"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 31 de março de 2013

OBAMA ORGANIZA OS CÃES DA GUERRA CONTRA A SÍRIA

 

A cortina de fumaça que envolvia a visita do presidente Obama a Israel afinal foi dissipada. Afinal de contas, ninguém engoliu a tese de que não passaria de visita rápida, de amigo saudoso, para fazer reaquecer a velha chama, bastante chocha, entre Obama e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e que só isso arrastaria o presidente dos EUA para o Oriente Médio, em rara excursão transoceânica.


Os senhores da guerra

A revelação surgiu, dramática, no último instante da visita e Obama, quando o presidente dos EUA preparava-se para embarcar no avião presidencial no aeroporto de Telavive, na 6ª-feira. Bem ali, na pista, num trailer improvisado, ele telefonou para o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e, depois de rápida troca de piadinhas, estendeu o telefone a Netanyahu, que fez ali o que até então se recusara firmemente a fazer ao longo dos últimos dois anos: pediu desculpas oficiais à Turquia pelo assassinato de nove cidadãos turcos, em 2010, quando viajavam em flotilha em missão humanitária para ajudar os sempre maltratados palestinos no enclave de Gaza.

O incidente de Gaza agrediu as relações turco-israelenses, e as coisas degeneraram rapidamente quando Telavive recusou-se terminantemente a pedir desculpas formais e a pagar uma indenização, como Ancara exigia.

PEDINDO DESCULPAS

Foi provavelmente a primeira vez em toda sua história diplomática, que Israel, que zela atentamente por sua imagem de “machão”, ajoelhou e pediu desculpas nacionais a país estrangeiro por pecados cometidos. O problema foi que, sem a Turquia, Israel ficava cercada e absolutamente sem ajuda possível na região, reduzida ao papel de mera espectadora numa conjuntura histórica em que a região vive em torvelinho e passa por um levante.

A aliança com a Turquia é vital para que Israel consiga salvaguardar seus principais interesses. Na declaração em que festejou a reconciliação Israel-Turquia, o secretário de Estado de Israel disse claramente que esse desenvolvimento “auxiliará Israel a enfrentar os muitos desafios que enfrenta na região” e que a plena normalização de relações entre os dois países permitirá que ambos “trabalhem juntos para promover seus interesses comuns”.

A conversa telefônica no aeroporto de Telavive não aconteceu de repente. Em história dos bastidores e antecedentes, o veterano editor turco Murat Yetkin, comentarista muito bem informado que escreve de Ancara, revelou que, segundo “fontes de alto escalão”, Washington havia construído uma aproximação com Ancara há poucas semanas, com a conversa de que Obama desejava construir uma reaproximação entre Erdogan e Netanyahu e que gostaria de fazer da visita a Israel uma missão de mediação. Yetkin escreveu:

Tendo Ancara garantido que aceitaria os bons serviços dos EUA para acertar-se com Israel, desde que houvesse um pedido de desculpas, a diplomacia começou. Antes de Obama iniciar a visita, dia 20/3, já havia rascunhos dos termos de um possível acordo, que voavam para lá e para cá, entre Ancara e Jerusalém, sob os auspícios da diplomacia norte-americana.

SINAIS EVIDENTES

A grande questão é saber por que a normalização entre Turquia e Israel tornou-se tão terrivelmente importante para Obama, que já tem problemas suficientes com que se preocupar em tantas áreas – e também por que seria também tão importante para Erdogan e Netanyahu? A resposta deve ser buscada no depoimento dado pelo comandante do Comando Europeu dos EUA e alto comandante militar da OTAN James Stavridis, à Comissão das Forças Armadas do Senado dos EUA, na véspera da partida de Obama, de Washington para Israel.

Stavridis insistiu, frente aos políticos norte-americanos, que postura mais agressiva dos EUA e aliados poderia ajudar a quebrar o impasse que se vê na Síria. Nas palavras dele, “Minha opinião pessoal é que ajudaria muito a quebrar o impasse e a derrubar o governo sírio.”

O influente senador John McCain interrogou Stavridis sobre o possível papel da OTAN numa intervenção na Síria. Stavridis respondeu que a OTAN prepara-se para várias contingências. “Nós [OTAN] consideramos amplo espectro de operações e estamos preparados se for preciso agir, como estávamos preparados para agir na Síria” – disse ele.

Stavridis explicou que os mísseis Patriot da OTAN, hoje instalados na Turquia, à primeira vista para ajudar a defender o espaço aéreo turco, têm capacidade para atacar também a força aérea síria naquele país, e que operação desse tipo, pela OTAN, seria “poderoso desincentivo” para o regime sírio.

Vêm por aí tempos sem dúvida muito turbulentos para o Oriente Médio, e a visita de Obama a Israel ainda será vista, em retrospecto, como um dos momentos definitórios de sua presidência, quando abandonou decisiva e abertamente qualquer resto que ainda existisse das pretensões de se fazer ver como pacifista.
Na verdade, Obama pode ter certeza de que sua missão em Israel foi unanimemente aplaudida no Congresso, o que terá efeitos positivos também para sua agenda doméstica. Também aí Netanyahu pode ajudar.

CRUCIFICAÇÃO

 



31 de março de 2013

SEMIANALFABETOS ÚTEIS!

BEM FEITO, CAMBADA DE IDIOTAS, SEMIANALFABETOS ÚTEIS!



A MANIPULAÇÃO DA MENTIRA PELA QUADRILHA DO PT, ESTÁ EXTERMINANDO O POVO BRASILEIRO QUE COMO GADO, SÓ SABE QUE ESTÁ SENDO MORTO, NA PORTA DO ABATEDOURO...

O governo sabe manipular a mentira para que ela se transforme em uma verdade, aproveitando-se da IGNORÂNCIA de nosso povo, por isso eles não investem maciçamente na educação deste país, por saberem que um povo com instrução tem discernimento e inteligência suficiente para cobrar as promessas de campanha destes pústulas...
 
 
 
Morrem por dia no Brasil nas filas dos hospitais, mais de 180 brasileiros indiscriminadamente, por dia nas estradas morrem mais de 200 pais de família ou famílias inteiras sucumbem em acidentes, mais de 300 brasileiros morrem por dia vítimas da violência urbana, sem contar com mais de 180 brasileiros que se matam por não terem dignidade para viver, some estes números e multiplique por 365 para vc ver quantos morrem por ano, só com estes 4 dados estatísticos sem contar com os mortos por câncer no estômago devido a contaminação dos alimentos, câncer de mama, câncer de pulmão, AVC por estarmos consumindo muito sódio nos enlatados, e por ai vai...
O povo não se dá conta de como funciona uma GUERRA DE 5ª GERAÇÃO...

