em vigência. Inacreditável! É muito difícil encontrar um país com um produto interno bruto (PIB) como o do Brasil e que tenha um orçamento de fantasia, que só vale em janeiro.
Como sempre, o privilégio é dado à política ─ e política no pior sentido do termo. Basta citar a substituição do ministro da Pesca. Foi feita alguma avaliação da administração do ministro que foi defenestrado? Evidente que não. A troca teve motivo comezinho: a necessidade que o candidato do PT tem de ampliar apoio para a eleição paulistana, tendo em vista a alteração do panorama político com a entrada de José Serra (PSDB) na disputa municipal. E, registre-se, não deve ser a única mudança com esse mesmo objetivo. Ou seja, o governo nada mais é do que a correia de transmissão do partido, seguindo a velha cartilha leninista. Pouco importam bons resultados administrativos, uma equipe ministerial entrosada. Bobagem. Tudo está sempre dependente das necessidades políticas do PT.
A anarquia administrativa chegou aos bancos e às empresas estatais. É como se o patrimônio público fosse apenas instrumento para o PT saquear o Estado e se perpetuar no poder. O que vem acontecendo no Banco do Brasil seria, num país sério, caso de comissão parlamentar de inquérito (CPI). Aqui é visto como uma disputa de espaço no governo, considerado natural.
Mas até os partidos da base estão insatisfeitos. No horizonte a crise se avizinha. A economia não está mais sustentando o presidencialismo de transação. Dá sinais de esgotamento. E a rainha foi, desesperada, em busca dos conselhos do rei. Será que o encanto terminou?
PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEGUNDA-FEIRA
marco antonio villa
12 de março de 2012
A presidente esgotou a troca de figurinos. Como uma atriz que tem de representar vários papéis, não tem mais o que vestir de novo. Agora optou pelo monólogo. Fala, fala e nada acontece. Padece do vício petista de que a palavra substitui a ação. Imputa sua incompetência aos outros, desde ministros até as empresas contratadas para as obras do governo. Como uma atriz iniciante após um breve curso no Actors Studio, busca vivenciar o sofrimento de um governo inepto, marcado pelo fisiologismo.
Seu Ministério lembra, em alguns bons momentos, uma trupe de comediantes. O sempre presente Celso Amorim ─ que ignorou as péssimas condições de trabalho dos cientistas na Antártida, numa estação científica sucateada ─ declarou enfaticamente que a perda de anos de trabalho científico deve ser relativizada. De acordo com o atual titular da Defesa, os cientistas mantêm na memória as pesquisas que foram destruídas no incêndio (o que diria o Barão se ouvisse isso?).
Como numa olimpíada do nonsense, Aloizio Mercadante, do Ministério da Educação (MEC), dias atrás reclamou que o Brasil é muito grande. Será que não sabe ─ quem foi seu professor de Geografia? ─ que o nosso país tem alguns milhões de quilômetros quadrados? Como o governo petista tem a mania de criar ministérios, na hora pensei que estava propondo criar um MEC para cada região do País. Será? Ao menos poderia ampliar ainda mais a base no Congresso Nacional.
Mas o triste espetáculo, infelizmente, não parou.
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, resolveu dissertar sobre política externa. Disse como o Brasil deveria agir no Oriente Médio, comentou a ação da ONU, esquecendo-se de que não é a responsável pela pasta das Relações Exteriores.
O repertório ministerial é muito variado. Até parece que cada ministro deseja ardentemente superar seus colegas. A última (daquela mesma semana, é claro) foi a substituição do ministro da Pesca. A existência do ministério já é uma piada. Todos se devem lembrar do momento da transmissão do cargo, em junho do ano passado, quando a então ministra Ideli Salvatti pediu ao seu sucessor na Pesca, Luiz Sérgio, que “cuidasse muito bem” dos seus “peixinhos”, como se fosse uma questão de aquário. Pobre Luiz Sérgio. Mas, como tudo tem seu lado positivo, ele já faz parte da história política do Brasil, o que não é pouco. Conseguiu um feito raro, na verdade, único em mais de 120 anos de República: foi demitido de dois cargos ministeriais, do mesmo governo, e em apenas oito meses. Já Marcelo Crivella, o novo titular, declarou que não entende nada de pesca. Foi sincero. Mas Edison Lobão entende alguma coisa de minas e energia? E Míriam Belchior tem alguma leve ideia do que seja planejamento?
Como numa chanchada da Atlântida, seguem as obras da Copa do Mundo de 2014. Todas estão atrasadas. As referentes à infraestrutura nem sequer foram licitadas. Dá até a impressão de que o evento só vai ser realizado em 2018. A tranquilidade governamental inquieta. É só incompetência? Ou é também uma estratégia para, na última hora, facilitar os sobrepreços, numa espécie de corrupção patriótica? Recordando que em 2014 teremos eleições e as “doações” são sempre bem-vindas…
Não há setor do governo que seja possível dizer, com honestidade, que vai bem. A gestão é marcada pelo improviso, pela falta de planejamento. Inexiste um fio condutor, um projeto econômico. Tudo é feito meio a esmo, como o orçamento nacional, que foi revisto um mês após ter sido posto em vigência. Inacreditável! É muito difícil encontrar um país com um produto interno bruto (PIB) como o do Brasil e que tenha um orçamento de fantasia, que só vale em janeiro.
Como sempre, o privilégio é dado à política ─ e política no pior sentido do termo. Basta citar a substituição do ministro da Pesca. Foi feita alguma avaliação da administração do ministro que foi defenestrado? Evidente que não. A troca teve motivo comezinho: a necessidade que o candidato do PT tem de ampliar apoio para a eleição paulistana, tendo em vista a alteração do panorama político com a entrada de José Serra (PSDB) na disputa municipal. E, registre-se, não deve ser a única mudança com esse mesmo objetivo. Ou seja, o governo nada mais é do que a correia de transmissão do partido, seguindo a velha cartilha leninista. Pouco importam bons resultados administrativos, uma equipe ministerial entrosada. Bobagem. Tudo está sempre dependente das necessidades políticas do PT.
A anarquia administrativa chegou aos bancos e às empresas estatais. É como se o patrimônio público fosse apenas instrumento para o PT saquear o Estado e se perpetuar no poder. O que vem acontecendo no Banco do Brasil seria, num país sério, caso de comissão parlamentar de inquérito (CPI). Aqui é visto como uma disputa de espaço no governo, considerado natural.
Mas até os partidos da base estão insatisfeitos. No horizonte a crise se avizinha. A economia não está mais sustentando o presidencialismo de transação. Dá sinais de esgotamento. E a rainha foi, desesperada, em busca dos conselhos do rei. Será que o encanto terminou?
PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEGUNDA-FEIRA
marco antonio villa
12 de março de 2012
UÊBA! AGORA JÁ POSSO FURAR FILA! EM COMPENSAÇÃO TOMEI UMA VACA DE UMA ONDA...
Sessentinha. Hoje cheguei lá!
Como diriam os espanhóis, “jodido pero contento”, se é que vocês me entendem, porque o que falta de grana me sobra em alegria de viver.
Já fui rico, já fui pobre, estudei um pouco de Engenharia, um pouco de Economia (esqueci tudo) e um muito de Arquitetura, enfrentei 25 anos de Síndrome do Pânico, namorei muito (mulheres), casei duas vezes, escrevi dois livros (que ninguém leu, mas escrevi), plantei várias árvores e fiz quatro filhos que hoje são minhas maiores alegrias, pois estão todos muito bem na vida. Ah, sim, tenho um neto e outra a caminho, mas não é culpa minha.
Fumante inveterado sem conseguir largar o diabo do cigarro e bom bebedor de cerveja, a saúde ainda não preocupa muito, embora o fôlego deixe muito a desejar porque deixei de jogar meu frescobol todas as manhãs faz três anos. Mas o corpo às vezes não obedece mais à mente, como domingo passado quando resolvi dar uma de garoto e enfrentar o mar meio violento. Meu pé falseou na hora de furar uma onda e tomei uma vaca (gíria de surfista que significa se dar mal na onda, cair dela). O resultado foi um micão de várias cambalhotas. Sorte que não machuquei nada a não ser o prestígio do velho sessentão metido a pegar onda de peito (jacaré).
Falando em saúde, eu me dei de presente hoje uma visita a um clínico geral, a pedidos. Não gosto disso, mas tive que atender à minha mulher e aos filhos, que me cobram um check-up há uns dez anos. Vai mexer com quem está quieto e vai descobrir o que eu não quero saber. Enfim...
De novo mesmo ao se fazer sessenta anos, é só o privilégio de poder furar filas licitamente. Agora vou poder me vingar dos velhinhos malcriados de Ipanema que passam na sua frente sem pedirlicença e ainda pisam no seu pé.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
Como diriam os espanhóis, “jodido pero contento”, se é que vocês me entendem, porque o que falta de grana me sobra em alegria de viver.
Já fui rico, já fui pobre, estudei um pouco de Engenharia, um pouco de Economia (esqueci tudo) e um muito de Arquitetura, enfrentei 25 anos de Síndrome do Pânico, namorei muito (mulheres), casei duas vezes, escrevi dois livros (que ninguém leu, mas escrevi), plantei várias árvores e fiz quatro filhos que hoje são minhas maiores alegrias, pois estão todos muito bem na vida. Ah, sim, tenho um neto e outra a caminho, mas não é culpa minha.
Fumante inveterado sem conseguir largar o diabo do cigarro e bom bebedor de cerveja, a saúde ainda não preocupa muito, embora o fôlego deixe muito a desejar porque deixei de jogar meu frescobol todas as manhãs faz três anos. Mas o corpo às vezes não obedece mais à mente, como domingo passado quando resolvi dar uma de garoto e enfrentar o mar meio violento. Meu pé falseou na hora de furar uma onda e tomei uma vaca (gíria de surfista que significa se dar mal na onda, cair dela). O resultado foi um micão de várias cambalhotas. Sorte que não machuquei nada a não ser o prestígio do velho sessentão metido a pegar onda de peito (jacaré).
