"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 7 de agosto de 2012

AS VISÕES DE TRÊS COMENTARISTAS SOBRE O BRASIL NA OLIMPÍADA

 

Ricardo Sales

Mandam 258 atletas sem contar os dirigentes, a grande maioria vai apenas passear fazer turismo, entra Olimpíada sai Olimpíada. Como não ganham nada, vêm com aquela velha desculpa de ganhar experiência.
Quem não foi nem para as semifinal deveria devolver o dinheiro do povo.

Siomara Ponga

Não fale assim, Ricardo, é uma chance que nossos desportistas têm. Ontem, assisti uma entrevista com Thiago e Cielo ( natação ) , são ótimos meninos e estão dando exemplo para outros. O vídeo de uma menina de dez anos que quer ser “igual ao Cielo ” foi mostrado para todos . Cesar Cielo ficou emocionado e falou que ela tem uma “boa largada mesmo “. Pois bem, a mãe vendeu tudo o que tinha e veio para a cidade grande, onde a menina poderá ter um técnico bom, e daí, quem sabe um dia estará lá, feliz, nadando e realizando o sonho .
Se você consegue tocar o coração de uma só pessoa, já valeu.

Paulo Sólon

Comentarista algum ou narrador de TV vai modificar a triste sina do Brasil com relação aos esportes amadores. No Brasil só o futebol é que dispõe de poderosas e vultosas verbas.
Qualquer esporte amador no Brasil vive apenas do esforço de seus atletas e de seus treinadores, sem a menor ajuda do Estado, dos governos federal, estaduais ou municipais.
Nem mesmo as Universidades incentivam o esporte amador.

Patrocinadores só aparecem para tirar vantagem quando o esporte se destaca por sua própria conta. Dentro dessa conformidade, não é surpresa ver os pífios resultados obtidos pelos atletas brasileiros em Olimpíadas ou certames internacionais.
O Comité Olímpico Brasileiro nada mais é que uma sinecura, um cabide de empregos para indivíduos que jamais praticaram de verdade qualquer tipo de esporte.

Fui presidente da Federação do Estado do Rio de Janeiro de Karate-do Tradicional, cofundador da mesma federação na Bahia e também cofundador da Confederação Brasileira de Karate-do Tradicional. Convivi com outros dirigentes do esporte amador e sei o que estou falando.
A falta de recursos para o treinamento dos excelentes atletas e também para enviá-los a certames internacionais é algo desanimador. No Brasil só há recursos para futebol.

Se continuar assim, esqueçam quaisquer resultados positivos de peso para a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, de vez que Olimpíada é festival para esporte amador.
Se o Brasil é o país do futebol, esqueçam Olimpíada.

NÃO SE PODE ESQUECER O DINHEIRO QUE O BRASIL DOA A PAÍSES ESTRANGEIROS

  

Só relembrando mensagem que circulou na internet no inicio de 2011: Lula distribuiu R$ 61 bilhões para 27 países em 2 anos.

Só para lembrar: “o governo Lula e Dilma dizem não ter dinheiro para reajustar os aposentados. Mas, tem para doar para os estrangeiros.
A defasagem dos aposentados que recebem mais que um salário mínimo:

1. No Governo FHC : 18,77%

2. No Governo Lula : 42,27%

Somente nos dois últimos anos de seu governo, o ex-presidente Lula distribuiu mais de R$ 61 bilhões do contribuinte brasileiro para 27 países, a maioria na América Latina, sendo oito na África, para além de algumas das mais tenebrosas ditaduras, como Líbia, Síria e Irã.
Parte expressiva dos recursos saiu do Brasil por meio de financiamento do BNDES, para obras tocadas por empreiteiras favoritas do governo.


PERPLEXIDADE

A lista dos 27 países aos quais Lula deu dinheiro causou perplexidade nos senadores, até nos governistas, da Comissão de Assuntos Econômicos.
A indignação dos senadores também decorreu do fato de que os R$ 61 bilhões terem deixado os cofres públicos sem autorização do Senado.


“DESEMBOLSOS”

Oficialmente, o BNDES admite “desembolsos” de US$ 1,2 bilhão na América Latina e de US$ 906 milhões na África. Ou seja, R$ 3,38 bilhões.
Detalhe final: os R$ 61 bilhões destinados por Lula aos 27 países em dois anos é um valor superior à soma das transferências para os Estados, no período.

Guilherme Almeida
07 de agosto de 2012

MINISTROS JÁ TRABALHAM NA FORMULAÇÃO DOS VOTOS

 
Magistrados estudaram com antecedência a ação, mas formato final depende das sustentações orais
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começaram a ouvir ontem a maratona de 38 horas de sustentação oral dos advogados que defendem réus do mensalão, mas enquanto o plenário da Corte cumpre o calendário do julgamento e acompanha os argumentos dos representantes, os ministros já começaram a preparar os votos. Alguns trabalham no texto há pelo menos dois meses, estudando a peça da denúncia do Ministério Público, os memoriais enviados com antecedência pelas defesas e o texto do relator e do revisor, ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente. A participação deve ser encerrada na próxima terça-feira.
Assessorias dos gabinetes de seis dos 11 ministros informaram ao Correio que os magistrados trabalham para adiantar o texto base dos votos, mas se algum dos defensores apresentar uma prova ou argumento que acrescente nova informação aos dados presentes nas 50,6 mil páginas do processo, alterações podem ser feitas. De acordo com o gabinete do ministro Celso de Mello, o magistrado "tem uma estrutura básica pronta", mas está ouvindo com atenção as sustentações orais.
Mergulhado no estudo da Ação Penal 470, o ministro Gilmar Mendes escalou dois analistas do gabinete só para esmiuçar os documentos do processo. De acordo com sua assessoria, Mendes trabalha no texto base do voto desde que a ação penal foi prevista no calendário de 2012 para julgamento. A prévia do voto de Mendes é o ponto de vista do ministro do que está no processo, memoriais da defesa e sustentação oral do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mas novidades na apresentação dos advogados podem produzir mudanças e inserir seus pontos no texto do magistrado, pontua a assessoria. No gabinete, apenas os funcionários destacados para acompanhar a ação penal do mensalão têm acesso a todo o processo, pois há documentos referentes às quebras de sigilo que fazem parte da investigação, mantidos sob reserva.
Os ministros Lewandowski e Marco Aurélio Mello também trabalham, há meses, no voto do processo do mensalão. De acordo com a assessoria de Lewandowski, ele "já tem tudo preparado", mas alterações de juízo podem ser feitas diante de novas argumentações e apresentação de provas por parte da defesa. O relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, concluiu a elaboração do texto-base de seu voto e agora realiza ajustes a partir da sustentação oral do procurador-geral da República e da participação dos advogados de defesa.
O ministro Luiz Fux também já adianta o texto do voto, mas, segundo a assessoria, vai incluir trechos das sustentações orais dos representantes dos 38 réus do mensalão para fazer acréscimos. A assessoria da ministra Cármen Lúcia informa que a magistrada "ainda não tem o voto pronto", mas está trabalhando há muito tempo nos estudos da ação penal. As sustentações orais servirão para agregar elementos que confirmem ou modifiquem a convicção, informou a assessoria.
Divergências  
No primeiro dia de sustentações orais, cinco advogados dos réus José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério e Ramon Hollerbach apresentaram argumentos e questionaram a denúncia do Ministério Público. Ontem, os advogados que fizeram sustentação oral representaram acusados ligados ao mesmo partido, o PT, e réus do núcleo financeiro que também tinham relação de proximidade.
O procurador regional da República em São Paulo, Pedro Barbosa, pontua que a principal importância da fase de sustentação oral no julgamento são as possíveis divergências entre as defesas, que podem representar elementos de avaliação para os magistrados. O procurador também explica que os advogados mais experientes aproveitam a oportunidade para abordar na sustentação oral temas que ainda são considerados obscuros pelos ministros.
"É muito difícil, quando o juiz tem um voto pronto, mudar o entendimento por meio da sustentação oral, mas no processo da Ação Penal 470, há uma quantidade de documentos imensa. Os advogados podem chamar a atenção para pontos em que os ministros estejam em dúvida. Divergências entre advogados de defesa, um argumenta uma coisa, o outro fala outra, também costumam chamar a atenção dos ministros."
"É muito difícil, quando o juiz tem um voto pronto, mudar o entendimento por meio da sustentação oral, mas Os advogados podem chamar a atenção para pontos em que os ministros estejam em dúvida"
Pedro Barbosa, procurador regional da República em São Paulo
Eliana Calmon elogia STF  
O julgamento da Ação Penal 470 — o mensalão — foi elogiado pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, que ressaltou a organização e o respeito do cronograma determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "O STF está dando um exemplo de organização", disse Eliana ontem. A ministra afirmou ainda que os magistrados do Supremo não serão influenciados pela opinião pública. "O STF não julga por pressão das ruas, mas, naturalmente, há uma influência, diminuta, porque os ministros sabem que o julgamento é para a sociedade brasileira. Eles estão conscientes disso."

