Imóveis, fazenda, restaurantes e
locadora engordaram o patrimônio da família do governador do DF em mais de R$ 10
milhões.
A PF investiga como a mãe, os irmãos e
um sobrinho do petista acumularam essa riqueza em apenas três
anos.
Na mira da PF por suspeitas de
enriquecimento ilícito, irmão de Agnelo, o ex-vigilante Ailton de Queiroz (à
dir.), adquiriu uma locadora de carros,a franquia de uma confeitaria e ainda
ajudou a irmã, Anailde Queiroz,a fechar a compra de uma fazenda em Água Fria de
Goiás.
O inquérito que apura o envolvimento do
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, num esquema de desvio de verbas
do Ministério do Esporte deverá atingir também sua família.
A Polícia Federal e o Núcleo de Combate às
Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF investigam o aumento
vertiginoso do patrimônio da mãe, dos irmãos e até de um sobrinho de
Agnelo.
Delegados e procuradores querem entender como a
família do governador, que sempre fez questão de enfatizar sua origem humilde,
passou a ostentar em apenas três anos mais de R$ 10 milhões em bens.
De acordo com as investigações, os sinais de
enriquecimento surgem no início de 2008 e vão até setembro deste ano. Agnelo
deixou o Esporte em 2006 e logo depois se tornou diretor da Anvisa (Agência de
Vigilância Sanitária), de onde saiu em 2010 para concorrer ao governo da capital
do País.
Levantamento preliminar da PF indica que os
familiares do político petista não têm fontes de renda para justificar negócios
celebrados nos últimos três anos, que incluem a compra de quatro franquias de
restaurantes famosos de fast-food e da mais importante confeitaria de Brasília,
todas localizadas nos principais shoppings da capital.
Carros de luxo, apartamentos e até uma fazenda
de gado em Goiás também constituem o que os investigadores batizaram de “império
dos Queiroz”.
O MP do DF e a PF suspeitam que a família de
Agnelo esteja sendo utilizada para esquentar o dinheiro desviado dos cofres
públicos. Além de ter conversado informalmente com agentes que apuram o caso,
ISTOÉ obteve com exclusividade parte dos documentos que fundamentam a
investigação.
O primeiro na lista dos familiares de Agnelo
investigados pela Polícia Federal é o ex-vigilante Ailton Carvalho de Queiroz,
51 anos, irmão mais novo do governador.
Ailton tornou-se conhecido da mídia em 2008,
quando trabalhava na área de inteligência do Supremo Tribunal Federal. Foi ele o
responsável pela elaboração de um relatório que indicava a suposta existência de
grampos contra ministros do STF. Logo depois do escândalo, o vigilante se
licenciou do trabalho.
Em seguida, investiu R$ 200 mil numa locadora
de veículos chamada Allocare. A empresa, que funciona numa pequena sala
comercial na cidade-satélite do Guará, é administrada pelo filho Yuri.
Com 23 anos de idade, Yuri tem renda presumida
pelo Serasa de R$ 1,1 mil, mas possui em seu nome quatro veículos de luxo, entre
eles uma picape Mitsubishi L200 Triton 2011, avaliada em mais de R$ 100 mil.
Em maio passado, Ailton lançou-se num novo
negócio. Ele e a irmã Anailde Queiroz Dutra, 49 anos, investiram quase R$ 800
mil numa franquia da Torteria di Lorenza, no Brasília Shopping, o principal
shopping do Plano Piloto.
Irmã mais nova do governador, Anailde é outra
que entrou na mira da PF. Além da Torteria, ela e o marido, Rui Dutra, figuram
como proprietários de duas franquias da rede de fast-food Bon Grillê, uma no
mesmo Brasília Shopping e outra no Pátio Brasil, também localizado na região
central da cidade. Anailde, formada em economia em Salvador, tentou alguns
concursos públicos em Brasília, mas não teve sucesso.
De uma hora para outra, no entanto, virou
milionária. Cada franquia da Bon Grillê custa em média R$ 350 mil. O valor total
do investimento num desses shoppings, considerando luva, taxas, equipamento e
insumos, pode chegar a R$ 1 milhão, segundo avaliações do mercado.