Falando em saúde, eu me dei de presente hoje uma visita a um clínico geral, a pedidos. Não gosto disso, mas tive que atender à minha mulher e aos filhos, que me cobram um check-up há uns dez anos. Vai mexer com quem está quieto e vai descobrir o que eu não quero saber. Enfim...
De novo mesmo ao se fazer sessenta anos, é só o privilégio de poder furar filas licitamente. Agora vou poder me vingar dos velhinhos malcriados de Ipanema que passam na sua frente sem pedirlicença e ainda pisam no seu pé.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
PROJETO DE REQUIÃO IMPEDE QUE SE CHAME LADRÃO DE LADRÃO. AGORA É TUDO VOSSA EXCELÊNCIA...
Está na pauta da CCJ do Senado desta semana projeto apresentado por Roberto Requião que pretende controlar o livre exercício do jornalismo no país. O texto obriga veículos de comunicação a publicar direitos de resposta de eventuais “ofendidos”. Registra o texto:
“Ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social fica assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo.”
Segundo o texto, o veículo de comunicação será obrigado a publicar direito de resposta quando veicular uma informação que atente, “ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação”.
Citado pela justiça, o meio de comunicação terá três dias para contestar o direito de resposta e demonstrar a veracidade das informações publicadas. Segundo o projeto, “tratando-se de calúnia, a prova da verdade somente se admitirá se o ofendido tiver contra si sentença penal condenatória transitada em julgado”.
As penas previstas na lei variam de multa, remoção de equipamentos e até a suspensão das atividades do veículo de comunicação.
Ou seja, ladrão não pode mais ser chamado de ladrão, mesmo que flagrado por um vídeo que mostre o ato do roubo, e corrupto, mesmo que se prove suas falcatruas com dinheiro público, terá que ser tratado por Vossa Excelência.
O projeto só poderia vir da Maria Louca mesmo...
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
“Ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social fica assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo.”
Segundo o texto, o veículo de comunicação será obrigado a publicar direito de resposta quando veicular uma informação que atente, “ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação”.
Citado pela justiça, o meio de comunicação terá três dias para contestar o direito de resposta e demonstrar a veracidade das informações publicadas. Segundo o projeto, “tratando-se de calúnia, a prova da verdade somente se admitirá se o ofendido tiver contra si sentença penal condenatória transitada em julgado”.
As penas previstas na lei variam de multa, remoção de equipamentos e até a suspensão das atividades do veículo de comunicação.
Ou seja, ladrão não pode mais ser chamado de ladrão, mesmo que flagrado por um vídeo que mostre o ato do roubo, e corrupto, mesmo que se prove suas falcatruas com dinheiro público, terá que ser tratado por Vossa Excelência.
O projeto só poderia vir da Maria Louca mesmo...
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
ESBÓRNIA NO SENADO 2: SENADORES NOS LEVAM R$ 37 MILHÕES POR ANO, CADA UM. PARA QUE SERVE O SENADO?
O que se esperar de uma empresa onde 72% dos seus funcionários com cargos de chefia têm contas a prestar na Justiça?
O que se esperar de uma empresa onde os funcionários não fornecem dados sobre a sua presença no trabalho?
O que se esperar de uma empresa onde os chefes têm autonomia para contratar 12 ajudantes cada, mas alguns chegam a contratar 67?
O que se esperar de uma empresa que nada produz, mas tem despesas de R$ 3 bilhões anuais, sendo que 81% só com o pessoal?
Pois é. Essa empresa é o Senado.
Dos 81 senadores, 58 (72%) têm ocorrências na Justiça e Tribunais de Contas; os senadores não fornecem listas de presença; os 81 senadores têm 2.505 assessores, fora os 3.500 terceirizados e os 3.300 efetivos (concursados ou efetivados), que chegam a ganhar R$ 46 mil por mês, ou seja, mais de nove mil pessoas para cuidar dos caprichos de 81 marajás.
Um descalabro. Um sorvedouro de dinheiro. Um roubo cujo montante daria, em um ano, para alfabetizar 10 milhões de brasileiros, construir 65 mil casas populares de 50m2 cada ou 60 hospitais de 30 mil m2 cada.
Afinal, para que serve o Senado? Só para gastar dinheiro? É o que parece.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
O que se esperar de uma empresa onde os funcionários não fornecem dados sobre a sua presença no trabalho?
O que se esperar de uma empresa onde os chefes têm autonomia para contratar 12 ajudantes cada, mas alguns chegam a contratar 67?
O que se esperar de uma empresa que nada produz, mas tem despesas de R$ 3 bilhões anuais, sendo que 81% só com o pessoal?
Pois é. Essa empresa é o Senado.
Dos 81 senadores, 58 (72%) têm ocorrências na Justiça e Tribunais de Contas; os senadores não fornecem listas de presença; os 81 senadores têm 2.505 assessores, fora os 3.500 terceirizados e os 3.300 efetivos (concursados ou efetivados), que chegam a ganhar R$ 46 mil por mês, ou seja, mais de nove mil pessoas para cuidar dos caprichos de 81 marajás.
Um descalabro. Um sorvedouro de dinheiro. Um roubo cujo montante daria, em um ano, para alfabetizar 10 milhões de brasileiros, construir 65 mil casas populares de 50m2 cada ou 60 hospitais de 30 mil m2 cada.
Afinal, para que serve o Senado? Só para gastar dinheiro? É o que parece.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
ESBÓRNIA NO SENADO: CARGOS COMISSIONADOS (2.505) ATÉ CINCO VEZES ACIMA DO PERMITIDO
Esbórnia no Senado: cargos comissionados (2.505) até cinco vezes acima do permitido.
Segundo levantamento de O Globo, uma brecha criada por normas internas do Senado custa caro aos cofres públicos. Graças a esse expediente, cada um dos 81 parlamentares pode multiplicar os cargos comissionados que tem à disposição - 12 no total. Alguns aumentaram esse número em mais de cinco vezes. Com isso, a despesa anual dos comissionados somente com vale-refeição cresceu 157%, passando de R$ 7,441 milhões para R$ 19,178 milhões. Todo servidor, efetivo ou comissionado, tem direito a um vale-refeição de R$ 638 mensais, independentemente do valor do salário.
Os senadores empregam 2.505 funcionários comissionados, média de 31 por senador, o que representa um gasto de R$ 1,598 milhão por mês somente com esse benefício. O Guia do Parlamentar - cartilha elaborada pela diretoria do Senado e entregue a cada senador quando assume o mandato - diz que em regra o gabinete é composto por 12 assessores: cinco assessores técnicos, seis secretários parlamentares e um motorista. Mas, na prática, essas funções estão sendo desdobradas e multiplicadas. Se os parlamentares contratassem apenas os 12 servidores sugeridos, o gasto mensal com auxílio-refeição seria de R$ 620 mil. Ou seja: o Senado gasta 157% a mais só com um benefício, porque os senadores incham o quadro de funcionários e esse benefício é pago individualmente.
Há casos como o do senador Ivo Cassol (PP-RO), que desmembrou as 12 funções em 67 cargos comissionados, lotados em seu gabinete e nos dois escritórios políticos que mantém em Rondônia. Como o auxílio-refeição é de R$ 638 por mês, se Cassol seguisse a sugestão do Guia do Parlamentar, gastaria R$ 7,6 mil por mês, mas a despesa do seu gabinete chega a R$ 42,7 mil com esse benefício.
João Ribeiro (PR-TO) - réu em uma ação no Supremo Tribunal Federal na qual é acusado de manter 35 funcionários em sua fazenda em regime análogo à escravidão - não se importa muito em gastar o dinheiro do contribuinte para contratar assessores para trabalhar para ele, pagos pelo Senado. O senador mantém 53 pessoas no gabinete ou nos escritórios políticos - gasto de R$ 33,8 mil. Clóvis Fecury (DEM-MA) é outro que multiplicou seus auxiliares. Ele tem 56 funcionários, 38 lotados em seu gabinete em Brasília. Um gasto de R$ 35,7 mil.
Já o senador Fernando Collor (PTB-AL) tem 54 comissionados no gabinete e o senador Gim Argello (PTB-DF), que empregava seu contador particular, tem 46 assessores. O novato Eduardo Lopes (PRB-RJ), que acaba de assumir a vaga de Marcelo Crivella (PRB-RJ) no Senado, herdou 43 comissionados no gabinete. Ele assumiu o mandato semana passada, após Crivella aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministro da Pesca.
O vale-refeição é só um exemplo do aumento de gastos no Senado pela contratação excessiva de servidores comissionados. Eles também fazem horas extras, limitadas a R$ 2.500 por mês. Os funcionários efetivos não têm esse direito. Além disso, apesar de não ter plano de saúde pago pelo Senado, os comissionados podem ser atendidos, quando precisam, pelo serviço médico que funciona na Casa. Quanto mais funcionários ativos, mais gastos para manter esse serviço.
Pelo menos 25 senadores mantêm nos escritórios pessoas que não aparecem para trabalhar, porque fazem curso no exterior; ou profissionais que atuam em clínicas médicas e escritórios particulares de advocacia, ganhando salário pelo Senado. Há também outros que empregam políticos cujos mandatos foram cassados pela Justiça Eleitoral ou são denunciados pelo Ministério Público por desvio de verba.
O próprio Ivo Cassol, que emprega 67 comissionados, patrocina uma ilegalidade. Desde dezembro passado, mantém no gabinete o jornalista Francisco Sued de Brito Pinheiro Filho, nomeado em 1 de fevereiro para trabalhar na presidência da Assembleia Legislativa de Rondônia. A assessoria do senador disse que ele já havia identificado o problema e iria demitir o servidor, mas até ontem o nome dele constava no Quadro de Servidores Efetivos e Comissionados do Senado.
Assim como acontece nos escritórios políticos nos estados, os senadores também não exercem controle sobre a atuação de seus servidores nos gabinetes do Senado, em Brasília. São poucos os que exigem que os funcionários registrem o ponto eletronicamente. Levantamento no Quadro de Servidores Ativos e Comissionados mostra que dez senadores aboliram a regra para todos os seus assistentes.