Correio Braziliense (DF) - 07/08/2012
JOSIE JERONIMO

HISTÓRIA DO PT EM JULGAMENTO


O PT viveu ontem o dia mais complexo de todos os que virão na fase de alegações dos advogados dos réus do mensalão. Pelo púlpito do Supremo Tribunal Federal passaram os advogados de três petistas que ajudaram a construir a história do partido e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, tendo integrado o chamado núcleo duro petista há quase 10 anos. Dois deles, José Dirceu e José Genoíno, são quadros históricos do partido criado em São Bernardo do Campo, em 1980. O terceiro, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, tinha tanto poder que recebeu a missão de encontrar caminhos para quitar as dívidas do PT na campanha presidencial de 2002.

Segundo interlocutores ouvidos pelo Correio, foi um dia complexo para o petismo. Ver, ao vivo, três caciques tendo que se defender perante os 11 ministros do STF, não foi fácil. "É o momento do PT, oficialmente, dar a sua resposta para os fatos", disse o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira. "Esse episódio faz parte da nossa história e nós teríamos que enfrentá-lo de qualquer jeito, em algum momento", completou Teixeira.

O presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), fez questão de manter sua agenda inalterada ao longo do dia de ontem. Reuniu-se com prefeitos petistas e candidatos do partido às eleições municipais de outubro. Aliados de Falcão declararam que ele não pretende pronunciar-se novamente sobre o mensalão. Tudo o que teria de ser dito, de acordo com interlocutores, foi postado no vídeo divulgado há 10 dias, no qual afirmou que "não houve mensalão, os empréstimos foram regulares, sem recursos públicos e nenhum dos petistas apontados na denúncia enriqueceu".

Presidente da CPI dos Correios, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) permanece submerso. Depois de postar no Twitter que manteria "um silêncio ensurdecedor", avocou para si a proteção de São Jorge, citando uma conhecida música de Jorge Benjor. "Salve Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem". Já o ex-líder do PT na Câmara Cândido Vaccarezza (SP) afirma que a "população já absolveu o PT" comparando as eleições disputadas pelo partido após o estouro do escândalo do mensalão.

"Esse episódio faz parte da nossa história e nós teríamos que enfrentá-lo de qualquer jeito, em algum momento"  (Paulo Teixeira (PT-SP), deputado federal)

Correio Braziliense (DF) - 07/08/2012
PAULO DE TARSO LYRA

O CRÍVEL E O INCRÍVEL


Folha de S. Paulo (SP) - 07/08/2012
Eliane Cantanhêde

Perfeito que o advogado José Luis Oliveira Lima repila veementemente a acusação da Procuradoria-Geral da República de que seu cliente, José Dirceu, era "chefe da quadrilha" ou "chefe da organização criminosa".

Mas... só no admirável mundo dos advogados seria possível dizer, com toda a teatralidade cabível, que Dirceu, como chefe da Casa Civil, não mandava nada no PT, não articulava nada, não interferia sequer nas nomeações para cargos públicos.

Sinceramente, essa não dá para engolir, a não ser numa história romanceada do mensalão, em contraponto à que a Procuradoria criou para crianças e que irrita os petistas.

Quanto às audiências de Dirceu com banqueiros e empresários no Palácio do Planalto ("entre quatro paredes"...), Oliveira Lima disse que eram parte do trabalho do então ministro. Mas não explicou onde Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcos Valério se encaixavam.

Chefes da Casa Civil, de fato, recebem em palácio representantes de bancos e de empresas, mas ao lado do tesoureiro do partido e do presidente? Com o secretário-geral desse partido? E o que fazia Marcos Valério no Planalto com as cúpulas de dois bancos diferentes?! É juntar alhos com bugalhos ou... ah, deixa prá lá.

Já o advogado de José Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, lembrou, com propriedade, que seu cliente está longe de ser um homem rico e, ao contrário, tem uma vida até modesta. Mas caiu numa contradição: disse, primeiro, que o mensalão é "inventado e fantasioso" e, ao final, que Genoíno foi "arrastado pela irresponsabilidade de alguns". "Irresponsabilidade" é tradução para mensalão?

Os quatro advogados de ontem contaram uma mesma história, com um mesmo enredo, variando apenas quanto à importância dos personagens -ou clientes. No fim, todos induziram à mesma conclusão: foi tudo caixa dois. E a culpa é do Delúbio? Os 11 ministros podem ou não acreditar.

Folha de S. Paulo (SP) - 07/08/2012
Eliane Cantanhêde

HISTÓRIAS DO MENSALÃO


O culpado pelo mensalão é o Lula. Calma, tento explicar. José Dirceu, chefe da Casa Civil, era o encarregado para arregimentar partidos e lideranças para formar a base de apoio ao iniciante governo Lula.
A base se forma dando cargos, ministérios e estatais. O PMDB estava exigindo seu quinhão de acordo com seu tamanho. Num determinado momento, o presidente Lula manda Dirceu interromper as negociações com o esfomeado PMDB.
A base de apoio, não somente por causa do PMDB, não ficou definida e do tamanho que se imagina que deveria ser.