Imagem inline 1
31 de março de 2013
in lilicarabina

LIVRE PENSAR É SÓ PENSAR (MILLÔR FERNANDES)

 




31 de março de 2013

WEBER E O CAPITALISMO

 

A compreensão weberiana do capitalismo é uma das mais pertinentes para que se entenda a economia de mercado. Por sua importância, consolidou-se como uma alternativa teórica à explicação marxista.


Em seu livro “A ética protestante e o espirito do capitalismo”, obra acessível mesmo aos não iniciados em estudos sociológicos ou econômicos, Weber esclarece que a busca impulsiva pelo ganho, comum a qualquer indivíduo, é muito diferente do que se dá, essencialmente, no capitalismo.

Nele, ao contrário, o que se busca é uma procura racional pelo lucro, baseada na racionalidade e no cálculo, os quais mantêm a sua existência como sistema econômico.


Considerando-se esse enfoque, seu caráter exploratório adquiriria um caráter secundário.

Obviamente, isso abre, à primeira vista, uma ressalva ao conceito weberiano de capitalismo, considerando a forma como este se manifesta na prática.
Contudo, enriquece o contraditório ao oferecer uma alternativa ao enfoque marxista, ainda às voltas com leituras equivocadas repletas de vieses claramente ideológicos, que acabam por comprometer seus fundamentos.
A propósito, a máxima um tanto jocosa que diz “Marx não era marxista” deve-se, em muito, às leituras pouco fiéis de sua obra.

DESAJUSTES

Todavia, que ninguém se iluda e entenda a abordagem capitalista weberiana como fantasiosa. Importante assinalar que ele mesmo se deu conta da tendência asfixiante da economia de mercado, ao dar-se conta da concorrência de diversas variáveis que, a todo o momento, intervêm no capitalismo, donde se pressupõe seus desajustes.

A facilidade com que Weber transitava em História, Sociologia e Economia, e o vasto material que nos deixou para estudo, é digno de uma análise detalhada e desprovida, até onde possível, de ideias preconcebidas. Impossível, é claro, ante as distorções econômicas brutais que se pode testemunhar, que muitos prefiram a saída mais prática e apelem logo para o “revolucionário”.

No entanto, o que se salienta, aqui, é a importância teórica de um autor, propondo um confronto intelectualmente honesto entre abordagens distintas de um mesmo fenômeno.

31 de março de 2013
Ricardo Dantas Faria

VOLTAR AO HOMEM


Este foi um ano, no Brasil e no mundo, contra o homem. Esta Sexta Feira da Paixão, que lembra a morte de Cristo, deveria ser consagrada a todos os flagelados, torturados e mortos, sob o signo da ignomínia na história. Ano a ano, cresce a esperança de paz entre os verdadeiros cristãos, e ano a ano, essa esperança se desfaz, diante da brutalidade e da indiferença de uma sociedade devotada ao culto da violência.

Há poucos dias, um jogador de futebol que se destacara como goleiro de popular clube do Rio, confirmou, no tribunal, que um comparsa matara uma de suas eventuais amantes, esquartejara o corpo e atirara as partes a cães famintos. A notícia foi lida com aparente indiferença.
Nenhuma das mais conhecidas personalidades públicas brasileiras manifestou sua indignação contra crime tão hediondo. Durante o processo, em que se investigava o desaparecimento da jovem, surgiram informações de sua vida irregular, como garota de programa e atriz de filmes pornográficos, como se tal comportamento devesse ser punido com a morte.

O horror a que essa jovem foi submetida, pelo fato de exigir do pai de seu filho que assumisse a responsabilidade devida, não espantou ninguém. E a ignomínia do expediente assumido pelos assassinos, de fazer com que os cães devorassem seus restos, a fim de oculta-los, tampouco trouxe indignação a uma sociedade tão preocupada com a sobrevivência de rãs e lagartos.

Confirma-se a previsão de grandes pensadores do passado, de que a tecnologia, ao nos oferecer instrumentos mágicos, nos devolveria à barbárie. Como estamos no Brasil, poucos se espantam (embora em número bem maior do que ocorreu com a morte da “namorada” do goleiro) com a escolha do “pastor” Marco Feliciano para presidir à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
O estranho religioso, que deveria estar na cadeia pela ofensa feita à metade da população brasileira, negra e mestiça, aferra-se ao cargo, com a protérvia de afirmar que só sai dali morto.

ESTELIONATO

Flagrado em vídeo que o mostra em pleno ato de estelionato, ao exigir de um fiel a senha de seu cartão de crédito, o “pastor” não foi expelido da Comissão, pela negligência ética e cumplicidade corporativa da Câmara.
Ele e o seu partido, que se intitula “cristão”, são uma blasfêmia e um insulto ao homem de Nazaré que nos dá a sua mão na difícil travessia da vida. Se a Câmara guardar um mínimo de ética deve ir além – e cassar o seu mandato. Vamos ver como agirá nesta segunda feira, que lembra a Ressurreição.

Estamos perdendo a alma, no abismo profundo do egoísmo – ou, na melhor teologia, no abismo do inferno.
Esse é o verdadeiro suicídio da Humanidade, que poucos percebem. Podemos refletir hoje, à margem das homilias dos sacerdotes e da bela liturgia da paixão, sobre estes dois tristes episódios de nosso país e nosso tempo, entre outros: o martírio de uma mulher infeliz, que sonhou com a segurança e a riqueza para seu filho, e a petulância de um falso religioso, impiedoso e hipócrita, misógino e racista, que responde a processo por estelionato no STF, infelizmente eleito por cidadãos de São Paulo – que se orgulha de ser o mais rico e mais civilizado dos estados brasileiros.

31 de março de 2013
Mauro Santayana (JB)

A EXECUÇÃO É UM HORROR! MAS O VISUAL ATÉ QUE AGRADA...

Dança Chinesa (parte da Suite Quebra Nozes) de Pyotr Ilyich Tchaikovsky



31 de março de 2013

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE





31 de março de 2013

CALA A BOCA "EXTRAORDINÁRIA"! FOSTES ELEITA SÓ PARA "FIGURAR", PENSAR ESTÁ ALÉM DA SUA CAPACIDADE.

                                         Tropeçando nas palavras


Dilma Rousseff parecia muito senhora de si quando se aventurou, na pele de economista que é, a falar sobre a inflação brasileira, ontem na África do Sul. Instantes depois, tinha produzido um desastre e lançado toda a sorte de dúvidas sobre o real compromisso do seu governo com o combate à persistente elevação dos preços no país. Restou claro o pouco valor que a presidente da República e seu partido dão à estabilidade da nossa moeda.
A fala de Dilma foi interpretada por agentes econômicos como sinal de que seu governo continuará sendo tolerante com uma taxa de inflação que já é uma das mais altas do mundo. Também serviu para enfraquecer o Banco Central, que recentemente vinha apontando que o nível de preços no país encontra-se em patamar "desconfortável", num sinal de que a taxa de juros pode vir a ser aumentada para combatê-lo.