Ano passado, o Senado gastou mais de R$ 1,2 milhão com o ponto eletrônico biométrico. Mas, por acordo entre parlamentares, eles determinam quem tem e não tem a obrigação de bater o ponto.
Há casos como o do senador Jayme Campos (DEM-MT). Dos 21 servidores de seu gabinete, 20 não têm a obrigação de registrar a hora que chegam e a que saem. O único que não está livre da burocracia é um servidor efetivo (aprovado em concurso), que trabalha no Senado desde 1984 e é subchefe de gabinete do senador.
A segunda vice-presidência, ocupada pelo senador Waldemir Moka (PMDB-MS), desobriga 20 de seus 21 servidores de registrarem o ponto. Já a quarta secretaria, que está a cargo de Ciro Nogueira (PP-PI), não obriga nenhum dos 13 funcionários a bater o ponto. Também no gabinete do próprio Ciro ninguém registra o horário de entrada ou saída.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
Segundo levantamento de O Globo, uma brecha criada por normas internas do Senado custa caro aos cofres públicos. Graças a esse expediente, cada um dos 81 parlamentares pode multiplicar os cargos comissionados que tem à disposição - 12 no total. Alguns aumentaram esse número em mais de cinco vezes. Com isso, a despesa anual dos comissionados somente com vale-refeição cresceu 157%, passando de R$ 7,441 milhões para R$ 19,178 milhões. Todo servidor, efetivo ou comissionado, tem direito a um vale-refeição de R$ 638 mensais, independentemente do valor do salário.
Os senadores empregam 2.505 funcionários comissionados, média de 31 por senador, o que representa um gasto de R$ 1,598 milhão por mês somente com esse benefício. O Guia do Parlamentar - cartilha elaborada pela diretoria do Senado e entregue a cada senador quando assume o mandato - diz que em regra o gabinete é composto por 12 assessores: cinco assessores técnicos, seis secretários parlamentares e um motorista. Mas, na prática, essas funções estão sendo desdobradas e multiplicadas. Se os parlamentares contratassem apenas os 12 servidores sugeridos, o gasto mensal com auxílio-refeição seria de R$ 620 mil. Ou seja: o Senado gasta 157% a mais só com um benefício, porque os senadores incham o quadro de funcionários e esse benefício é pago individualmente.
Há casos como o do senador Ivo Cassol (PP-RO), que desmembrou as 12 funções em 67 cargos comissionados, lotados em seu gabinete e nos dois escritórios políticos que mantém em Rondônia. Como o auxílio-refeição é de R$ 638 por mês, se Cassol seguisse a sugestão do Guia do Parlamentar, gastaria R$ 7,6 mil por mês, mas a despesa do seu gabinete chega a R$ 42,7 mil com esse benefício.
João Ribeiro (PR-TO) - réu em uma ação no Supremo Tribunal Federal na qual é acusado de manter 35 funcionários em sua fazenda em regime análogo à escravidão - não se importa muito em gastar o dinheiro do contribuinte para contratar assessores para trabalhar para ele, pagos pelo Senado. O senador mantém 53 pessoas no gabinete ou nos escritórios políticos - gasto de R$ 33,8 mil. Clóvis Fecury (DEM-MA) é outro que multiplicou seus auxiliares. Ele tem 56 funcionários, 38 lotados em seu gabinete em Brasília. Um gasto de R$ 35,7 mil.
Já o senador Fernando Collor (PTB-AL) tem 54 comissionados no gabinete e o senador Gim Argello (PTB-DF), que empregava seu contador particular, tem 46 assessores. O novato Eduardo Lopes (PRB-RJ), que acaba de assumir a vaga de Marcelo Crivella (PRB-RJ) no Senado, herdou 43 comissionados no gabinete. Ele assumiu o mandato semana passada, após Crivella aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministro da Pesca.
O vale-refeição é só um exemplo do aumento de gastos no Senado pela contratação excessiva de servidores comissionados. Eles também fazem horas extras, limitadas a R$ 2.500 por mês. Os funcionários efetivos não têm esse direito. Além disso, apesar de não ter plano de saúde pago pelo Senado, os comissionados podem ser atendidos, quando precisam, pelo serviço médico que funciona na Casa. Quanto mais funcionários ativos, mais gastos para manter esse serviço.
Pelo menos 25 senadores mantêm nos escritórios pessoas que não aparecem para trabalhar, porque fazem curso no exterior; ou profissionais que atuam em clínicas médicas e escritórios particulares de advocacia, ganhando salário pelo Senado. Há também outros que empregam políticos cujos mandatos foram cassados pela Justiça Eleitoral ou são denunciados pelo Ministério Público por desvio de verba.
O próprio Ivo Cassol, que emprega 67 comissionados, patrocina uma ilegalidade. Desde dezembro passado, mantém no gabinete o jornalista Francisco Sued de Brito Pinheiro Filho, nomeado em 1 de fevereiro para trabalhar na presidência da Assembleia Legislativa de Rondônia. A assessoria do senador disse que ele já havia identificado o problema e iria demitir o servidor, mas até ontem o nome dele constava no Quadro de Servidores Efetivos e Comissionados do Senado.
Assim como acontece nos escritórios políticos nos estados, os senadores também não exercem controle sobre a atuação de seus servidores nos gabinetes do Senado, em Brasília. São poucos os que exigem que os funcionários registrem o ponto eletronicamente. Levantamento no Quadro de Servidores Ativos e Comissionados mostra que dez senadores aboliram a regra para todos os seus assistentes.
Ano passado, o Senado gastou mais de R$ 1,2 milhão com o ponto eletrônico biométrico. Mas, por acordo entre parlamentares, eles determinam quem tem e não tem a obrigação de bater o ponto.
Há casos como o do senador Jayme Campos (DEM-MT). Dos 21 servidores de seu gabinete, 20 não têm a obrigação de registrar a hora que chegam e a que saem. O único que não está livre da burocracia é um servidor efetivo (aprovado em concurso), que trabalha no Senado desde 1984 e é subchefe de gabinete do senador.
A segunda vice-presidência, ocupada pelo senador Waldemir Moka (PMDB-MS), desobriga 20 de seus 21 servidores de registrarem o ponto. Já a quarta secretaria, que está a cargo de Ciro Nogueira (PP-PI), não obriga nenhum dos 13 funcionários a bater o ponto. Também no gabinete do próprio Ciro ninguém registra o horário de entrada ou saída.
13 de março de 2012
Por Ricardo Froes
ESCRITOR PAPISTA CENSURA CRONISTA
Não é de hoje que venho sendo excluído de sites e comunidades da Internet. A primeira vez ocorreu há alguns anos. Entrei na comunidade Luís Fernando Verissimo, no Orkut, que reunia fãs do escritor comunista.
Aos poucos, fui comentando algumas incoerências de seus artigos. Os fãs tentaram contestar-me, mas não conseguiam contestar os fatos que eu apresentava.
Decorrência lógica: fui banido da comunidade. O que recebi como uma comenda.
Há alguns outros tantos anos, já nem lembro quando, fui convidado a escrever em um jornal eletrônico, o Mídia Sem Máscara, que pretendia denunciar as mentiras da grande imprensa. É comigo mesmo, pensei, afinal isso eu vinha fazendo há muito tempo, vide meu ensaio Como Ler Jornais. Colaborei com entusiasmo no novo site e disto não me arrependo.
Com o decorrer do tempo, descobri que fora convidado por minha posição radicalmente anticomunista.
Ocorre que não me manifesto apenas contra a opressão comunista. Sou contra todas as opressões. E se o comunismo teve existência relativamente curta – a rigor, apenas sete décadas – há uma outra opressão milenar, que até hoje ainda vige e tem prestígio, a opressão da Igreja Católica.
Milenar é modo de dizer, em verdade tem dois milênios. Bastaram algum artigos denunciando a ditadura vaticana e comecei a provocar mal-estar no MSM. Certo dia, escrevi um artigo mostrando por A + B que Cristo havia nascido não em Belém, mas em Nazaré. Artigo inocente, afinal o local de nascimento do judeu não constitui dogma para os católicos.
Meu artigo foi censurado. Mandei um recado ao editor: não admito censura. Ou meu artigo é publicado, ou não colaboro mais com o jornal.
Não foi publicado, deixei de colaborar. Junto comigo, abandonaram o barco outros colaboradores de talento, e o MSM se revelou um porta-voz ridículo de papistas fanáticos, muitas vezes mais papistas que o papa.
Hoje, investe contra dois fantasmas, o Foro de São Paulo - uma espécie de Woodstock das esquerdas que já morreu à míngua após a derrocada da União Soviética – e a ameaça de uma ditadura gay.
Last but not least, mais um terceiro fantasma, o aborto. Claro que nenhum articulista do castro católico vai admitir que tanto Tomás de Aquino como Santo Agostinho eram favoráveis ao aborto. E que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize, apenas no século XIX, em 1869 mais precisamente.
Ou seja, durante dezoito séculos a Igreja nada teve contra o aborto. Hoje, o jornal deixou cair a máscara. Alerta em seu site:
POLÊMICAS INTER-RELIGIOSAS, EM ESPECIAL ENTRE DIFERENTES DENOMINAÇÕES CRISTÃS, SÃO EXPRESSAMENTE PROIBIDAS NESTE SITE. COM TANTOS INIMIGOS RONDANDO, VAMOS FICAR TROCANDO TAPAS EM FAMÍLIA?
Ou seja, nada de criticar religiões. Em 2012, voltamos à Idade Média. Em outro site, fui censurado antes mesmo de começar a escrever.