O governo precisava aprovar medidas urgentes e necessárias para seu início de trabalho. Não tendo uma base coesa, decidiram pagar algo como 30 mil reais por mês para ter apoio de parlamentares em votação de matérias no Congresso. Depois de toda celeuma em torno do mensalão é que o Lula recuou e criou aquela enorme base de apoio. Se tivesse paciência e aceitado o trabalho anterior do

Dirceu não chegaria onde chegou.

O maior impacto sobre o mensalão naquele momento foi porque se dava com o PT. Era o partido que atacara a corrupção por anos. Chegou ao governo com a aura de defensor da ética com a coisa pública. Daqui a pouco se via que não era assim. Se fossem outros partidos mais curtidos nos meandros não republicanos o impacto seria menor.

A coisa se complicou ainda mais para o PT quando, por sugestão do Ministro da Justiça, Márcio Tomas Bastos, da Embaixada do Brasil em Paris, o presidente Lula deu entrevista sobre o assunto e falou que o dinheiro era de caixa dois. Ou seja, o PT praticara ato que todos os partidos praticavam.

Virou farinha do mesmo saco.

Outro impacto grande. Outro dado daquele momento nacional foi a tática equivocada da oposição sobre o assunto. Houve uma famosa reunião em S. Paulo no apartamento de FHC com líderes maiores do PSDB e do PFL. A maioria ali queria jogar povo na rua e outros atos para perturbar a vida política do governo Lula e do PT. FHC convenceu o grupo de que não era necessário e que o Lula estava politicamente atingido e iria gotejar sangue até a próxima eleição.

O Lula, na indecisão da oposição, disparou a viajar pelo país, principalmente para o Nordeste. Asua assessoria de imprensa fez competente trabalho de divulgação de suas andanças e dos apoios que foram aos poucos crescendo. Na próxima eleição, diferente do que supusera FHC, o Lula bateu o partido do expresidente. O mais preocupado com o desfecho do julgamento do mensalão é o Lula. Fez bom governo e é talvez o presidente mais popular que o país teve. O receio é que os livros de história digam que em seu governo houve o maior escândalo de corrupção da história do país. Mancharia qualquer biografia.

A Gazeta (MT) - 07/08/2012
ALFREDO DA MOTA MENEZES

ONZE JUÍZES EM NOME DO BRASIL


Quem são, o que pensam e como votam os integrantes do Supremo Tribunal Federal – protagonistas do julgamento mais importante da história recente do Brasil

As atenções dos brasileiros se voltam, desde a última quinta-feira, dia 2 de agosto, para nove homens e duas mulheres sentados em volta da mesa em “U” do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Em circunstâncias normais, os 11 representantes de toga da instituição máxima da Justiça no país despertam pouco interesse na população. Circulam incógnitos pelas ruas sem ser reconhecidos. Desde a semana passada, eles se transformaram em estrelas do mais peculiar, complicado e simbólico julgamento da história do Supremo. Pelo número e relevância dos réus, pelo volume das investigações e pela complexidade das denúncias, o julgamento do mensalão supera todas as decisões anteriores do STF. Os brasileiros acompanham pela televisão o destino dos envolvidos com o maior escândalo político da história recente do país.

Nascido com as denúncias feitas pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB), o processo do mensalão recebeu o registro formal de Ação Penal 470. Dependendo do resultado, a vida política do país poderá se dividir em antes e depois deste julgamento. Ele servirá como referência para os limites de tolerância com a mistura entre o público e o privado. Balizará a questão da independência dos Poderes, posta em xeque com a promiscuidade entre Executivo e Legislativo evidenciada no caso. Estará em jogo, ainda, a imagem dos oito anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os 11 escolhidos para decidir o destino dos 38 réus do mensalão percorreram caminhos distintos e sinuosos antes de chegar ao momento máximo da carreira. A começar por quem os indicou – cinco presidentes da era democrática do país. Dos atuais integrantes do STF, dois foram indicados por Dilma Rousseff, seis por Luiz Inácio Lula da Silva, um por Fernando Henrique Cardoso, um por Fernando Collor de Mello e um por José Sarney. No cargo, alguns se comportam em sintonia com seu padrinho. Outros repelem o estabelecimento de sintonia com os presidentes.

Uma observação atenta da biografia dos ministros do Supremo permite concluir que eles formam um colegiado eclético também na origem e na formação profissional. Dos 11, três nasceram no Rio de Janeiro, uma em Porto Alegre e os outros sete em cidades do interior. Pelo critério de naturalidade, representam as cinco regiões brasileiras. Entre eles, estão juízes de carreira, advogados e integrantes do Ministério Público. Há um ex-petista, um ex-assessor do governo Collor e um amigo da família do ex-presidente Lula.

Nas questões doutrinárias, com variantes, nota-se a presença vocal de uma corrente que valoriza a presunção de inocência e o direito de defesa – fato que os leva a ser menos rigorosos na aplicação de penas e, por isso, apoiar decisões que tendem a facilitar a vida dos réus. No jargão jurídico, são chamados de “garantistas”. Costumam seguir essa linha os ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e Marco Aurélio Mello.

Na direção oposta, seguem ministros que levam em consideração a repercussão social de suas decisões, suas implicações práticas e aquilo que elas trazem de pedagógico na história do país. É aquilo que os juristas americanos costumam, por oposição ao “garantismo”, chamar de “ativismo”. Encaixa-se nesse perfil o ministro Joaquim Barbosa, cuja origem é o Ministério Público. O próprio presidente do Supremo, Ayres Britto, pode ser chamado de ativista, na medida em que gosta de julgar causas de alta repercussão para a sociedade, como a união civil homossexual.

O choque de doutrinas no plenário se confundirá com o embate de 11 personalidades fortes e vaidade justificada por suas carreiras bem-sucedidas. No maior exemplo da singularidade da Ação Penal 470, o caso do mensalão, quase todos os ministros que participam do julgamento, em algum momento, tiveram alguma relação com o processo ou com envolvidos nas investigações. Dois tiveram de responder o que pensavam do mensalão quando foram sabatinados pelo Senado. Alguns se envolveram em bate-bocas públicos sobre o processo, que desgastaram a imagem do STF.

A capacidade de tomar decisões de alta complexidade, sob intensa pressão, exige preparo emocional (que tem faltado) e jurídico (que sempre demanda aprendizado). Um fato, no entanto, sobressai. Oito dos 11 ministros foram nomeados por presidentes petistas. O escândalo do mensalão afeta diretamente a imagem do PT – e, mesmo assim, o resultado do julgamento é imprevisível. Prova da maturidade democrática do país, em que os poderes prezam, acima de tudo, sua independência.

Este é um trecho da reportagem de capa de ÉPOCA que chega às bancas e a seu tablet (baixe o aplicativo) neste fim de semana: quem são, como pensam e como vota cada um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. A edição traz uma cobertura especial sobre o julgamento do mensalão.
Revista Época (BR) - 07/08/2012
EUMANO SILVA

07 de agosto de 2012

O ARGUMENTO DE COLOMBO


          Artigos - Conservadorismo 
DavidStoveNas sociedades humanas, pelo menos nas grandes e ricas como a nossa, há uma complexidade incomparavelmente maior à dos aparelhos de TV e na verdade ninguém a entende bem o suficiente para consertá-la ou melhorá-la.