O que Dilma disse ontem foi: "Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico. (...) Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende?


Eu vou acabar com o crescimento do país. Isso daí está datado, isso eu acho que é uma política superada", de acordo com a transcrição oficial.

Irritada com a repercussão que suas palavras causaram, a presidente deflagrou uma operação conserta-estrago para tentar amenizar os efeitos de sua infeliz manifestação. Depois de ter dito que quem trata de juros é o ministro da Fazenda, o que é um crasso erro, pois quem tem autonomia operacional para isso é o BC, escalou o presidente do banco para pôr panos quentes no assunto.

Não foi suficiente, e o Planalto foi obrigado a divulgar um comunicado desdizendo o que Dilma dissera horas antes. Novamente insuficiente. Já no fim do dia, a presidente deu rápida e ríspida declaração à imprensa dizendo que sua declaração fora "manipulada".


Ou seja, em poucas horas ela conseguiu produzir uma sucessão de equívocos. Em suma, falou bobagem.
Em sua excessiva autoconfiança, Dilma acabou pondo para fora qual é sua real visão de mundo sobre a estabilidade da nossa moeda. Sua crença repousa na
velha e furada tese, muito difundida entre petistas, de que um pouquinho mais de inflação não faz mal, se servir para produzir mais crescimento econômico.
A escalada de preços seria, nesta distorcida forma de enxergar as coisas, um mal menor.

Trata-se de uma cascata sem tamanho e não é preciso ir longe para comprovar. Nos últimos dois anos, o Brasil teve crescimento muito abaixo do das demais economias, ao mesmo tempo em que conviveu com inflação sempre acima da meta e muito mais alta do que a que se verifica ao redor do globo.

Ou seja, com o PT, temos baixo crescimento e alta inflação - padrão que Dilma ontem sancionou.

"O problema é que tem um jeito certo e um jeito errado de combater a inflação na cabeça dela [da presidente], e o jeito que ela considera errado é o jeito que todo mundo considera certo", comenta o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC,
n'
O Estado de S.Paulo.
Ainda neste mês de março, a inflação acumulada nos últimos 12 meses medida pela IPCA deve estourar o limite superior da meta, ou seja, ultrapassar 6,5% ao ano. Mesmo assim, Dilma acha que tudo está normal. "Nós não achamos que a inflação está fora de controle, pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais."

Não há nada de conjuntural na inflação brasileira. Ela vem se mantendo alta, e acima dos padrões internacionais, há tempos: nos últimos dez anos de gestão petista, em apenas três o índice de preços no país obedeceu à meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

O apreço do PT pela estabilidade da moeda - uma das maiores conquistadas da sociedade brasileira na história recente - é nulo. À época do lançamento do Plano Real, o partido de Dilma foi para as ruas protestar contra as medidas de estabilização, classificadas por eles como "estelionato eleitoral".

A maior irritação de Dilma Rousseff, no episódio de ontem, talvez tenha sido com o fato de que sua peculiar e reprovável visão de como tratar de uma chaga da economia nacional tenha ficado exposta em cores berrantes. Será difícil a presidente mostrar, apenas com palavras, que não tem sido tolerante e leniente com a inflação.
Se quiser convencer, terá que agir e domar o dragão que tanto mal está fazendo aos orçamentos das famílias brasileiras, principalmente o das mais pobres.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Tropeçando nas palavras

A GANGORRA NA POLÍTICA FISCAL TRAZ INSEGURANÇA

 

 
Foram desanimadores tanto o resultado do Tesouro Nacional - déficit de R$ 6 bilhões, divulgado na quarta-feira - quanto o do setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais) - déficit primário de R$ 3 bilhões, divulgado na quinta-feira.

Ante os bons resultados de janeiro e os de fevereiro, o que se vê são as contas públicas numa gangorra, fazendo lembrar os críticos da política do ministro Mario Simonsen, nos anos 80. Mesclavam-se, naqueles tempos, períodos de estímulo ao crescimento com fases de arrocho monetário.
Era a política do stop and go (para e anda, na tradução literal do inglês).
Os que diziam que aquela política passava ao largo da credibilidade podem dizer o mesmo da política fiscal atual.

Um dos pontos mais inquietantes é que as contas fiscais deixam de ser previsíveis. A meta para 2013 é ter um superávit primário no setor público consolidado de R$ 155,85 bilhões, mas o governo pode reduzir esse montante de R$ 65,2 bilhões. Na quinta-feira, ao comentar o Relatório de Inflação, um diretor do Banco Central (BC), Carlos Hamilton de Araújo, evitou responder sobre o impacto das contas fiscais sobre a inflação.
"Não cabe ao BC falar sobre contas fiscais", disse.

O déficit nominal do setor público - medida mais importante de avaliação das contas - atingiu o elevado valor de R$ 23,2 bilhões, em fevereiro.

E, no bimestre, mesmo com os resultados favoráveis de janeiro, as contas deixaram a desejar: a receita total do governo central cresceu apenas 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as despesas aumentaram 13,9%.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, argumentou que foram transferidos a Estados e municípios R$ 2,9 bilhões a mais do que no mesmo período de 2012. Mas isso não esgota as dúvidas.

O Tesouro está tendo de lidar com decisões de política econômica adotadas fora da sua alçada, como a diminuição dos juros básicos, que reduz a remuneração das aplicações, mas também o Imposto de Renda recolhido sobre esses ganhos.
Tampouco tem controle sobre gastos com investimentos, citados pelo secretário entre os responsáveis pelo déficit.

Nas contas fiscais, transparência e previsibilidade - o que mais importa - não se veem. A transparência foi ofuscada pelos malabarismos fiscais de 2012 (como a distribuição forçada de dividendos das estatais).
A imprevisibilidade já é admitida pelas autoridades, pois novas desonerações estão em pauta e a retomada econômica é incipiente. A antecipação do debate sobre a sucessão pode dificultar ainda mais a administração pública.

O Estado de S.Paulo
31 de março de 2013

SALVE O MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 1964!

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5ihS09sUFXVDNxocc99Jb2ENkVU3qOu-DvCGMN7oBlh2M-_vinu9GwTcM9aNtpoEFwpJCQ6b2WEhmoU499G-J02jFCbM7Bek-II62zlqCIliAaDzVluYCuMPAApDRmHHQVZlrIibl34c/s1600/governos_progressistas38565.jpg


31 DE MARÇO DE 2013

"O ASSUNTO DO DIA"

Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária

Quem sempre teve uma relação correta com sua empregada está tranquilo. Afinal, férias, 13º, INSS, são coisas que nem precisariam de lei para existir, e além de serem justas, fazem com que as relações entre empregada/empregador sejam amenas e pacíficas, o que torna a vida melhor para todos.

