FHC e Sérgio Guerra lançaram, como se informa no post abaixo, a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência em 2014.
O mineiro, como Tim Maria, entoou um “faz de conta que ainda é cedo” e coisa e tal. E depois sugeriu que é preciso ouvir a sociedade para criar uma plataforma para os próximos 20 anos… Os governantes brasileiros andam mais ambiciosos sobre o futuro do que Stálin. Já chego lá.
Nesta manhã, comentei uma entrevista de FHC à Folha (ver post). Alguns tucanos estão muito bravos comigo. Compreendo seus motivos, embora eles pareçam não compreender a história e, segundo notei, o que escrevi.
Candidatura à Presidência não pode ser uma personagem em busca de um roteiro. O roteiro tem de vir primeiro: candidato (seja lá quem for) em nome do quê? De quais propostas? De quais valores?
Acenando a quais setores da sociedade em particular para, depois, buscar o apoio geral? Sem isso, pouco importa se o escolhido é Schopenhauer ou uma besta ao quadrado; um encantador de multidões ou um poste – desses com os quais Lula vem, segundo ele, “iluminando” o país. A ideia tem precedência sobre o nome.
Nesse particular, é evidente, o PT está muito à frente dos tucanos. Ainda que suas formulações e prefigurações sejam falsas como notas de R$ 3 (esse é outro problema), o fato é que os petistas perceberam que a construção da narrativa deve vir primeiro.
É quase tautológico, mas tem de ser dito. Política se faz fazendo. Inexiste essa instância de, sei lá como chamar, recolhimento de expectativas para, então, numa fase posterior, elaborar uma proposta e, na sequência, seduzir as multidões. Eu não sei onde os tucanos colheram esse modelo trifásico de fazer política.
Se existir, é coisa que só dá no Brasil, como jabuticaba e pororoca (não estou certo de que a pororoca seja apenas nossa, não; algum geógrafo –se é que ainda os há ocupados da geografia física – me conte nos comentários…).
A realidade política está em curso. Não vai se lembrar de acontecer só a partir de meados de 2013 ou de janeiro de 2014. As coisas já estão aí.
O que os tucanos – e Aécio em particular – pensam, sei lá, das cotas raciais nas universidades federais, do amplo programa de socorro dos bancos oficiais à economia, da presença crescente do estado em determinadas áreas, da corrupção desbragada, até – sim, até isto!!! – do novo técnico da Seleção?
Ora, fazer política é apresentar-se como alternativa permanente de poder e de visão de mundo, não apenas quando as urnas aparecem no horizonte. Isso reproduz uma visão ultrapassada do confronto de ideias.
Se os tucanos silenciam quase sempre sobre quase tudo, por que os brasileiros deverão acreditar que são mesmo uma alternativa de poder a esses outros, que falam pelos cotovelos e são capazes de politizar até os ataques do PCC?
Sim, não sendo a alternativa ainda pior do que o petismo – e Aécio Neves não é; vamos ver se haverá outras -, eu votarei no adversário do PT. Não havendo nada melhor, então anularei gloriosamente meu voto, deixando claro que nada me serve. Logo, a possibilidade de eu condescender com a turma que aí está é nenhuma!
Mas este sou eu. Meu voto – sobretudo as minhas recusas — tem um matiz fortemente ideológico. É necessário que um partido de oposição, como o PSDB, escolha, inicialmente, uma parcela da sociedade brasileira para dizer por que é preciso mudar de rumo. Tão logo deixe isso claro para si mesmo, aí é o caso de conquistar mais gente. Não vejo nada disso em curso.
O que ouço é silêncio e equívoco – como a tentativa canhestra de emular com o petismo em certas abordagens politicamente corretas (tratei do assunto nesta manhã). Se a polarização for Aécio-Dilma, certamente votarei em Aécio. A questão é saber, dado o andar da carruagem, quantos votarão comigo…
Unidade
O PSDB precisa acenar com um fato novo à população brasileira – e esse fato novo tem de corresponder à realidade: construir a unidade partidária, o que não existe desde a disputa de 2002. Em 1994 e em 1998, essa questão não se colocava porque o elemento que garantia a tropa compacta se chamava “Plano Real”.
Serra teve a sua candidatura sabotada internamente em 2002 e em 2010; Alckmin, em 2006. Haverá unidade em 2014? Eis o ponto. Se não começar a ser construída já – e não acho que esteja sendo –, lá se vai repetir o número de sempre, desta feita tendo Aécio no papel do “cristianizado”.
As circunstâncias concorrem para que seja ele o candidato do partido à Presidência. Essa questão me parece resolvida – desde que ele queira, de fato, ser o candidato e que as contingências mineiras não o façam desistir. Nesse sentido, FHC e Sérgio Guerra fazem bem em anunciar o seu nome como o provável presidenciável do partido. Mas não há roteiro e narrativa; só personagem.
Vinte anos?
Os políticos brasileiros precisam ser mais modestos, não é? Se for o caso, que tenham a modéstia de Stálin, que fazia, no máximo, planos quinquenais de governo. Por aqui, já se vai logo pensando, como fez Aécio, nos próximos 20 anos.
É muito tempo. Trata-se, na verdade, de uma bobagem.
Vejam o Chile. O presidente tem mandato de quatro anos e não pode se reeleger. Seus planos têm, pois, quatro anos! Nos EUA, um presidente pode ficar oito no poder, mas passa por uma espécie de referendo depois de quatro. Um democrata ou republicano que dissesse estar elaborando um plano para os próximos 20 seria tido como um lunático.
Ninguém precisa de tanto tempo. Fazer oposição a partir da semana que vem já é um bom começo.
03 de dezembro de 2012