"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MARCOS VALÉRIO PEGA 40 ANOS DE CADEIA E MULTA DE QUASE R$ 3 MILHÕES

 

Nas votações para a chamada dosimetria (extensão da pena) o ministro Dias Toffoli está usando uma estrátegia constrangedora, seguindo invariavelmente o voto do revisor Ricardo Lewandowski. Com isso, vai se padronizando o placar de 8 votos a 2 na fixação das condenações.


“Você não perde por esperar…”

Por exemplo, em seus argumentos para definir a pena de Marcos Valério pelas nove acusações de corrupção ativa por oferecer vantagens indevidas aos parlamentares em troca de votos na Câmara, o ministro relator Joaquim Barbosa entendeu que se trata de um delito continuado, segundo o qual os crimes são considerados continuação uns dos outros. Nesse caso, a pena aplicada é a de um dos crimes, com aumento entre um sexto e dois terços.

Barbosa então sugeriu a pena de 7 anos de prisão, mais 225 dias-multa para a terceira condenação por corrupção ativa de Valério, por compra de apoio no Congresso.

O ministro revisor Ricardo Lewandowski discordou, porque o relator usava a lei de 2003, para diminuir a pena. E desta vez, pasmem, o revisor tinha razão. “A corrupção ativa de parlamentares deu-se ao longo dos anos de 2003, 2004 e 2005″, disse Lewandowski sobre os crimes de corrupção de Valério. Mas errou a dosimetria e sugeriu a pena de 4 anos e 1 mês de reclusão, mais 19 dias multa.

O ministro Celso de Mello apoiou Lewandowski e Barbosa pediu um intervalo para mudar a lei em que se baseou e calcular sua pena.

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A LEI ERA MAIS DURA…

Porém, na retomada da sessão, Barbosa usou a nova lei mas com os critérios de uma súmula vinculante do tribunal que determina que seja aplicada a lei mais dura quando o crime é em continuidade delitiva. Propõs então a pena de 7 anos e 8 meses de prisão, ou seja, 8 meses a mais do que a pena anterior

Lewandowski, como sempre, não aceitou e reafirmou sua pena de 4 anos e 1 mês de reclusão, mais 19 dias multa. A ministra Rosa Weber e Luiz Fux acompanharam o relator, enquanto Dias Toffoli seguiu o revisor, grande novidade.

Cármen Lúcia e Gilmar Mendes acompanharam o relator, Marco Aurélio não estava mais presente no plenário e só votará na sessão de quinta-feira, e Celso de Mello e o presidente Ayres Britto acompanharam Barbosa, que venceu a parada por 8 a 2.

Resumindo: ao final, com a soma de todas as penas, Valério cumprirá 40 anos, 1 mês e seis dias, e pagará R$ 2,783 milhões em multa. Nada mal.

24 de outubro de 2012
Carlos Newton

O SÉTIMO ELEMENTO

 

O controlador do Banco Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Índio da Costa, foi preso porque deu prejuízos a terceiros. Está sendo acusado de ter inventado ativos que não existiam, produzido falso lucro, manipulado contabilidade. Com base nisso, vendeu títulos no exterior e captou junto a fundos de pensão. Enganou esses investidores, que agora amargarão perdas.
 
Ele e seus advogados podem provar o contrário, mas o Banco Central encaminhou a questão ao Ministério Público com documentação mostrando que o banco não adotou as boas práticas.
 
Foi a fiscalização do BC que viu primeiro os desequilíbrios patrimoniais e irregularidades no Cruzeiro do Sul, da mesma forma que encontrou os problemas em todos os outros seis bancos que quebraram nos últimos dois anos.

O BVA, na sexta-feira, foi o sétimo banco em que o BC encontrou desequilíbrio entre ativos e passivos e adoção de práticas estranhas para falsificar a situação do banco.
 
O grande problema nesses casos de quebra de bancos é que ainda não foi sanada a diferença de tratamento entre as instituições que quebraram primeiro e as que estão quebrando agora.
 
O PanAmericano também deu prejuízo a terceiros. Aliás, uma importante terceira: a Caixa Econômica Federal, que pagou R$ 739 milhões para ser sócia de um banco falido, no qual teve que fazer novos aportes de capital.
 
Os R$ 739 milhões foram queimados apenas pelo direito de ser sócia da encrenca. Para resolver o problema, foi mais caro. A Caixa subscreveu mais R$ 658 milhões em ações e R$ 1,8 bilhão foram gastos na compra de carteiras de crédito do banco.
 
Deu prejuízo também para um fundo coletivo criado para garantir os depósitos dos clientes: o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). No início desta crise, o FGC virou um hospital para o qual foram os bancos Matone, PanAmericano, Schahin.
 
Em todos esses, o FGC perdeu muito dinheiro. Vendeu sua parte no PanAmericano por um décimo do valor. E que bom que apareceu um comprador, o BTG Pactual, porque sem ele a situação da Caixa seria absurda.
 
Quanto maior for o rigor do BC, e mais bem fundamentada for a denúncia do Ministério Público em relação aos bancos quebrados, mais dissonante ficará o tratamento condescendente dado a outros, principalmente ao PanAmericano, onde foram encontradas fraudes, invenções de ativos, manipulação contábeis, crimes iguais aos que supostamente foram encontrados no Cruzeiro do Sul.
 
Luis Octavio Índio da Costa pediu liberação de seus bens, e o pedido foi recusado pelo STJ. Seus advogados argumentaram que ele deveria ao menos ter acesso aos rendimentos dos seus ativos porque o ex-banqueiro das exuberantes festas não tem como pagar suas contas de subsistência. A Justiça em primeira instância recusou.
 
Já os bens dos administradores e controladores do banco PanAmericano permanecem completamente livres e, no caso dos ex-controladores, estão neste momento sendo negociados.
 
Qual a diferença? O FGC colocou no banco o dinheiro que foi necessário — a bagatela de R$ 4,3 bilhões — para reequilibrá-lo e vendê-lo. Assim ficou parecendo uma operação normal de mercado; uma venda e não um resgate.
 
A Caixa depois foi chamada a depositar mais dinheiro para capitalizar o banco. A CEF acaba ela própria de ser capitalizada pelo Tesouro.
 
A história dos atuais eventos tem essa fratura: para o mesmo problema, duas soluções distintas. Na sexta-feira, o Banco Central anunciou o sétimo banco quebrado em dois anos. É demais para serem eventos separados. Por isso, o BC precisa continuar no caminho de intensificar a fiscalização.

24 de outubro de 2012
Miriam Leitão, O Globo

FRASE DO DIA



O revisor [ministro Ricardo Lewandowski] barateia demais o crime de corrupção.



Joaquim Barbosa, ministro do STF e relator do processo do mensalão

URNA NÃO É LAVANDERIA

A última sessão de votação sobre o mérito da denúncia do mensalão proporcionou um desfecho de precisão magistral contida na constatação do ministro Celso de Mello: "Estamos a condenar não atores ou agentes políticos, mas agentes de crimes".

Não foi um mero resultado de 6 a 4 pela condenação dos réus nem só a confirmação de que uma quadrilha tomou de assalto o aparelho de Estado atuando por dois anos e meio sob as vistas do então presidente Luiz Inácio da Silva.

Foi bem mais que isso: deu-se a indispensável separação entre a atividade política e o exercício da ilegalidade continuada. Por ora uma dissociação teórica, mas que servirá à melhoria das práticas pelo que encerra de exemplar.