No início de 2010, fui gentilmente convidado a escrever nas redes do Instituto Millenium de Pesquisa. Enviei meus dados e curriculum ao Millenium. Com uma ressalva: não aceito censura a nenhum artigo que pretender publicar no site Millenium. Se houver hipótese de censura, considere-me excluído do Instituto – disse a Anita Lucchesi, minha interlocutora. Recebi da moça a seguinte resposta:
Não publicamos artigos que contenham defesa ou condenação dos seguintes assuntos:
- Aborto
- Pena de morte
- Células-tronco embrionárias
- Eutanásia
- Suicídio
- Legalização das drogas
- Homossexualismo
- Adoção de crianças por casais homossexuais
Minha resposta a Anita Lucchesi:
Desolé, Anita!
O Millenium não me serve. Não entendo como uma instituição que pretende promover a Democracia, a Economia de Mercado, o Estado de Direito e a Liberdade, não aceite discutir assuntos como aborto, pena de morte, células-tronco embrionárias, eutanásia, suicídio, legalização das drogas, homossexualismo, adoção de crianças por casais homossexuais.
Os propósitos desta instituição são uma farsa. Considere-me excluído dessa arapuca. Suponho que sirva para promover nomes que permanecem ocultos, tipo Armínio Fraga e Gustavo Franco. Não conte comigo para isso.
Considero estas exclusões ou censuras como comendas, dizia. Ontem foi mais um desses dias felizes. Nas últimas semanas, andei recebendo via Facebook mensagens de Percival Puggina, escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão. Defensor da liberdade de expressão a tal ponto que tem um blog com esse nome. Em sua última postagem, Puggina manifestava seu desconforto ante a recente proibição de crucifixos nos tribunais públicos do Rio Grande do Sul.
No que era seguido por um considerável ror de leitores também indignados, a meu ver todos jovens, dadas as bobagens sem fundamento histórico algum que postavam. Tentando trazer um pouco de luz ao debate, enfiei minha esquiva colher naquele confuso caldo, e lembrei alguns fatos da História recente.
Lembrei, por exemplo, que a colocação de crucifixos em escolas e tribunais tem origens fascistas. Na Itália, foi determinada na década de 1920 durante o regime de Benito Mussolini. De inhapa, lembrei ainda fato pouco conhecido mesmo por católicos praticantes, o de que a Itália reconheceu a soberania da Santa Sé sobre o território do Vaticano através do Tratado de Latrão, de 1929, celebrado entre o Vaticano e o Duce. Sempre é bom reavivar a memória das gentes. Poucas pessoas sabem hoje que o Vaticano é uma concessão do ditador fascista.
Pra que, Deus meu? Fui alvo de uma saraivada de insultos por parte dos demais leitores, todos atacando este humilde colunista e nenhum contestando os fatos históricos que aventei.
Puggina fez uma intervenção e das mais significativas. Disse que não conseguia imaginar os americanos eliminando o In God We Trust das notas de dólar. Pelo jeito, não falta só imaginação ao escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão, mas também informação.
O lema é controvertido e não faltam americanos que julgam ser necessária uma separação da igreja e do Estado, defendendo a remoção do lema de todo uso público, incluindo moedas e notas de papel.
O argumento é que a liberdade religiosa inclui o direito de acreditar na não-existência de um deus e que o uso deste lema infringe os direitos dos não-religiosos. Sem falar que seria inconstitucional.
Intervenção das mais significativas, afirmei. Pois mesmo discriminando os ateus, o In God We Trust é bem mais abrangente que um crucifixo. Dá guarida a crentes de todas as fés, e não apenas aos seguidores da Igreja de Roma. Foi designado por um ato do Congresso em 1956 e não suspendeu o outro lema, E Pluribus Unum, escolhido pelo primeiro comitê do Grande Selo, em 1776, no começo da Revolução Americana.
Seja como for, o In God We Trust não privilegia igreja nem deus algum. Em algum deus – ou deuses – todas as religiões crêem, e neste sentido, o lema americano é bem mais generoso que o dos tribunais brasileiros.
O crucifixo nos tribunais brasileiros dá a entender que o Brasil tem uma só religião, a cristã. O que está longe de ser verdade.
Claro que não faltou quem me denunciasse como ateu – como se ser ateu fosse crime ou invalidasse qualquer argumento –, condição que nunca escondi e da qual não me envergonho. Houve quem dissesse que escrevi artigo onde afirmava que o papa havia queimado 30 milhões de judeus na Capela Sistina, gesto típico de moleque que não tem argumentos.
Pelo que constatei, nenhum dos debatedores tinha a mínima idéia da origem fascista da imposição do crucifixo em tribunais e escolas. Muito menos sabiam que o Vaticano era uma concessão territorial de Mussolini. Havia até mesmo alguns meninos que acreditavam ter sido Cristo o fundador do cristianismo. Pior ainda, havia quem julgasse que Cristo era cristão.
Enfim, eu estava começando a divertir-me quando, de repente, não mais que de repente, as mensagens todas sumiram de meu FB. Só posso deduzir que fui bloqueado pelo escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão.
Que que é isso, conterrâneo? Justo quando eu me comprazia em exercer meu magistério, você impede meu acesso a jovens que precisam de um pouco de cultura histórica? De minha parte – exceto o prazer de educar católicos na boa doutrina – não perco nada.
Mas essa juventude toda perdeu uma excelente oportunidade de conhecer história da Igreja e do cristianismo.
13 de março de 2012
janer cristaldo
Aos poucos, fui comentando algumas incoerências de seus artigos. Os fãs tentaram contestar-me, mas não conseguiam contestar os fatos que eu apresentava.
Decorrência lógica: fui banido da comunidade. O que recebi como uma comenda.
Há alguns outros tantos anos, já nem lembro quando, fui convidado a escrever em um jornal eletrônico, o Mídia Sem Máscara, que pretendia denunciar as mentiras da grande imprensa. É comigo mesmo, pensei, afinal isso eu vinha fazendo há muito tempo, vide meu ensaio Como Ler Jornais. Colaborei com entusiasmo no novo site e disto não me arrependo.
Com o decorrer do tempo, descobri que fora convidado por minha posição radicalmente anticomunista.
Ocorre que não me manifesto apenas contra a opressão comunista. Sou contra todas as opressões. E se o comunismo teve existência relativamente curta – a rigor, apenas sete décadas – há uma outra opressão milenar, que até hoje ainda vige e tem prestígio, a opressão da Igreja Católica.
Milenar é modo de dizer, em verdade tem dois milênios. Bastaram algum artigos denunciando a ditadura vaticana e comecei a provocar mal-estar no MSM. Certo dia, escrevi um artigo mostrando por A + B que Cristo havia nascido não em Belém, mas em Nazaré. Artigo inocente, afinal o local de nascimento do judeu não constitui dogma para os católicos.
Meu artigo foi censurado. Mandei um recado ao editor: não admito censura. Ou meu artigo é publicado, ou não colaboro mais com o jornal.
Não foi publicado, deixei de colaborar. Junto comigo, abandonaram o barco outros colaboradores de talento, e o MSM se revelou um porta-voz ridículo de papistas fanáticos, muitas vezes mais papistas que o papa.
Hoje, investe contra dois fantasmas, o Foro de São Paulo - uma espécie de Woodstock das esquerdas que já morreu à míngua após a derrocada da União Soviética – e a ameaça de uma ditadura gay.
Last but not least, mais um terceiro fantasma, o aborto. Claro que nenhum articulista do castro católico vai admitir que tanto Tomás de Aquino como Santo Agostinho eram favoráveis ao aborto. E que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize, apenas no século XIX, em 1869 mais precisamente.
Ou seja, durante dezoito séculos a Igreja nada teve contra o aborto. Hoje, o jornal deixou cair a máscara. Alerta em seu site:
POLÊMICAS INTER-RELIGIOSAS, EM ESPECIAL ENTRE DIFERENTES DENOMINAÇÕES CRISTÃS, SÃO EXPRESSAMENTE PROIBIDAS NESTE SITE. COM TANTOS INIMIGOS RONDANDO, VAMOS FICAR TROCANDO TAPAS EM FAMÍLIA?
Ou seja, nada de criticar religiões. Em 2012, voltamos à Idade Média. Em outro site, fui censurado antes mesmo de começar a escrever.
No início de 2010, fui gentilmente convidado a escrever nas redes do Instituto Millenium de Pesquisa. Enviei meus dados e curriculum ao Millenium. Com uma ressalva: não aceito censura a nenhum artigo que pretender publicar no site Millenium. Se houver hipótese de censura, considere-me excluído do Instituto – disse a Anita Lucchesi, minha interlocutora. Recebi da moça a seguinte resposta:
Não publicamos artigos que contenham defesa ou condenação dos seguintes assuntos:
- Aborto
- Pena de morte
- Células-tronco embrionárias
- Eutanásia
- Suicídio
- Legalização das drogas
- Homossexualismo
- Adoção de crianças por casais homossexuais
Minha resposta a Anita Lucchesi:
Desolé, Anita!
O Millenium não me serve. Não entendo como uma instituição que pretende promover a Democracia, a Economia de Mercado, o Estado de Direito e a Liberdade, não aceite discutir assuntos como aborto, pena de morte, células-tronco embrionárias, eutanásia, suicídio, legalização das drogas, homossexualismo, adoção de crianças por casais homossexuais.
Os propósitos desta instituição são uma farsa. Considere-me excluído dessa arapuca. Suponho que sirva para promover nomes que permanecem ocultos, tipo Armínio Fraga e Gustavo Franco. Não conte comigo para isso.
Considero estas exclusões ou censuras como comendas, dizia. Ontem foi mais um desses dias felizes. Nas últimas semanas, andei recebendo via Facebook mensagens de Percival Puggina, escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão. Defensor da liberdade de expressão a tal ponto que tem um blog com esse nome. Em sua última postagem, Puggina manifestava seu desconforto ante a recente proibição de crucifixos nos tribunais públicos do Rio Grande do Sul.
No que era seguido por um considerável ror de leitores também indignados, a meu ver todos jovens, dadas as bobagens sem fundamento histórico algum que postavam. Tentando trazer um pouco de luz ao debate, enfiei minha esquiva colher naquele confuso caldo, e lembrei alguns fatos da História recente.