Devem existir bons argumentos para ser anti-conservador em circunstâncias particulares. Mas há algum bom argumento para ser anti-conservador em todas as circunstâncias? Se existissem, eles teriam manifestadamente a necessidade de serem argumentos universais: universais o bastante para serem filosóficos, ou pelo menos para ser alvo de interesse dos filósofos
Tem se usado apenas um argumento demasiadamente universal para o anti-conservadorismo – até onde eu sei – e não é um muito bom. Esse foi um argumento tão cogitado, que dificilmente qualquer um nos últimos 150 anos levantou-o por educação, de modo que ele já perdeu toda a sua influência. Eu o chamo de “Todos riram do argumento de Cristóvão Colombo”, chamemos pelo nome mais curto “O argumento de Colombo”.

Eis como é composto esse argumento: “Em quase toda a história da humanidade, pessoas que trouxeram inovações, fossem elas de crença ou de comportamento, encontraram hostilidade. Morte, perseguição, prisão, ou no melhor dos casos, a negligência; essas foram as recompensas mais comuns pelos seus esforços. Sejam quais forem as melhoras efetivamente realizadas na vida humana, sejam nas nossas opiniões ou nas nossas práticas, elas sempre dependeram, e sempre vão depender, de um inovador em primeiro lugar. Nós devemos, portanto, não apenas tolerar, mas receber de braços abertos os inovadores”.

A origem da argumentação remonta a Sócrates, quando no julgamento que lhe tirou a vida, ele mereceu na verdade, não a morte, mas uma pensão vitalícia do Estado pelo estímulo intelectual e moral gerado na ocasião. Mas o locus classicus moderno é, sem dúvida, o ensaio On Liberty (1859) de John Stuart Mill. E a forma que Mill deu ao argumento (que é essencialmente a mesma dada acima) se alastrou pelo mundo. A cada dia que se passou desde a publicação de Mill, foi um dia em que a publicação se tornou mais influente.

Na dissolução intelectual e moral do Ocidente no século XX, todos os passos dados dependeram dos conservadores serem desarmados – em algum ponto crítico – pelo argumento de Colombo: ele foi usado pelos revolucionários ao reivindicarem que qualquer resistência tida contra eles era apenas outra instância da imerecida hostilidade pela qual os inovadores benéficos passaram tão frequentemente no passado.

O ensaio de Mill não ficou sem resposta durante sua época. Alguns conservadores viram de modo suficientemente claro tanto a periculosidade como a fraqueza do argumento de Colombo. A melhor resposta ao ensaio On Liberty foi o livro Liberty, Equality, Fraternity (1878) de J. F. Stephen (irmão de Leslie Stephen, portanto o tio de Virginia Woolf). O desafio foi muito desigual intelectualmente: Stephen fez picadinho de Mill. Mas historicamente, seu livro sumiu sem deixar rastros, enquanto o ensaio de Mill continuou a conquistar espaço dia após dia.

Nós não precisamos de livros para nos dizer o quão perigoso o argumento de Colombo é: nós temos como professor a autoridade muito maior da experiência – expériences nombreuses et funestes (como Laplace disse em outra ocasião). Pois “Todos eles riram de Cristóvão Colombo” levou a uma transição – tanto natural como racional – a “É uma proposta ultrajante, mas nós certamente vamos considerá-la”. Isso se transpassou naturalmente o bastante para “Nós devemos considerá-la porque é uma proposta ultrajante”.

Em consequência, isso nos trouxe a incontrolável violência e irracionalidade como pôde ser vista nos países livres em 1987. Pessoas que se renderam, em suas próprias mentes, ao direito de ridicularizar as ideias mais absurdas, ou a reprimir as condutas mais depravadas, são (como se diz de modo vulgar na Austrália) história.

Quanto à fraqueza do argumento de Colombo, é algo perfeitamente flagrante. Sem dúvida é verdade que, para cada mudança para melhor que venha a acontecer, seja em pensamento ou em prática, primeiro alguém teve de embarcar em uma nova empreitada. Mas é igualmente verdade que primeiro alguém teve de embarcar em uma nova empreitada para que qualquer mudança para pior também viesse a acontecer.

E devem ter pelo menos tantas propostas que foram ou tem sido para pior quanto aquelas que foram ou têm sido para o bem. Mas se as más inovações do passado têm sido tão comum quanto as boas, então nós temos pelo menos o mesmo tanto de razão para concluir que nós devemos desencorajar os inovadores no futuro tanto quanto devemos concluir que temos o dever de encorajá-los.

Como pode um argumento tão fácil de responder alguma vez se impor sobre pessoas inteligentes? Fácil. É simplesmente uma questão de se certificar de fazer o que Wittgenstein em outra ocasião chamou de uma dieta unilateral de exemplos.
Não mencione os inovadores do passado a menos que tenham sido ‘inovadores-para-melhor’. Atenha-se interminavelmente aos exemplos de Colombo, Copérnico, Galileu, Bruno, Sócrates e (se você achar que eles vão dar conta) Jesus.

Esconda o fato de que deve ter existido pelo menos um ‘inovador-para-pior’ para cada um desses (sobrecarregados) homens de bem. Nunca mencione Lênin ou Pol Pot, Marx ou Hegel, Robespierre ou o Marquês de Sade, ou os gênios esquecidos a quem a humanidade está em débito pelas incontáveis teorias insanas que jamais tiveram continuidade na astronomia, geologia ou biologia. Não há fraqueza no argumento de Colombo que não possa ser mais do que compensada por uma suficientemente tendenciosa escolha de exemplos.

Na verdade, com certeza os ‘inovadores-para-pior’ foram sempre muito mais numerosos que os ‘inovadores-para-melhor’: eles sempre devem ser. Considere primeiramente o lado prático. Você entende os aparelhos de televisão bem o bastante para consertar os quebrados ou os que não estão funcionando bem? Provavelmente não: poucos conhecem.

E se você, sendo parte da maioria, mesmo assim tentar consertar ou melhorar um aparelho de televisão problemático, há apenas uma chance em um milhão, por conta da complexidade do aparelho, que você não vá deixar o aparelho pior do que já estava. Agora nas sociedades humanas, pelo menos nas grandes e ricas como a nossa, há uma complexidade incomparavelmente maior à dos aparelhos de TV e na verdade ninguém a entende bem o suficiente para consertá-la ou melhorá-la. 

Em qualquer reivindicação feita em favor de um ‘consertador’ de sociedades, há de se saber que não há esse tipo de gente como há os consertadores de aparelhos de TV. Então, se alguém começar a tentar a praticar uma nova ideia de conserto ou melhora de sociedade, é uma chance em um bilhão que ele não vá de fato tornar as coisas piores se ele tentar muda-las. É evidente a existência da possibilidade de tornar as coisas melhor, mas isso é trivialmente verdade: assim como é possível, apesar de tudo, um furioso chute no seu aparelho de TV consertá-lo.