O decano da Corte expressou-se mais uma vez didático. Deu às coisas os nomes que elas realmente têm. O processo que agora se encerra tratou de delinquência pura e simples, não julgou o exercício da política.

Se esta foi contaminada por aquela, mais que depressa é preciso sanear o ambiente. Em primeiro lugar não confundindo as duas, muito menos se justificando uma (a política) com a outra (a ilegalidade) como se houvesse aí uma relação de indissociável dependência.

Em outras palavras, não precisa ser assim, não deve ser assim e, se houver quem ainda insista que assim seja está consignado pelo Supremo Tribunal Federal: seus autores não esperem ser tratados como políticos, pois serão vistos como os meliantes que efetivamente são.

Criminosos comuns, passíveis de cumprir pena de prisão, comparados a mafiosos e a bandidos de facções que infestam as grandes cidades.

Pessoas que, daqui em diante, não terão como recorrer ao discurso de que as urnas os absolvem, pois, como disse o ministro Celso de Mello, "votações expressivas, embora significativas, não constituem causas para a extinção da punibilidade".

Na sessão do "fecho" do processo, destacaram-se também os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ayres Britto na exposição detalhada do caráter social e legalmente pernicioso da atuação desse tipo de quadrilha.

Celso de Mello, porém, foi ao ponto que ainda não havia sido esmiuçado ao dizer que urna não é lavanderia de ilícitos, voto não é indulto e eleição não torna ninguém imune às exigências do devido processo legal.

Prestação de contas. Sem pretender discutir o mérito da convicção de cada um, é de se registrar uma acentuada diferença entre os votos que absolveram e os que condenaram os réus por formação de quadrilha.

As absolvições foram rápidas - à velocidade de um relâmpago no caso do ministro Dias Toffoli - sem grandes argumentações, enquanto as condenações se escoraram em longas fundamentações doutrinárias, jurídicas, sociais e morais.

Tiveram, assim, maior peso no tocante à explicação ao público sobre os motivos que levaram à formação do voto.

Nem me fale. O ministro Marco Aurélio Mello contou no voto final do processo um "bastidor" de 2006, quando avisou ao presidente do Senado que seria melhor o presidente Lula não ir à posse dele na presidência do Tribunal Superior Eleitoral porque no discurso daria um forte "recado".

A mensagem ficou inscrita entre peças memoráveis e falava da "rotina de desfaçatez" que havia tomado conta da República. Marco Aurélio dava ali a indicação de que o clima preponderante no STF era de tolerância zero e pela primeira vez desmascarava as entranhas do escândalo.

Pois bem. Mesmo sem saber do conteúdo do discurso, Lula - que voltava de uma viagem ao Chile e já havia posto a posse de Marco Aurélio na agenda - achou melhor não ouvir e desistiu de ir.

24 de outubro de 2012
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

ALTIVEZ É ISSO!

“Para a aliança de 2014, que o Sérgio Cabral seja o vice da Dilma. Isso é que é relevante”.


Eduardo Paes, prefeito reeleito do Rio de Janeiro, tentando mostrar, em 14 de outubro, que agora só rasteja para o governador Sérgio Cabral.

“Sim, Dilma e Temer”.

Eduardo Paes e Sérgio Cabral, em dueto, rastejando juntos em homenagem ao vice-presidente Michel Temer.

“Foi um reconhecimento da liderança de Cabral, sem intenção de afrontar Temer”.

Eduardo Paes, nesta terça-feira, reafirmando que rasteja com o mesmo empenho tanto para Sérgio Cabral quanto para Michel Temer.

24 de outubro de 2012
sanatório geral
Augusto Nunes

IMAGEM DO DIA

 
Agricultor ateia fogo ao próprio corpo em uma rua de Xiahe. Está é o segundo episódio de suicídio em dois dias perto do monastério de Labrang, em Xiahe. A região têm sido palco de protestos de monges em decorrência de conflitos étnicos no Tibete
Agricultor ateia fogo ao próprio corpo em uma rua de Xiahe. Está é o segundo episódio de suicídio em dois dias perto do monastério de Labrang, em Xiahe. A região têm sido palco de protestos de monges em decorrência de conflitos étnicos no Tibete - AP
 
24 de outubro de 2012

"OI, OI, OI!"

 
Por que esse extraordinário sucesso da música que embalou a não menos formidável novela? Eu digo que o sensual oi, oi, oi está muito perto do ai, ai, ai que separa o riso da lágrima, o gozo do sofrimento e o luxo do lixo. E, para além disso, ela reúne - cantando - a pobreza vergonhosa com a brutal riqueza muitas vezes ilegítima dos abastados brasileiros.
 
Ouvir um "oi" no lugar de um "ai" (ou vice-versa) é o sinal da aceitação da desigualdade como um fato definitivo da vida. Esse diferencial de dissimulação e ambiguidade que tem sido a balada da maioria dos políticos e o ponto central da grande polaridade ideológica que nos rodeia: a esquerda dos "ai" e a direita dos "oi".

Entre esses polos, porém, há avenidas. Elos como a ponte e a escada a ligar o céu com a terra, a corrupção com a honestidade, e a vingança à redenção. A entrega final às forças da vida que formam o mar do amor - essa afeição confiante que tem mais potencial revolucionário do que todas as lutas pelo poder. Redenção que, nessa Avenida Brasil, não impediu que os maus pagassem por seus crimes.

Foi o que vi na novela do João Emanuel Carneiro, realizada por uma equipe e um conjunto de atores - com menção especial para Adriana Esteves - extraordinários. A trama gira em torno de avenidas, túneis e interdependências que unem e acentuam os dualismos e as contradições. Donde a sua pegada. Aliás, os dualismos sempre escondem as mediações e os englobamentos - na novela, as constantes reviravoltas.

No início, pensei estar diante de um Conde de Monte Cristo de saia, pois a menina abandonada segue o roteiro de Alexandre Dumas. Edmundo é condenado à prisão na ilha; Nina é expelida de casa para viver numa área marginal. Vai para o "lixão" marcado pela sujeira, símbolo dos seus algozes: a madrasta má e conscientemente adúltera, e o amante. Em seguida, graças a um benfeitor, vai para um lugar neutro onde pode arquitetar sua vingança.

Dentro do ninho dos carrascos, ela obtém os recursos (o tesouro) indispensáveis para a realização de uma reciprocidade negativa: confrontar e punir em vez de dar e perdoar. Edmundo vira um conde; Nina vira Rita, a empregada de Carminha que seduz pela arte culinária e pelo encanto. Como Dona Flor, ela é mestra das comidas que comem. E aí estamos numa familiar triangulação social brasileira.

Porque a vingança brasileira não termina liquidando a inimiga, mas acaba num abraço redentor. Ademais, os motores do drama são mulheres. Em toda a narrativa os homens, que se veem como machões e poderosos, são varridos pelo tufão das armas femininas que vão da volúpia (Suelen e Tessalia) à ingenuidade (Ivana), culminando com a malandragem que se transforma em corrupção, pecado e tabu em Carminha, o centro do drama.

O feminino é a avenida que relaciona de modo irremediável a zona norte (onde, dizem, está a cafonice e a pobreza) com a zona sul (dos elegantes e dos ricos). Um igualitarismo anárquico e humilde, como o futebol do craque Tufão, é ao lado da deslealdade amorosa e do enriquecimento ilícito - o absurdo do dinheiro pelo dinheiro - um código comum entre o Divino e a nobre "zona" sul carioca.