Lembrei, por exemplo, que a colocação de crucifixos em escolas e tribunais tem origens fascistas. Na Itália, foi determinada na década de 1920 durante o regime de Benito Mussolini. De inhapa, lembrei ainda fato pouco conhecido mesmo por católicos praticantes, o de que a Itália reconheceu a soberania da Santa Sé sobre o território do Vaticano através do Tratado de Latrão, de 1929, celebrado entre o Vaticano e o Duce. Sempre é bom reavivar a memória das gentes. Poucas pessoas sabem hoje que o Vaticano é uma concessão do ditador fascista.
Pra que, Deus meu? Fui alvo de uma saraivada de insultos por parte dos demais leitores, todos atacando este humilde colunista e nenhum contestando os fatos históricos que aventei.
Puggina fez uma intervenção e das mais significativas. Disse que não conseguia imaginar os americanos eliminando o In God We Trust das notas de dólar. Pelo jeito, não falta só imaginação ao escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão, mas também informação.
O lema é controvertido e não faltam americanos que julgam ser necessária uma separação da igreja e do Estado, defendendo a remoção do lema de todo uso público, incluindo moedas e notas de papel.
O argumento é que a liberdade religiosa inclui o direito de acreditar na não-existência de um deus e que o uso deste lema infringe os direitos dos não-religiosos. Sem falar que seria inconstitucional.
Intervenção das mais significativas, afirmei. Pois mesmo discriminando os ateus, o In God We Trust é bem mais abrangente que um crucifixo. Dá guarida a crentes de todas as fés, e não apenas aos seguidores da Igreja de Roma. Foi designado por um ato do Congresso em 1956 e não suspendeu o outro lema, E Pluribus Unum, escolhido pelo primeiro comitê do Grande Selo, em 1776, no começo da Revolução Americana.
Seja como for, o In God We Trust não privilegia igreja nem deus algum. Em algum deus – ou deuses – todas as religiões crêem, e neste sentido, o lema americano é bem mais generoso que o dos tribunais brasileiros.
O crucifixo nos tribunais brasileiros dá a entender que o Brasil tem uma só religião, a cristã. O que está longe de ser verdade.
Claro que não faltou quem me denunciasse como ateu – como se ser ateu fosse crime ou invalidasse qualquer argumento –, condição que nunca escondi e da qual não me envergonho. Houve quem dissesse que escrevi artigo onde afirmava que o papa havia queimado 30 milhões de judeus na Capela Sistina, gesto típico de moleque que não tem argumentos.
Pelo que constatei, nenhum dos debatedores tinha a mínima idéia da origem fascista da imposição do crucifixo em tribunais e escolas. Muito menos sabiam que o Vaticano era uma concessão territorial de Mussolini. Havia até mesmo alguns meninos que acreditavam ter sido Cristo o fundador do cristianismo. Pior ainda, havia quem julgasse que Cristo era cristão.
Enfim, eu estava começando a divertir-me quando, de repente, não mais que de repente, as mensagens todas sumiram de meu FB. Só posso deduzir que fui bloqueado pelo escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão.
Que que é isso, conterrâneo? Justo quando eu me comprazia em exercer meu magistério, você impede meu acesso a jovens que precisam de um pouco de cultura histórica? De minha parte – exceto o prazer de educar católicos na boa doutrina – não perco nada.
Mas essa juventude toda perdeu uma excelente oportunidade de conhecer história da Igreja e do cristianismo.
13 de março de 2012
janer cristaldo
VACCAREZZA DEIXA LIDERANÇA DO GOVERNO E DIZ QUE NÃO ESTÁ RESSENTIDO - OU SEJA, ESTÁ!
Candido Vaccarezza (PT-SP) não é mais o líder do governo na Câmara. Foi defenestrado junto com seu congênere no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), substituído pelo também peemedebista Eduardo Braga (AM).
Não se sabe ainda que petista ocupará o lugar de Vaccarezza.
Leiam trecho da reportagem de Maria Clara Cabral, na Folha Online.
Volto em seguida.
Apesar de claramente emocionado, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) afirmou nesta terça-feira (13) que deixa a liderança do governo na Câmara sem ressentimentos e que continuará sendo um soldado da presidente Dilma Rousseff. “Encaro isso sem ressentimento, sem mágoas e com naturalidade”, disse.
Para o deputado, sua saída acontece por motivação política, não por derrotas pessoais, já que, segundo ele, o governo só “teve vitórias” na Câmara. O petista admite, porém, não saber onde a presidente “quer chegar” ao dizer que vai fazer um rodízio nas lideranças.
Vaccarezza admitiu ainda que sua substituição pode causar um estremecimento na Câmara, sem votações importantes nesta semana. “Eu era amigo pessoal dos líderes, até mesmo da oposição, por isso [um estremecimento] é natural. Mas a partir da semana que vem já vai ser tranquilo”, justificou.
O petista demonstrou mágoa ainda ao admitir que soube da sua substituição pela imprensa. Ele foi chamado ontem para uma conversa de uma hora e meia com Dilma na manhã de hoje. “Não acho que foi uma boa conduta dessas pessoas [que vazaram sobre a sua demissão], mas tenho certeza que isso não contou com o apoio de Dilma”, afirmou.
(…)
Voltei
Como se vê, Vaccarezza não está nem “com ressentimento nem com mágoa”, mas não sabe aonde Dilma quer chegar. Vale dizer: está ressentido e magoado. Se ele, líder do governo na Câmara não sabe — e, a rigor, foi o último a saber da própria demissão —, imaginem os outros.
Reparem: existe um mal-estar, um malaise, na relação de Dilma com o Congresso sem que os partidos consigam dizer exatamente o que está pegando.
O dilmismo, vocês já notaram, tenta nos fazer crer que a governanta é ética e durona demais para o Congresso que está aí — leia-se: base aliada. Afinal, não é a oposição que cria problemas à Soberana, certo?
Ocorre que o busílis é outro: o governo é inoperante, e o que tentam passar por “seriedade” da mandatária, vênia máxima, é outra coisa: ela é, isto sim, centralizadora, porém paralisante.
O governo não deslancha, e até os petistas ficam um pouco aflitos.
Não estou entre aqueles que consideram Vaccarezza um exemplo de eficiência e habilidade. A declaração feita por ele ontem, incitando um confronto com o Supremo — e ainda era líder do governo —, fala por si mesma.
Mas também não vislumbro ninguém com talento para fazer algo muito melhor.
13 de março de 2012
Reinaldo Azevedo
Não se sabe ainda que petista ocupará o lugar de Vaccarezza.
Leiam trecho da reportagem de Maria Clara Cabral, na Folha Online.
Volto em seguida.
Apesar de claramente emocionado, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) afirmou nesta terça-feira (13) que deixa a liderança do governo na Câmara sem ressentimentos e que continuará sendo um soldado da presidente Dilma Rousseff. “Encaro isso sem ressentimento, sem mágoas e com naturalidade”, disse.
Para o deputado, sua saída acontece por motivação política, não por derrotas pessoais, já que, segundo ele, o governo só “teve vitórias” na Câmara. O petista admite, porém, não saber onde a presidente “quer chegar” ao dizer que vai fazer um rodízio nas lideranças.
Vaccarezza admitiu ainda que sua substituição pode causar um estremecimento na Câmara, sem votações importantes nesta semana. “Eu era amigo pessoal dos líderes, até mesmo da oposição, por isso [um estremecimento] é natural. Mas a partir da semana que vem já vai ser tranquilo”, justificou.
O petista demonstrou mágoa ainda ao admitir que soube da sua substituição pela imprensa. Ele foi chamado ontem para uma conversa de uma hora e meia com Dilma na manhã de hoje. “Não acho que foi uma boa conduta dessas pessoas [que vazaram sobre a sua demissão], mas tenho certeza que isso não contou com o apoio de Dilma”, afirmou.
(…)
Voltei
Como se vê, Vaccarezza não está nem “com ressentimento nem com mágoa”, mas não sabe aonde Dilma quer chegar. Vale dizer: está ressentido e magoado. Se ele, líder do governo na Câmara não sabe — e, a rigor, foi o último a saber da própria demissão —, imaginem os outros.
Reparem: existe um mal-estar, um malaise, na relação de Dilma com o Congresso sem que os partidos consigam dizer exatamente o que está pegando.
O dilmismo, vocês já notaram, tenta nos fazer crer que a governanta é ética e durona demais para o Congresso que está aí — leia-se: base aliada. Afinal, não é a oposição que cria problemas à Soberana, certo?
Ocorre que o busílis é outro: o governo é inoperante, e o que tentam passar por “seriedade” da mandatária, vênia máxima, é outra coisa: ela é, isto sim, centralizadora, porém paralisante.
O governo não deslancha, e até os petistas ficam um pouco aflitos.
Não estou entre aqueles que consideram Vaccarezza um exemplo de eficiência e habilidade. A declaração feita por ele ontem, incitando um confronto com o Supremo — e ainda era líder do governo —, fala por si mesma.
Mas também não vislumbro ninguém com talento para fazer algo muito melhor.
13 de março de 2012
Reinaldo Azevedo
ARBITRAGEM PODE SOLUCIONAR 30% DOS LITÍGIOS TRABALHISTAS
A vulnerabilidade inerente dos trabalhadores e a necessidade de proteger seus direitos básicos também estão refletidas na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, (informações do documento elaborado pelo IPB – Instituto Pro Bono).
Não podemos dizer que ao passo que o empregador enfrenta todo arcabouço de leis, normas e regras trabalhistas, o trabalhador, por consequencia está protegido, é o hipossuficiente, sem ter que provar ao contrário. É por isso que o juiz do trabalho é deveras impiedoso com o empregador, mas seria essa a linha correta para solucionar conflitos trabalhistas?
Até que ponto a postura judicialista estaria atingindo o efeito, já que a causa, está pré-estabelecida a partir do momento em que se busca no judiciário a solução de uma avença? Que modelo de justiça afinal se está patrocinando para a massa trabalhadora do país?