O mesmo vale para as inovações em crenças, pelo menos em ciências como a física e a química; pois essas são estruturas intelectuais de um tamanho e riqueza comparável às nossas estruturas sociais. Mesmo lá, é claro, é sempre possível que um herético ou amador esteja certo e o establishment científico esteja errado. Mas essa possibilidade é baixa, como eu apontei: a coisa é extremamente improvável, isso é tudo, e você seria extremamente irracional se acreditasse em qualquer caso do tipo. Físicos e químicos justamente tentam, portanto, manter uma organização profissional e um anteparo feito para excluir o crescente número de pretensos a Colombo cujas cartas começam com “Eu não tenho uma graduação científica, mas…”.

Nas ciências menos avançadas, evidentemente, a situação é proporcionalmente diferente. E quando você desce o nível para os repulsivos pardieiros, tais como a sociologia e a antropologia se tornaram, a situação é completamente oposta. Lá, qualquer inovação deve ser para melhor, e o mais absoluto amador, se ele puder pôr o pé na porta, já basta para ele se impor entre os demais, moralmente é claro, e até mesmo intelectualmente.
***
Em On Liberty Mill recorreu a mais ampla variedade daquilo que ele escolheu chamar “experimentos em vida”. A expressão foi uma tentativa repugnantemente desonesta de capturar parte do merecido prestígio da ciência das coisas que não tem a mais remota conexão com a ciência; principalmente – preciso dizer? – certos arranjos sexuais e domésticos de um então tipo de novela.
Algumas respeitáveis pessoas o deixaram de lado por conta da sua irregular associação com a Sra. Harriet Taylor e Mill pensou que isso foi uma amostra da necessidade de uma nova, e mais aberta, filosofia de vida. Não é muito mais que isso; ele provavelmente ficaria horrorizado mesmo com algo como a Comunidade de Oneida.

No entanto, apenas sessenta e poucos anos antes de Mill ter escrito On Liberty, alguns mais graves “experimentos em vida” foram realizados na França por ‘Babeufs’ e ‘Robespierres’. E mesmo quando ele escreveu o ensaio, os ‘Marxes’, ‘Bakunins’, etc., estavam enchendo a Europa com seus anúncios de um muito mais drástico “experimento em vida” que eles estavam preparando.
É negligente dizer que Mill não poderia ter previsto o significado dessas coisas; outras pessoas puderam e previram o que essas coisas significavam, e ninguém na Inglaterra sabia melhor o que estava acontecendo na Europa do que Mill sabia. Quanto mais ele viveu, mais seus escritos trabalha
ram em favor dos “experimentos” socialistas, mesmo quando (como no caso do On Liberty) não era a intenção.

Eis aqui então uma curiosa sequência de eventos. Um filósofo publica um argumento em favor do acolhimento das inovações. Esse argumento é tão ruim que, por si só, dificilmente enganaria uma criança de dez anos. Suplementado, porém, por uma tendenciosa seleção de exemplos, esse argumento se espalha pelo mundo e faz mais que qualquer outra coisa para trazer a presente dissolução interna e a irresolução externa dos países livres.
E ainda há pessoas acreditando que filósofos e truques baratos não têm importância.

N. do T.:
Este ensaio é parte de uma trilogia (que originalmente era um único ensaio escrito em 1988) agora contida no livro On Enlightenment (2003) e atualizada no livro What's Wrong with Benevolence: Happiness, Private Property, and the Limits of Enlightenment (2011); O primeiro ensaio da trilogia é este, o próximo é Righting Wrongs (dado o contexto, é possível traduzí-lo como Erros de correção) e o terceiro – que também é o nome original de quando se tratava de um único ensaio – chama-se Why You should be a Conservative (Por que você deveria ser um conservador).
- Mais sobre David Stove (1927-1994), v. Who was David Stove?, por Roger Kimball.
- Agradecimentos aos senhores Andrew Irvine (editor dos livros supracitados) e James Franklin (Executor literário de David Stove) que permitiu a divulgação da tradução dessa trilogia de ensaios.

Escrito por David Stove

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          Artigos - Globalismo 
Estratégias inéditas de marketing para a promoção da camisinha saturaram o salão da conferência.
Edward C. Green, da Universidade Johns Hopkins, afirma que a ênfase exagerada em preservativos, ao invés do foco na conduta é perigoso principalmente entre populações de risco elevado.

(C-FAM) O Fundo de População da ONU fez uma parceria com grupos de direitos sexuais e reprodutivos na última semana de julho para promover uma agenda polêmica de conduta sexual de risco, numa importante conferência internacional de AIDS em Washington.
A XIX Conferência Internacional de AIDS reuniu mais de 20 mil ativistas em torno do tema “Mudando as Coisas Juntos”. Um evento no dia de abertura organizado pela Planned Parenthood (Federação Internacional de Planejamento Familiar, conhecida pela sigla em inglês IPPF), e co-presidido pelo Fundo de População da ONU, “A Ideologia Política da Camisinha:
Tolices, Polêmicas e Pepinos”, propôs “re-energizar” o uso das camisinhas como um método moral e eficaz de prevenção à propagação do HIV.
O evento deu destaque, numa mesa redonda, para participantes do The Pleasure Project (Projeto Prazer), das Católicas pela Escolha e do Departamento de Desenvolvimento Internacional (DfID), da Inglaterra. O debate se estendeu além da prevenção do HIV/AIDS para uma agenda mais ampla que incluía a liberalização e aceitação social da pornografia, contraceptivos e promiscuidade sexual.

O Projeto Prazer, financiado pelo DfID, e DKT International, um dos maiores provedores de camisinhas e aborto médico aos países em desenvolvimento, patrocinaram o evento “Tudo o que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo Prazeroso Mais Seguro, Mas Estava Temeroso Demais para Perguntar”. Vendo as atuais campanhas de sexo seguro como “negativas demais” devido ao seu foco nas doenças, risco e resultados negativos, os organizadores do evento promoveram uma estratégia que frisa o “prazer”, com a intenção de “erotizar o sexo seguro”.

Falando no evento da IPPF, a presidente da Católicas pela Escolha (CE), Jon O’Brien, criticou os grupos de base religiosa que trabalham para combater o HIV/AIDS, mas não fornecem camisinhas. A CE repudia os programas de abstinência em seu projeto “Camisinhas para a Vida”. Um evento de CE, “Bons Católicos Usam Camisinhas”, incluía na mesa redonda participantes da IPPF e dos Concerned Clergy for Choice (Clérigos Preocupados Pró-Aborto) que promoveram “uso da camisinha de uma perspectiva religiosa e ética”.

Estratégias inéditas de marketing para a promoção da camisinha saturaram o salão da conferência. O Fundo de População da ONU patrocinou uma “Zona de Camisinhas ao Gosto do Freguês” com o fabricante de camisinhas Durex, UNAIDS e a Cruz Vermelha das Bahamas que deram destaque a uma companhia teatral de dança de camisinhas e sessões diárias de “diálogo” mirando os jovens e focando em tópicos como a sodomia.

Hillary Rodham Clinton, secretária de Estado, falou na sessão plenária de segunda-feira prometendo o compromisso dos EUA com a agenda da conferência e então se desviou do tópico para elogiar a recente Cúpula de Planejamento Familiar de Bill Gates na Inglaterra. “Toda mulher devia ter condições de decidir quando e se quer filhos quer ela tenha ou não o HIV”, disse Clinton. Então ecoando Melinda Gates, Clinton acrescentou: “Não deveria haver ‘Nenhuma Polêmica’”.