Mas nenhuma lei é perfeita, vide a proibição de dirigir depois de beber; se é possível se recusar a fazer o teste, que lei é essa?

Uma das coisas mal resolvidas é a carga horária. A ideia é que sejam até 44 horas semanais, praticamente nove horas de trabalho de segunda a sexta, o que é demais para qualquer mortal, já que esse trabalho é, na maior parte das vezes, físico, e descansar uma hora, no meio do expediente, como, onde? Na sala, vendo TV?

Por outro lado, não há quem precise de uma doméstica tantas horas seguidas, a não ser uma família com pai, mãe e quatro filhos, em que ninguém arruma sua cama, as roupas são largadas pelo chão, cada um almoça e janta na hora que quer, e aí nem as nove horas diárias vão ser suficientes. Já pensou, explicar aos adolescentes -e seus amigos, já que eles só andam em turma- que não dá para pedir vários lanchinhos várias vezes por dia?

Por tudo isso e mais alguma coisa, acho que esqueceram de falar, nessa nova lei, da remuneração por hora de trabalho. Afinal, o horário de uma diarista varia: existem as que trabalham duas horas, três, quatro ou cinco -e outras, nove.

Os que moram em apartamentos grandes vão precisar de uma empregada em tempo integral e vão pagar por isso; mas para quem vive num quarto e sala, duas horas de trabalho, duas vezes por semana, são mais do que suficientes.

É claro que o preço para duas horas não é o mesmo que para nove, e quem tem um emprego de duas horas, duas vezes por semana, pode perfeitamente ter mais dois ou três (empregos).

E mais: se o empregador tiver que pagar auxílio-creche, auxílio-colégio, salário família e estabilidade em caso de gravidez, então só sendo milionário para poder ter uma empregada. Aliás, só pra saber: se for estipulado o preço da hora de trabalho, o preço vai ser o mesmo para quem mora em Caxias e o quem tem uma cobertura com piscina na Delfim Moreira? Só pra saber.

Tenho passado as noites em claro, apavorada, já que sou totalmente dependente de uma ajuda doméstica. Já tive vários tipos de vida, desde morar em apartamento grande e ter três empregadas, a um pequeno conjugado onde alguém vinha uma vez por semana dar aquele toque de talento que Deus não me deu.

Que felicidade, entrar numa casa, seja ela imensa ou mínima, e sentir que por ali passou uma abençoada mão de fada. Eu troco essa ajuda por qualquer vestido, qualquer carro, qualquer viagem, qualquer joia, porque para mim esse é o maior dos luxos: uma casa bem arrumada e cheirosa.

E espero que as novas leis me permitam, sempre, pagar o que merece a dona desse talento, que para mim vale ouro. Mas a partir de agora vou prestar atenção e contratar mães de filhos já crescidos, até porque em qualquer lugar do mundo a obrigação de dar creche e colégio é do governo.

Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária. E se não der certo? Demitir vai sair tão caro que trabalhar como arrumadeira será praticamente ter estabilidade no emprego, como os funcionários públicos; e demissão, praticamente, só por justa causa.

Aliás, o que é que caracteriza a justa causa? As empregadoras não sabem, mas pergunte a qualquer candidata a um emprego doméstico; todas elas sabem, na ponta da língua, o que não podem fazer, para não correrem o risco de uma justa causa.

É curioso o mundo moderno: um marido pode ser dispensado por incompatibilidade de gênios, e uma empregada doméstica não.

31 de março de 2013
Danuza Leão, Folha de São Paulo

"BRASIL, DEMOCRACIA FALHA"

Mais um ranking mundial, mais uma colocação ruim, pela carência de cultura e participação políticas
Acaba de sair mais um ranking internacional e, de novo, a colocação do Brasil é desagradável.

Trata-se do "Índice de Democracia-2012" da EIU (Unidade de Inteligência da Economist, o braço de pesquisas da badalada revista britânica).

O Brasil fica em 44º lugar, empatado com a Polônia, em um total de 165 Estados e dois territórios. Leva nota total 7,12 e é classificado como "democracia falha", o segundo degrau do índice. O primeiro é "democracia plena", o terceiro é "regime híbrido", com elementos tanto de democracia como de autoritarismo, e o último, obviamente, é "regimes autoritários".

O ranking leva em conta cinco características; processo eleitoral e pluralismo, liberdades civis, funcionamento do governo, participação política e cultura política.

O Brasil vai bem nos dois primeiros, como é natural após 30 anos de processos eleitorais limpos, de pluralismo (até excessivo) de vozes na arena política e de vigência das liberdades públicas clássicas.

Mesmo o "funcionamento do governo" é avaliado como razoável (nota 7,5).

Ou seja, nos quesitos formais da democracia, o país está bem. A falha, que rebaixa a nota geral, se dá em "participação política" (nota 5) e, pior, em "cultura política", item em que é reprovado (apenas 4,38).

É óbvio que esse tipo de ranking pode sempre ser questionado porque envolve uma certa subjetividade. Se eu fosse "rankeador", jamais colocaria Cabo Verde (é o 26º colocado) à frente do Brasil.

Mas é mais útil, em vez de questionar o ranking, questionar os defeitos que puxam o país para baixo. E, aí, acho que só os patrioteiros fanáticos de plantão duvidarão das baixas participação e cultura políticas do país.

Não vou me estender a esse respeito até porque tratei um pouco do tema faz apenas uma semana (http://folha.com/no1251686).

Melhorar no ranking de democracia não é apenas uma questão de orgulho patriótico. Basta citar os 10 países que ocupam os primeiros lugares para perceber como seria bom estar ao lado deles: Noruega, Suécia, Islândia, Dinamarca, Nova Zelândia, Austrália, Suíça, Canadá, Finlândia e Holanda.

Nem dá para dizer que são países ótimos, mas monótonos, porque pelo menos Austrália e Holanda são divertidíssimos.

Brasil à parte, vale registrar que pouco menos de metade da população mundial vive em democracia, plena, falha ou híbrida. Mas só 11% dos habitantes do planeta residem no que a EIU considera democracias plenas. Pior: 2,6 bilhões de pessoas, mais de um terço da população mundial, ainda vivem sob regimes autoritários, número muito influenciado pela China, 142ª colocada, com merecido zero em "processo eleitoral e pluralismo".

O relatório constata que a crise de 2008 e seus desdobramentos "continuam a ter impacto negativo em democracias supostamente estáveis do mundo rico", numa prova de que "mesmo democracias há muito estabelecidas são vulneráveis à corrosão se não forem nutridas e protegidas". Imagine então no Brasil.