Um judiciário que não atende a demanda de ações, não promove a entrega do direito, e quando o faz, é através de meios que chegam a delinquência jurídica, com penhoras de contas poupança, aposentadoria, de terceiros estranhos a lide, de bens de família (em flagrante afronta a lei 8009/90), leilões viciados, incipientes sob inúmeros aspectos, muitos os valores sequer atende o titulo do exequente.
È este o modelo de justiça que se possa orgulhar?
O quadro data máxima venia, em que pese raríssima exceção, é a legislação ativa, jogada no lixo da discórdia, não pouco, com ranço discriminatório, em total desprezo ao diploma, que é relegado a adorno de parede do escritório ou gabinetes dos operadores do direito.
Incorporando, de certo modo, parcialmente, tais críticas, a Carta Magna de 1988, em sua origem, passou a viabilizar a propositura do dissídio coletivo somente após a recusa “…de qualquer das partes à negociação ou à arbitragem…” (art. 114, § 2º, ab initio, CF/88).
Entre os órgãos de representação coletiva reconhece-se a isonomia necessária para que possam discutir e resolver inclusive as questões de direito material.
Na concepção dos principais juristas brasileiros, a arbitragem no campo laboral, precisa ser revista, não só em razão do quadro debilitado da JT na solução e entrega do direito ao trabalhador, mas como advento de uma nova era, onde os atores envolvidos, possam desenvolver nova técnicas de negociação amparado em lei, cuja experiência internacional, um primado que é de grande valia para o jurisdicionado brasileiro.
As negociações e a arbitragem, por serem meios extrajudiciais de resolução de conflitos, devem ser, portanto, adotada amplamente e reconhecidas por serem propícias às discussões que envolvem direitos trabalhistas coletivos.
Como se pode observar de fato, no que diz respeito aos conflitos individuais trabalhistas não há qualquer disposição expressa na Constituição Federal ou na Consolidação das Leis do Trabalho, apresentando-se como em aparente e irremediável contradição o artigo 1º da Lei de Arbitragem, Lei n. 9.307/96, e o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas.
A arbitragem já está sendo admitida no âmbito trabalhista, o juiz Hélcio Luiz Adorno da 76ª Vara do Trabalho de São Paulo reconheceu a validade de uma cláusula arbitral presente em um contrato trabalhista entre um alto executivo do mercado de capitais e o BTG Pactual, destacando que o documento foi firmado por um alto executivo de notável formação acadêmica e expressivos vencimentos.
Na pretensão de romper o pactuado o reclamante recorreu a JT, em sua defesa a reclamada alegou que o contrato tinha uma cláusula compromissória, segundo a qual qualquer conflito deveria ser levado à Câmara de Arbitragem do Rio de Janeiro e não ao Judiciário.
De acordo com o magistrado, a indisponibilidade dos direitos trabalhistas e a hipossuficiência do trabalhador são os motivos que têm impedido o reconhecimento de cláusulas arbitrais no contrato de trabalho. Contudo, essa não seria a situação discutida no processo.
O juiz Hélcio Luiz Adorno Júnior entendeu que o executivo não teria sido coagido a aceitar os termos do contrato de gratificação por ter condições para negociar livremente sua contratação. Além disso, o magistrado considerou que o bônus de retenção foge do padrão dos títulos de natureza trabalhista, declarando extinto o pedido formulado.
Durante um encontro realizado no dia 5 de março (segunda-feira), com advogados de Santa Catarina, que teve como objetivo a avaliar os rumos do judiciário, o ministro do STJ Jorge Mussi, advertiu que: “é preciso repensar o Judiciário antes que seja tarde, porque os limites da paciência e tolerância da sociedade estão se esgotando”.
De acordo com o magistrado, o Judiciário brasileiro passa por um momento muito difícil e que “a sociedade reclama, com toda razão, da demora na entrega da prestação jurisdicional” e por isso defende a união de advogados e magistrados para estimular a mudança da cultura do litígio e buscar a conciliação.
Embora possa parecer utópico dentro do quadro que se formou no judiciário brasileiro, o tema proposto pelo ministro precisa ser implementado.
As razões estão acima dos interesses corporativos, políticos e financeiros, até porque ubi societas ib ius, não sendo assim, a justiça que já se dissipa aos olhos dos que a procura, tende a sumir na nebulosa da sua inaptidão de servir a sociedade.
Dedicado há 20 anos no estudo do comportamento do judiciário trabalhista, registro uma evolução incessante de inovações corporativas, avalio que para cada grupo de dez medidas no segmento, oito são de interesse exclusivo dos magistrados, daí a razão da xenofobia ao extrajudicial.
12 de março de 2012
Roberto Monteiro Pinho
Não podemos dizer que ao passo que o empregador enfrenta todo arcabouço de leis, normas e regras trabalhistas, o trabalhador, por consequencia está protegido, é o hipossuficiente, sem ter que provar ao contrário. É por isso que o juiz do trabalho é deveras impiedoso com o empregador, mas seria essa a linha correta para solucionar conflitos trabalhistas?
Até que ponto a postura judicialista estaria atingindo o efeito, já que a causa, está pré-estabelecida a partir do momento em que se busca no judiciário a solução de uma avença? Que modelo de justiça afinal se está patrocinando para a massa trabalhadora do país?
Um judiciário que não atende a demanda de ações, não promove a entrega do direito, e quando o faz, é através de meios que chegam a delinquência jurídica, com penhoras de contas poupança, aposentadoria, de terceiros estranhos a lide, de bens de família (em flagrante afronta a lei 8009/90), leilões viciados, incipientes sob inúmeros aspectos, muitos os valores sequer atende o titulo do exequente.
È este o modelo de justiça que se possa orgulhar?
O quadro data máxima venia, em que pese raríssima exceção, é a legislação ativa, jogada no lixo da discórdia, não pouco, com ranço discriminatório, em total desprezo ao diploma, que é relegado a adorno de parede do escritório ou gabinetes dos operadores do direito.
Incorporando, de certo modo, parcialmente, tais críticas, a Carta Magna de 1988, em sua origem, passou a viabilizar a propositura do dissídio coletivo somente após a recusa “…de qualquer das partes à negociação ou à arbitragem…” (art. 114, § 2º, ab initio, CF/88).
Entre os órgãos de representação coletiva reconhece-se a isonomia necessária para que possam discutir e resolver inclusive as questões de direito material.
Na concepção dos principais juristas brasileiros, a arbitragem no campo laboral, precisa ser revista, não só em razão do quadro debilitado da JT na solução e entrega do direito ao trabalhador, mas como advento de uma nova era, onde os atores envolvidos, possam desenvolver nova técnicas de negociação amparado em lei, cuja experiência internacional, um primado que é de grande valia para o jurisdicionado brasileiro.
As negociações e a arbitragem, por serem meios extrajudiciais de resolução de conflitos, devem ser, portanto, adotada amplamente e reconhecidas por serem propícias às discussões que envolvem direitos trabalhistas coletivos.
Como se pode observar de fato, no que diz respeito aos conflitos individuais trabalhistas não há qualquer disposição expressa na Constituição Federal ou na Consolidação das Leis do Trabalho, apresentando-se como em aparente e irremediável contradição o artigo 1º da Lei de Arbitragem, Lei n. 9.307/96, e o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas.
A arbitragem já está sendo admitida no âmbito trabalhista, o juiz Hélcio Luiz Adorno da 76ª Vara do Trabalho de São Paulo reconheceu a validade de uma cláusula arbitral presente em um contrato trabalhista entre um alto executivo do mercado de capitais e o BTG Pactual, destacando que o documento foi firmado por um alto executivo de notável formação acadêmica e expressivos vencimentos.
Na pretensão de romper o pactuado o reclamante recorreu a JT, em sua defesa a reclamada alegou que o contrato tinha uma cláusula compromissória, segundo a qual qualquer conflito deveria ser levado à Câmara de Arbitragem do Rio de Janeiro e não ao Judiciário.
De acordo com o magistrado, a indisponibilidade dos direitos trabalhistas e a hipossuficiência do trabalhador são os motivos que têm impedido o reconhecimento de cláusulas arbitrais no contrato de trabalho. Contudo, essa não seria a situação discutida no processo.
O juiz Hélcio Luiz Adorno Júnior entendeu que o executivo não teria sido coagido a aceitar os termos do contrato de gratificação por ter condições para negociar livremente sua contratação. Além disso, o magistrado considerou que o bônus de retenção foge do padrão dos títulos de natureza trabalhista, declarando extinto o pedido formulado.
Durante um encontro realizado no dia 5 de março (segunda-feira), com advogados de Santa Catarina, que teve como objetivo a avaliar os rumos do judiciário, o ministro do STJ Jorge Mussi, advertiu que: “é preciso repensar o Judiciário antes que seja tarde, porque os limites da paciência e tolerância da sociedade estão se esgotando”.
De acordo com o magistrado, o Judiciário brasileiro passa por um momento muito difícil e que “a sociedade reclama, com toda razão, da demora na entrega da prestação jurisdicional” e por isso defende a união de advogados e magistrados para estimular a mudança da cultura do litígio e buscar a conciliação.
Embora possa parecer utópico dentro do quadro que se formou no judiciário brasileiro, o tema proposto pelo ministro precisa ser implementado.
As razões estão acima dos interesses corporativos, políticos e financeiros, até porque ubi societas ib ius, não sendo assim, a justiça que já se dissipa aos olhos dos que a procura, tende a sumir na nebulosa da sua inaptidão de servir a sociedade.
Dedicado há 20 anos no estudo do comportamento do judiciário trabalhista, registro uma evolução incessante de inovações corporativas, avalio que para cada grupo de dez medidas no segmento, oito são de interesse exclusivo dos magistrados, daí a razão da xenofobia ao extrajudicial.