O centro da trama é o triângulo brasileiro entre Carminha, Rita/Nina e Tufão. Duas mulheres ao lado do craque de futebol que resolve tudo no campo mas, em casa, faz como os políticos: não sabe de nada. Triangulações paralelas e cômicas, como o do Cadinho com suas três mulheres e da Suelen com seus dois homens, acentuam a principal e se resolvem antes que se possa dar um fim a uma traição inclassificável. A que sofre Tufão, o herói futebolístico sem malandragens, transformado em corno e provedor exemplar.

Não se trata, como dizem, de uma novela sobre o subúrbio, porque o subúrbio é um pedaço da cidade. O lixo é a contrapartida do luxo, tal como a pobreza tem como contraponto a aceitação da desigualdade e a sua manipulação política por meio da corrupção ideológica e do dinheiro.

Ademais, os personagens ricos se misturam aos pobres porque a sua diferença não é de grana. Todos acabam num Divino ligado a Ipanema pelo amor, pela música e pelas famílias de carne e sangue que nos controlam e pela famílias futebolísticas que nos unem no momento do gol.

Finalmente, reitero uma boa novidade. Carminha e Santiago, seu pai abusivo, pagam pelos seus crimes. Avenida Brasil termina no Brasil dos nossos sonhos: um sistema no qual os corruptos são desmascarados e os maus pagam pelos seus malfeitos.

O mágico das novelas é contar histórias para nós mesmos. Mas o fascinante em todo drama é que ele tem um começo e um fim. Nossa aflição é ver que, no cenário brasileiro, existem coisas que apenas agora começam a terminar positivamente. Que assim seja...

PS: Esta crônica é para a Fátima Bernardes e a todos que tomaram parte no seu programa para discutir a novela.

24 de outubro de 2012
Roberto DaMatta, O Estado de S.Paulo

FOTÓGRAFO DE AUSCHWITZ, WILHELM BRASSE MORRE AOS 95 ANOS

 
Brasse tirou 50 mil fotos durante os cinco anos que passou no campo de concentração


Foto de uma prisioneira de Auschwitz, tirada por Wilhelm Brasse
Foto: AP/Wilhelm Brasse
Foto de uma prisioneira de Auschwitz, tirada por Wilhelm BrasseAP/Wilhelm Brasse

VARSÓVIA — Wilhelm Brasse, ex-prisioneiro de Auschwitz cujas fotografias do interior do campo de morte nazista forneceram um registro histórico arrepiante dos horrores cometidos no local, morreu ao 95 anos, disse uma historiadora do Museu Auschwitz, nesta quarta-feira. Brasse foi enviado ao campo depois de ser pego em 1940 tentando fugir da Polônia ocupada pelos nazistas para se unir aos militares poloneses no exílio.

Quando seus carcereiros de Auschwitz descobriram que ele era um fotógrafo experiente, determinaram que tirasse fotos dos prisioneiros para os arquivos internos da prisão e para registrar as visitas dos oficiais alemães do alto escalão para a posteridade. Brasse - que trabalhava em um setor em que tinha de arrastar os corpos das câmaras de gás para serem incinerados - também recebeu ordens de tirar fotos das experiências médicas nos presos.

- Ele tentou voltar para a fotografia (depois da guerra), mas era muito difícil para ele - disse a historiadora do museu de Auschwitz Teresa Wontor-Cichy. - O fato de ter tirado tais fotos era perturbador para ele.

Durante os cinco anos que passou no campo, Brasse tirou cerca de 50 mil fotos, das quais quase 40 mil estão intactas. O fotógrafo, que tinha ascendência austríaca e polonesa, foi ativo na montagem do museu de Auschwitz e passou os anos depois da guerra ajudando a educar jovens, em especial alemães, sobre o holocausto.

Os nazistas mataram 1,5 milhão de pessoas, a maioria judeus, em Auschwitz, um campo situado perto do vilarejo polonês de Oswiecim. Entre os poucos registros fotográficos do campo da morte, as fotos de Brasse foram recuperadas dos arquivos nazistas no fim da 2ª Guerra Mundial e agora são uma peça-chave nas exposições do museu.

Em 2005, o diretor polonês Irek Dobrowolski lançou um documentário sobre a vida de Brasse, chamado “O Retratista”. O fotógrafo será enterrado na quinta-feira na cidade de Zywiec, no sul da Polônia.

24 de outubro de 2012
O GLOBO com Reuters

"ESTAMOS A CONDENAR NÃO ATORES OU AGENTES POLÍTICOS, MAS AGENTES DE CRIMES".

 
A última sessão de votação sobre o mérito da denúncia do mensalão proporcionou um desfecho de precisão magistral contida na constatação do ministro Celso de Mello: "Estamos a condenar não atores ou agentes políticos, mas agentes de crimes".

Não foi um mero resultado de 6 a 4 pela condenação dos réus nem só a confirmação de que uma quadrilha tomou de assalto o aparelho de Estado atuando por dois anos e meio sob as vistas do então presidente Luiz Inácio da Silva.

Foi bem mais que isso: deu-se a indispensável separação entre a atividade política e o exercício da ilegalidade continuada. Por ora uma dissociação teórica, mas que servirá à melhoria das práticas pelo que encerra de exemplar.

O decano da Corte expressou-se mais uma vez didático. Deu às coisas os nomes que elas realmente têm. O processo que agora se encerra tratou de delinquência pura e simples, não julgou o exercício da política.

Se esta foi contaminada por aquela, mais que depressa é preciso sanear o ambiente. Em primeiro lugar não confundindo as duas, muito menos se justificando uma (a política) com a outra (a ilegalidade) como se houvesse aí uma relação de indissociável dependência.

Em outras palavras, não precisa ser assim, não deve ser assim e, se houver quem ainda insista que assim seja está consignado pelo Supremo Tribunal Federal: seus autores não esperem ser tratados como políticos, pois serão vistos como os meliantes que efetivamente são.

Criminosos comuns, passíveis de cumprir pena de prisão, comparados a mafiosos e a bandidos de facções que infestam as grandes cidades.

Pessoas que, daqui em diante, não terão como recorrer ao discurso de que as urnas os absolvem, pois, como disse o ministro Celso de Mello, "votações expressivas, embora significativas, não constituem causas para a extinção da punibilidade".

Na sessão do "fecho" do processo, destacaram-se também os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ayres Britto na exposição detalhada do caráter social e legalmente pernicioso da atuação desse tipo de quadrilha.

Celso de Mello, porém, foi ao ponto que ainda não havia sido esmiuçado ao dizer que urna não é lavanderia de ilícitos, voto não é indulto e eleição não torna ninguém imune às exigências do devido processo legal.

Prestação de contas. Sem pretender discutir o mérito da convicção de cada um, é de se registrar uma acentuada diferença entre os votos que absolveram e os que condenaram os réus por formação de quadrilha.

As absolvições foram rápidas - à velocidade de um relâmpago no caso do ministro Dias Toffoli - sem grandes argumentações, enquanto as condenações se escoraram em longas fundamentações doutrinárias, jurídicas, sociais e morais.

Tiveram, assim, maior peso no tocante à explicação ao público sobre os motivos que levaram à formação do voto.