31 de março de 2013
Clóvis Rossi, Folha de São Paulo

"PEITOS PELO PROGRESSO"

“Eu não acredito que isso dê certo”. “Nem eu” — disse ele. “Mas tem muita mulher precisando de uma desculpa correta para mostrar os peitos. É uma colaboração da minha parte, eu sempre procuro apoiar a mulher”

 
Como já tive oportunidade de comentar aqui diversas vezes, Itaparica sempre esteve na vanguarda e não raro puxou o bonde nacional. Assim foi quando, depois de os aturarmos durante quase um ano, na época do padre Vieira, enchemos o saco de tantos vanderdiques e vanderleis e botamos os holandeses da ilha para fora — e tudo às carreiras, tanto assim que vários ficaram para trás, para usufruto das conterrâneas mais necessitadas ou mais assanhadinhas, assim se originando as flores que são nossas mulatas de olhos verdes, as quais vem gente de todo o mundo para conhecer.
Quase dois séculos mais tarde, se não fosse a ilha, talvez não houvesse independência, pois a convicção dos historiadores sérios é de que o grito do Ipiranga não passou de gogó e sair mesmo no tapa com os portugueses foi na ilha e redondezas.

E não é somente nessa história mais remota que nos destacamos, mas, por exemplo, finado Lamartine, Deus o tenha, contava que um certo coronel Veiga, do tempo em que Lamartine era menino, recebeu um telegrama do Rio de Janeiro, enviado no dia 9 de novembro de 1889, dizendo o seguinte:
“MEU CORONEL VG COUSA ESTAH FEIA PT PROCLAMO OU NAO PROCLAMO REPUBLICA INT AGUARDO PREZADAS INSTRUCCOENS PT SAUDACOENS VG SEU CRIADO DEODORO.”
Quis, todavia, o dedo ingrato do destino que esse 9 de novembro caísse num sábado, o que atrasou um pouco o telegrama, que só chegou no sábado seguinte, dia 16, quando a desgraça, quer dizer, a república já estava feita. Lamartine lembrava que o coronel xingou o telégrafo até morrer, argumentando que o atraso o fizera cometer uma desfeita contra Pedro II, com quem sempre tivera bom trato.

Em matéria de modas, das filosóficas e artísticas às de aparência e comportamento, tampouco ficamos atrás. Manda a honestidade reconhecer que nunca fomos ditadores da moda, se bem que, no tempo em que o navio atracava na ponte em frente à pensão de Anita, o desfile das moças à espera do desembarque fosse mais elegante e colorido do que em muitas passarelas do Sul do País.
Mas também se frise que, embora acompanhemos as preferências mais modernas, jamais incorremos em imitação servil e até por vezes marchamos, como se diz hoje em dia, na contramão de certas tendências, como o que aconteceu com a discutida questão da qualidade de vida.

A qualidade de vida até que pareceu que ia pegar e Beré de Babau chegou a fundar uma academia de ginástica aeróbica com trilhas sonoras de Michael Jackson, mas diz o povo que Babau ficava espiando as alunas e aí Beré deu uns cachações nele e se despediu da carreira de magistério.
Sobrou somente Badego que todo dia, chova ou faça sol, sai andando acelerado de costa a contracosta, mas se sabe que Badego, excelente e educadíssima pessoa, por todos admirado, nunca regulou bem da ideia, qualquer um no Mercado corrobora. Gugu Galo Ruço, que é várias vezes rico milionário em Salvador e vem à ilha treinar deitar na rede, me esclareceu a posição que prevalece na terra.

— O problema — disse ele — é que, para garantir qualidade de vida, a gente tem que sacrificar muito a qualidade de vida. Faz cada exercício medonho, come regrado, não come açúcar, não come gordura, não come carne vermelha, não come conserva, metade do prato é capim, não fuma, bebe uma merreca de um dedal de vinho por dia, não perde noite, não toma porre, passa o dia inteiro bebendo água, tem que ter muita abnegação.

— Mas assim você garante uma boa qualidade de vida na velhice.

— E na velhice eu vou poder fazer todas essas coisas?

— Não, claro que não. Não é isso o que…

— Quer dizer, não faço nem na mocidade nem na velhice, é isso? Assim, ou eu vivo ou tenho qualidade de vida. Eu cheguei à conclusão de que viver é preferível.

Mas pelo menos uma moda contemporânea parece que vai ter melhor destino, a julgar pelo que foi revelado em primeira mão, no largo da Quitanda, por Zecamunista. Ele, sempre muito interessado no papel político das mulheres, vem acompanhando com grande interesse os protestos, cada vez mais numerosos, em que elas aparecem com os seios à mostra, para denunciar leis iníquas, abusos de poder e discriminação de todos os tipos.

— Ontem mesmo eu vi na internet uma manifestação fantástica — contou ele. — Uma coisa de um vigor impressionante, não há massa que não fique mobilizada. Tinha uma delegação norueguesa muito boa, até agora estou impressionado.

— E a manifestação era contra o quê?

— Bem, eu não me lembro, na hora eu não percebi, também não se pode assimilar tudo, vou ter que ver mais algumas vezes ainda, vou precisar.

— Vai precisar?

— Não se meta a engraçado, eu sou um homem sério e um feminista de respeito, um paladino das mulheres. Eu vou canalizar o potencial das mulheres aqui da ilha, mais uma vez. Vou fundar uma ONG chamada Peitos Cívicos da Ilha e tenho certeza de que em breve seremos uma das entidades mais temidas do Brasil. Os poderosos tremerão, quando anunciarem que as soldadas dos Peitos Cívicos chegaram, vai ser mais devastador do que a cavalaria para os índios americanos, vai ser peito pulando por todos os lados, um massacre!

— Eu não acredito que isso dê certo.

— Nem eu — disse ele. — Mas tem muita mulher precisando de uma desculpa correta para mostrar os peitos. É uma colaboração da minha parte, eu sempre procuro apoiar a mulher.

31 de março de 2013
João Ubaldo Ribeiro, O Globo

"TENTATIVA DE COMPREENSÃO"

 
Esse revolucionarismo retardado, na maioria dos países, foi uma fantasia passageira
Talvez que, para melhor entender o atual neopopulismo que chegou ao governo de alguns países latino-americanos, convenha lembrar o que ocorreu antes, logo após a Revolução Cubana, de 1959.

A tomada do poder pelos guerrilheiros de Fidel Castro levou alguns setores da esquerda latino-americana a embarcar na aventura da luta armada, de desastrosas consequências. Os Estados Unidos, que haviam aprendido a lição cubana, trataram de induzir os militares da região a substituir governos eleitos por ditaduras militares.

Nesse quadro, a exceção foi a chegada ao poder, pelo voto, de um partido de esquerda, elegendo Salvador Allende, no Chile, com o apoio da Democracia Cristã, que dele se afastou quando o viu refém da extrema esquerda.

O resultado disso foi o que se conhece: Allende foi deposto e morto, dando lugar à ditadura de Augusto Pinochet. Todos os movimentos guerrilheiros foram sistematicamente dizimados nos diversos países onde surgiram, e com eles a esquerda moderada.