Especialistas alertam que o plano de Gates de injetar contraceptivos em milhões de mulheres pobres no Sul da Ásia e África subsaariana ignora pesquisas que ligam o injetável Depo Provera com a propagação do HIV. A Dra. Denise Hunnell estima que a campanha “poderá dobrar os índices de transmissão do HIV”.

Outros especialistas estão preocupados com a promoção de camisinhas para grupos de risco elevado junto com a remoção de estigmas que dizem impedir o acesso ao tratamento, tais como legalizar a prostituição, descriminalizar a sodomia, liberalizar as leis de imigração para trabalhadores do sexo e distribuir agulhas limpas para usuários de drogas.

Edward C. Green, da Universidade Johns Hopkins e ex-diretor do Projeto de Pesquisa de Prevenção de AIDS do Centro Harvard para Estudos de População e Desenvolvimento, argumentou que a ênfase exagerada em preservativos ao invés do foco na conduta é perigoso principalmente entre populações de risco elevado.

“Nossos estudos mostram que há uma ligação sólida, inclusive as ‘Pesquisas de Saúde Demográfica’ financiadas pelos EUA, entre maior disponibilidade e uso de camisinhas e índices mais elevados (não mais baixos) de infecção do HIV”, disse Green.

A ONU estima que mais de 34 milhões de pessoas vivem com o HIV, 7 mil contraindo-o a cada dia. A OMS estima que 30 milhões de mortes relacionadas à AIDS desde 1981 com 1,7 milhões apenas em 2011.

Escrito por Lisa Correnti
Publicado no ‘Friday Fax’ do C-FAM.

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUALIDADE DA SOCIOLOGIA DO DIREITO

    
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A sociologia do Direito clássica investiga as práticas e costumes presentes nas diversas instituições, para daí abalizar a ação de juristas e legisladores. Em sua variante moderna, a sociologia do Direito não passa de ferramenta para um maior controle social.

A sociologia do Direito é a disciplina que estuda as diversas relações possíveis entre o Direito e a sociedade. O Direito, enquanto acontecimento social abre-se para uma variedade de análises e perspectivas, dentre as quais a compreensão dos hábitos e práticas sociais. Por sua vez, a sociologia procura investigar, a partir do Direito, os liames constitutivos das relações sociais, através da observação clínica da teia de redes sociais e nichos urbanos.
Sendo o Direito um produto da razão prática, que infere a partir dos fins da ordem da realidade o conjunto dos bens humanos básicos que orientam e hierarquizam moralmente a sociedade humana, serve também como padrão de racionalidade segundo o qual a avaliação dos bens humanos pode ser realizada desde a continuidade dos hábitos sociais. Em sociedades virtuosas há uma compreensão generalizada dos bons hábitos.

A consciência moral extrai da realidade dos bons hábitos e costumes, valores e virtudes coerentes com a ordem natural que lhes antecede, permitindo, assim, que os seres humanos possam viver em clima permanente de vida boa. Ademais, a objetividade dos atos humanos é a própria atualidade dessa consciência moral, produtora da ordem política e social. A velha analogia entre a ordem natural e a ordem social, cujo epicentro reside na racionalidade prática e na alma aberta do ser humano, faz cada vez mais sentido a partir do fato de que os seres humanos engajados externam suas boas consciências em ações concretas que conduzem a totalidade da sociedade ao bem comum político.

Nesse diapasão, a sociologia do Direito busca investigar a ordem jurídica não desde o campo das normas e diplomas legislativos, senão desde a própria prática dos bons hábitos e costumes, substrato ativo das instituições e valores sociais. A sociologia jurídica, portanto, debruça-se sobre a realidade das experiências humanas em sociedade para decifrar, a partir da existência histórica, os efeitos positivos e negativos das ações sociais, isto é, entre o que é adequado à ordem e o que não é. Procura a sociologia, assim, extrair da realidade existencial o arcabouço racional correspondente à ordem natural e, assim, à própria substância do Direito.

Com o advento da era moderna e sua cosmovisão radical a qualquer essencialidade, a cultura de massas e o establishment científico acabaram por reduzir todo o conteúdo do Direito a fórmulas ideais e diplomas constituídos a partir de premissas lógico-científicas, voltadas para o próprio fechamento metodológico e o encerramento de suas justificativas lógicas. Assim, cada vez mais, a sociologia viu-se afastada do Direito, já com que ele não guardava outra relação senão a de mero expectador de sua efetividade, desconectado de sua ordem constitutiva e com ela nada possuindo de essencialmente comum.

O caminho, assim, foi conceber uma nova forma de investigação da sociedade do ponto de vista jurídico: tratá-la como uma máquina de engenharia, mecanizada, absolutamente submissa a esquemas mentais teóricos inventados à imagem e semelhança dos projetos de poder de seus criadores, bem como alheia a qualquer extração possível da realidade da experiência.

Ora, sendo a realidade existencial um campo aberto e variado de possibilidades investigativas, nada mais restara à sociologia do Direito senão afastar seu âmbito de investigação de qualquer reconhecimento inteligível de uma ordem natural anterior à ordem social e política, concebendo-se, assim, como decorrente de uma cosmovisão em que a ordem social é posta por criadores políticos, que se valem soberanamente do ato de decisão fundamental para instituir essa “ordem”.

Por essa razão, criara-se uma onda de desconfiança e descontentamento frente à sociedade, concebendo-a como um plasmado agrupamento amorfo, sujeito às fórmulas teóricas criadas com o objetivo de refletir essa desconfiança e, por assim dizer, esse descontentamento com o mundo. A nova tarefa da sociologia do Direito, assim, seria a de limpar as arestas de campos metodológicos alheios a investigação social e reconhecer, de uma vez para sempre e com vistas a “verdade” que o único caminho possível é o da investigação substancialmente ideológica, dizendo, com todas as letras, que o Direito é uma ideologia e, como tal, um projeto de poder como qualquer outro.

Nesse sentido, a sociologia do Direito passa a ser o campo de investigação voltado para decifrar tudo o que as demais disciplinas não o fizeram: reconhecer que tudo é ideologia e, assim, vontade de poder. A desconfiança dá assento ao estado de alienação e, dessa forma, transforma o Direito na vítima (e não mais em objeto de investigação) da sociologia e de seus arautos. O Direito é ideologia e, como tal, só pode ser explicado pelo olhar da desconfiança e não pelo reconhecimento de suas premissas axiológicas. É colocada por terra toda e qualquer alusão a ordem natural, bem como sua sucessora: a crença no positivismo mitigado.

Com a expansão do marxismo e suas pretensões redentoras, a sociologia do Direito encontra-se na ante-sala do paraíso terrestre imanente, como fórmula universal de explicação sobre a totalidade da sociedade a partir de seu órgão diretivo e de seus centros decisórios. O objeto de investigação, que fora a ordem natural ou, recentemente, o sistema jurídico positivo, agora se transfigura em uma análise quantitativa dos instrumentos de “opressão e controle” em larga escala. Com o apreço da sociologia “geral” pelo estudo da chamada “sociedade de massas”, restou para a sociologia jurídica o caminho fácil de verificar e analisar mecanismos de controle social e fiscalização de ações humanas espontâneas.