Nem me fale. O ministro Marco Aurélio Mello contou no voto final do processo um "bastidor" de 2006, quando avisou ao presidente do Senado que seria melhor o presidente Lula não ir à posse dele na presidência do Tribunal Superior Eleitoral porque no discurso daria um forte "recado".

A mensagem ficou inscrita entre peças memoráveis e falava da "rotina de desfaçatez" que havia tomado conta da República. Marco Aurélio dava ali a indicação de que o clima preponderante no STF era de tolerância zero e pela primeira vez desmascarava as entranhas do escândalo.

Pois bem. Mesmo sem saber do conteúdo do discurso, Lula - que voltava de uma viagem ao Chile e já havia posto a posse de Marco Aurélio na agenda - achou melhor não ouvir e desistiu de ir.

24 de outubro de 2012
Dora Kramer - O Estado de São Paulo

"LULA DEVERIA TER A HONESTIDADE DE ADMITIR QUE ACREDITOU NA IMPUNIDADE"

As três fatias do bolo eleitoral
 

 
 
 O PT sabe avançar na agenda alheia, mas, desde 2006, a oposição, petrificada, prega para os convertidos

FALTAM POUCOS dias para o desfecho da eleição municipal e são fortes os sinais de que o PT terá o que comemorar. Qual a explicação para o desempenho dos companheiros se a economia vai devagar, quase parando, e a cúpula do partido de 2005 está a caminho do cárcere?

Aqui vai uma tentativa: desde 2002, quando Lula assinou a Carta aos Brasileiros e venceu a eleição incorporando pilares da política econômica de Fernando Henrique Cardoso, o PT move-se livremente sobre o campo adversário (quem quiser, pode dizer que ele vai à direita, mas essa imagem é insuficiente).

Já a oposição, petrificada, não consegue sair do lugar. Em alguns momentos, radicaliza-se, incorporando clarinadas do conservadorismo europeu e americano.

O tema do aborto, do "kit gay" e a mobilização do cardeal de São Paulo ao estilo da Liga Eleitoral Católica dos anos 30, exemplificam essa tendência. (Registre-se aqui a falta que faz Ruth Cardoso. Com ela, não haveria hipótese de isso acontecer.)

Admita-se que o eleitorado se divide em três fatias. Uma detesta o PT e tem horror a Lula. Outra, no meio, pode ir para qualquer lado. O terceiro bloco gosta de Nosso Guia e não se incomoda quando ele pede que vote em seus postes. Se um bloco se move e o outro fica parado, sempre que houver eleição, o PT prevalecerá.

Some-se à paralisia da oposição uma ilusão retórica. Desde 2010 suas campanhas eleitorais estruturam-se como pregações aos convertidos. O sujeito tem horror a Lula, ouve os candidatos que o combatem e fica duas vezes com mais raiva. Tudo bem, mas continua tendo apenas um voto. Já o PT segue uma estratégia oposta. Sabe que os votos de esquerda vêm por gravidade e vai buscar apoios alhures.

A crença de que o julgamento do mensalão seria uma bala de prata para a oposição revelou-se falsa. Já as crendices petistas segundo as quais o Supremo se tornou um tribunal de exceção ou que o impacto de suas sentenças seria irrelevante são um sonho maligno.

As condenações podem ter sido eleitoralmente insuficientes para derrotar os companheiros, mas não foram irrelevantes. O PT deve prestar atenção à voz do Supremo, pois a corte não é uma mesa-redonda de comentaristas esportivos. Ela é o cume de um Poder da República.

Eleição não absolve réu, assim como o Supremo não elege prefeito. Se Lula e o PT acreditarem que o eleitorado respondeu ao Supremo, estarão repetindo o erro dos generais que viam nos resultados dos pleitos da década de 70 uma legitimação indireta do que se fazia, com seu pleno conhecimento, nos DOI-Codi.

O comissariado deveria ter a honestidade de admitir que acreditou na impunidade dos mensaleiros. Resta-lhe agora o vexame de reformar o estatuto do partido, que determina a expulsão dos companheiros condenados em última instância.

A oposição tem dois anos para articular uma agenda que lhe permita avançar sobre a plataforma petista. Ela não precisa se preocupar com a turma que detesta Lula, essa virá por gravidade, assim como os adoradores de Nosso Guia continuarão seguindo-o.

Fazendo cara feia para os programas sociais do governo, para as políticas de ação afirmativa nas universidades e para a expansão do crédito popular, ela organizará magníficos seminários. Eleição? É coisa de pobre.

24 de outubro de 2012
Elio Gaspari - Folha de São Paulo

SILÊNCIO TONITRUANTE

 

Em março de 2006, escreveu no jornal O Estado de São Paulo, o artigo “Já não podemos dizer mais nada”. O silêncio continuou, tonitruante! Perdoem o paradoxo absolutamente necessário. Foi uma pena e deu no que deu!

Apesar de terem se passado 6 anos os fatos continuam sendo atuais, como se poderá ver no que segue:

“Em 14 de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior poeta russo da era contemporânea, deu um fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída.

Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as suas idéias.
Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma!
Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação.
Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma.

A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniqüidades, em mais violência.
Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar.

Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena. Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema No caminho com Maiakóvski, que resume sua desoladora tragédia.

‘… Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor de nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais
frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada.’


Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria”.

24 de outubro de 2012
Magu

JÁ NÃO PODEMOS DIZER NADA!

 

Em 14 de de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior poeta russo da era contemporânea, deu um fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída. 
 
Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as suas idéias. Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma!

Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação. Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma. 
 
A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniqüidades, em mais violência. Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena. 
 
Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema No caminho com Maiakóvski, que resume sua desoladora tragédia.

"... Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ de nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada." 
 
Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria. Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça. Os que chegaram ao poder, sem nenhuma noção de servir ao povo, logo revelaram a sua verdadeira face. 
 
O País está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A Lei Maior, aquela que o País aprovou por meio de seus representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todos as violências. Nas grandes cidades, dois governos, duas autoridades: a tradicional e a dos marginais.

No campo, ausência de direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes atrevidos e até debochados, está conseguindo levar o desassossego e a insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam para sobreviver. Isso já vem acontecendo há muito tempo e não há sinal de que alguma autoridade pretenda submetê-los às penas da lei. Ao contrário. Eles gozam de imenso prestígio junto ao presidente, que não se acanha em lhes dar cobertura e agir com a maior cumplicidade. 
 
A ausência das autoridades tem sido o grande estímulo para que esses grupos, e outros que vão surgindo, venham conseguindo, num crescendo de audácia e desrespeito, levar o pânico aos que vivem do trabalho no campo. A mesma audácia impune garante também a expansão das quadrilhas de narcotraficantes em todo o País. A cada dia que passa eles chegam mais perto de nós. Se examinarmos com atenção os acontecimentos destes últimos dois anos, dá para entender o nosso medo. 
 
Quando explodiu o caso do Waldomiro Diniz, as autoridades estavam na obrigação de investigar tudo e dar uma punição exemplar. O que se viu? Uma porção de manobras para encobrir os fatos e manter os esquemas intocáveis. E qual foi a reação do povo? Nenhuma.
Roubaram uma flor de nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada!

Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados largaram suas legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e desafiadora alegria no alto comando do País! E qual foi a reação do povo? Nenhuma.
Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que nos podia defender. E nós não dissemos nada!