As ditaduras militares, durante décadas, lançando mão da tortura e eliminação física dos adversários, tornaram inviável a vida democrática nesses países. Mas se desgastaram e tiveram que, finalmente, devolver o poder aos civis.

Em cada país isso ocorreu em momentos diversos e com características próprias. No Brasil, por exemplo, essa passagem se fez mediante um acordo que resultou em anistia geral e irrestrita, o que, sem dúvida, facilitou a reimplantação do regime democrático.

Não obstante, aqui como noutros países, esse retorno à democracia não significou o abandono, por todos, dos propósitos revolucionários.

Em alguns deles, os antigos guerrilheiros se reorganizaram em partidos que, implícita ou explicitamente, ainda que disputando eleições, visavam a implantação do regime socialista a que, antes, tentaram alcançar pelas armas.

Esse é um fenômeno curioso, especialmente porque se manteve mesmo após a derrocada do sistema socialista mundial e quando, com o fim da União Soviética, o regime cubano entrou em visível decadência e passou a fazer concessões ao capital norte-americano, que, então, voltou a explorar a hotelaria e o turismo, o que, para os revolucionários de 59, havia transformado Cuba num prostíbulo.

Mas esse revolucionarismo retardado, na maioria dos países, foi uma fantasia passageira, uma vez que, na disputa eleitoral, ficou provado que a maioria da opinião pública rejeitava as palavras de ordem radicais.

No Brasil, após várias derrotas, Lula exigiu que o PT abrisse mão do radicalismo, ou ele não se candidataria mais. Sem outra alternativa, o partido o atendeu e publicou uma Carta ao Povo Brasileiro, em que abria mão do revolucionarismo de palavra e, graças a isso, conseguiu ganhar as eleições de 2002.

Mas não parou aí, pois, para governar, Lula teve que aliar-se até com os evangélicos, numa total negação de seus princípios ideológicos. Claro que, para aparentar fidelidade a suas origens e satisfazer discordâncias internas, estatizou tudo o que pode, enquanto usava o dinheiro público, por meio do BNDES, para financiar grandes empresas privadas.

Esse é o dilema dos neopopulistas latino-americanos: usam discurso de esquerda e governam fazendo acordos e concessões que sempre condenaram. No discurso de Hugo Chávez, por exemplo, os Estados Unidos apareciam como o capeta, mas é para eles que a Venezuela vende quase todo o seu petróleo.

Sei que é impossível fazer política sem fazer concessões. Não é isso que critico, portanto. O que pretendo mostrar é como a esquerda, que se dizia radicalmente comprometida com os princípios anticapitalistas, ao perceber a inviabilidade de seu projeto ideológico, converteu-se, na prática, em seu contrário, mantendo, não obstante, o mesmo discurso de antes.

O mais patético exemplo disso é mesmo o chavismo, que, agora sem o Chávez, deve tomar um rumo imprevisível.

É certo, também, que o neopopulismo, valendo-se do assistencialismo e do discurso esquerdista, inviabilizou a esquerda moderada, que ficou sem discurso. O Brasil é exemplo disso. Lula se apropriou dos programas sociais e econômicos do governo anterior, contra os quais lutara ferozmente, e ainda os qualificou de herança maldita.

31 de março de 2013
Ferreira Gullar, Folha de São Paulo

REPÚBLICA DE GAFANHOTOS

 

Demorou bem mais do que ela gostaria. Mas, finalmente, a presidente Dilma Rousseff vai conseguir montar o seu 39º Ministério, o da Micro e Pequena Empresa, impondo ao País um gasto adicional de R$ 7,9 milhões. Para o microempreendedor de nada vale, até porque a nova pasta é apenas uma peça a mais no tabuleiro de 2014, incrementando o toma-lá-dá-cá do singular jogo da coalizão tupiniquim.

Com 66 cargos de livre indicação, não chega a ser um “jilozinho”, apelido dado à Secretaria de Assuntos Estratégicos - aquela que “não elege nem um vereador”, segundo o seu ex-titular Wellington Moreira Franco -, mas parece não valer lá grandes coisas.

Prometido para o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, o ministério não o seduziu. Ainda assim, deverá cair no colo de um de seus partidários, talvez no do vice-governador de São Paulo Afif Domingos, por mais esdrúxula que a situação pareça e seja. Aliás, essa é uma das vantagens de não ser de esquerda, nem de direita, nem de centro: poder colocar ao lado de Dilma um ministro que é vice de um governador tucano.

Com 22 mil cargos de confiança que custam ao Brasil mais de R$ 200 bilhões ao ano, o Estado comandado por Dilma lidera todos os rankings. Nos Estados Unidos os tais comissionados não passam de oito mil; na França, beiram os quatro mil, na Inglaterra resumem-se a 300.

Está bem na frente também em outra lista ainda mais nefasta: poucos de seus ministros sabem o bê-á-bá da pasta que dirigem e vários não passam no teste da ficha-limpa. Transformam os ministérios em feudos, distribuem verbas apenas para os seus colégios eleitorais – ou para os lugares em que o partido manda -, acumulam recursos para a disputa eleitoral seguinte.

Boa parte nunca vê a chefe, que, possivelmente, não sabe de cor nem mesmo o nome de todos eles.


Somam-se aos 39 ministérios 294 empresas estatais controladas pela União e mais de 350 em que o governo tem participação minoritária. E como o PT de Lula, momentaneamente encarnado em Dilma, avança como nuvem de gafanhotos que nada poupa, as empresas mais lucrativas até então, como a Petrobrás e Eletrobrás, amargam prejuízos recordes, uns atrás de outros, impostos pela ingerência governamental, ou melhor, eleitoral.

Um Estado caríssimo, perdulário, cujo preço já está começando a ser cobrado e que cada vez ficará mais caro para esta e para muitas gerações. Alimentado por um governo do vale-tudo. Que não se satisfaz com maiorias acachapantes, popularidade nos píncaros. Quer a hegemonia e por ela tudo fará.

Depois de sacrificar a ideologia e o caráter, só sobrou o poder pelo poder. A ordem unida é ocupar. Tudo.

31 de março de 2013
Mary Zaidan é jornalista.

O MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR QUE VENCER O GOLPE COMUNISTA NO BRASIL

1964 ME REPRESENTA, SIM!

 
A nova modinha política do momento é a malhação pública do deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). “Artistas” e “intelectuais” têm aderido em número cada vez maior aos protestos contra o parlamentar, e um zilhão de pessoas acharam conveniente desabafar toda a sua revolta nas redes sociais sob o lema “não me representa”.
Não quero aqui entrar nos detalhes dessa demonstração coletiva de imbecilidade, mas analisar uma de suas muitas utilizações – demagógicas em sua maioria – para outros fins.