As duas franquias foram adquiridas em 2008. A
do Brasília Shopping foi comprada por Anailde em sociedade com outra irmã de
Agnelo, Anaide Carvalho de Queiroz, 58 anos. Em 2010, Anaide vendeu sua parte
para Rui Dutra.
A renda mensal de Anailde, de acordo com o
Serasa, gira em torno de R$ 1,7 mil, enquanto a de Anaide Queiroz chega a R$ 1,8
mil.
Já os rendimentos da mãe dos irmãos Queiroz,
Alaíde, na mesma base de dados, é de aproximadamente R$ 1,2 mil.
MEDIADOR
Glauco Alves negociou as franquias com a
família Queiroz e atuou na Anvisa, que foi dirigida por Agnelo
Além das franquias, a família de Agnelo expande
seus domínios fundiários. Em setembro, Anailde Queiroz Dutra tornou-se
proprietária de 560 hectares de terra no município de Água Fria de Goiás, a 170
km de Brasília. A Fazenda Cachoeira, com área equivalente a 560 campos de
futebol, foi comprada do oftalmologista Celso Inácio dos Santos em dinheiro, à
vista.
Para não fazer alarde e desembolsar menos com
imposto, o imóvel foi registrado no cartório local por R$ 800 mil. A PF, no
entanto, apurou junto a autoridades locais que a compra foi feita por R$ 1,8
milhão.
E não foi feita por Anailde, como consta na
escritura, mas pelo irmão Ailton Carvalho de Queiroz.
As compras da rede de restaurantes e da
confeitaria carregam outro ingrediente que intriga a Polícia Federal. Antes de
passarem para as mãos dos familiares de Agnelo, essas franquias foram compradas
pela dupla Glauco Alves e Santos e Juliana Suaiden Alves e Santos.
O casal é o mesmo que vendeu em 2007 para o
governador do DF a mansão em que ele mora hoje com a primeira-dama Ilza Maria.
Os investigadores descobriram que logo depois
de fecharem o negócio da casa, Glauco passou a atuar na Anvisa por meio das
consultorias Plannejare e Saúde Importação de Produtos Médicos.
Agnelo tornou-se diretor da agência no mesmo
ano de 2007 e, recentemente, foi acusado de receber propina para beneficiar uma
empresa do setor.
A PF suspeita que Glauco e Juliana emprestaram
seus nomes para a compra das franquias, com o compromisso de repassarem essas
propriedades ao clã dos Queiroz. Como pagamento pelo serviço, o casal teria
recebido outra franquia da Torteria di Lorenza, na Asa Sul, e uma pequena
cafeteria, a Café com Bolacha, no bairro Sudoeste.
Na sexta-feira 9, através de sua assessoria, o
governador Agnelo afirmou desconhecer a investigação. Já Glauco Alves, o homem
que negociou as franquias, foi abordado pela reportagem quando chegava à
Torteria da 302 Sul a bordo de uma Mitsubishi Outlander.
Perguntado sobre os negócios com Agnelo, ele
pediu tempo para pensar. “Estou com a cabeça cheia. Mas te ligo depois”, disse.
Ailton, o irmão mais novo de Agnelo, reagiu com agressividade ao contato da
reportagem. Disse que nunca fez negócios com o irmão ou com o governo e lançou
ameaças.
“Não admito que ninguém se meta em minha vida,
tá certo?!”, afirmou.
Ailton deu a entender que sabe onde o repórter
mora e até a marca da motocicleta que usa no dia a dia.
“A única coisa é que de vez em quando ela (a
moto) pega fogo e explode”, disse.
Questionado se estava ameaçando o repórter, o
irmão de Agnelo perdeu a paciência. “Você sabe onde eu trabalhava? Acha que está
lidando com algum boboca?
Depois a gente resolve.
Vou ter o que rebater depois na Justiça e por
outros meios.
Você se cuida!”
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14 DE JUNHO DE 2012