Quando um parlamentar, que integrava a tal maioria, veio denunciar o uso de recursos públicos, desviados de forma indecente, com a conivência dos altos ocupantes do governo, provando que a direção do PT e do governo sabiam de tudo e de tudo se haviam aproveitado, qual foi a reação do povo? Nenhuma. 
 
Eles nem se importaram com o fato de terem sido descobertos. O mais frágil deles entrou em nossa vida, roubou a luz de nossas esperanças e, conhecendo o nosso medo, ainda se deu ao luxo de arrancar a nossa voz da garganta! 
 
Será que vamos aceitar? Não vamos dizer nada? Será que o povo brasileiro perdeu de vez a sua capacidade de se indignar? A sua capacidade de discernir? A sua capacidade de punir?

Acho que não. Torço para que isso não esteja acontecendo. Sinto, por onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de nojo está crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar esses aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral. Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é não perder a alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor. 
 
Colocar este momento como uma simples luta entre governo e oposição é muito pouco. E derrotá-los, simplesmente, também é muito pouco, diante do crime que eles praticaram contra as esperanças de um povo de boa-fé. 
 
O que vai hoje na alma das pessoas é o corajoso sentimento de que é preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente, não permitindo que eles nos calem para sempre. Se não forem enfrentados, se não forem punidos, se seus métodos e processos não forem repudiados, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido arrancada de nossa garganta. 
 
E já não poderemos dizer nada.
Sandra Cavalcati, Estadão
segunda-feira, março 27, 2006

O ESPECIALISTA

 


O texto completo é bem maior e pode ser encontrado nos sebos (O Especialista e Outros Contos – Chic Sales). Serve para esclarecer todos os problemas atinentes à construção e manutenção de privadas assim como conselhos sobre critérios de localização, material de leitura ou produtos alternativos (sabugo de milho) para limpeza.


Creio ser uma obra de valor inestimável nos tempos que estamos atravessando no Brasil, quase parte de um manual de sobrevivência, em vista da perspectiva de regredirmos para o Brasil dos tempos de Jeca Tatú, e por conseguinte GS/RJH Editores terá prazer em relançar esta obra desde que obtenha um patrocinador.
Com vocês a primeira página da obra:

Vocês devem ter ouvido muito deste papo moderno sobre especialização. Pois eu sou marceneiro por profissão. Houve tempos em que eu construía paióis, casas, igrejas ou galinheiros. Mas acordei para a especialização. Hoje meus senhores estão cara a cara com o campeão entre os construtores de privadas do condado de Sangamon.
Meu primeiro freguês foi Luke Barkiss. Ele soube que eu era um especialista e decidiu aventurar. Encomendou um modelo para famílias. Era com três buracos. Isso fez minha reputação.
Quando há pouco serviço especializado eu posso colocar papel de parede, mas eu amo meu trabalho especializado como construtor de latrinas. E olha que dou assistência técnica por seis meses depois da entrega.

Foi o caso com o Luke. Disse-me que estava tendo problema com a latrina que eu havia feito. Peguei meu carro e fui até lá. Fiquei olhando de longe. Era época de colheita do feno. Os empregados iam para a latrina e ficavam lá durante 40 minutos.
Peguei minhas ferramentas e fui examinar o problema. Primeiro olhei o catálogo pendurado lá dentro. Vi que era velho e nem mesmo de alguma loja de primeira. Não dava boa leitura.
Aí olhei com mais cuidado e vi o problema. Eu havia feito os buracos da latrina muito confortáveis. Peguei minha serra e deixei com arestas. Fiquei olhando de longe. O pessoal passou a ficar apenas 4 minutos.

24 de outubro de 2012
Ralph J. Hofmann

PARODIANDO AS 'FÁBULAS FABULOSAS'

TARTARUGA NO POSTE (ou elefante na árvore)


Os leitores devem conhecer a histórinha, sobejamente difundida desde os idos de 2003, hoje ligeiramente adaptada aos tempos modernos.
 
“Enquanto costurava o machucado na mão de um velho gari, o médico e o paciente começaram a conversar sobre o país, o governo e, fatalmente, sobre a presidente Dilma.
 
O velhinho disse: – Bom, o senhor sabe, a Dilma é como uma tartaruga em cima do poste…
Sem saber o que o gari quis dizer, o médico perguntou o que significava uma tartaruga num poste.
 
E o gari respondeu:
 
– É quando o senhor vai indo por uma estradinha, vê um poste e lá em cima tem uma tartaruga tentando se equilibrar. Isso é uma tartaruga num poste.
 
Diante da cara de interrogação do médico, o velho acrescentou:

– Você não entende como ela chegou lá;
– Você não acredita que ela esteja lá;
– Você sabe que ela não subiu lá sozinha;
– Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
– Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
– Você não entende porque a colocaram lá.

Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá, e providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima definitivamente não é o seu lugar!”

Mas investigações levadas a efeito pelo Sombra, nosso informante secreto do Planalto, que contratou detetives privados não petistas (afinal, não tenho idéia de como ele tem acesso ao Tesouro, onde todo mundo põe a mão) acabaram por descobrir a origem do que, erroneamente, é considerado como lenda.
 
Conta-se, à boca pequena, que determinada figura, um elefante, que depois recebeu o título de Imperador Etílico de Caetés, que se homiziava em SB do Campo – SP, estava instalado, não se sabe como, num poste da capital de Pindorama.
 
Após um bom tempo, cansado de não fazer nada, desceu e, também, ajudou a tartaruga a subir. Auxiliado por uma frota de 11 caminhões trucados, mudou-se com seus itens, próprios e não próprios, para o mesmo município de origem e foi se instalar numa árvore, de onde agora continua a fazer seus discursos espúrios e enganadores.
 
E não se enganem os leitores. Esse elefante tem pretensões, se ainda estiver vivo, de trepar de novo num poste em Brasilia ou, quem sabe, tentar em São Paulo.

24 de outubro de 2012
Magu

MATERIAL DO MESMO URINOL

 


Todavia, a parte mais forte de sua doentia personalidade reside na facilidade que tem de aproximar-se e ligar-se a tudo que não presta, seja no Brasil, seja no exterior.


No item proteger o que não presta a atual presidente Dilma Rousseff, vem dado mostras de ser excremento do mesmo urinol que seu inventor.

Esses dias escrevi sobre a amizade e proteção que tem pela sua desonesta amiga Erenice Guerra. (vide C’est la guerre, “Erenice” de 23/10).

Nesse caso Dilma pode alegar que desconhece o que sua ex-colaboradora faz longe de seus olhos, mas o caso que vou relatar, não tem desculpas.

Tratam-se de coisas pouco claras feitas pelo seu mais estreito e querido ministro, o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.

Existiam contra ele dois processo na Comissão de Ética da Presidência da República o de uma sua empresa de consultoria, antes de ele assumir o cargo de ministro; e o fretamento de jatinho para viagem na Europa, quando ele já despachava na Esplanada dos Ministérios.

No primeiro caso sua empresa a P-21 Consultoria e Projetos Ltda., faturou R$ 2 milhões em 2009 e 2010, ou seja entre sua saída da Prefeitura de Belo Horizonte e a chegada ao governo Dilma Rousseff. Os dois principais clientes do então ex-prefeito foram a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o grupo da construtora mineira Convap. A federação pagou R$ 1 milhão por nove meses de consultoria de Pimentel, em 2009, e a construtora, outros R$ 514 mil, no ano seguinte.