O caminho recente da sociologia do Direito, portanto, aponta para a redução cada vez maior de seus postulados científicos a clichês e fórmulas ideais, pretendentes em explicar a universalidade dos fatos sociais a partir de esquemas montados por profetas científicos. Sim, os profetas da sociedade moderna, do ponto de vista jurídico, são os “sociólogos do Direito”.

Escrito por Marcus Boeira

AOS DESFIBRADOS, O GOVERNO ADEQUADO


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gaprevoLá estava eu, conversando com alguns colegas, e aí ouço esta:
“Quem deveria pagar o tratamento da minha irmã, com câncer no pulmão, é a empresa que fabrica o cigarro que ela fumou a vida inteira. Ainda bem que vieram essas leis anti-fumo.”
E a moça falava convicta, cheia de razão. E então retruco:

“Imagino que o pessoal do marketing dessa empresa mobilizava uns capangas todos os dias para perseguirem sua irmã, e então forçavam-na a comprar cigarros, acendê-los imediatamente e fumar.
Ficavam vigiando-a até que ela fumasse pelo menos duas carteiras por dia. Se foi isso o que aconteceu, você está com toda a razão. É caso de polícia.”

Sei que fui implacável e irônico, mas preciso me divertir um pouco. Ela deu um sorriso e me desafiou:
“Não, não foi assim, mas… e a propaganda?”
Escandalizado, tentei pensar no que a levou a raciocinar dessa forma tão botânica.
Repliquei:
“Você também viu propagandas de cigarro durante a vida inteira e não fuma. A culpa é do fabricante? Fuma quem quer!”

Outro sujeito entra na conversa:

“É, é complicado isso. De quem é a responsabilidade? É complicado.”
Complicado? Complicado é ter de dialogar com homens que não assumem suas responsabilidades perante e por si mesmos. Papagaiando o über-propalado “direito de ser feliz”, tudo esperam do governo: leis para sua categoria, previdência, saúde, e vejam só, até educação.

Alguém é obrigado a educar alguém aí? Só os próprios filhos, e até certa idade. Ainda assim se afirma que a educação é um direito. E o dever de educar o filisteuzinho, é de quem? Sem a reciprocidade, não há Direito. Sem o dever de uma parte, não há o direito da outra. E então lá vai o estado assumir a responsabilidade de educar o povão. Dá no que dá: a segunda maior nação cristã do mundo em último lugar nos testes internacionais de educação. E a lógica nos leva à conclusão inescapável: os brasileiros são os cristãos mais burros do planeta.

Aí me aparecem (na internet, é claro) os últimos defensores das liberdades civis perguntando por que o Brasil está mais próximo da Coréia do Norte nos índices de liberdade econômica (uma delas) do que de qualquer outro país melhorzinho. E poderia ser diferente?

A impressão que tenho é que brasileiro médio não se acha mais responsável por nada. A moça admite que qualquer peça publicitária pode fazê-la de idiota, e é levada a sério por outra. Notem: há sempre um bode expiatório ao alcance da mão, caso algo de errado aconteça. Assim se transforma um ser humano num bicho submisso ao padrão de conduta imposto pelas hostes revolucionárias que estão dominando a política e a cultura.

Essa ânsia em recorrer a soluções baseadas na coerção estatal (gosto do termo ‘estatolatria’) faz com que o brasileiro, seja, no fim das contas, tratado como um retardado mental que precisa ser orientado pelo estado-babá, o Leviatã-paizão. Mais uns anos e a batata frita será proibida. Aguardem. O xaropão do Dráuzio está aí para isso.

O raciocínio manco, a falácia emitida com se fosse o mais rigoroso dos silogismos, não passa, em casos como o da conversa supracitada, de um sintoma de uma mentalidade torta. Na consciência, uma verdade precisa de outras. O problema central é que quando o auto-exame falha, o resto descamba. Para se constatar tal fato, é até desnecessário citar as Sagradas Escrituras, a sabedoria milenar, e os inúmeros casos de delírio interpretativo, além dos diagnósticos sobre transtornos cognitivos e psíquicos, dentre os quais podemos enumerar o que Olavo de Carvalho define como mentalidade revolucionária.

A moça tem uma filha adolescente, e não há como não pensar em toda essa geração que está sendo doutrinada neste coletivismo bocó e coitadista. E então a pobre criatura chegará à idade adulta. Incapaz de lidar com a realidade e com todas as demandas da vida. Por não fazer o mínimo esforço para se preparar para os conflitos, obrigações e cuidados que a vida requer, resmunga:“Ah, o governo, esse governo”, blá, blá blá… Por fim chega a hora de saírem quebrando tudo por aí, como fizeram aqueles apaixonados por roupinhas da GAP, Nike e Adidas em Londres, ano passado, e depois na USP. Sempre em nome de “um mundo melhor e mais justo”, é claro.

Imagine esse modus pensandi aplicado à fé cristã. Pequei? Culpa de Adão. De Eva. Dos meus pais, que não me ensinaram. Do diabo, que enganou Eva. Do demônio, que me influenciou. Daí, para dizer que a culpa é de Deus, que criou o diabo, é um pulo. Pulo para a apostasia. Pulo para o inferno, pois com Deus não se brinca.

Lembro-me então de obras como “A rebelião das massas”, de Ortega y Gasset, “A invasão vertical dos bárbaros”, do grande Mário Ferreira de Santos, e da psicologia coletiva de Gustave Le Bon. Cada vez mais fundamentais para compreenderem uma época em que o filistinismo e o hedonismo egoísta e presunçoso tomou conta de tudo.

O país “cresce” (pifiamente) e o cidadão se infantiliza. Porque para ser adulto, para crescer, o ser humano precisa, no mínimo, ser responsável por si mesmo e estar ciente de que aquilo que plantar, colherá. Não há saída; quem quer virar gente de verdade precisa de desafios. E não olhar para si como merecedor de zilhões de direitos. Uma verdade que pode tornar qualquer pessoa adulta, mais forte, humilde, livre e determinada é simples de ser dita: “ninguém deve absolutamente nada a você”. Lembrar-se disso todos os dias pode fazer um bem enorme.

Portanto, quando você assistir àquela propaganda do governo falando nos seus direitos, pode saber: ou é para te infantilizar, para te imbecilizar, ou para te impor um dever. Normalmente um dever desses que são praticamente punições: votar, ir à escola engolir o lixo idiotizante preparado pelo MEC, ou tomar estas vacinas de origem e eficácia duvidosas que tem aparecido mundo afora. Sem falar, é claro, em mais impostos. Nada é de graça nesse mundo, meu caro leitor.

Se o brasileiro ainda acredita mais no poder da propaganda e da benesse estatal do que em sua responsabilidade pessoal, em sua capacidade de traçar, ao menos em certa medida, seu próprio destino, tudo o que merece mesmo é ser governado pelos amigos de Hugo Chávez, de Ahmadinejad, de Evo Morales, Fidel Castro, entre outros delinquentes que pintam e bordam lá nas conferências da ONU, essa “vigarista da pior espécie”, como bem a considerava o velho Nélson Rodrigues.