12 de março de 2012
Roberto Monteiro Pinho
CLAUDIO HUMBERTO ANUNCIA QUE ROMERO JUCÁ SAIU DA LIDERANÇA DO GOVERNO
O comentarista José Carlos Werneck nos envia essa nota do jornalista Claudio Humberto, sobre a demissão do senador Romero Jucá (PMDB-RO), que já estava enraizado na liderança do governo.
Acabou a posição de “independência” do senador Eduardo Braga (PMDB-AM): a presidenta Dilma o convidou para o cargo de líder do governo no Senado, em lugar de Romero Jucá (PMDB-RR), e ele aceitou o convite imediatamente.
A escolha pode ter surpreendido o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), que esteve esta tarde com a presidenta Dilma, mas é mais provável que a ideia tenha sido dele e Dilma a acolheu. Mas até mesmo o presidente do Senado, José Sarney, aliado de primeira hora, ficou sabendo da mudança por terceiros e até pelo próprio Braga.
O senador Romero Jucá também tomou conhecimento do seu afastamento nos corredores do Senado. A cabeça do ex-lider do governo numa bandeja era exigência da bancada do PT no Senado, mas a intenção dos senadores, como Lindenberg Farias (RJ), era assumir o lugar de Jucá.
A presidenta Dilma resolveu dois problemas de uma só vez: anulou a “ïndependência” de Eduardo Braga, esvaziando a bancada que se opõe à liderança de Calheiros e Sarney, e atendeu ao PT retirando Romero Jucá do posto.
12 de março de 2012
Acabou a posição de “independência” do senador Eduardo Braga (PMDB-AM): a presidenta Dilma o convidou para o cargo de líder do governo no Senado, em lugar de Romero Jucá (PMDB-RR), e ele aceitou o convite imediatamente.
A escolha pode ter surpreendido o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), que esteve esta tarde com a presidenta Dilma, mas é mais provável que a ideia tenha sido dele e Dilma a acolheu. Mas até mesmo o presidente do Senado, José Sarney, aliado de primeira hora, ficou sabendo da mudança por terceiros e até pelo próprio Braga.
O senador Romero Jucá também tomou conhecimento do seu afastamento nos corredores do Senado. A cabeça do ex-lider do governo numa bandeja era exigência da bancada do PT no Senado, mas a intenção dos senadores, como Lindenberg Farias (RJ), era assumir o lugar de Jucá.
A presidenta Dilma resolveu dois problemas de uma só vez: anulou a “ïndependência” de Eduardo Braga, esvaziando a bancada que se opõe à liderança de Calheiros e Sarney, e atendeu ao PT retirando Romero Jucá do posto.
12 de março de 2012
UMA GUERRA NADA SANTA
Artigos - Direito
Ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade.
Para o Conselho de Magistratura do TJ/RS, todos os desembargadores - centenas! - que por ali passaram ao longo de 121 anos eram cegos de bengalinha ante os crucifixos das salas de audiência ou incompetentes para entender o sentido da laicidade do Estado constante de todas as constituições republicanas.
Teses sem ressonância social vêm atropelando a pauta das prioridades e virando o país do avesso. Foi o caso dos crucifixos. Tão do avesso que ganhou manchetes. Responda-me, leitor: de cem pessoas que ingressam numa sala de audiências, quantas ficam dispnéicas, tarquicárdicas ou entram em sudorese se veem um crucifixo? Nenhuma? Pois é. E quantas - na real, sem exageros - se sentirão pessoalmente injuriadas por aquele símbolo?
Ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade. Portanto, os que investiram contra os crucifixos e enrolaram em seus argumentos cinco magistrados gaúchos, são portadores de uma idiossincrasia, de uma aversão pessoal. Tal abominação é um problema que está nelas. Juro, o crucifixo é inocente! Tampouco é um problema da sociedade ou do Estado brasileiro, como já decidiu o Conselho Nacional de Justiça em 2007. A retirada dos crucifixos toma a situação pelo seu avesso. Considerou discriminatória a presença do símbolo, quando discriminador e preconceituoso é quem posa de ofendido por ele. Ou não?
O Estado brasileiro não é ateu, é laico, mas a laicidade, no sentido em que é definida pela Constituição, recusa as pretensões do ateísmo militante. O Estado brasileiro não é inimigo da fé; ao contrário, com vistas ao interesse público, colabora com as confissões religiosas (CF, art.19,I). Prevê assistência religiosa aos que estão presos (CF Art. 5º VII). Também por essa compatibilidade de fins há capelães nas Forças Armadas. Retirar os crucifixos para acolher como saudáveis reações que afrontam a consciência civilizada não é defender o laicismo mas curvar-se ao ateísmo militante, de pouco futuro e péssimo passado.
No volumoso Curso de Direito Constitucional (Ed. Saraiva, 2007), após citar o professor alemão Peter Häberle para demonstrar que elementos religiosos, como os feriados, são bem-vindos porque reacendem na memória coletiva suas raízes culturais, Gilmar Mendes e outros dois autores concluem assim o capítulo em que tratam da liberdade religiosa: "O Estado que não professa o ateísmo pode conviver com símbolos, os quais não somente correspondem a valores que informam sua história cultural como remetem a bens encarecidos por parcela expressiva de sua população - por isso, também, não é dado proibir a exibição de crucifixos ou de imagens sagradas em lugares públicos".
Não há uma única evidência de que crucifixos em salas de audiência tenham patrocinado descumprimento do nosso Direito para adotar imposições canônicas. Portanto, o que mais corretamente se pode assumir como efeito da presença do símbolo é exatamente o inverso do alegado. Ele inspira boa justiça. Na tradição Ocidental, é símbolo máximo da dor e da aflição causada pela injustiça!
Seus adversários olham para o crucifixo mas focam, lá na frente, os princípios, os valores e as tradições que lhe são implícitos. Muitos, como os relacionados à defesa da vida, à dignidade e aos direitos humanos, às liberdades, à família, compõem convicções constitucionalizadas no Brasil e se refletem nas deliberações legislativas. É contra esse alvo que o ateísmo militante está declarando guerra e rufando tambores. Não agem por amor à Constituição, mas por ódio ao perfume cristão que ela legitimamente exala. Como escrevi anteriormente: deixem ao menos os pregos!
Percival Puggina, 13 Março 2012
Publicado no jornal Zero Hora.
Ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade.
Para o Conselho de Magistratura do TJ/RS, todos os desembargadores - centenas! - que por ali passaram ao longo de 121 anos eram cegos de bengalinha ante os crucifixos das salas de audiência ou incompetentes para entender o sentido da laicidade do Estado constante de todas as constituições republicanas.
Teses sem ressonância social vêm atropelando a pauta das prioridades e virando o país do avesso. Foi o caso dos crucifixos. Tão do avesso que ganhou manchetes. Responda-me, leitor: de cem pessoas que ingressam numa sala de audiências, quantas ficam dispnéicas, tarquicárdicas ou entram em sudorese se veem um crucifixo? Nenhuma? Pois é. E quantas - na real, sem exageros - se sentirão pessoalmente injuriadas por aquele símbolo?
Ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade. Portanto, os que investiram contra os crucifixos e enrolaram em seus argumentos cinco magistrados gaúchos, são portadores de uma idiossincrasia, de uma aversão pessoal. Tal abominação é um problema que está nelas. Juro, o crucifixo é inocente! Tampouco é um problema da sociedade ou do Estado brasileiro, como já decidiu o Conselho Nacional de Justiça em 2007. A retirada dos crucifixos toma a situação pelo seu avesso. Considerou discriminatória a presença do símbolo, quando discriminador e preconceituoso é quem posa de ofendido por ele. Ou não?
O Estado brasileiro não é ateu, é laico, mas a laicidade, no sentido em que é definida pela Constituição, recusa as pretensões do ateísmo militante. O Estado brasileiro não é inimigo da fé; ao contrário, com vistas ao interesse público, colabora com as confissões religiosas (CF, art.19,I). Prevê assistência religiosa aos que estão presos (CF Art. 5º VII). Também por essa compatibilidade de fins há capelães nas Forças Armadas. Retirar os crucifixos para acolher como saudáveis reações que afrontam a consciência civilizada não é defender o laicismo mas curvar-se ao ateísmo militante, de pouco futuro e péssimo passado.
No volumoso Curso de Direito Constitucional (Ed. Saraiva, 2007), após citar o professor alemão Peter Häberle para demonstrar que elementos religiosos, como os feriados, são bem-vindos porque reacendem na memória coletiva suas raízes culturais, Gilmar Mendes e outros dois autores concluem assim o capítulo em que tratam da liberdade religiosa: "O Estado que não professa o ateísmo pode conviver com símbolos, os quais não somente correspondem a valores que informam sua história cultural como remetem a bens encarecidos por parcela expressiva de sua população - por isso, também, não é dado proibir a exibição de crucifixos ou de imagens sagradas em lugares públicos".
Não há uma única evidência de que crucifixos em salas de audiência tenham patrocinado descumprimento do nosso Direito para adotar imposições canônicas. Portanto, o que mais corretamente se pode assumir como efeito da presença do símbolo é exatamente o inverso do alegado. Ele inspira boa justiça. Na tradição Ocidental, é símbolo máximo da dor e da aflição causada pela injustiça!
Seus adversários olham para o crucifixo mas focam, lá na frente, os princípios, os valores e as tradições que lhe são implícitos. Muitos, como os relacionados à defesa da vida, à dignidade e aos direitos humanos, às liberdades, à família, compõem convicções constitucionalizadas no Brasil e se refletem nas deliberações legislativas. É contra esse alvo que o ateísmo militante está declarando guerra e rufando tambores. Não agem por amor à Constituição, mas por ódio ao perfume cristão que ela legitimamente exala. Como escrevi anteriormente: deixem ao menos os pregos!
Percival Puggina, 13 Março 2012
Publicado no jornal Zero Hora.
O FORO DE SÃO PAULO NOS ESTADOS UNIDOS
Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
O Foro de São Paulo vai pelo impensado, vai pelo desafio maior: nada melhor do que conquistar o “Império”, os próprios Estados Unidos.