No outro caso ele fez uso de avião fretado pelo empresário João Dória Júnior, em outubro do ano passado, numa viagem entre a Bulgária, onde Pimentel integrava a comitiva da presidente Dilma Rousseff, e a Itália, quando se reuniu com empresários brasileiros e italianos.

Em junho passado, o então conselheiro Fábio Coutinho havia defendido a aplicação de uma advertência a Pimentel por conta dos negócios de consultoria, voto acompanhado de Marília Muricy. Os dois conselheiros não foram depois reconduzidos ao cargo pela presidente Dilma Rousseff, o que levou ao pedido de renúncia do então presidente da comissão, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence.

Esses fatos mostram de forma cabal, a conivência de Dilma Rousseff em negócios poucos lícitos.
Está a cada dia mais difícil encontrar alguém ilibado no Partido dos Trabalhadores PT.

24 de outubro de 2012
Giulio Sanmartini

(1) Foto: O primeiro damo, na posse da sua presidenta.
(2) Texto de apoio: Rafael Moraes Moura.

ASSUNTO SÉRIO...

Campanha sobre perigos no trânsito repercute fora do Brasil



Um acidente automobilístico pode gerar graves consequências. Pensando nisso, a agência Escala criou um filme para a Semana Nacional do Trânsito, do Detran-RS.
Fazendo alusão à passagem do tempo na vida das pessoas por meio dos tipos de rodas que as mesmas utilizam durante seu crescimento, a peça de 30’’ teve ampla repercussão em sites especializados do trade de comunicação – como o Ads of the World, por exemplo. Segundo a agência, a ideia é inovar a forma de fazer propaganda para órgãos do Governo do Estado.

Ainda de acordo com a Escala, é preciso conscientizar as pessoas de que, ao se adquirir um automóvel, quem o dirige precisa saber da responsabilidade de seus atos quando está ao volante.

O anúncio integra o Pacto Nacional pela Redução de Acidentes, programa do Governo que busca atingir a meta firmada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir em 50% os óbitos decorrentes de acidentes no trânsito entre 2011 e 2020.

Números do Detran-RS mostram que após o investimento em novas propostas de comunicação, houve a diminuição de 8% no número de acidentes no ano de 2011, em relação a 2010. (Do AdNews)

Ficha Técnica:
Título da peça: Rodas
Anunciante/Produto: Detran/RS – Semana Nacional de Trânsito
Agência: Escala
Direção de criação: Régis Montagna
Diretor de arte: Guga Dias da Costa
Redator: Felipe Lermen
Gestor de conexões offline: Daniela Schenato
Executivo de conexões offline: Débora Spader
Produtor/Eletrônica: Fernanda Moura e Flavia Cota
Executivo de negócios: Melissa Silva
Diretor de Negócios: Kenya Couto
Aprovação/cliente: Alessandro Barcellos e Tania Bumpi

24 de outubro de 2012

ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO NA ITÁLIA ENVOLVE O NOME DE NELSON JOBIM, MINISTRO DA DEFESA NO GOVERNO LULA

 

Alça de mira – Mais uma vez, o Brasil é alvo de notícias sobre corrupção.
Na manhã desta quarta-feira (24), a imprensa italiana deu destaque a um processo de investigação que apura o envolvimento de políticos ligados a Silvio Berlusconi acusados de participação em estranha negociação para fornecer onze fragatas ao governo brasileiro, ainda durante a era Lula.

Um dos investigados, o ex-ministro do Desenvolvimento da Itália, Claudio Scajola, é acusado de adotar métodos de negociação não muito ortodoxos.
Durante as investigações, depoentes confirmaram que Scajola era muito ligado ao peemedebista gaúcho Nelson Jobim, que ocupou o Ministério da Defesa no governo do ex-presidente Luiz Inácio da Silva.

As autoridades italianas descobriram que não foi apenas com o Brasil que esses corruptos negociaram e que a comissão paga aos interlocutores era de 11% do valor do negócio. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim foi procurado por jornalistas na manhã desta quarta-feira (24) para explicar o envolvimento do seu nome no imbróglio, mas não foi encontrado.

24 de outubro de 2012
ucho.info

JUSTIÇA QUE TARDA, FALHA

 


Na última sexta-feira, 19 de outubro de 2012, um torcedor inglês invadiu o campo e deu um soco no goleiro do time adversário. Foi flagrado pelas câmeras de segurança, identificado, preso em flagrante e julgado.

Na segunda-feira, 22 de outubro de 2012, foi condenado a quatro meses de prisão, em regime fechado. Como pena adicional, o tribunal o proibiu de entrar em estádios por cinco anos.

Corta para o Brasil. O processo do Mensalão levou sete anos para ser julgado. Realizaram-se até agora, data máxima vênia, 40 sessões do Supremo Tribunal Federal, com direito a arrazoados cuja leitura chegou a levar mais de um dia. Houve réus condenados; mas ainda não se sabe a quais penas.
Sem dúvida são casos diferentes: o Mensalão envolvia 38 réus, discussões doutrinárias, debate de questões jurídicas. Não se poderia esperar que o Mensalão fosse julgado em poucos dias.

Mas também não foi bom esperar que o julgamento levasse tantos anos. Vejamos o próprio efeito da sentença: na Inglaterra, torcedores violentos sabem que serão punidos exemplar e rapidamente. No Brasil, há quem tenha a audácia de ameaçar recorrer a cortes internacionais, como se essas cortes tivessem jurisdição sobre crimes de roubalheira em nosso território.

Conta-se que, nos velhos tempos, um condenado à morte conseguiu adiar a execução por cinco anos, prometendo, em troca do perdão, ensinar o cavalo do rei a falar. Disse aos amigos, que o consideraram maluco: em cinco anos, morre o rei, morre o cavalo ou morro eu.
Justiça lenta é assim.

Jus esperneandi

O direito de espernear é sagrado. Mas, como todo direito, tem limites. Acusar o Supremo Tribunal Federal de sentenciar com objetivos políticos sem dúvida extrapola esses limites. Dos dez ministros do Supremo, só um, Gilmar Mendes, não foi nomeado por presidentes que integram a base de apoio ao Governo petista: foi escolhido por Fernando Henrique.
O ministro Celso de Mello foi escolhido por José Sarney; o ministro Marco Aurélio, por Fernando Collor – ambos, Sarney e Collor, esteios da bancada governista no Senado. Os outros sete foram nomeados pelo presidente Lula e pela presidente Dilma.
Cadê o tal golpe?

Quase parando

Lembra do problema no Aeroporto de Viracopos, quando quebrou o trem de pouso de um avião e pousos e decolagens ficaram suspensos por quase dois dias? Bom, o incidente ocorreu em 13 de outubro. Pois hoje, 24, onze dias depois, o ministro Wagner Bittencourt, da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, promete uma reunião para discutir o tema.

Sua Excelência talvez não saiba, mas um avião como o que teve problemas em Viracopos, nesse período que ele demorou para convocar a reunião, poderia ir ao Japão cinco vezes, ida e volta, contando o reabastecimento, escalas, embarque e desembarque, etc.

A presença do inexistente

O secretário da Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, com respaldo do governador tucano Geraldo Alckmin, sustenta que o PCC não existe mais como força organizada. Seria interessante que levassem essa informação ao ministro Celso de Mello, que comparou a atuação da quadrilha do Mensalão aos crimes do PCC – a organização que o Governo estadual considera inexistente.