Vejam a foto acima. Ela tem sido compartilhada pelo grupo libertário Estudantes Pela Liberdade (EPL) para lembrar o movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart e interrompeu os sonhos totalitários de muita gente dentro e fora do Brasil. Podemos analisar a imagem por duas perspectivas: o que ela quis dizer e o que ela efetivamente disse.

A mensagem que o EPL quis compartilhar, acredito eu, é a de que todo o Regime Militar não os representou. E, nisso, estou com eles. O Regime Militar também não me representa. Muitas políticas adotadas pelos governos dos generais foram autoritárias e deram ensejo à perseguição de pessoas inocentes.
Além disso, os governos militares tiveram um caráter essencialmente estatólatra do ponto de vista econômico, algo com o qual não posso concordar – o livre mercado é a forma mais eficiente e justa de promoção da inclusão social e do desenvolvimento econômico.
Mas, ao fim e ao cabo, suspeito que o último governo que possa ter minimamente me representado tenha sido o de D. Pedro II. No entanto, a pergunta realmente pertinente é: qual foi a mensagem que o EPL conseguiu, de fato, passar?

Ao contrário do que a historiografia oficial e oficiosa conseguiu sedimentar no imaginário do povo brasileiro, o movimento cívico-militar de 1964 não foi fruto das aspirações sinistras de poder e glória de um punhado de generais rancorosos com o conluio e o apoio entusiasmado de potências estrangeiras (diga-se, Estados Unidos).
 
O que aconteceu no dia 31 de março de 1964 foi a resposta aos anseios da própria população brasileira diante da escalada de violência política e de instabilidade institucional pela qual passávamos então. Doze dias antes, quase 1 milhão de pessoas havia saído às ruas de São Paulo protestando contra o discurso que o presidente João Goulart proferira no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964 – em que garantia que “com ou sem o congresso, na lei ou na marra”, iria promover as reformas coletivistas que tanto queria. Já havia grupos de guerrilha devidamente montados, com apoio militar e financeiro de regimes comunistas (notadamente Cuba e União Soviética), e em atuação no interior do País.
 
Pessoas do alto escalão do governo e aliados próximos de João Goulart, como Leonel Brizola e Miguel Arraes, trabalhavam dentro do governo brasileiro a soldo desses mesmos países que financiavam a guerrilha rural brasileira.
No dia 2 de abril de 1964, quase dois milhões de pessoas saíram às ruas do Estado da Guanabara (Rio de Janeiro) para mostrar seu apoio aos militares e agradecê-lhes por terem demovido um presidente que diuturnamente rasgava a Constituição e pavimentava o caminho para a implantação de um regime totalitário em solo pátrio. Tudo isso está devidamente documentado.

Se hoje gozamos de alguma liberdade – curiosamente tornada cada vez mais exígua por aqueles que pegaram em armas para derrubar o governo militar e implantar regimes totalitários –, isso se deve em muito ao movimento cívico-militar de 31 de março de 1964. Esses homens atenderam ao chamado da população naqueles dias e cumpriram seu dever constitucional e institucional de salvaguardar a nação contra um perigo iminente, homens esses que, em sua quase totalidade, não se locupletaram no poder nem o utilizaram para garantir um futuro dourado para si próprios.

E a mensagem que o EPL quer passar é que esse movimento das Forças Armadas em atender o legítimo clamor popular, cumprindo seu dever de proteger a nação, e ao menos atrasar a instauração de um regime totalitário comunista no Brasil não os representa.
Isso tudo pode não representar o EPL, mas representa aqueles que conseguem enxergar a realidade dos fatos por trás da densa cortina de fumaça alimentada zelosamente pela esquerda brasileira há décadas.

Por isso eu digo:
 
o movimento cívico-militar de 31 de março de 1964 me representa, sim!
 
O que não me representa é a utilização demagógica e pouco refletida de armas retóricas da guerra cultural, forjadas pelos verdadeiros inimigos da liberdade para confundir e cooptar, na construção de um bom-mocismo daninho e perverso.
31 de março de 2013

31 DE MARÇO DE 1964




31 de março de 2013

OPINIÃO



Tão inadequada, injusta e paradoxal é a presença do pastor Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara como a presença de João Paulo Cunha e José Genoíno na Comissão de Constituição e Justiça !
 
Por que a militância só faz a grita unilateralmente? Feliciano foi escolhido através de métodos democráticos e estão querendo tirá-lo à força, na base do grito... Isso é exercício de democracia ou de beneditadura?
Os dois condenados petistas estão na moita só olhando o circo pegar fogo em cima do pastor...isso é justo?
 
O pastor não é réu e muito menos um condenado ...já os dois petistas foram condenados pelo nada menos que o Supremo Tribunal Federal. Que se cumpra a pena estipulada contra ambos!

31 de março de 2013
Mara Montezuma Assaf
 
 

COMISSÃO DA VERDADE ENVEREDA PARA A CRIMINALIZAÇÃO DE INOCENTES, APARELHADA POR ONG AMBIENTALISTA FINANCIADA COM DINHEIRO AMERICANO


O trecho abaixo é estarrecedor, parte de uma entrevista de Maria Rita Kehl, psicanalista que faz parte da Comissão da Verdade, publicada hoje em O Globo. Ela afirma que, a respeito de índios, não está ouvindo a FUNAI ou qualquer outro órgão que atue com os índios. Está ouvindo o ISA, Instituto Sócio Ambiental, ONG financiada por dinheiro "gringo" para pesquisar riquezas da Amazônia, por detrás de seu interesse por índios.
O Globo: Houve índios torturados?
Maria Rita Kehl: Teve pouca tortura com índio, pelo que eu saiba até hoje. Há fotos horríveis de índio pendurado em pau de arara, de uma índia cortada ao meio. Mas são poucos casos. Estou começando a olhar a parte indígena agora, em colaboração com o Instituto Sócio Ambiental, que está há quarenta anos pesquisando indígena, então seria antecipar algo que ainda não sabemos. A violação contra os indígenas foi o modo como a terra deles foi ocupada. À força, às vezes à bala, queimando tudo. Expulsando e aí, sim, torturando os casos de resistência. Tem dois tipos de violação. O primeiro é a disputa por terra, o fazendeiro vai, expulsa à bala. E o outro, importantíssimo, principalmente a partir dos anos 70, foram as políticas de ocupação da Amazônia pelos governos Médici e Geisel, o “integrar para não entregar”. Foi aí que se entregou para grandes empresas e fazendeiros, para fazer hidrelétricas, estradas. Os índios foram tratados não como brasileiros que tinham que ser eventualmente remanejados, mas como lixo na beira do caminho: tira eles dali.
É bom que a Frente Parlamentar da Agropecuária e que o próprio Governo fiquem atentos para onde está indo a Comissão da Verdade. Sem ter o que provar contra os militares, pode estar abrindo caminho para criminalizar os "ruralistas" e ser um elemento decisivo para impedir as construção de grandes obras na Amazônia. Dilma queria chocar o país com o relatório? O tiro vai sair pela culatra.
 