Há quase um ano, Periodismo Sin Fronteras publicou o artigo “O Foro de São Paulo - XVII Reunião na Nicarágua", no qual se fazia referência aos objetivos do plano de trabalho do Foro de São Paulo (FSP) para o ano de 2011. Dentre os quais, constava: “Ampliar o desafio aos Estados Unidos e Europa, utilizando para isto residentes latino-americanos”.
Hoje, em meio da crise econômica européia, já montaram a Secretaria Regional Européia, com sede na Espanha, utilizando para isto a grande quantidade de residentes latino-americanos que vivem lá e que foram utilizados previamente nas manifestações sociais do 15-M, que deram origem ao movimento dos “indignados”, coletivo que se expande como modo de protesto com objetivos difusos, cujo único lema é “Democracia Real JÁ”.
Nada mais adequado que um movimento “apartidário” e “espontâneo” de gente indignada (não com o sistema capitalista, senão com a crise econômica) para que este seja apadrinhado pelo FSP. Uma nova fachada que outorga credibilidade a essas assembléias populares que são o pau-para-toda-obra embrionário do FSP em cada região.
O que para alguns não é mais que óbvio, para outros ainda é algo impossível. Porém, o Foro de São Paulo vai pelo impensado, vai pelo desafio maior: nada melhor do que conquistar o “Império”, os próprios Estados Unidos, incorporando lenta e progressivamente a metodologia de protesto e cultura socialista, algo que já foi provado com êxito na América do Sul.
Viram o modo: os “indignados” através dos “Occupy” ou “ocupas”, que não são mais que a versão remasterizada dos piqueteros argentinos, cortando pontes, avenidas, organizando assentamentos, acampamentos e assembléias em zonas públicas.
Provocações, enfrentamentos com a polícia, imagens de 'Che' Guevara: uma mesma estética da liturgia do neo-comunismo vernáculo. Medem a reação à qual eventualmente se lhe irá subindo a aposta até que finalmente se imponham nas urnas: na aceleração da globalização este é um trabalho que não leva mais de 5 a 10 anos. Na América Latina, desde uma prefeitura a uma presidência deve-se chegar em não mais de 15 anos. Este prazo se reduz hoje em um entorno homogêneo de regimes neocomunistas. No caso dos Estados Unidos, desde a chegada de Obama, o país do norte se permeabilizou, amigável às correntes de esquerda.
Se continuar com a tentativa, o FSP também utilizará novos e falsos placebos opositores nos países que governa: já tentaram sem muito êxito com Wikileaks, que não contribuiu com nada de novo e agora, com Assange processado, utilizam os hackers “Anonymous”, com objetivo idêntico, os quais dizem lutar pela transparência, pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos.
Estes Anonymous da internet também são um coletivo “a-partidário, espontâneo e sem lideranças” ao mesmo tempo que consideram “mais que superada a velha dialética esquerda-direita”, desconhecendo as realidades dos países comunistas de hoje.
Do mesmo modo que seus predecessores, os Occupy são “um movimento sem líderes, a-partidário e espontâneo”. Como mostra dessa “espontaneidade” se lançaram à ocupação em Boston, San Francisco, Los Angeles, Portland e Chicago. O grupo Anonymous alentou a ocupação de 52 cidades dos Estados Unidos atuando coordenadamente com os ocupas e obtendo os apoios dos conhecidos socialistas: Noam Chomsky, Michael Moore, Juan Gelman, Yoko Ono e Susan Sarandon, entre outros.
Para 2012, um dos objetivos do FSP é a implantação, até o mês de abril, da Secretaria Regional Estados Unidos, com atividades em Los Angeles, Chicago, Boston e Nova York. Para eles, a esquerda não tem nos Estados Unidos uma verdadeira expressão eleitoral, e pretendem se erigir no futuro como essa opção.
Em seu próprio Documento-Base do Plano de Trabalho 2012, o Foro de São Paulo propõe fortalecer laços com os movimentos de resistência nos Estados Unidos, particularmente com os movimentos de defesa dos migrantes e os de resistência contra a crise como os chamados “ocupa” (occupy).
Assim se expressam:
“Não se deve passar por alto o movimento dos indignados e ocupas na Europa e Estados Unidos. Embora eles não representem uma alternativa eleitoral nem uma frente política homogênea, converteram-se em um referente político de resistência contra o neo-liberalismo”.
E lá estará o FSP nesta ocasião para continuar sua expansão nos Estados Unidos, mesmo sem ter alternativa eleitoral alguma para estas eleições, mas sim para garantir, através do voto latino, o triunfo de Obama, o que lhes permitirá afiançar-se, expandir-se e apresentar-se nas eleições parlamentares e/ou comunitárias em um curto prazo, sob a aparelhagem de algum partido “progressista”, e que tentará esconder os líderes de suas gêneses originária: Castro-Lula-FARC.
13 de março de 2012
Viviana Padelin integra a Frater-América - Fraternidad Libertaria Latinoamericana.
Tradução: Graça Salgueiro
O Foro de São Paulo vai pelo impensado, vai pelo desafio maior: nada melhor do que conquistar o “Império”, os próprios Estados Unidos.
Há quase um ano, Periodismo Sin Fronteras publicou o artigo “O Foro de São Paulo - XVII Reunião na Nicarágua", no qual se fazia referência aos objetivos do plano de trabalho do Foro de São Paulo (FSP) para o ano de 2011. Dentre os quais, constava: “Ampliar o desafio aos Estados Unidos e Europa, utilizando para isto residentes latino-americanos”.
Hoje, em meio da crise econômica européia, já montaram a Secretaria Regional Européia, com sede na Espanha, utilizando para isto a grande quantidade de residentes latino-americanos que vivem lá e que foram utilizados previamente nas manifestações sociais do 15-M, que deram origem ao movimento dos “indignados”, coletivo que se expande como modo de protesto com objetivos difusos, cujo único lema é “Democracia Real JÁ”.
Nada mais adequado que um movimento “apartidário” e “espontâneo” de gente indignada (não com o sistema capitalista, senão com a crise econômica) para que este seja apadrinhado pelo FSP. Uma nova fachada que outorga credibilidade a essas assembléias populares que são o pau-para-toda-obra embrionário do FSP em cada região.
O que para alguns não é mais que óbvio, para outros ainda é algo impossível. Porém, o Foro de São Paulo vai pelo impensado, vai pelo desafio maior: nada melhor do que conquistar o “Império”, os próprios Estados Unidos, incorporando lenta e progressivamente a metodologia de protesto e cultura socialista, algo que já foi provado com êxito na América do Sul.
Viram o modo: os “indignados” através dos “Occupy” ou “ocupas”, que não são mais que a versão remasterizada dos piqueteros argentinos, cortando pontes, avenidas, organizando assentamentos, acampamentos e assembléias em zonas públicas.
Provocações, enfrentamentos com a polícia, imagens de 'Che' Guevara: uma mesma estética da liturgia do neo-comunismo vernáculo. Medem a reação à qual eventualmente se lhe irá subindo a aposta até que finalmente se imponham nas urnas: na aceleração da globalização este é um trabalho que não leva mais de 5 a 10 anos. Na América Latina, desde uma prefeitura a uma presidência deve-se chegar em não mais de 15 anos. Este prazo se reduz hoje em um entorno homogêneo de regimes neocomunistas. No caso dos Estados Unidos, desde a chegada de Obama, o país do norte se permeabilizou, amigável às correntes de esquerda.
Se continuar com a tentativa, o FSP também utilizará novos e falsos placebos opositores nos países que governa: já tentaram sem muito êxito com Wikileaks, que não contribuiu com nada de novo e agora, com Assange processado, utilizam os hackers “Anonymous”, com objetivo idêntico, os quais dizem lutar pela transparência, pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos.
Estes Anonymous da internet também são um coletivo “a-partidário, espontâneo e sem lideranças” ao mesmo tempo que consideram “mais que superada a velha dialética esquerda-direita”, desconhecendo as realidades dos países comunistas de hoje.
Do mesmo modo que seus predecessores, os Occupy são “um movimento sem líderes, a-partidário e espontâneo”. Como mostra dessa “espontaneidade” se lançaram à ocupação em Boston, San Francisco, Los Angeles, Portland e Chicago. O grupo Anonymous alentou a ocupação de 52 cidades dos Estados Unidos atuando coordenadamente com os ocupas e obtendo os apoios dos conhecidos socialistas: Noam Chomsky, Michael Moore, Juan Gelman, Yoko Ono e Susan Sarandon, entre outros.
Para 2012, um dos objetivos do FSP é a implantação, até o mês de abril, da Secretaria Regional Estados Unidos, com atividades em Los Angeles, Chicago, Boston e Nova York. Para eles, a esquerda não tem nos Estados Unidos uma verdadeira expressão eleitoral, e pretendem se erigir no futuro como essa opção.
Em seu próprio Documento-Base do Plano de Trabalho 2012, o Foro de São Paulo propõe fortalecer laços com os movimentos de resistência nos Estados Unidos, particularmente com os movimentos de defesa dos migrantes e os de resistência contra a crise como os chamados “ocupa” (occupy).
Assim se expressam:
“Não se deve passar por alto o movimento dos indignados e ocupas na Europa e Estados Unidos. Embora eles não representem uma alternativa eleitoral nem uma frente política homogênea, converteram-se em um referente político de resistência contra o neo-liberalismo”.
E lá estará o FSP nesta ocasião para continuar sua expansão nos Estados Unidos, mesmo sem ter alternativa eleitoral alguma para estas eleições, mas sim para garantir, através do voto latino, o triunfo de Obama, o que lhes permitirá afiançar-se, expandir-se e apresentar-se nas eleições parlamentares e/ou comunitárias em um curto prazo, sob a aparelhagem de algum partido “progressista”, e que tentará esconder os líderes de suas gêneses originária: Castro-Lula-FARC.
13 de março de 2012
Viviana Padelin integra a Frater-América - Fraternidad Libertaria Latinoamericana.
Tradução: Graça Salgueiro
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