Não é mas é

Aliás, negar a existência do crime organizado é antigo vício tucano. Quando o juiz Haroldo Pinto da Luz Sobrinho revelou a existência de uma organização criminosa nos presídios paulistas, os Serpentes Negras, o Governo tucano da época procurou ridicularizá-lo. Os Serpentes Negras foram o embrião do PCC.

A volta dos velhos tempos

Na campanha presidencial de 1960, quando as comunicações eram difíceis e caras, o candidato vitorioso, Jânio Quadros, não apenas repetia o mesmo discurso em cada local: repetia também as promessas. Se somarmos as indústrias automobilísticas que prometeu instalar, faltaria Brasil para tanto carro.

As comunicações são hoje fáceis e baratas, não dá mais para repetir discurso – e Lula faz o contrário: em São Paulo proclama que bom é o novo, mas em Diadema, pertinho, pertinho, diz que o eleitor não deve votar em aventureiros, não deve trocar o certo pelo duvidoso Deve escolher políticos tarimbados – não por acaso, como o seu candidato.
Não faz mal: há algumas semanas, Lula elogiava o prefeito paulistano Gilberto Kassab e o levava à convenção do PT, hoje o critica, e depois as eleições provavelmente o levará (ou a alguém por ele indicado) ao Governo da companheira Dilma. Se hoje Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney estão com o PT desde criancinhas, por que discutir novo e velho?

A força da caneta

Do jornalista Lauro Jardim (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/): “Não foi tão forte a reação da senadora Kátia Abreu (TO) aos vetos ao Código Florestal. É que em breve Dilma dará um ministério ao PSD.”

Kátia, articulada e enérgica, é a líder da bancada ruralista, que até agora combatia vetos ao Código Florestal. Continuará lutando, mas por dentro do Governo, acirrando as contradições internas, entende? Mas com carro oficial.

24 de outubro de 2012
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.

NADA DE CONFUNDIR ALHOS COM BUGALHOS

Segundo turno da eleição paulistana não vai julgar julgamento do mensalão pelo STF



Quando veio a lume a compra de votos para obter maioria no Congresso Nacional para o primeiro governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira reação do ex-presidente foi dizer-se traído e apunhalado pelas costas por maus companheiros.

E assumiu, como de hábito em sua vida, a postura do macaquinho que não ouve, não vê e não fala. Hoje se sabe que chegou a cogitar de renunciar e que teria sido dissuadido por seu lugar-tenente, o factótum José Dirceu, então chefe da Casa Civil, logo transformado em principal alvo do delator Roberto Jefferson.

Este, especialista em salas, salões e corredores palacianos, preferiu evitar o confronto com o chefão. A oposição imaginou que, em vez de lutar por um improvável impeachment do presidente com maioria no Congresso, deveria deixá-lo sangrar até a eleição, quando lhe seria dado o golpe de misericórdia.
Dirceu estava certo: Lula deu a volta por cima, venceu o tucano Geraldo Alckmin e, reforçado pela mística de invencível nas urnas, adotou a filustria do caixa 2.
 
Depois de oito anos no poder, na crista de uma onda de quase 80% de aprovação popular, o padim Ciço de Caetés deu-se ao luxo de impor uma candidata egressa do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Dilma Rousseff, que entrara no lugar de Dirceu no posto de “capitão do time”. E, mais uma vez, consagrou-se nas urnas.

Com sua empáfia característica, Lula, então, apostou seu cacife político na falácia de que o escândalo, apelidado de mensalão, foi uma fantasia da oposição despeitada, divulgada pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG, porco em inglês), fantasma que na internet assombra o País nas mensagens dos “blogueiros progressistas”.

A explicação para o que havia sido revelado pelos fatos notórios seria um “crime menor”, o caixa 2 de campanha. Para evitar que a realidade fosse revelada antes das eleições municipais, o próprio ex-presidente empreendeu uma cruzada tentando convencer ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) da necessidade de adiarem o julgamento, para não interferir na decisão do eleitor.
 
A ignorância inflou a empáfia e o ex-dirigente sindical viu a realidade desautorizar seu otimismo, baseado na evidência de que 8 dos 11 julgadores máximos foram alçados ao topo de sua carreira por presidentes correligionários dos réus mais importantes do processo, ele próprio e sua afilhada Dilma.
 
Só que, ao contrário da Petrobrás e do Banco do Brasil, o STF não foi aparelhado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no poder. Nem poderia sê-lo, de vez que o Poder Judiciário é autônomo e entre os deveres dos membros de sua cúpula não consta a obediência ou a gratidão para amparar os interesses e a impunidade de um partido ou político que os haja nomeado para o lugar.
 
A vaga no STF é vitalícia e presidente nenhum de partido nenhum, com a maioria com que contar no Congresso, tem o poder de demitir um ministro do Supremo, ainda mais a pretexto de assegurar a absolvição de delinquentes.
A condenação, por formação de quadrilha, do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, do ex-presidente nacional petista José Genoino e do tesoureiro Delúbio Soares, que sempre gozou de acesso privilegiado ao gabinete e ao coração do chefão, deixou claro que o Estado Democrático de Direito funciona no Brasil.
E quem o conquistou na base de sangue, suor e lágrimas não se dispõe a liquidá-lo só para agradar a um líder adorado pelas massas e bajulado pelos parasitas que se refestelam à sombra e água fresca do poder.
 
Imune à condenação do STF, Lula agora sai a campo para usar o sufrágio popular como uma espécie de instância máxima, acima e além da Justiça, dando aos resultados nas urnas poderes, que não tem, de julgar o julgamento… e os julgadores.
O raciocínio, de um simplismo absurdo, resulta da mistura de ignorância e esperteza que levou o Macunaíma da política brasileira ao auge da fortuna e da glória, mas que não absolveu nenhum réu nem ajudará nossa democracia a amadurecer.
 
Ao dizer a Cristina Kirchner que foi julgado pela população ao se reeleger, o Pedro Malasartes da gestão pública nacional deu seu poderoso aval à conclamação do principal réu do mensalão ao reagir ao resultado da eleição municipal em São Paulo, pregando:

“A prioridade agora é ganhar o segundo turno”. A cúpula do PT tentou adiar o julgamento e passou a campanha eleitoral inteira insistindo na tecla óbvia de que seu resultado não influiria na decisão do eleitor. O presidente nacional, Rui Falcão, disse que o povo estava ligado mesmo no novelão das 9, Avenida Brasil.
Lula aproveitou para tirar um sarro dos palmeirenses, inimigos figadais de seu Corinthians e agora candidatos ao rebaixamento no Brasileirão. Gilberto Carvalho, homem de confiança do ex no gabinete da atual, disse que recorrer ao mensalão é dar um tiro no pé.
 
Hoje, com a visão utilitária de sindicalista cuidando do cofre da viúva, a cúpula petista tenta convencer a Nação a interpretar o veredicto das urnas em São Paulo como a vingança do mensalão. Mas qual o dispositivo constitucional que dá esse poder ao paulistano?

Por que não adotar o mesmo critério em relação ao cidadão que votou no Recife, em Porto Alegre ou Belo Horizonte e derrotou os queridinhos de Lula e Dilma ainda no primeiro turno? O absurdo do raciocínio é tal que negá-lo parece desnecessário. Mas não é. Pois a democracia é imperfeita, como toda obra humana, mas essa imperfeição se reduz pelo equilíbrio de Poderes autônomos.