31 de março de 2013
 

EM BUSCA DA VERDADE

 

A Comissão da Verdade passa por um processo interno de debate para definir qual seu verdadeiro objetivo, se promover uma catarse nacional para superar os traumas causados pela ditadura militar, como querem alguns de seus membros, ou preparar um relatório que deixe registrado para a História o que foram os tempos da ditadura, além de documentos que possam ser consultados na internet pelos interessados. Além da discordância de fundo entre seus membros, há discordância também sobre os procedimentos a serem adotados.

Uma parte do grupo de sete membros que compõem a Comissão considera que um de seus objetivos é levar à opinião pública o maior número possível de informações sobre as atrocidades cometidas pela repressão militar durante a ditadura — de preferência da boca de parentes e pessoas que estiveram envolvidas na luta armada, de maneira que esses depoimentos sirvam para promover uma verdadeira catarse nacional, a melhor maneira de superar os traumas que ainda permanecem latentes na cidadania.

Sem esse tratamento de choque, seria impossível avançar no nosso processo democrático, sustentam os que defendem a tese.

Outros consideram que a superação já foi alcançada pela negociação política feita na transição da ditadura para a democracia, culminando com a Lei da Anistia e a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República.

O trabalho da Comissão da Verdade, nessa visão, seria o de contar a História daquele período para que ela não se repita.

A maneira de chegar aos objetivos de cada grupo também difere. Se ainda é majoritário o grupo que prefere uma ação mais discreta, que culminaria num relatório e na possibilidade de consulta de documentos pela internet, ganha força na Comissão a tendência de incluir nomes nesse relatório final, o que também causa controvérsias.

Há membros do grupo que consideram uma radicalização dispensável a inclusão de nomes. Alegam que, das 40 comissões já feitas no mundo sobre o assunto, nenhuma fez relatórios dando nomes aos torturadores ou aos que participaram direta ou indiretamente das ações criminosas da repressão militar.

No Chile, que fez duas comissões, a última elaborou uma lista de nomes que foi enterrada em uma caixa para ser aberta dentro de 50 anos.

Há muitas dúvidas, por exemplo, sobre a participação de empresários ou médicos no financiamento e auxílio às torturas. Enquanto a ação de alguns pode ser comprovada através de testemunhas, outros poderiam ser acusados sem que tivessem tido condições de recusar a participação.

Há depoimentos de empresários que alegam terem sido forçados a colaborar financeiramente através de ameaças e chantagens.

Há também diversos laudos assinados por legistas que, analisados por uma equipe de especialistas, foram considerados falsos ou com erros primários. A intenção dos médicos que assim agiram teria sido denunciar a farsa que estava sendo montada pelos militares.

Outra questão debatida com muita intensidade dentro da Comissão é a sua limitação, diante da lei aprovada pelo Congresso. Grupos de pressão querem que ela abra processos contra os acusados de participação no esquema de torturas.

Por outro lado, grupos de militares enviaram à Comissão relatos de ações terroristas contra alvos militares, exigindo que também esses sejam alvo da Comissão.

Como a lei brasileira que criou a Comissão da Verdade não permite nem uma coisa nem outra, as pressões vêm de vários lados, e expõem as diferenças de pensamento de seus membros.
Essa visão diversificada, que deveria ser benéfica para o resultado final do trabalho, acaba impedindo que ele se desenvolva sem interferências ideológicas.

Pessoalmente, considero estranha essa tentativa de se armar uma encenação teatral para envolver a opinião pública emocionalmente. Mais eficaz para o interesse do país será produzir um relatório minucioso, denunciando como funcionava a máquina de repressão militar, definindo a responsabilidade de cada um e dando os seus nomes quando for possível a identificação acima de quaisquer dúvidas. Os eventuais processos civis têm que ficar por conta dos familiares das vítimas.

31 de março de 2013
Merval Pereira, O Globo

DELFIM E A DOMÉSTICA QUE VIROU MANICURE

 

Veio do professor Antônio Delfim Netto (foto) a boa resposta aos sábios que defendem uma freada na economia. Numa breve declaração à repórter Gabriela Valente, ele disse o seguinte:

— A empregada doméstica virou manicure ou foi trabalhar num call center. Agora, ela toma banho com sabonete Dove. A proposta desses “gênios” é fazer com que ela volte a usar sabão de coco aumentando os juros.

Aos 84 anos, com treze de ministério, durante os quais mandou na economia como ninguém, mais vinte de Câmara dos Deputados, Delfim diz que o Brasil vive um “processo civilizatório”. Graças ao restabelecimento do valor da moeda por Fernando Henrique Cardoso e ao foco social expandido por Lula, Pindorama passa por uma experiência semelhante à dos Estados Unidos durante o governo de Franklin Roosevelt.
Em poucas palavras: ou tem capitalismo para todo mundo ou não tem para ninguém.

Ao tempo dos gênios, um ministro do Trabalho disse que o Brasil não tinha desemprego, mas gente sem condições de empregabilidade. Em 2002, havia no país seis milhões de desocupados. Entre eles, estivera o engenheiro Odil Garcez Filho.

Foto: Germano Luders / EXAME

Em 1982, quando Delfim era ministro do Planejamento, ele fora demitido, decidiu abrir uma lanchonete na Avenida Paulista e a batizou de “O Engenheiro que virou Suco”. No vidro da caixa colou seu diploma. Garcez morreu em 2001 e não viveu uma época em que faltam engenheiros no mercado.

A doméstica que virou manicure da metáfora de Delfim Netto não tem identidade, mas é um contraponto ao Brasil de Garcez, de uma época em que os gênios viriam a atribuir a falta de absorventes femininos a um “aquecimento da demanda”, como se o Plano Cruzado tivesse interferido do ciclo biológico das mulheres. Com seu sabonete Dove, a manicure de Delfim entrou num mercado de higiene pessoal que em 2012 faturou mais R$ 30 bilhões.

O “processo civilizatório” incomoda. Empregada doméstica com hora extra e acesso à multa do FGTS, o sujeito de bermuda e chinelo no check-in do aeroporto, cotistas e bolsistas do ProUni na mesma faculdade do Junior são um estorvo para a ordem natural das coisas. Como o foram a jornada de oito horas, os nordestinos migrando para São Paulo e o voto do analfabeto.

Quando Roosevelt redesenhou a sociedade americana, a oposição republicana levou décadas para entender que estava diante de um fenômeno histórico. Descontando-se os oito anos em que o país foi presidido pelo general Eisenhower, ela só voltou verdadeiramente ao poder em 1968, com Richard Nixon, 36 anos depois.

31 de março de 2013
Elio Gaspari, O Globo