Edson Camargo
07 de agosto de 2012

A INDÚSTRIA PETROLÍFERA RELANÇA O CONTO DA ABUNDÂNCIA, REPETIÇÃO DAS MENTIRAS QUE DIZIA NO FIM DA DÉCADA DE 90

 
Se você atua sob a hipótese de que o petróleo da terra – ou pelo menos o material barato – está prestes a acabar, não vai prosperar na nova era do petróleo. A tecnologia está a tornar possível descobrir, produzir e refinar petróleo tão eficientemente que a sua oferta, pelo menos para finalidades prática, é basicamente ilimitada (1998).

Esta era a história contada pela indústria antes de uma década de ascensão nos preços que culminou num pico histórico em 2008. Só mesmo a indústria petrolífera teria agora a audácia de mais uma vez apregoar como se fosse novidade um conto que se revelou errado ao longo de mais de uma década.

Ao aliciar os jornalistas e o seu exército de consultores pagos, a indústria está mais uma vez a dizer ao público que a abundância de petróleo está à mão. E, o que é duplamente audacioso, é que ela está a promover este conto quando os preços do petróleo pairam a níveis mais de oito vezes superiores dos de 1999. A indústria está claramente a contar com a amnésia coletiva para se proteger do ridículo.

O propósito da indústria é transparente. Assegurar que o mundo permaneça viciado em combustíveis fósseis, convencendo a todos que as nossas fontes de energia – mais de 80% delas são combustíveis fósseis – não precisam mudar. É uma estratégia vencedora mesmo que a sua premissa esteja errada, pois as companhias de petróleo ainda têm enormes reservas de combustíveis fósseis debaixo da terra que querem vender a preços máximos. E vão conseguir esses preços máximos se os governos, as empresas e as famílias deixarem de se converter para alternativas e permanecerem portanto reféns dos combustíveis fósseis.

Num golpe de gênio de relações públicas, a indústria enviou recentemente um dos seus, Leonardo Maugeri , um executivo italiano do petróleo, para um trabalho extra como “research fellow” em Harvard.
É difícil imaginar um nome mais prestigioso para propalar os sistematicamente ultraotimistas pronunciamentos da indústria acerca da oferta petrolífera – muito embora sejamos informados em tipo itálico no rodapé do relatório de Maugeri que “declarações e visões expressas neste resumo são unicamente as do autor e não implicam endosso por parte da Universidade de Harvard, da Harvard Kennedy School ou do Belfer Center for Science and International Affairs”. Imagine quantos jprnalistas imprimiram esta ressalva.



PREVISÕES ERRADAS

Pode-se encontrar o relatório de Maugeri aqui . O que não encontrará aí ou nos relatos habituais da mídia são as suas previsões sistematicamente falhadas acerca da ascensão da oferta na última década, oferta que era suposto resultar numa inundação de petróleo. Aqui está uma joia de 2006 num artigo que escreveu para a Forbes Magazine :

“Uma previsão plausível é que no fim da década a procura diária por petróleo ter-se-á expandido em 7 a 8 milhões de barris. Se a produção global continuar às taxas atuais, ela poderia crescer em 12 a 15 milhões de barris por dia nesse período. Por outras palavras, há petróleo mais do que suficiente no terreno”.

A alegação de Maugeri era que altos preços resultariam numa resposta da oferta que trariam de volta a abundância dos bons velhos tempos. Naturalmente, ninguém a cobrir o seu recente relatório teve o incomodo de mencionar que a sua previsão de 2006 estava errada – e não por apenas um pouco. A produção mundial de petróleo tem estado estagnada desde 2005. A sua alardeada resposta da oferta nunca se materializou.

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AUMENTO DAS RESERVAS???

Mas não foi por falta de tentativas da indústria petrolífera. Como explicou John Westwood, presidente da empresa de consultoria em energia Douglas-Westwood, numa recente apresentação de diapositivos, está a tornar-se excessivamente difícil acrescentar nova capacidade de produção de petróleo. Uns US$2,4 trilhões de dólares de despesas de capital da indústria petrolífera, entre 1994 e 2004, aumentaram a taxa mundial de produção de petróleo em 12 milhões de barris por dia.

Contudo, os US$2,4 milhões de milhões em despesas de capital gastos entre 2005 e 2010 resultaram numa diminuição na taxa de produção de petróleo de 200 mil barris por dia.

Ainda assim, Maugeri e a indústria como um todo continuam a tentar convencer toda a gente de que as coisas agora mudaram. Naturalmente, eles persistentemente permanecem longe dos dados e tendências reais as quais mostram ofertas de petróleo estagnadas desde 2005 apesar da ascensão de preços, algo que tenderia a refutar a sua posição.
E eles tentam confundir a questão com o acréscimo de coisas que não são petróleo aos números da oferta de petróleo , tais como líquidos de instalações de gás natural e biocombustíveis, e a seguir aplaudem-se a si próprios por estarem certos acerca da ascensão da produção de petróleo quando, de fato, estão realmente errados.

Maugeri e outros argumentam não com a utilização de fatos e sim de fantasias. Tentam vender seu futuro imaginado recorrendo a vastas ofertas de petróleo de fontes com teor extremamente baixo e que ninguém até então compreendeu como extrair lucrativamente , tais como xisto petrolífero (oil shale) – não confundir com óleo de xisto (shale oil) o qual é adequadamente chamado tight oil.

Ou projetando taxas irrealistamente baixas do declínio mundial dos campos existentes , pretendendo que os campos existentes são algo como fábricas que se pode fazer produzir não muito abaixo dos níveis atuais por um período de tempo prolongado ao invés de declinarem a taxas historicamente observadas. Ou então ainda empenhando-se em projeções fantasiosas do crescimento da oferta não baseadas nos dados existentes e num entendimento adequado da informação histórica e técnica.

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A MANCHETE É QUE CONTA

Mas como qualquer bom profissional de RP lhe dirá, é a manchete que conta. Assim, Maugeri e outros obtiveram toda espécie de manchetes a proclamarem uma nova era de abundância petrolífera. Os repórteres tendem a centrar-se nos números mais altos e afirmações mais grossas de qualquer relatório. E o público frequentemente avalia a verdade de tais afirmações, especialmente se forem de natureza técnica, pelo número de vezes que as ouve .

Com o preço do petróleo na Europa ainda paira acima dos US$100 por barril, as pessoas acham confortantes as historietas de Maugeri e outros porque as mesmas prometem continuidade. Mas a mudança já está em torno de nós nos mercados de petróleo e tem estado durante mais de uma década.

Finalmente, a volatilidade destes mercados e as realidades da oferta constrangida demonstrarão ao público a verdade acerca da matéria. Nessa altura, contudo, poderemos ter perdido uma outra década de preparação devido à complacência criada por uma habilmente fabricada fantasia de abundância destinada a adormecer as decisões políticas e o público num transe sonhador de aquiescência.

Kurt Cobb [BusinessWeek]
07 de agosto de 2012
(Transcrito do site Pátria Latina)