O cidadão elege seus representantes para legislarem no Congresso e governantes para escolherem prioridades do interesse geral na gestão do dinheiro público arrecadado pelo Estado. Cabe ao Judiciário zelar pelo cumprimento da ordem jurídica e punir quem delinquir.
 
Essa democracia petista do venha a nós, ao vosso reino nada, não convém ao povo brasileiro, pois, ao confundir Jesus Cristo com Zé Buchudo (alhos com bugalhos) e tirar de sob o martelo do juiz a sardinha da punição, queima a mão de quem vota para beijar a mão de quem furta.

24 de outubro de 2012
José Nêumanne Pinto é jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde.

O SILÊNCIO QUE VALE OURO...

Pena de mais de 40 anos de prisão faz com que silêncio de Marcos Valério valha muito dinheiro


Cornucópia do crime – O Supremo Tribunal federal ainda precisa colher o voto do ministro Marco Aurélio Mello no caso da condenação de Marcos Valério Fernandes de Souza por evasão de divisas, mas o publicitário mineiro já foi apenado com quarenta anos e um mês de prisão em regime fechado. A dosimetria da pena do operador do Mensalão do PT é um balizador do que enfrentarão os outros 24 condenados, cujas penas serão fixadas nos próximos dias.

A difícil situação de Marcos Valério aponta para um risco crescente que passa o Partido dos Trabalhadores, pois o publicitário, que no passado teria pedido à cúpula da legenda R$ 200 milhões pelo seu silêncio, pode revelar o que muitos ainda não sabem. Entre os futuros alvos de Valério está o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que continua negando a existência do mensalão e afirmando que entrou para história pela porta da frente.

Se o PT comprará o silêncio de Marcos Valério não se sabe, mas fato é que diante de tão dura pena a pedida deve ser bem maior. Mesmo que quisesse aceitar a proposta do operador do Mensalão do PT, a legenda não teria como disponibilizar tanto dinheiro, mesmo que no exterior.

Por conta disso, é preciso que as autoridades policiais e judiciais fiquem atentas, pois empresários que escaparam do indiciamento no caso do mensalão já teriam sido procurados para um eventual pagamento.

Enquanto nada disso acontece, o PT tem despachado o ex-presidente Lula para diversas cidades brasileiras que terão segundo turno, no afã de conquistar uma resposta ainda maior, mesmo que mentirosa, para o maior escândalo de corrupção da história nacional.
Lula disse recentemente que já foi julgado na reeleição em 2006 e na eleição de Dilma, mas esse discurso não passa de mais um embuste da usina de mitomania do ex-metalúrgico.

24 de outubro de 2012
ucho.info

POLÍTICA DESENCANTADA

 


A poucos dias do segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo, 19% dos eleitores dizem não ter candidato. O índice é o maior da história para o período e em se tratando da capital do Estado mais importante do país esse é um dado significativo a merecer atenção. O que estará ocorrendo para que 10% dos eleitores declarem que votarão em branco ou anularão seu voto sendo indecisos outros 9%? E note-se que tal ocorrência poderá aumentar no dia da eleição levando-se em conta as abstenções.
 
Alguns analistas atribuem o fenômeno á imaturidade dos eleitores, mas penso o contrário. O que está acontecendo é um desencanto com a política na medida em que candidatos apresentam propostas monotonamente parecidas, discursos ultrapassados, promessas não críveis.
 
Outros explicam que há um desgaste da polarização PSDB x PT. Mas nesse caso, por que o candidato Celso Russomanno (PRB) que liderou o primeiro turno não foi para o segundo? Aliás, partidos políticos não existem no sentido clássico de “homens que professam a mesma doutrina”, de agremiações dotadas de programas, coerência ideológica e estrutura nacional.
O que temos são clubes de interesses com alguns donos cujo objetivo é alcançar o poder custe o que custar o que acaba provocando alianças inimagináveis de ex-inimigos que se tornam momentaneamente amigos de infância, de adversários ferrenhos que em determinadas circunstâncias se abraçam e beijam em palanques. E como essa geleia partidária tem aumentado a cada eleição o povo continua fazendo o que sempre fez: vota no candidato e não no partido.
 
Em São Paulo pesquisas indicam a vitória do candidato petista. Os institutos erraram feio no primeiro turno, mas caso isto se confirme Haddad vencerá menos por mérito próprio e mais pelos reiterados erros do PSDB que ao longo do tempo nunca soube ser oposição ao governo petista. Além do mais, na seara tucana houve desperdício dos melhores quadros, falta de coesão entre os membros e o apoio incondicional de Fernando Henrique Cardoso a Lula da Silva.
 
Note-se que caso os paulistanos escolham ex-ministro trapalhão irão reeditar administrações petistas como as de Erundina e Martha Suplicy, mesmo que não tenham ficado satisfeitos com tais gestões. Afinal, estas senhoras não lograram ser reeleitas. Mas isto não foi capitalizado pelo PSDB.
 
O amadorismo político dos tucanos contrasta com seus quadros muito superiores ao do PT em termos intelectuais e profissionais. Entretanto, o PT, que resvala para o primitivismo político é o único partido que se preparou ao longo do tempo para alcançar o poder e lá permanecer como organização fortemente estruturada, dotada de poder centralizado na figura populista de Lula da Silva, hierarquizada, disciplinada, impregnada da mística que nutre militantes que se comportam de forma sectária. O PT, mais que um partido é uma organização que lembra a estrutura da Igreja Católica ou das famílias mafiosas.
 
Mesmo assim, o PT não é onipotente, não venceu em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Recife. E ainda há indefinições no segundo turno em cidades e capitais onde o PT se empenha na vitória sempre em busca do seu projeto hegemônico continuado.
 
No panorama de desencantamento não o novo, mas algumas novidades afloram. É o caso dos pretendentes à eleição presidencial, o senador Aécio Neves e o governador Eduardo Campos, sendo que o partido deste, o PSB, foi o que mais cresceu em número de votos nas nove maiores regiões metropolitanas do país na comparação do primeiro turno deste ano com o de 2008: um avanço de 141%.
 
Contudo, o fato mais importante que se assistiu ao longo de quase três meses foi o julgamento do mensalão, que desmentiu Lula da Silva ao provar que existiu o maior crime de corrupção já perpetrado por um governo. E, em que pese a atuação dos ministros Lewandowski e Toffoli que mais pareciam advogados de defesa dos réus do PT, prevaleceu a linha da denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, endossada brilhantemente pelo relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, sendo que a maioria os ministros concluíram que houve uso de dinheiro público para pagar parlamentares, que houve empréstimos fraudulentos para abastecer esses pagamentos, que o dinheiro serviu para comprar apoio político e que tudo foi comandado por José Dirceu num esquema de quadrilha.
 
Se a guerra contra a corrupção continuará, uma batalha importantíssima foi pela primeira vez ganha no país da impunidade. Venceu a independência do Poder Judiciário, o Estado Democrático de Direito, o Brasil e o julgamento foi um alerta para bandidos de terno e gravata.
Como disse o ministro Celso de Mello: “o mais importante é o alto poder pedagógico do processo, cuja essência não está na distinção entre técnica e política, mas em seu caráter moral”. “A peça fundamental em exame é a ética dos governos”. Seria bom que os políticos aprendessem a lição, afinal, a política está em desencanto.

24 de outubro de 2012
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.